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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Relógio da TomTom com GPS traz bons recursos e preço competitivo

Por Rodolfo Lucena
15/09/14 12:39

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Reconhecida como a líder no mercado de relógios com GPS para corredores, a Garmin enfrenta concorrência cada vez mais séria.

Há poucos meses, a famosa marca finlandesa Suunto ampliou sua linha de relógios esportivos voltados para o mercado mais sofisticado –significa: compradores dispostos a pagar mais. Agora, a TomTom, de fortíssima presença no mundos dos GPS para carros, ataca com um relógio de custo relativamente baixo, buscando o mercado de corredores dedicados, mas que dão grande importância à economia e à relação custo/benefício.

Recentemente testei o relógio com GPS da Suunto, que confirma as tradições de qualidade da empresa. Ainda que tenha várias aspectos em que pode melhorar –como tudo e todos–, já se apresenta como forte competidor da Garmin na faixa de preço de R$ 1.000 a R$ 1.500 (o preço de lista no Brasil é R$ 1.199; leia mais AQUI).

Muito mais perigoso para a Garmin parece ser o mais novo integrante do portfólio da TomTom. A empresa holandesa começou há poucos anos a tatear nesse mercado, que promete ser saboroso –as vendas de produtos para exercícios GPS devem chegar a US$ 2,6 bilhões em 2018, segundo previsões da empresa britânica de pesquisa ABI Research.

A primeira investida foi fornecer o sistema de GPS para o relógio esportivo da Nike. A parceria continua, mas a TomTom agora está voo solo. Com sua própria marca, lançou  modelos de relógio para corrida e multiesportivos, que já estão sendo vendidos no Brasil. Em abril lançou na Europa uma versão com frequencímetro embutido, que chega em outubro às lojas brasileiras.

15 tomtom1Testei o relógio multiesportivo da TomTom durante algumas semanas –não foram muitos treinos, porque continuo em processo de recuperação e estou devagar quase parando.

O uso que fiz foi apenas no modo corrida, mas o relógio também serve para acompanhar o desempenho em ciclismo, natação, exercício na esteira e um curioso estilo livre, para uso em atividades não compreendidas nos outros esportes –skate, por exemplo, ou caminhada.

Um dos grandes atrativos é o preço: a versão de entrada do TomTom Runner tem preço de lista de R$ 749.

Outro ponto especial do relógio é sua facilidade de uso: tudo é controlado por apenas um botão gigante, quadrado, que fica abaixo do aparelho propriamente dito. Ele é único, mas vale por quatro: cada uma de suas bordas funciona como botão e aciona diferentes recorsos do relógio.

A maior dificuldade para o usuário é se acostumar com esse mecanismo: não poucas vezes me vi buscando botão no corpo do relógio, que é grande, mas não mangolão. Pode ser usado no dia a dia sem chamar muito a atenção –pelo menos, chamando tanto a atenção quanto qualquer outro relógio esportivo.

Por causa desse estranho casamento entre relógio retangular e botão gigante, o design do conjunto não é exatamente a coisa mais linda do mundo, mesmo para quem, como eu, gosta de coisas mais estrambóticas. Quando montado na pulseira, porém, que é o que interessa, o conjunto não é tão feio como quando “pelado”.

Ainda no terreno aparência/usabilidade, há que notar o tamanho dos algarismos. A tela de uso oferece basicamente três informações. A principal, em algarismos gigantes, é predefinida: você pode acessar a hora, o tempo de exercício e a distância percorrida, por exemplo, fazendo as mudanças pelo acionamento do botão.

No alto da tela, há dois campos programáveis (distância, ritmo, velocidade, horário, calorias e batimentos cardíacos –se você tiver a cinta que monitora o coração—são alguns deles). Nesse caso, os algarismos são bem pequenos, menores do que os algarismos pequenos da tela do Garmin simples que uso. Para mim, foi impossível ler os números pequenos enquanto corria; na caminhada, porém, prestando atenção, a leitura foi fácil mesmo sem óculos.

Isso porque a resolução e o contraste da tela, assim como a tipologia escolhida, favorecem a leitura. Não são tão bons quanto os do Garmin, mas são bem razoáveis (para mim, parecem melhores que a tipologia e o contraste do Suunto que testei, por exemplo).

Antes de prosseguir, devo dizer que, apenas de fácil de usar, ele não é tão “intuitivo” como a descrição anuncia. Acho que eu acabaria descobrindo as regras de operação, mas, para ir mais rápido, tive de dar uma olhadinha no guia rápido de operação que vem no pacote. Uma vez entendida as regras (bordas laterais mudam o modo do relógio, bordas de cima e de baixo do botão fazem girar a informação apresentada na tela), aí foi fácil seguir em frente.

O emparelhamento com o satélite foi rápido, de modo geral. Comparei com o Garmin em quatro ocasiões e saíram empatados: o Garmin ganhou em duas, o TomTom em duas. Curiosamente, as diferenças pró cada um foram sempre semelhantes, em torno de 30 segundos.

A precisão foi muito boa. Numa corrida de alegados cinco quilômetros, o Garmin marcou 4,87 km e o TomTom, 4,88 km; a diferença de tempo, provocada por mim ao me embananar no acionamento dos aparelhos, foi de três segundos.

Em todos os testes que fiz, sempre correndo com os dois aparelhos, a diferença entre um e outro foi pequena no que se refere à corrida. Na hora de caminhar, porém, parece que o TomTom enfrenta problemas.

No último treino que fiz com os dois, por exemplo, corri quatro blocos de 1.500 metros, com intervalos caminhados de 500 metros. Depois do último bloco de corrida, caminhei 1.500 metros, com duas paradas (dei pausa nos relógios e voltei a acioná-los).

Pois bem: ao final do último bloco de corrida, a diferença entre os dois relógios era de apenas 20 metros. Quando fechei 10 km no Garmin, porém, o TomTom marcava 10,16 km –ou seja, ampliou bastante a diferença no trecho final de caminhada.

Aliás, em dois outros treinos o aparelho deu “soluços” que não consegui entender. Ao cruzar uma alça de acesso à avenida Sumaré, ele deu um salto de 60 metros entre um lado e outro da rua. Essa diferença (em relação ao Garmin) se manteve ao longo da maior parte do treino; na parte final, porém, novamente deu uma desemparelhada. A diferença final foi 160 metros em um total de 8 km percorridos.

Consegui fazer mais um treino no mesmo percurso, e o “soluço” não se repetiu. O que só aumenta a curiosidade sobre sua ocorrência.

O outro caso, que foi mais grave, não pude rechecar. Ocorreu na Paulista. Eu seguia na contramão pelo lado par, com os dois relógios marcando basicamente a mesma distância (diferenças de dez ou 20 metros no máximo). Caminhando, atravessei a avenida na altura da Fiesp e, quando cheguei ao outro lado, a diferença tinha saltado para 120 metros –naquela altura, estava com pouco mais de 4.500 metros de treino.

Essa diferença (para mais) entre TomTom e Garmin se manteve até o sétimo quilômetro e depois destrambelhou. Terminei o treino com 9,01 km marcados no Garmin e 9,27 km marcados no TomTom. Como disse, não deu tempo para eu refazer o percurso e verificar se o “soluço” se repetia. Também não arrisco hipótese sobre sua causa.

É claro que essas diferenças acontecem, e alguém pode argumentar que o TomTom é que está certo, não o Garmin. Mas o curioso são esses “soluços”, com mudança brusca de quilometragem marcada, que aconteceram em duas oportunidades nos treinos que fiz.

É óbvio que, para mim, é impossível determinar qual a importância desses “soluços” no desempenho geral do TomTom; para isso, seria necessário uma longa bateria de testes, com muito mais rigor do que esta avaliação mais impressionista, de usuário real, de carne e osso, que eu faço.

A maior falha no relógio que testei é que ele não dá o tempo de cada volta, mesmo quando o usuário determina que o treino terá registro por voltas. Ou seja, você tem apenas os indicadores globais do treino, não etapa por etapa.

A boa notícia é que, cada vez que você liga o relógio ao computador e ele se conecta ao site da TomTom, é feita uma busca por novos softwares e, havendo atualização, ela é carregada automaticamente. Segundo a empresa me informou, uma próxima atualização vai permitir a visualização do tempo por volta.

15 tomtom site va

Ao longo dos testes, não consegui ver o desempenho volta a volta nem sequer no site (acima), mesmo quando marquei a opção treinos por volta (há ainda modos de corrida e treino simples, entre outros). A única diferença que vi é que, quando corro por volta, elas aparecem marcadas no mapa que está embutido no site.

Procurei por todo o lado, no site, algum lugar que abrisse informações específicas para o desempenho volta a volta, sem sucesso. Perguntei à empresa, que informou que tais dados só ficavam disponíveis quando o usuário fizesse treino “por volta”. Posso dizer que nem assim.

Claro que o erro pode ter sido meu. Mas devo registrar que tenho uma certa experiência no uso de GPS de pulso e na navegação por sites do gênero. Procurei em todos os pontos clicáveis, sem sucesso. De novo, posso ter falhado; mas, se a informação existe, há também uma falha do design do site em não deixar mais claro o acesso a ela.

Tirando isso, porém, o site é bem bacana, com design modernoso, por blocos –a Garmin está em processo de transição para esse modelo de apresentação). Há versão para uso em dispositivos móveis (o famoso aplicativo ou app…), mas eu gosto mais da apresentação na telona de meu computador de mesa.

Antes de concluir, devo voltar para outros aspectos importantes do relógio. Sua bateria é mais ou menos o padrão do mercado: a empresa promete dez horas de uso com o GPS ligado. Ele tem memória de 2 Gbytes, mantendo armazenados os dez últimos treinos.

O melhor de tudo, porém, é que há uma página no próprio relógio com todas as informações sobre ele: bateria e memória disponíveis, versão do software em uso e número de série. Para quem não gosta de surpresas, isso é ótimo. Que eu me lembre, é o único GPS que testei que apresenta essas informações consolidadas de maneira tão simples e clara.

15 tomtom4 relogio montadoPara carregamento e comunicação com o computador, o aparelho deve ser tirado da pulseira e colocado numa instalação especial, onde os conectores do relógio e do “berço” se encontram. O ajuste é bem bom, parece não haver risco de falha de comunicação por desencontro ou frouxidão do “abraço” dos conectores.

