Corrida ajudou a suportar a dor, diz herói de filme de Angelina Jolie
15/01/15 11:17Está em cartaz em São Paulo (acho que também em boa parte do país) o filme “Invencível”, biografia do corredor olímpico e herói da Segunda Guerra Mundial Louis Zamperini. O longa é dirigido por Angelina Jolie, no seu segundo trabalho por trás das câmeras (leia AQUI crítica que escrevi e foi publicada na Ilustrada).
O filme é muito bom, baseado no excelente livro de Laura Hillenbrand (que já comentei por aqui). A história do cara é sensacional: garoto-problema, faz da corrida uma válvula de escape para suas energias e se torna tão bom que integra a equipe de atletismo dos EUA que participa dos Jogos de Berlim-1936.
Não ganha nada nos 5.000 m, mas sua última volta foi tão fantástica que levantou o estádio e deixou boquiaberto até mesmo Hitler.
Depois de Pearl Harbor, entra nas Forças Armadas dos EUA e se transforma em às da artilharia aérea. Em missão de resgate, dias depois de ter participado de um heroico ataque às posições japonesas, seu avião se esborracha no mar.
Passa 47 dias à deriva, quase dobrando o recorde anterior de sobrevivência no mar, e é resgatado pelo inimigo. Vira prisioneiro de guerra e passa dois anos enfrentando torturas.
“A corrida aumentou minha capacidade de suportar a dor”, me disse ele em entrevista por e-mail realizada em 2012, quando ele tinha 94 anos. Zamperini morreu no ano passado, aos 97 anos, deixando uma história que é exemplo de resistência e capacidade de recuperação. Aliás, ele participou ativamente dos processos que levaram à filmagem, tendo tido várias conversas com Angelina Jolie sobre sua vida.
O que o cara levou de porrada na vida não foi fácil, não só as da tortura, mas também as da depressão, do alcoolismo e4 das drogas, em que ele se enterrou por um período depois da Guerra.
Bueno, recomendo enfaticamente que você assista ao filme (fotos Divulgação) e leia o livro, que acaba de receber nova roupagem para aproveitar a divulgação da fita.
Com exclusividade para sua leitura neste blog, trago a seguir o texto que escrevi em 2012, depois de ter feito a entrevista com o corredor herói de guerra.
“SEMPRE FUI REBELDE”
+CORRIDA – O senhor enfrentou muito sofrimento ao longo da vida. Qual foi o período mais difícil?
LOUIS ZAMPERINI – Os 43 dias que eu passei em Kwajelin (“Ilha das Execuções”) foram os mais duros. Tudo era muito ruim, a comida era atirada na sujeira, um buraco na minha cela servia como latrina, e eu tinha de ficar com a cabeça perto da latrina a noite toda. Havia insetos por toda a parte. Eu rezava para que fosse possível voltar ao bote no mar [onde quase morreu por inanição ao ficar 27 dias à deriva sem água nem comida]…
+CORRIDA – O que fez com que o senhor sobrevivesse a todas as dificuldades?
LOUIS ZAMPERINI – Eu sempre fui um sujeito rebelde e cresci aprendendo a ser durão. Também estava bem preparado para enfrentar as dificuldades por causa de meu aprendizado nos escoteiros e nos cursos de sobrevivência [no Exército].
+CORRIDA – Qual a importância da corrida para sua sobrevivência como prisioneiro de guerra?
LOUIS ZAMPERINI – Acho que aumentou a minha capacidade de suportar a dor.
+CORRIDA – Qual foi a importância da corrida na sua vida? Qual sua melhor e pior corrida.
LOUIS ZAMPERINI – A corrida me tirou de uma vida de confusão [quando começou a correr, na adolescência, era um garoto rebelde e se encaminhava para uma vida transviada]. Minha melhor corrida foi quando eu ainda era estudante,no campeonato estadual de cross country. Em ganhei de todo mundo, até mesmo de rapazes mais velhos e mais experientes,e estabeleci novos recordes estudantis. Minha pior corrida foi um desafio de duas milhas contra um colega, Cal Berkley, quando eu desmaiei depois da prova, sem saber que um dos meus pulmões estava cheio de pus, por causa de uma doença chamada pleurisia.
+CORRIDA – O senhor ainda corre ou faz exercícios?
LOUIS ZAMPERINI – Hoje em dia, já não corro, mas faço exercícios como subir escadas ou fazer flexões apoiado no armário da cozinha.
+CORRIDA – Qual é a sua atividade atual?
LOUIS ZAMPERINI – Eu venho fazendo palestras, ensinando às pessoas como enfrentar o estresse, a raiva e a hostilidade. Eu procuro ficar animado em quaisquer circunstâncias, porque acredito que todas as coisas acabam contribuindo para o bem. Eu aconselho o meu público a ser durão. Por ser durão eu quero dizer que as pessoas devem desenvolver a capacidade de resolver seus próprios problemas. Assim, a gente se torna mais capaz de enfrentar outros tipos de problema.
+CORRIDA – Qual foi o impacto do sucesso de “Unbroken” na sua vida?
LOUIS ZAMPERINI – Eu não estava preparado para o “assalto” à minha agenda, que agora está sempre lotada, mas estou adorando receber os convites para palestras. Eu falo a grupos em todo o país, umas duas ou três vezes por semana. O melhor é que estou viajando de primeira classe, sou muito bem recompensado e ainda passo a conhecer muita gente interessante.