Talvez o mais sério problema do TomTom Runner seja seu irmão mais novo, o Cardio, que tem monitor cardíaco embutido: acompanha os batimentos do coração sem necessitar da cinta.

Ele apresenta na traseira um sensor ótico que calcula o batimento cardíaco baseado na corrente sanguínea no pulso do usuário. Já testei outros aparelhos que usam sistema semelhante, como a pulseira atlética da Samsung, e o resultado foi bom.

Claro que o modelo com frequencímetro embutido será mais caro –o preço de lista previsto é mais do que o dobro do preço inicial do Runner simples hoje disponível no Brasil. De qualquer forma, é bem possível que usuários mais endinheirados se vejam seduzidos pelas novas funções.

Ao fim e ao cabo, a TomTom se apresenta com uma forte competidora para a Garmin, notadamente na faixa de entrada. O que é muito bom para o usuário, que agora tem pelo menos três marcas muito boas com serviços bastante semelhantes –TomTom, Suunto e Garmin. O GPS da Timex também é muito bom, mas, quando testei, o site de acesso gratuito era péssimo; pode ter melhorado nos últimos dois anos, mas não voltei a visitá-lo.

De qualquer forma, recomendo que interessados em relógios GPS avaliem essas marcas antes de fazerem sua escolha. Cada comprador, cada corredor valoriza algum ou alguns aspectos mais do que outros, o que vai influenciar na decisão. Para meu gosto, entre os aparelhos que testei o Garmin ainda leva vantagem, mas a corrida está um corpo a corpo legal, e a concorrência está em cima dos cascos.

 

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Aos 90, bisavó quebra três recordes mundiais em um só campeonato

Por Rodolfo Lucena
14/09/14 11:33

Hoje trago para você uma entrevista com uma campeã mundial. Mais do que isso, uma guerreira da vida, uma das sensacionais atletas amadoras com quem já tive oportunidade de conversar. Ela não é corredora, mas mesmo assim serve de inspiração para todos nós.

Conversei com ela há uns 20 dias, no seu apartamento no Rio de Janeiro. Ele mora sozinha, mas às vezes é incomodada pelo Felipão. Trata-se de um cactus gigante, que fica postado perto da janela. Se a atleta não se cuida, cada vez que vai olhar para fora fica arriscada a se encostar no Felipão e sair toda espinhada.

“Dói”, ela me diz, enquanto arranca alguns espinhos do braço depois de ter mostrado para mim os fundos do prédio, que tem um quintal grande e arborizado.

Bom, chega de conversa. A seguir vai a entrevista que fiz com ela; uma versão reduzida deste texto saiu neste domingo (14.9) em Esporte, na Folha (leia aqui).

Nora Tausz Rónai tem duas filhas, quatro netos, seis bisnetos e três recordes mundiais de natação. Os herdeiros e descendentes gerou ou viu nascer ao longo das últimas seis décadas; os recordes vieram todos de uma vez, agora há pouco, meses depois de a elétrica senhora ter completado 90 anos.

Foram registrados na 15ª edição do Mundial de masters da Fina, a Federação Internacional de Natação, realizado em Montreal, no Canadá, de 27 de julho a 10 de agosto último. Lá, a arquiteta aposentada não apenas derrubou marcas como também desbravou piscinas: foi a primeira mulher de mais de 90 anos a nadar os 200 m borboleta em um Mundial (completou em 8min52s22).

Também sagrou-se recordista mundial, categoria 90 a 94 anos, no 400 m medley (14min12s52) e nos 100 m borboleta (3min39s.01). Em provas individuais, ainda trouxe ouro nos 50 m borboleta e nos 200 m medley.

Nora nasceu em 29 de fevereiro de 1924 em Fiume, então território italiano (hoje Rijeka, Croácia). Fugindo ao fascismo, a família Tausz chegou ao Brasil em 1941 depois de aventuras várias, que incluíram salvar o pai e o irmão de Nora de um campo de concentração de Mussolini.

No tempo de faculdade, dedicou-se aos saltos ornamentais: “Fui bastante boa para nove anos seguidos ser campeã carioca; fui campeã brasileira e vice-campeã sul-americana. Para gasto doméstico, dava”, diz. Depois, o trabalho, a família que construiu com o crítico literário Paulo Rónai (1907-1992) e as exigências da vida a tiraram do esporte competitivo.

Só retomou como veterana, aos 69 anos. E recomeçou vencendo: mesmo nadando com o pé quebrado, foi campeã no primeiro Sul-americano de masters, realizado em Belo Horizonte em 1993.

Hoje suas medalhas e troféus conquistados pelo mundo afora –já foi a seis Mundiais- enchem gavetas e estantes de um armário no apartamento em um elegante prédio de Botafogo, onde vive sozinha. Foi lá que ela recebeu a Folha para contar um pouco de sua experiência. A seguir, alguns trechos da conversa (foto Zô Guimarães/Folhapress).

14 nora ronaiAPRENDIZADO – O início da natação foi quando eu nasci. Minha mãe dizia que eu nasci nadando. Nunca ninguém precisou me ensinar a nadar. Eu sempre nadei… A minha mãe, Iolanda, era uma tremenda nadadora de peito. Se fosse hoje, seguramente seria campeã olímpica. Ela era forte, tanto assim que nós, crianças fazíamos travessias longas, de quilômetros, ao lado dela, no mar. Se a gente cansasse, se segurava nela e ela aguentava. Duas crianças, eu e meu irmão mais velho.

COMPETITIVIDADE – As crianças que estavam à mão eram o meu irmão, os meus primos e os amigos deles. Então eu praticamente me eduquei só entre meninos. Mas eu era a melhor nadadora.

As brincadeiras deles eram competição: quem cospe mais longe, quem pula do degrau mais alto. Eu competia com eles em tudo. E ganhava. Eu precisava ganhar dos garotos porque era mais nova e era menina. Então, para conservar o prestígio, eu tinha de ganhar.

ESGRIMA E PISCINA – Chegamos aqui com uma mão na frente e outra atrás. Tivemos de nos virar de alguma maneira. Logo que conseguimos uma certa situação, talvez em seis meses ou um ano, meu irmão e eu nos inscrevemos no Clube de Ginástica Português, porque meu pai era esgrimista, entre outras coisas —ele também fazia regatas. Eu fui fazer esgrima, florete, e meu irmão, sabre. Meu pai era de sabre. Mas florete, para mulher, é melhor porque é mais leve.

Somente que a gente não contou com o verão do Brasil. Quando o verão veio, o uniforme, a máscara de arame, tudo esquenta. A gente ficava muito acalorado, nós todos, os esgrimistas, a turma do professor Jaime. Então subíamos para uma piscina que o clube tinha no último andar.

Era uma boa piscina, com raias e até trampolim de um metro e de três metros. Somente o problema era que, quando acabava a aula do professor Jaime, acabava tudo, porque era de noite, e se fechava a piscina também. Mas aí a gente conversou com a dona Augusta, e ela mandava todo mundo embora, como se fechasse, mas deixava a gente entrar na piscina. Então a piscina se tornava o nosso mundo.

SALTOS ORNAMENTAIS – Entre os caras que faziam esgrima conosco tinha o Eduardo Guidon da Cruz, que, além de tudo o mais, era octacampeão carioca de saltos ornamentais. E eu era muito interessada: “Senhor Guidon, como se faz esse salto?”. Ele dizia, eu ia lá e puff!, caía que nem um saco de batata.Acabava cheia de equimoses, de tanto apanhar caindo do trampolim de três metros. Mas eu aos poucos fui aprendendo. Um dia ele disse: “Olha , já que você está nisso, eu sou do Fluminense, você não quer saltar em competições pelo Fluminense?”

Eu queria, claro. Aí já não dava para eu fazer a sério esgrima e saltos ornamentais porque, entre outras coisas, eu também tinha de trabalhar. Naquela época, eu vendia cremes de porta em porta, para poder sobreviver. Logo depois eu me empreguei como desenhista de arquitetura. Já que era desenhista, depois me inscrevi na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, que agora é a UFRJ.

 OLIMPÍADA DE 1948 – Comecei a saltar com 21 anos. Para ser realmente competitiva internacionalmente em saltos era tarde, porque as meninas boas vão de 15 a 18, 19 anos, porque têm mais flexibilidade. Mas, considerando minha provecta idade, na época, eu era bastante boa. Bastante boa para nove anos seguidos ser campeã carioca; fui campeã brasileira, vice-campeã sul-americana etc. Para gasto doméstico, dava.

Para internacional, foi o seguinte… Eu iria, teria ido para a Olimpíada de Londres, em 1948. Mas teria de fazer um certo número de pontos, um índice. Numa escala de 90 pontos que eu precisava fazer para o índice, eu fiz 89,93. Quer dizer: quase. E fiz porque não tive tempo de treinar, porque já estava na faculdade.

Era época de provas parciais. Eu não ia perder um ano de faculdade para treinar um pouco mais. Não estava nos meus planos. Eu tinha urgência de me formar e ganhar um pouco mais, porque tendo o título de arquiteta eu poderia ganhar melhor. Eu já estava fazendo trabalho de arquiteta, mas, como era desenhista, era um pouco explorada.

Todo mundo ficou com uma pena muito grande. Os jornais escreveram que deveriam me dar uma nova chance… E a Federação argumentou que havia um número muito certo de passagens e custava muito e, se abrissem exceção para mim, teriam de abrir para todos os outros e isso e aquilo.

Tá bom. Cara, quando a equipe foi, foi com um monte de paredros [cartolas] que você não pode nem imaginar… Presidentes de clubes, vice-presidentes, as mulheres dos paredros, os filhos dos paredros, as babás dos filhos dos paredros, mas eles não tiveram uma passagem para eu poder ir.

Isso me doeu muito e me dói até hoje.

PIOR DERROTA – Foi em saltos ornamentais no Sul-americano de Montevidéu, contra a Eleonora Schmidt. Ela era melhor do que eu em trampolim, mas eu era melhor em plataforma de dez metros. O último salto era igual para nós duas, um e meio mortal em voo. Ela, como era mais sábia, escolheu um e meio mortal grupado; e eu escolhi o um e meio mortal carpado, que era mais difícil. Eu entrei faltando [mostra com as mãos a entrada errada na água], ela entrou agulhando, pá!

Os juízes me tiraram tanto da nota que por décimos eu perdi o campeonato. Eu fiquei furiosa. Claro, dei os parabéns para ela. Mas no chuveiro eu chorei tanto… Eu era nova, foi em 1949, tinha 25 anos. Chorei muito… Mas hoje não choraria. Cheguei à á conclusão de que é tudo brincadeira. É a continuação das brincadeiras que eu fazia quando criança, com os outros meninos.

INTERVALO NÃO ESPORTIVO – Até grávida cheguei a saltar, até o quarto mês de gravidez. Eu tinha 29 anos e meio quando a Cora nasceu; estava com 31 e meio quando a Laura nasceu. E vinham essas meninas de 15 anos saltar. Resolvi parar, porque você não aguenta. Eu já estava saltando de plataforma de dez metros, que é melhor porque você tem mais tempo para desenvolver o salto.

Foi quando desisti. Tinha que tomar conta da casa. Meu pai, já viúvo, morava com a gente. Eu era dona de casa, era professora, era arquiteta.

Então teve um período de uns 30 anos em que eu não fiz exercício nenhum. Eu realmente gostava de me mexer. Era até infantil, mas eu sentia vontade de fazer. Quando ia na rua e havia umas bolotas para evitar que as pessoas atravessassem, eu ficava pulando de bolota em bolota… Essas coisas, assim, o que podia fazer, pular cerca. Eu fazia qualquer coisa… Era infantil, mas me dava prazer.

REÇOMEÇO – Voltei a nadar quando o Paulo [Rónai] estava muito doente. Ele ficava no sítio em Friburgo. Vinha uma médica que era muito dedicada. Ela me disse que tinha sido nadadora do América Futebol Clube, eu contei que também nadava. E ela disse que a gente poderia nadar ali em Friburgo, na nova piscina do clube Pulo N`Água. E o Paulo, que já não podia falar, porque tinha câncer na laringe, bateu palmas, mostrando que apoiava. Ele sempre me apoiou em tudo o que eu quisesse fazer.

SUL-AMERICANO MASTERS 1 – Apareceu por lá [Friburgo] uma turma do Clube de Regatas Icaraí, de Niterói. O Gastão Figueiredo, que era um grande nadador, mundialmente reconhecido, a mulher do Figueiredo, o Luiz Sodré, também ótimo nadador, faziam palestras sobre natação master. No final, o Gastão me chamou: “Olha, eu vi você nadando por aí, você nada direitinho”. Eu digo: “Muito obrigado”. E ele: “Você não quer nadar pelo Icaraí? Daqui a um mês tem um campeonato sul-americano em Belo Horizonte, e nós arranjamos com a Prefeitura um ônibus e vamos de graça. Você não quer ir com a gente?”.  “Eu vou”, respondi.

SUL-AMERICANO MASTERS 2 – O campeonato foi no Minas Tênis Clube. As arquibancadas eram pintadas de cor de rosa, sem nenhuma diferença, e os degraus eram um pouco mais altos que os degraus comuns. Eu não estava acostumada: faltou um espaçozinho, eu botei o pé e naquela hora senti uma dor violenta no pé direito e sentei, porque me doeu muito. Quebrei o pé.

Fui a uma clínica ortopédica logo ali ao lado, o cara queria engessar. Eu disse: “Não senhor, porque eu tenho de nadar, estou inscrita”. Aí ele me botou uma tala que eu podia tirar e eu nadei o campeonato com o pé quebrado.

Consegui o primeiro lugar, naturalmente, em peito, e o segundo em crawl. Não nadei o 800 m, que eu teria ganho seguramente, porque sei do meu tempo, porque o médico da nossa seleção me proibiu. Àquela altura, meu pé já estava roxo, inchado, mas eu ia lá, pulava numa perna só. Nadei bastante provas, tive várias medalhas nesse sul-americano. Mas não fui um espanto porque doía.

TREINAMENTO – Normalmente meu treino é assim: 400 de borboleta, 400 de costas, 400 de peito e 400 de crawl, 1.600 metros. Isso porque reduzi dos 2.000 que eu fazia. Nos últimos meses, quando começou a esfriar, reduzi para 1.200 m. Treino às terças, quartas, quintas e sextas. Quatro dias por semana. Em geral vou a pé até o clube, é mais rápido. Fica a uns 700 metros daqui de casa, mas de carro é preciso dar muitas voltas.

PRIMEIRO MUNDIAL – Também foi em Montreal. Eu estava com 69 anos. Eu já nadava direitinho, mas não fui primeira nem nada, o primeiro Mundial nunca é assim. Tirei um quinto lugar em peito, mas eram 30 concorrentes, então o quinto não é tão ruim assim. E tiramos um terceiro no revezamento, tinha 16 revezamentos, também não foi tão ruim assim. Fiquei satisfeita.

PRIMEIRO OURO EM MUNDIAL – No terceiro Mundial em que participei, em Munique (2000), o Gastão Figueiredo e a Maria Lenk me chamaram para fazer um 4×50 medley com eles. E aí ganhamos medalha de ouro. Eu nadei peito, naturalmente. Quando o Gastão me telefonou e convidou, eu não dormi a noite inteira, de tão excitada que fiquei. Puxa, esses nadadores me chamando!! Eu devo ser aquele gato do ditado (quem não tem cão caça com gato). Não consegui dormir, de tão honrada que fiquei, feliz da vida.

MUNDIAL DE MONTREAL 2014 – As piscinas eram transitórias, seriam desmontadas depois. Não havia vestiário nem banheiros, apenas banheiros químicos. Foi algo meio improvisado. Um dia as mulheres nadavam na piscina melhorzinha e os homens na piorzinha; depois trocava. Nós já tivemos no Brasil campeonatos muito melhores do que esse.

A água era magnífica, dentro do padrão. Água é água, mas há águas fáceis e águas difíceis. Há águas em que você acha que está nadando em um líquido viscoso. E há águas fáceis, em que você parece flutuar melhor. Não sei dizer porquê, mas isso acontece.

A água estava boa, dava para nadar bem e se sentir bem. Mas, fora da água, você não tinha uma cadeira para sentar. Estava ao relento. Na chuva, pegava chuva; no sol, não tinha onde abrigar. Era horrível. O pessoal tinha de sentar no chão. E o chão era disputado por milhares de pessoas.

RECORDES –Eu me divirto muito. Com esses recordes, eu fiquei muito, muito contente, realmente muito contente. Mas, se perdesse, eu não ficaria infeliz de jeito nenhum. Apenas não teria a grandíssima satisfação que tive agora.

ENVELHECIMENTO – Toda a vez que mudo de faixa etária, eu quebro um certo número de recordes sul-americanos. No ano seguinte, eu não consigo quebrar o meu próximo recorde. Isso me aconteceu uma única vez. Eu fiquei tão feliz que pulava até o teto de felicidade. Foi há muitos anos. É tão raro, porque não dá. A gente piora muito. Entre o primeiro ano da nova faixa etária e o último é uma piora incrível. A gente perde muita explosão, força muscular, resistência cardíaca.
Os novos treinam para melhorar de tempo. Nós, velhos, treinamos para não piorar tanto.

PRAZER – Na infância, eu gostava muito de nadar. Até hoje, eu pulando na água me sinto quase como que no colo de minha mãe, porque toda a questão de nadar, de água, se liga à minha convivência com mamãe.

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Inscrição para a São Silvestre sobe mais do que a inflação

Por Rodolfo Lucena
12/09/14 11:13

Já estão abertas as inscrições para a mais tradicional e importante corrida de rua do país, a São Silvestre, que neste ano chega à sua edição de número 90.

O valor da inscrição para o pelotão geral passou para R$ 135, o que significa um aumento de 8% em relação aos R$ 125 que eu paguei no ano passado.

Isso é mais do que a inflação dos últimos 12 meses, que chegou a 6,35% (INPC-IBGE).

Vale? Não vale?

De certo, a corrida é muito divertida. Para muitos, é a única prova de rua que fazem, no ano. Outros aguardam a São Silvestre para fazer seu debute nas corridas. Famílias inteiras fazem da participação na prova seu ritual de encontro de fim de ano. Há gente que encontra parceiro ou se separa na São Silvestre, há quem se machuque ou morra.

A organização vem castigando os participantes. Não há desculpa para servir água quente, por exemplo. No ano passado, alguns postos de abastecimento estavam secos quando os mais lentos chegaram.

Quanto ao preço, pode ser caro para uns e barato para outros, como tudo na vida.

É o mesmo custo, por exemplo, de uma prova de 10 km do circuito Track&Field, que inclui café da manhã (sem a comilança, a inscrição é R$ 95).

Mas é bem mais alto que uma prova de 12 km de Ouro Preto a Mariana, em Minas, que custa R$ 80 até o fim deste mês.

O percurso é o mesmo do ano passado, assim como o horário de largada.

Eu gostei do trajeto, com exceção da maldita descida da Major Natanael. Dá uma passada pelo Arouche, visita alguns pontos históricos da cidade. Já em relação ao horário, eu preferiria que fosse mais cedo.

O certo é que quem faz a inscrição aceita e avaliza as condições em que a prova é realizada. Há que exigir que a organização cumpra sua parte –coisa que, na minha opinião, não vem fazendo a contento–, mas o calor, as subidas e as descidas fazem parte da mística da São Silvestre.

12 percurso

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Imagem do filho correndo inspira estreia de executiva nos 10 km

Por Rodolfo Lucena
09/09/14 11:09

10 tomoe criancas

Na semana que vem, Tomoe  Himukai celebra o primeiro ano de sua nova vida. No dia 15 de setembro do ano passado, ela participou pela primeira vez de uma corrida de rua de dez quilômetros. Ao longo daqueles setenta e poucos minutos, aprendeu mais sobre si mesma e sua vida do que se estudasse anos e anos de filosofia ou qualquer outra humanidade.

Executiva de uma empresa modernosa, que produz aplicativos para uso em celulares e tablets, além de desenvolver traquitanas tecnológicas para uso em esportes, Himukai é, aos 36 anos, uma filha da globalização.

De família japonesa tradicional, vive hoje na Áustria e, na empresa em que trabalha, cuida de relações internacionais –afinal, é craque em espanhol e recentemente recebeu seu diploma de proficiência em português.

No momentoso território das corridas, porém, a jovem senhora Tomoe sempre quis distância. Na faculdade, até que não se saía mal nas aulas de educação física, que fazia por obrigação, para conquistar os necessários créditos para sua formatura em marketing.

“Depois de formada, eu preferia ler livros, confortavelmente sentada em cafeterias”, me diz ela em São Paulo, onde esteve em visita a trabalho no mês passado. Aproveitou para conhecer ao vivo seu professor de português, que lhe deu aulas via internet (ih, acho que do jeito que escrevi, pode parecer que fui eu a dar aulas; para que fique claro, não fui eu, que conheci Tomoe em uma entrevista sobre produtos esportivos).

Aliás, suas novas atividades de certa forma a chamaram para a corrida; precisava experimentar os produtos que demonstrava ao público. Além disso, depois de ter o segundo filho, achava estar um pouco acima do peso e resolveu buscar na corrida parceira para entrar em forma.

10tomoe abre“No primeiro dia, foram só três quilômetros, beem devagar, mas eu já estava morta, sofrendo… Ao mesmo tempo, tinha uma sensação tão boa, tão boa, de fazer parte dessa comunidade saudável. Fiquei até emocionada.”

A emoção se traduziu em dedicação ao esporte, que encarava pelo prazer. “Eu não tinha nenhum objetivo. Apenas sair, correr até ficar supercansada e voltar para casa direitinho, tomar meu banho e pronto…”

Começou a criar amizades no mundo das corridas, na própria empresa ganhava mais informações, as conversas giravam sobre o esporte e … tchan-tchan-tchan-tchan! Ela resolveu fazer uma corrida.

“Em maio era meu aniversário. Então pedi de presente aos meus sogros que eles cuidassem de meus filhos por um dia para que eu pudesse participar de uma corrida.”

Promessa feita, pedido aceito, ele se inscreveu na Maratona de Wachau, que seria quatro meses mais tarde, em setembro do ano passado. Trata-se de um evento multidistância: além da maratona, há meia maratona, corrida de dez quilômetros e ainda provas para as crianças, na véspera do evento principal.

Já que dona Himukai ia correr, botou toda a família na dança. O marido fez sua estreia na meia maratona, e os filhos correram as provas infantis (no alto, foto geral de uma das corridas das crianças/Divulgação).

“Eu vi as minhas crianças correrem pela primeira vez, e fiquei tão emocionada. Eles estavam tão alegres, com a cara toda vermelha…”, conta ela. O filho mais novo, Tom, de três anos, enfrentou a portentosa distância de 200 metros; para o mais velho, Leo, de cinco anos, foram 550 metros. A cada um, uma emoção diferente.

“Tom correu com os menores, e eles tinham direito a serem acompanhados pelo pai ou pela mãe. Então corri com ele, de mãos dadas, e meu merido nos esperou na linha de chegada, era apenas uma reta…”

Com Leo foi outra história. Ele correu sozinho, e o percurso entrava nas ruas da cidade, dobrava esquinas antes de chegar ao final. Quem ficasse esperando na linha de chegada, como Tomoe, conseguia ver apenas a largada e a chegada, não o desenrolar da prova.

“Quando largaram, Leo estava na primeira linha. Mas, quando eu o vi novamente, ele já tinha ficado bem para trás. Eu já estava me preparando para ser supermãe e consolá-lo. Mas ele não precisou! Quando chegou, ele estava tããããao feliz e orgulhoso!! Só então percebi que quem estava preocupado com desempenho era eu, pensando que corer mais rápido do que os outros é que tem valor. Ali eu aprendi que, pelo menos nas corridas de rua, entre atletas amadores, ganhar dos outros não é o que importa, mas sim vencer a você mesmo.”

Aprendizado que levou para o dia seguinte, quando botou o bloco na rua para debutar em uma prova de dez quilômetros (foto acima/Arquivo Pessoal).

“Eu sou muito, muito lenta. Quando corro sozinha, isso não faz diferença. Na corrida, porém, eu via tanta gente mais rápida do que eu, tanta gente passando por mim, que eu desanimava, tinha de brigar comigo mesma para continuar correndo. Lembrar do rostinho sério de Leo durante a corrida e seu orgulho ao receber a medalha foi uma inspiração, me encorajou a prosseguir.”

10tomoe 1

As conquistas do dia marcaram a família. Desde então, os dois meninos já participaram de outros cinco eventos. O marido de dona Himukai fez várias corridas e resolveu partir para o triatlo. E a própria Tomoe debutou neste ano na meia maratona.

 

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Corredor muda de assunto e conversa com Ken Follett sobre literatura e best-sellers

Por Rodolfo Lucena
03/09/14 13:10

A primeira benesse que a fama e a fortuna propiciaram para o escritor britânico Ken Follet foi a possibilidade de mudar com a família para o sul da França, apreciando a boa comida, o bom clima, as belezas e o sol delicioso da região. Até então era um fracassado candidato a escritor. Funcionário de uma editora, produzia no tempo livre histórias de espionagem.

Foram aceitas por editoras, viraram livros, mas uma a uma encalharam nas prateleiras. Foram dez tentativas. O décimo-primeiro livro de Follett foi “O Buraco da Agulha”, lançado em 1978 com estrondoso sucesso, ampliado depois de virar um ótimo filme estrelado pelo não menos ótimo Donald Sutherland.

Desde então, o autor britânico acumula best-sellers de leitura extensiva: vários volumes têm mais de mil páginas. Isso não assusta seu leitorado, que já comprou mais de 150 milhões de exemplares e, a julgar pelas expectativas de mercado, vai continuar se divertindo com as rocambolescas tramas que Follet arquiteta.

Na semana passada, ele esteve brevemente no Brasil. Deu uma palestra durante a Bienal do Livro, quando também autografou alguns exemplares de seu mais recente sucesso, “Eternidade Por Um Fio”, que finaliza a triologia “Século”. Na manhã de quinta-feira, 28 de agosto, conversei com ele em um dos restaurantes do luxuoso hotel em que estava instalado em São Paulo (foto Ernesto Rodrigues/Folhapress).

Em boa forma física, vestia um elegante terno quase completo –faltavam-lhe as meias. Apesar de viajar por empresa britânica de alto coturno, teve a bagagem extraviada pela companhia, que lhe prometia entregar as malas perdidas em 24 horas.

A reportagem que produzi com, base na entrevista foi publicada na Folha no sábado 29 (leia AQUI), mas nossa conversa rendeu muito mais que os parcos caracteres impressos. Por isso, deixo hoje de falar de corrida e trago para você a transcrição de minha conversa com um dos maiores escritores de best-sellers do mundo.

ERNESTO RODRIGUES

Por que seus livros são tão grossos?

Bem, essa é uma longa história, a história do século 20. São três longos livros. É por causa da história. Há algumas histórias são curtas, dão livros pequenos, como um pequeno livro sobre um assassinato. Pode ser muito rápido. Mas, se você tem um grande livro como esse, que é sobre guerras, revoluções, política, romance, é um livro grande. As pessoas gostam de livros grandes.

Parece que é uma tendência…

As pessoas gostam de livros grandes. Se um livro é bom, as pessoas querem ficar lendo por bastante tempo. Claro que, se for chato, é terrível… Você lê algumas páginas e fica pensando em quanto mais vai ter de ler… Mas, se é empolgante, interessante, você não quer que ele termine. Meus livros grossos são mais populares que meus livros mais curtos…

O senhor recebe feedback dos leitores?

Sim, claro, ele tuítam, respondem aos meus tuítes, mandam cartas, e eu tenho uma página no Facebook. Então ouço muito os meus leitores. O que eu gosto de ouvi-los dizendo é “comecei a ler seu livro e não consegui mais parar”.  “Pilares da Terra” foi o primeiro livro realmente longo que eu escrevi, com mais de mil páginas… E um dos leitores me disse: “Eu adorei, mas queria que fosse maior”.

Por que escrever um livro sobre o século 20, tendo sucesso garantido nos cenários medievais?

Eu queria produzir outro livro grande, mas não queria continuar imediatamente no terreno medieval depois de “Mundo Sem fim”. Eu fiquei matutando sobre o que eu deveria escrever, qual seria um período empolgante da história, e então pensei no século 20. É muito dramático. Nós tivemos três grande guerras: a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial  e a Guerra Fria.

A Primeira Guerra foi a guerra mais terrível que a humanidade tinha tido até então, e a Segunda Guerra Mundial foi ainda pior. E a Guerra Fria nunca se transformou numa guerra quente, mas, se tivesse se transformado, nós todos estaríamos mortos, o mundo destruído. É terrivelmente dramático e é a nossa história. Você e eu nascemos no século 20, assim como nossos pais. As coisas que aconteceram no século 20 aconteceram conosco, nós estávamos lá, nós vivemos algumas desses eventos, e nossos pais e avós participaram de alguns deles.

Eu tenho fotos de meu avô em seu uniforme de soldado da Primeira Guerra Mundial. Ainda bem que ele não chegou a ir para o front de batalha, porque então provavelmente eu não estaria aqui falando com você. É a nossa história, uma história tremendamente dramática. Quando eu comecei a pensar no século 20 dessa forma, fiquei realmente empolgado.

O senhor faz muita pesquisa antes de escrever seus livros?

Para escrever “Eternidade Por Um Fio”, fiz duas viagens especiais. Fui a Cuba, porque uma das piores crises da Guerra Fria foi a Crise dos Mísseis, e geralmente as pessoas escrevem a respeito a partir do ponto de vista norte-americano. Mas eu queria que um de meus personagens estivesse em Cuba, porque aquilo poderia ser muito mais assustador. Um dos meus personagens está em Cuba. Eu precisava mesmo ir até lá, apenas por alguns dias, para sentir como é o país, para ver como é Cuba…

E como é Cuba?

As pessoas são muito bacanas, foi uma viagem ótima, mas é um país muito pobre. É um país muito pobre, mas as pessoas parecem muito felizes, alegres. Eles se divertem. Talvez seja por causa do clima, eles têm tempo bom por lá. Se você for pobre na Escócia, a vida é terrível porque você é pobre e passa muito frio. Mas imagino que, se você é pobre em Cuba, pelo menos você está quentinho. Não sei… Qualquer que seja a razão, Cuba se destaca para mim como um país muito pobre, mas muito alegre, feliz. Isso foi muito interessante.

E sua outra viagem?
Eu fui para o Sul profundo dos Estados Unidos para estudar a história da campanha pelos Direitos Civis, que é uma parte grande do meu livro, a campanha para que os afro-americanos tivessem direitos iguais aos dos brancos. Eu sabia bastante sobre a história, mas queria conhecer alguns dos lugares onde aconteceram aquelas manifestações e enfrentamentos, batalhas de verdade.

Foi muito comovente. Aquelas pessoas que, nos anos 1960, foram espancadas, presas ou mortas –muita gente foi assassinada naquele período–, aquelas pessoas são heróis hoje em dia. E há estátuas em homenagem a eles. Nos anos 1960, eles foram tratados como as piores pessoas do mundo, agora são grandes heróis. Foi uma viagem emocional. Eles enfrentaram aquela batalha e venceram. E hoje os Estados Unidos têm um presidente afro americano. O que é surpreendente.

E era impensável naquela época…

Totalmente! A maioria daquelas cidades não tinha sequer um policial afro-americano. Era uma força policial totalmente branca. Então a mudança é realmente impressionante. Foi uma viagem muito interessante. E é uma parte muito dramática do século 20 e da história do meu livro.

O senhor também conheceu um parlamentar cuja história lembra a de um de seus personagens…

John Lewis. Nos anos 1960, ele era líder de um grupo chamado SNCC (Student Nonviolent Coordinating Committee, comitê de coordenação de estudantes pela não-violência). Ele tinha 20 anos e era o líder desse grupo, e ele foi espancado, sua cabeça foi quebrada pela polícia em uma daquelas manifestações. É uma lesão muito grave… E hoje ele é um membro do Congresso norte-americano. Eu o entrevistei.

O senhor mesmo faz toda pesquisa ou tem pesquisadores que o auxiliam?

Eu faço a maior parte da pesquisa. Há um pesquisador que me ajuda de vez em quando para encontrar material mais difícil, livros antigos, mapas antigos, velhas fotografias… Mas a pesquisa mesmo sou eu quem faz, não posso passar isso para outra pessoa.

Eu uso especialistas na revisão. Depois de escrever a primeira versão de uma história, mostro para várias pessoas… No caso de “Eternidade por um Fio”, mostrei para especialistas em história dos EUA, da Rússia, da Alemanha e também para algumas pessoas que viveram aqueles momentos –eu tenho um amigo que foi um artista pop nos anos 1960, tenho dois amigos que lutaram no Vietnã. No caso dos especialistas, eu pago para que eles façam uma revisão e façam um relatório detalhado de suas observações. Daí eu corrijo e reescrevo.

No seu livro, houve alguma parte mais complicada para escrever?

Bem, eu não sabia direito como iria falar da vida sexual do presidente Kennedy. Porque é sabido que ele teve muitas mulheres, centenas delas… E isso é uma parte importante da história, e eu não sabia direito tratá-la. Mas então uma das amantes de Kennedy, Mimi Alford, escreveu um livro [“Once Upon a Secret”, Era uma vez um segredo (2013)] que foi publicado enquanto eu estava trabalhando em “Eternidade por um Fio”. Eu li o livro e entrei em contato com ela, pedi para me ajudar e ela concordou. Então cenas de sexo envolvendo o presidente Kennedy são autênticas. Pensei que seria difícil, mas, quando ela concordou em me ajudar ficou fácil.

Seus livros são produzidos como entretenimento, mas o senhor acredita que eles possam ser também educativos?

Acho que as pessoas leem meus livros por prazer, porque gostam da história. Mas eles também gostam da sensação de ter aprendido alguma coisa ou entendido melhor algum momento. Talvez as razões do início da Primeira Guerra ou da Guerra do Vietnã. Não foi por isso que eles compraram o livro, mas é uma espécie de bônus, um extra. Acho que os leitores gostam disso. Nós escritores temos de dar aos leitores algo que eles não possam ter na televisão. Os dramas televisivos são ótimos, mas eu quero que as pessoas desliguem a TV e peguem meus livros. Então eu tenho de dar a elas alguma coisa especial. E aprender algo de história é como os extras que você recebe nos DVDs…

O senhor trabalha com muitos fatos, muitos personagens. Há um método para não se perder no meio da história?

Eu passo muito tempo planejando cada livro. Para esse livro, por exemplo, foram oito meses de planejamento. Então, antes de começara escrever o primeiro capítulo eu faço um looongo sumário do livro, que conta o que acontece em cada capítulo, mostra quem são os personagens, quais seus sentimentos, o que eles esperam, o que eles temem… Então, grande parte do livro está definida desde o início.

Quando escrevo a primeira versão, trabalho com esse sumário na minha frente. Vejo o que acontece no capítulo um, qual a primeira coisa, o que vem depois e assim por diante. Ter esse esboço torna mais fácil escrever a história, garante que o conjunto seja coerente. Antes de começar a escrever o primeiro capítulo eu já sei como o livro vai terminar. Tudo se movimenta logicamente em direção àquele desfecho.

O senhor nunca é surpreendido por algum personagem, como alguns autores às vezes comentam a respeito de suas criaturas?

Não, isso não acontece comigo. Algumas vezes eu chego a algum ponto na história e percebo que o que eu escrevi no esboço não vai funcionar e daí eu tenho de mudar, pensar em algo diferente. Mas isso não acontece muitas vezes porque eu invisto muito tempo no planejamento da história, pensando nessas pessoas, nas suas vidas, no que eles querem, o que eles temem… Então a maioria das decisões artísticas é tomada quando eu faço o plano geral do livro.

E quanto o senhor trabalha, tem um horário definido?

Eu escrevo o dia todo. Às vezes leio autores que dizem que escrevem pela manhã. Gabriel García Márquez costuma dizer que escrevia pela manhã e escrevia à tarde Bem que eu gostaria! Para mim, a escrita toma o dia todo. Eu gosto de começar cedo, de manhã eu estou cheio de energia… De tarde, lá pelas cinco da tarde, eu já estou meio esgotado. Em geral, paro de trabalhar às cinco e às seis eu tomo uma taça de champanhe.

Para cada livro, eu traço um plano de trabalho. Eu vejo quantas páginas o livro vai ter calculo quantas páginas preciso escrever por dia para terminar no prazo desejado. E daí vou em frente. Se chego na sexta e não estou com a cota da semana pronta, escrevo no sábado. Se sábado não for suficiente, trabalho no domingo.

O senhor falou de seu champanhe diário. O senhor é um apreciador de vinhos?

Eu gosto muito de champanhe, em geral bebo champanhe. Eu conheço bastante os vinhos franceses, mas  gosto de todos os tipos de vinho. Gosto muito dos vinhos espanhóis, por exemplo, ou dos italianos, algumas vezes dos vinhos australianos.

Além de apreciar vinhos, o que o senhor faz quando não está escrevendo?

Gosto muito de ir ao teatro. Vivo em Londres, então há muitos teatros para ir, é uma das vantagens de viver em Londres. Eu gosto especialmente de peças de Shakespeare… E eu toco baixo em duas bandas, e venho fazendo isso há muitos anos.  É ótimo, muito relaxante, muito divertido. E muito diferente de escrever…

Uma das boas coisas de tocar numa banda é que você percebe na hora qual o sentimento do público, se a plateia está gostando ou não. Com o livro é muito diferente. Você demora dois anos, às vezes três anos para escrever, depois tem de ser impresso, vai para as livrarias, as pessoas compram, e eventualmente algum leitor manda uma carta ou um tuíte…

Com a banda, você vê: se eles dançam ou se mexem, é porque você está indo bem… Se estão quietos, é terrível… Você tem de fazer algo, tocar melhor, uma outra música talvez, é muito difícil… Mas você sabe na hora a reação do público; com o livro, demora anos para você saber se gostaram.

A crítica costuma torcer o nariz para best-sellers, que não são considerados alta literatura. È importante fazer alta literatura?

Para mim, não é importante. Eu sempre quis escrever histórias que encantassem milhões de pessoas. Eu entendo que outros autores tenham projetos diferentes. Alguns deles, escritores de alta literatura, são meus amigos,e eu respeito o que eles fazem, mas não é o que eu faço. Eu não esse conceito sobre o meu trabalho.

Eu sempre penso sobre os leitores quando eu escrevo. Será que eles vão acreditar que tal fato acontecer?, será que eles vão se interessar?, será que eles vão se importar?, será que eles vão se perguntar o que vem depois?. Eu faço essas perguntas a mim mesmo, penso nos leitores o tempo todo.

Meus amigos que produzem alta literatura não pensam desse jeito, eles não se perguntam sobre os leitores. Muitos deles dizem que escrevem para eles mesmos, escrevem o que eles pensam que é bom. Talvez outras pessoas gostem, talvez não, mas eles escrevem do mesmo jeito. Eu não fui assim, eu tento escrever o que as pessoas vão gostar.

 Considerando a resposta dos leitores, são seriam os best-sellers a alta literatura?

O público com certeza é um crítico severo. Se eles não gostam de um livro, não vão comprar o próximo. Mesmo que você tenha escrito 25 sucessos, você ainda tem de garantir que seu próximo livro seja bom. Não penso muito sobre o que é ou deixa de ser alta literatura, sei que muitas pessoas pensam e há muita gente que não considere importante a literatura popular…

Eu realmente escrevo de uma maneira muito tradicional. De certa forma, escrevo do jeito que autores do século 19 escreviam: há uma história, há personagens, há acontecimentos, não é algo impressionista. Claro que nós sabemos que, no século 20, autores fizeram várias experiências com o romance, e tivemos livros muito incomuns, como “Ulisses”, de James Joyce, ou a obra de Proust,q eu foi algo completamente diferente. Mas eu não faço isso, eu escrevo do jeito tradicional, e quase todos os autores na lista de best-sellers escrevem de forma tradicional.

O senhor falou da reação severa do público. Algum de seus livros foi rejeitado?

Não (bate na madeira…). Bem, meus primeiros livros, os livros do começo de minha carreira não fizeram sucesso. Escrevi dez livros que foram um fracasso até fazer “O Buraco da Agulha”. Desde então, todos os meus livros fizeram sucesso.

E como “O Buraco da Agulha” mudou sua vida?

Bom, com o sucesso de “O Buraco da Agulha” eu pude deixar de trabalhar em outras coisas e me dedicar somente a escrever. Eu trabalhava numa editora, pedi demissão e me transformei em escritor de tempo integral. E tinha muito mais dinheiro do que antes, o que foi muito bom. E fui morar com a minha família na França, que era um sonho antigo, morar no sul da França, que é quente e ensolarado.

Mas a coisa mais importante, quando aquele livro fez sucesso, era saber se eu poderia escrever outro livro tão bom. Muita gente escreve um bom livro e então sua carreira acaba, eles simplesmente não conseguem fazer sucessos novamente. Isso acontece com muita gente. E eu pensava: será que isso vai acontecer comigo? E eu pensava que tinha de escrever logo outro livro e que ele precisava ser tão bom quanto “O Buraco da Agulha”. E acho que, de certa forma, é o que eu venho fazendo desde então…

Com “Pilares da Terra”, o sucesso foi ainda maior…

Aquilo foi diferente. Até então, eu vinha escrevendo livros de espionagem, e “Pilares da Terra” foi sobre a construção de uma igreja na Idade Média. Foi uma mudança bastante radical, mas no final se tornou maios popular do que tudo que eu tinha escrito até então. Foi um sucesso enorme. Escrever aquela história foi uma boa decisão. Foi uma decisão arriscada, e muita gente tinha dúvidas sobre aquele caminho, mas realmente funcionou bem.

Nos últimos anos, a sua mulher se tornou a presidente de sua companhia. Como é trabalhar com ela?

É ótimo! Ser um escritor é um negócio, mas, se eu gastar meu tempo cuidando dos negócios não vou escrever livros. Eu tenho de me concentrar nisso, em escrever. Toda essa história com  advogados, contadores, contratos, é muito difícil de administrar. Minha mulher estava na política, era congressista. Quando ela se aposentou, pedi que ela cuidasse dos meus negócios, e estou muito feliz com isso, eu não preciso me preocupar com nada…

Escrever livros em série é uma tendência….

Não sei. Quando escrevi “Pilares da Terra”, as pessoas começaram a me perguntar sobre o que viria depois. De certa forma, houve uma demanda dos leitores. Era o que eles queriam… E eu esperei bastante tempo, foram 18 anos de intervalo até que eu lancei uma sequência de “Pilares da Terra”, mas por todo aquele tempo os leitores me pediam uma sequência. Como leitor, eu também gosto de séries…

Planos para o futuro…

Estou escrevendo um terceiro livro da série “Pilares…”. O segundo da série se passa 200 anos depois de “Pilares da Terra”; neste agora serão outros 200 anos de intervalo, então é no século 16. E é sobre espionagem, porque no século 16 já havia espiões e havia muitas armações, muitos planos para matara a rainha Elizabeth… Essa é a história em que estou trabalhando. Depois disso, não sei direito. Eu pretendo escrever uns três livros nos próximos nove anos, livros longos como esses, mas mais que isso não sei…

 

 

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Pulseira high-tech mede passos e batimentos cardíacos, mas não fala com a internet

Por Rodolfo Lucena
01/09/14 14:02

01 gear abre

Ela avisa quando alguém liga, contabiliza o número de seus passos e batimentos cardíacos, registra detalhes de suas corridas, controla o andar das músicas que tocam no seu fone de ouvido e até monitora seu sono. Cafezinho e beijo na boca, que é bom, necas –mas pode servir de assunto de conversa durante um cafezinho com alguém que lhe dê beijim.

Estou falando da Gear Fit, combinação de relógio high-tech e pulseira da boa forma lançada recentemente pela Samsung. Testei o equipamento durante as últimas duas semanas, e ele me causou boa impressão.

Claro que, como outras pulseiras atléticas ou da boa forma lançadas por um batalhão de empresas nos últimos tempos, não substitui o relógio com GPS. Isso significa que não é indicado para um corredor que queira ter registros precisos de seus treinos ou deseje usar o relógio como parceiro de treinamento.

Entretanto, como já falei a respeito da pulseira semelhante lançada pela Garmin, pode ser uma boa parceira para quem esteja tentando sair do sedentarismo. Pode ser útil para quem gosta simplesmente de dar corridinhas ou caminhadas sem compromisso, sem preocupação com treino.

Com uma elegante tela curva de pouco menos de cinco centímetros, é mais bonita e oferece mais recursos que pulseiras assemelhadas que já testei. Também é mais cara, mas a diferença de preço é relativamente pequena, considerando a oferta maior de serviços.

Sua principal lacuna, cá no meu entender, é a falta de comunicação com a internet. Seria interessante ver os registros em tela grande, poder fazer análises etc., assim como fazemos com os dados capturados por outros equipamentos, como os relógios com GPS.

Por certo, oferece um substituto, o aplicativo S Health, que cumpre a função de consolidar e armazenar as informações em algum celular Samsung –a pulseira funciona “casada” com o telefone, em comunicação permanente com ele via Blutooth. Com ele, porém, como é óbvio, o usuário fica restrito ao universo Samsung –aliás, a pulseira só funciona com celulares da marca, como seria de esperar.

01gear de costas VAUma inovação muito boa é o sistema de monitoramento dos batimentos cardíacos, que não exige o uso da famosa e nem sempre confortável cinta com sensores para captar os movimentos do coração –isso é feito por um sensor ótico localizado na traseira do aparelho.

Algumas resenhas feitas por sites americanos reclamam da falta de acuidade do frequencímetro do Gear Fit. Não cheguei a comparar a medição feita por ele e a por cinta de monitoramento cardíaco, mas os resultados que o aparelho deu em vários treinos e, especialmente, em uma corrida em que participei, foram compatíveis com meu histórico.

Falando em corrida, é aí que mora o perigo quando se trata de precisão. Todos os registros do Gear Fit foram diferentes dos dados capturados pelo meu Garmin e também de um outro relógio com GPS que testei naquela oportunidade –o teste será publicado aqui na próxima segunda-feira.

Meu ritmo médio, por exemplo, foi de 6min19/km segundo o GPS, e 5min56/km no Gear Fit, que registrou a distância percorrida como 5,26 km (no relógio, foi 4,87 km). Outros índices, como velocidades máxima e mínima, também foram discrepantes.

Ainda que a falta de precisão seja um problema, a mim parece que as dificuldades de manejo do aparelho durante uma corrida é que efetivamente dificultam (tornam desconfortável? inviabilizam?) seu uso como parceiro de corridas. Os resultados não aparecem instantaneamente, e há que ficar batucando na tela de um lado para outro para obter as informações.

Funções que não exigem precisão ou acionamento de comandos têm melhor desempenho. A que controla o sono, por exemplo, me informou que passei imóvel 86% de minha noite de descanso; não tenho ideia que bem me faz essa informação, mas está lá…

Comunicando-se com o celular, pode controlar a mídia do aparelho, tocando músicas, avançando as faixas etc. Espero que, se o usuário fora aproveitar esse recurso, que não o faça enquanto estiver correndo na rua.

Também avisa sobre ligações telefônicas e torpedos, e pode dar respostas simples pré-gravadas. Tem cronômetro, temporizador (contador regressivo de tempo) e pedômetro.

O preço sugerido no Brasil é R$ 699, mais caro do que um modelo básico de relógio com  GPS, mas razoável se comparado com outros modelos de pulseira da boa forma.

Antes de encerrar devo dizer que, como a pulseira só funciona em parceria com um telefone Samsung, usei, durante o período de testes, o celular Galaxy S5. Deste, sim, posso dizer que gostei muito. É leve, elegante, rápido e tem uma câmera fotográfica muito boa –que é o principal aspecto que avalio, pois deixei de carregar câmera durante meus treinos e corridas, usando sempre a do celular.

Além de boa definição, com imagens de 16 Mpixels, o software que controla a traz diferentes modos que são acessíveis e inteligíveis até por um taipa como eu. As imagens produzidas foram muito boas, de modo geral, mesmo em condições adversas. Os vídeos também estiveram a contento.

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Festival de falta de educação precede corrida em shopping

Por Rodolfo Lucena
31/08/14 11:19

Saí atrasado, cheguei atrasado, é claro. Mesmo assim, às 6h35 entrei na Marginal Tietê rumo ao estacionamento do shopping Center Norte, onde iria participar de uma corrida de cinco quilômetros. Seria minha primeira participação no circuito Track&Field em toda a história, porque considero muito caras as corridas desse circuito. Para a de hoje, fui a convite.

Apesar de atrasado, confiava que ainda conseguiria pegar meu chip. Afinal, faltavam uns 300 metros apenas para a entrada do estacionamento, e o rigor cronométrico não costuma pautar as barracas onde é feita a entrega; os caras sempre dão uma chance para eventuais retardatários.

Pois logo percebi que talvez não desse certo. Isso porque a fila em que eu estava simplesmente não andava; pela configuração do percurso ali na marginal, era a fila certa, a principal, em que estava a maioria dos carros que iriam entrar no estacionamento.

O problema é que, como acontece em outros locais, onde há filas há furadores de filas. E nossa querida comunidade de corredores, seres supostamente bacanas, apreciadores da paz e da tranquilidade e respeitadores de seus semelhantes, também tem sua parcela de gente que quer levar vantagem em tudo.

Vai daí que, em plena marginal, de repente estavam formadas três filas: a “certa”, digamos assim, mais a dos espertinhos que pretendiam chegar antes roubando espaço pela direito, e ainda a dos supostos motoristas de Fórmula 1 que ultrapassavam a todo pela esquerda para tentar uma vaguinha na fila principal três ou quatro carros à frente.

Para completar a balbúrdia, os corredores-motoristas em carrões importados achavam que só eles queriam chegar ao local da partida da prova antes de soar a corneta da largada. E, além de furarem filas e fazerem ultrapassagens perigosas, se grudavam nas buzinas como se a alaúza fosse  fazer os carros andarem mais rápidos….

Finalmente consigo dobrar à direita na rua que, ela sim, vai dar acesso à entrada do estacionamento. Agora são duas filas; a”certa” e a dos fura-fila. Já são 6h45 passadas, deixo para lá a ideia de pegar o chip –pelo menos, estou com o número na camisa—e torço para conseguir entrar logo no portão que fica a uns 50 metros da marginal.

Estou quase pronto para embicar quando fecham aquele portão. Me senti prejudicado, mas, de fato, os caras que cuidavam do acesso demoraram muito para tomar a medida. Afinal, a redução de velocidade e a parada naquele portão, o mais perto da marginal, eram as causas da bagunça na avenida, ampliada pela falta de educação dos corredores-motoristas.

Um fulano do shopping ou da segurança se postos naquele acesso, encaminhando os carros para um segundo portão, este em uma rua lateral a uma distância de uns 400 metros.Isso acelerou o fluxo dos veículos, mas, quando a gente virou na rua lateral, novamente a fila principal ficou demorada, novamente pela ação deletéria dos fura-fila.

Eu ficava lá pensando: uma gente tão bem de vida, em carros tão bacanas, pagando essa fortuna para correr 5 km (ou 10 km), e tão mal educada, tão desesperada para chegar a um portão um segundo antes do vizinho.

A entrada ficava ainda mais demorada porque cada motorista precisava entregar ao guardador do acesso um ticket, papelzinho descartável que veio grudado no número peito. Imagino que a organização tenha lá suas razões para criar esse sistema, provavelmente algum tipo de controle contratual, mas isso acabou contribuindo para a lentidão do acesso.

É bom que se diga que foi dado tempo de sobra para quem quisesse chegar com tranquilidade ao local da prova: o estacionamento abriu as portas às 5h. Quem chegou tarde foi porque quis, dormiu demais ou, tendo acordado cedo, resolveu fazer tudo devagar, já que tinha bastante tempo –foi o caso deste seu blogueiro.

É óbvio que a organização não é responsável pelo atraso de ninguém. Mas a empresa organizadora é experiente nesses eventos e sabe que boa parte dos corredores chega em cima da hora. Quando esses corredores assumem a dupla-personalidade de corredor-motorista, é um prato cheio para confusão.

Faltou rapidez em tomar providências quando a confusão no acesso ficou evidente.

Aquela medida de fechar o acesso mais próximo da marginal, por exemplo, poder ia ter sido tomada dez ou quinze minutos antes. Pelo que vi, é bem provável que contribuísse para diminuir ou mesmo evitar a bagunça na avenida. Essa história do bilhetinho de acesso me parece dispensável –de novo, imagino que os caras tenham alguma razão; do ponto de vista do usuário, porém, ele não é razoável: só provocou mais demora na entrada.

Com tudo isso, a largada atrasou mais de dez minutos (veja AQUI trecho de vídeo produzido por Eleonora Lucena).

O sistema de som na largada não estava bom. A voz da locutora –pelo que me lembre, é raro ter mulher como mestre de cerimônia de corrida—não chegava longe e seu volume era insuficiente para prover de informações todo o grupo. Mesmo assim, consegui perceber quando ela anunciou que a largada seria em cinco segundos.

Levei ainda uns dois minutos para passar pelo pórtico, largando às 7h14 para o percurso de cinco quilômetros. Gostei do trajeto, apesar de dar um monte de voltas e ser basicamente no estacionamento do shopping e em algumas ruas do entorno. Isso porque o relevo era bem variado, ainda que descidas e subidas fossem leves, com exceção de uma inesperada rampinha um pouco mais forte.

Houve água em abundância, servida em copinhos. Os que peguei estavam bem gelados.

31 corridaNo final, meus GPS marcavam distâncias diferentes.

Os GPS em relógio, que acionei no instante da passagem sob o pórtico de largada e desliguei imediatamente ao chegar, marcavam 4,87 km e 4,88 km, demonstrando que ambos estão bem calibrados na comunicação com o satélite, ainda que sejam de marcas diferentes.

Demorei um pouco para acionar e desligar os GPS utilizados por programas de celular, devido à minha incompetência no manejo desses programas e à falta de compreensão, por parte deles, dos meus toques desesperados (foto Eleonora Lucena). Um deles marcou 5,26 km e o outro, 4,96 km. Ambos estavam conectados remotamente a pulseiras chamadas “atléticas” ou “esportivas.

Se você ficou curioso sobre o motivo que me levou a usar tantos aparatos tecnológicos, saiba que fiz isso pensando em você: estou testando alguns produtos recém-lançados; minhas avaliações serão publicadas ao longo dos próximos dias.

Independentemente da distância marcada, o mais importante para mim foi o ritmo que consegui impor nesse pequeno percurso, minha primeira corrida de verdade depois de longos meses de lutas contra lesões e dores diversas em vários pontos de meu corpo quase sexagenário. Nos 30min42 que a prova me tomou, consegui manter média de 6min17, o que é praticamente voar, considerando minha presente condição atlética. Melhor ainda: não tive dores nos pés, nas costas, no glúteo, em lugar nenhum.

Talvez o “intenso” ritmo empregado não tenha dado tempo para as dores acordarem… Sei que amanhã ou depois estarão de volta, mas acho que vai dar para encarar. Qualquer hora dessas eu melhoro, talvez um dia fique bom.

Me aguardem.

Ah, eu disse lá em cima que corri essa prova a convite. A gentileza foi da Mercurochrome, uma das patrocinadoras do evento.

 

 

 

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Treinador de Vanderlei Cordeiro de Lima relembra trajetória do medalhista olímpico

Por Rodolfo Lucena
29/08/14 12:04

Hoje se completam dez anos do maior feito corredores de rua do Brasil: a conquista da medalha de bronze na maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, por Vanderlei Cordeiro de Lima. Para celebrar o fato, fiz uma longa entrevista com o maratonista; trechos dela foram publicados na Folha (leia AQUI) e uma versão mais ampla vai sair na edição de setembro da revista O2.

Ontem, Vanderlei foi homenageado ao São Paulo e até deixou lágrimas caírem ao receber placa comemorativa não só à sua conquista, mas também (principalmente?) ao seu fabuloso espírito esportivo, que fez com que ele seguisse correndo mesmo depois de ter sido atacado por um ex-padre doidão…

Sobre o atentado e suas possibilidades, voltou a dizer o que havia comentado na entrevista comigo, que você leu no jornal: “Eu poderia não ganhar o ouro, mas a disputa iria para o fim da prova. Demoraram quase dez minutos para me ultrapassar depois do incidente. Mas não posso afirmar que seria o campeão. Acho que o Baldini foi infeliz ao dizer que seria campeão de qualquer jeito. É uma dúvida que vai ficar, mas posso dizer que me foi tirada a oportunidade de ganhar o ouro”.

Agora, trago com exclusividade outra entrevista, esta com o treinador de Vanderlei, Ricardo D`Angelo, que acompanha o atleta há mais de 20 anos. Conhecido como Bombeiro, apelido recebido aos 15 anos, quando costumava usar um agasalho vermelho que ganhara de presente da mãe, Ricardo tem 53 anos e foi atleta nas décadas de 1970 e 1980.

Mestre em ciências da motricidade e doutor em ciência do esporte, começou a treinar atletas de ponta em 1988; seus pupilos já conquistaram uma medalha olímpica –Vanderlei–, quatro medalhas em Pans e duas em Mundiais de atletismo.

Nesta entrevista ele fala de sua trajetória ao lado de Vanderlei e traz a visão do treinador sobre a atuação do maratonista.

Quando o senhor conheceu Vanderlei?

Conheci pessoalmente o Vanderlei quando fui contratado para trabalhar como treinador na antiga União Esportiva Funilense, clube de atletismo do empresário Sérgio Luis Coutinho Nogueira. Embora já o conhecesse das seleções juvenis e soubesse de seu potencial talento para o fundo, até então não tinha contato com ele, uma vez que vivia no interior e eu em SP. Nosso primeiro contato foi na antiga Pizzaria Macedo, na zona sul. Jantamos lá e quem nos apresentou foi o doutor Sérgio. Foi em julho de 1991. Naquela época eu jantava com o doutor toda terça feira naquela pizzaria. Na ocasião o Vanderlei estava indo viajar para uma temporada de competições nos EUA e nos acompanhou no jantar. Ele ficou quase que calado todo o jantar, mas fomos bastante cordiais um com o outro.

 Quando o senhor passou a treinar Vanderlei? O que causou essa aproximação?

Iniciei minha orientação ao Vanderlei em abril de 1992 por conta de uma fatalidade. Conforme descrevi acima, fui contratado para treinar atletas jovens e em desenvolvimento na UE Funilense em julho de 1991. Trabalhava com o professor Asdrúbal Ferreira Batista, treinador dos principais atletas de fundo da equipe, incluindo o Vanderlei. Em abril de 1992, o professor Asdrúbal sofreu um ataque cardíaco fulminante e veio a falecer. Dessa forma, quase todos os atletas que eram orientados por ele passaram a ser orientados por mim, incluindo o Vanderlei.

Como foi o trabalho com ele?

Foi uma experiência incrível, sobretudo pelo profissionalismo, disciplina, dedicação e foco que o Vanderlei demonstrou ao longo de toda a sua carreira. Ele sempre foi muito atento às principais tarefas do treino, nunca deixando que nenhum fator externo à pista viesse a interferir no seu desempenho.

É um atleta com elevado potencial físico e extrema habilidade para maximizar seus pontos fortes. Entendia e compreendia seu papel no esporte, sabia onde estava e onde queria chegar. Tem elevada capacidade de raciocínio prático, com “insights” de oportunidade. Perfil dogmático, humilde e caráter ilibado, construído a partir da educação dada pela sua família, a qual se referia sempre com grande apreço. Aprendi com ele mais do que ensinei.

Como foi a progressão dele, das provas em pista para a maratona?

Estávamos fazendo isso de forma gradual, didática e pedagógica em 1994, entretanto, por conta de uma oportunidade para fazer coelho na Maratona de Reims, França, ele completou o percurso e venceu a prova com o tempo de 2h11min06. Esse resultado foi o suficiente para que ele demonstrasse seu potencial e aptidão para a maratona.

 Como surgiu o convite para ele ser coelho dessa prova?

Foi em outubro de 1994. Ele estava fazendo um temporada de corridas de rua na França (Paris e região), provas de 10 km, 10 milhas e meia maratona quando surgiu a oportunidade de fazer coelho para 21 km em Reims. Ele topou e foi junto com o outro coelho, o belga Vincent Rousseau, até o km 30, quando o belga abandonou. Vanderlei estava mais de 30 segundos à frente do segundo colocado, que poderia vir a ser vencedor. Foi quando ele percebeu que poderia vencer a prova indo até o final e foi o que fez, brilhantemente.

Como é hoje sua relação profissional com o Vanderlei?

Eu coordeno os projetos esportivos do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL). Um deles é a Equipe Orcampi, tricampeã brasileira juvenil de atletismo (2012, 2013, 2014), entre outros títulos. O IVCL tem uma “pegada” mais social, usando o esporte (atletismo) como um instrumento da educação e da formação integral do jovem. Sou também coordenador técnico do Clube de Atletismo BM&F BOVESPA, e o Vanderlei é ainda patrocinado pela instituição, sendo o patrono do Clube por conta da sua importância e simbologia.

Como é o trabalho de um treinador de corredor de elite internacional? Em que é preciso prestar atenção? Como fazer para motivar o atleta?

As competências para treinar atletas de nível internacional se estendem por várias esferas, transitando do campo profissional até o pessoal. O envolvimento e sinergia entre atleta e treinador são responsáveis pelo desempenho do atleta e, consequentemente, pelo seu sucesso. Ambos devem estar comprometidos com os mesmos objetivos, o que é raro nos dias atuais. O treinador deve saber tratar com habilidade os agentes externos de influência negativa para, de toda maneira, não permitir que, nesse casos, o desempenho seja prejudicado. As tarefas do treinamento propriamente dito são elaboradas em grau de exigência muito elevada, com desafios constantes, para estimular os atletas, em cada sessão de treino, à autossuperação.

 O que o senhor lembra da maratona de São Paulo, quando Vanderlei quebrou o recorde da prova?

Tenho boas lembranças dessa prova. Inicialmente a organização não estava depositando muita confiança no Vanderlei, tanto que na sua inscrição lhe deram o número 83 (ou algo assim, lembro que era de 80 para cima…). Minutos antes da largada, coisa de cinco minutos, nos levaram o número 1 e o Vanderlei trocou seu número de peito. Naquela prova, planejamos a passagem da meia para 65min40 (3:07/km), e o coelho para o qual pedimos ajuda (Daniel Lopes Ferreira) levou o Vanderlei até o 21 km em 65min37. Ele ultrapassou o atleta marroquino que liderava no km 28 e se manteve em ritmo forte até o final, marcando 2h11min19, recorde da prova até hoje. Sua apresentação naquele dia foi perfeita, acertou em tudo, estava bem preparado física e mentalmente.

E como foi a maratona olímpica?

Eu estava assistindo à prova em um bar ao lado do estádio Panathinaikos, junto com um grupo de agentes, uma vez que não estava na seleção brasileira como treinador oficial e não tinha ingresso para a área do estádio.

A prova se desenrolou como tínhamos combinado. O Vanderlei deveria tentar se distanciar do grupo em algum ponto entre o km 25 e o km27, trecho de aclive do percurso, justamente para diminuir o número de competidores desse grupo. No entanto ele fez isso no km 19, já que percebeu que, nas duas saídas de outros atletas nos quilômetros anteriores, o grupão de corredores não respondera à mudança de ritmo.

Naquele momento os agentes que assistiam à prova comigo comentaram, de forma irônica, que era muito cedo para essa saída. Mas, depois de passados 11 km, quando verificaram que na marca dos 30 km o Vanderlei estava 50 segundos à frente do segundo grupo (apenas Baldini, Keflezighi e Tergat), mudaram seus comentários.

Até ganhei um ingresso do [agente de atletas internacionais] Jos Hermens para entrar no estádio. Ele disse: “Tome Ricardo, hoje você vai ao estádio”. Após isso ocorreu o acidente com o padre. Fiquei chocado, assim como todos, e logo imaginei todo o trabalho que tínhamos feito sendo destruído por uma ação externa, que não tínhamos como controlar.

A partir daí, apenas torci para que o Vanderlei conseguisse manter a diferença e chegar pelo menos em terceiro, e foi o que aconteceu. Recebi muitos cumprimentos dos agentes pelo desempenho e estratégia utilizada na prova. Por fim, entrei no estádio e consegui, com a ajuda de um segurança, dar um abraço de 30 segundos no Vanderlei e dizer a ele: “Conseguimos!!”.

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Luisa molha o cabelo e enfrenta arame farpado em corrida de obstáculos

Por Rodolfo Lucena
27/08/14 11:21

27 luisa abre

Hoje trago para você mais uma aventura de minha amiga LUISA, jovem corredora que, na vida civil, é editora-assistente de Comida e Turismo na Folha. Vidão, não é? Vivert de viagens, acepipes deliciosos e doces fulgurantes. Na real não é bem assim, mas tudo bem.

De sobrenome ALCANTARA E SILVA, LUISA tem 31 anos e já correu quatro meias maratonas. A seguir, a história que ela nos conta. Obrigado, Luisa, pela colaboração.

27 luisa1“Luisa, vamos fazer uma corrida de obstáculos?”, perguntou o meu treinador, André Pereira, quando resolvi voltar a treinar após um novo longo intervalo, agora por causa da Copa e de seus bares e festas.

“Olhei para ele com aquela cara de interrogação, pensando de onde ele tinha tirado a ideia de que eu conseguiria fazer aquelas provas da Olimpíada, com cavaletes. E ele: “Não, esses obstáculos são lama, atravessar um rio… Corrida de aventura”. “Ahh”, eu disse, interessada na novidade (nunca tinha corrido uma).

“Entrei no site da prova, Iron Race. Seria em Guararema (a 79 km de São Paulo). Eu escolheria entre 5 e 10 km. Como não conhecia esse tipo de prova, fui na menor.

“Um dia antes, entrei no site da prova para pegar o endereço. Foi quando eu vi a estampa da camiseta. O desenho de uma caveira com as palavras Iron Race – Corrida de Obstáculos Militarizados… Ai…

“Último domingo (dia 24), às 8h30, a primeira bateria está para largar (com atraso). Para chegar ao portal da largada, os participantes precisam pular um obstáculo de madeira quase da minha altura –tenho 1,65 m. É só o que dá para ver.

“Pouco depois, é a minha vez. Não consigo ultrapassar sozinha o tal do primeiro obstáculo, pré-prova. Meus braços não têm força para me puxar para cima. Peço ajuda a um corredor, que se agacha e me “cede” a coxa como degrau.

27 luisa 4

“A prova começa. Logo no início, temos que correr agachados por uns 10 m, sob um tecido que forma uma espécie de tenda coberto por uma fumaça e com luzes de flash piscando. Continuamos por uma linha de trem, em um terreno bem pedregoso. Com medo de tropeçar e rolar morro abaixo, corro na parte com mais pedras.

“Outro obstáculo: rastejar em um terreno com arames farpados amarrados a menos de 50 cm do chão. Pular barras. Fácil. Mais um: trepa-trepa. Tento, mas caio logo no início. Para continuar, tenho que “pagar” fazendo 15 polichinelos.

“Subida. Opa, essa é a minha prova! Um monte de gente andando? Estou gostando! Mas continuo correndo, mesmo que bem devagar… Ainda é cedo para parar de correr.

“Alguns outros obstáculos e chega o mais legal: atravessar o rio. O que não sabíamos é que teríamos que entrar com o corpo todo na água. Sim, molhar o cabelo.

27 luisa rio“Com os braços, tínhamos que ir puxando uma corda até a outra margem. Detalhe: todo mundo tinha que colocar colete salva-vidas ali; a correnteza estava bem forte naquele trecho. Saí do rio, cheia de lama, corri mais uns poucos metros e rio de novo –desta vez, sem o colete. O rio gelado foi bom para refrescar.

“Mais alguns obstáculos, como atravessar um emaranhado de elásticos, já com as pernas pesadas, e os 5 km acabam. Termino em 47 min. “Considerando que em alguns obstáculos tínhamos que esperar o corredor da frente passar, e considerando que me considero uma corredora meio tartaruga –e que todos que me conhecem também me consideram!– achei meu tempo razoável.

“Foi muito legal ter feito a prova, diferente de qualquer outra que já tinha feito. O tempo não importa; a força e o pique valem muito mais. Já estou me programando para fazer a próxima!”

 

 

PS.: A moça lá do alto não é a Luisa (veja nos comentários quem é ela); a foto mandada pela assessoria da prova, assim como a do rio; o crédito é Tatiana Mello/Divulgação

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Confira dicas para correr nas ruas com mais segurança

Por Rodolfo Lucena
25/08/14 13:32

Vestir roupas claras e chamativas, rodar na contramão e nunca usar fones de ouvido são algumas das medidas de segurança que corredores devem tomar quando usam as ruas das cidades como palco de treinamento.

É o que diz a minha experiência, corroborada pela sabedoria de vários treinadores com quem conversei: Vanderlei Severiano, o “Branca”, talvez o principal técnico de ultramaratonistas do país; o experiente Wanderlei Oliveira  e o também veterano Luís Eduardo Tavares, além de Nélson Evêncio, presidente da ATC, a Associação dos Treinadores de Corrida de São Paulo.

Cada um falou uma coisa; algumas dicas se sobrepuseram. Ao fim e ao cabo, a receita de medidas a tomar para reduzir os riscos de correr na rua ficou assim:

1. Estar sempre visível (roupas claras, refletivas), principalmente se for correr de madrugada ou à noite

2 – Evitar usar fone de ouvidos, pois reduz a atenção trânsito

3 – Correr sempre na calçada (requer alguns cuidados e atenção com as elevações), é mais seguro e faz com que o ritmo seja mais devagar

4 – Quando a calçada não estiver em condições e você for correr em alguns pontos na rua, observe qual sentindo mais seguro em que deverá correr. De preferência no sentido contrário da via. Observe se a via não é muito estreita.
5 – Evitar dar as costas para o trânsito em vias muito movimentadas (a visualização pode ajudar caso algum motorista perca a direção)

6 – Atravessar as ruas sempre na faixa de pedestres

7 – Respeitar a sinalização de trânsito, especialmente os semáforos; mesmo o semáforo estando vermelho para o veículo, você deve aguardar
que os veículos parem para você atravessar. Não confie somente nos
sinais, observe o fluxo de veículos

8 – Nunca confiar totalmente nos condutores de veículos. A prioridade é a sua segurança física. Corra sempre na defensiva e tente prever o que pode acontecer em cada momento em que passar: cruzamentos, curvas, descidas etc.

9 – Levar celular e xerocópia de documentos, mais algumas
informações básicas, como endereço e contato em caso de emergência

10. Avisar alguém qual o percurso que planeja seguir

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