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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Vontade de chorar na meia maratona de Lisboa

Por Rodolfo Lucena
06/04/12 00:32

A Andreia Oliveira é paulista de Campinas, mas vive em Portugal desde 2007 e se adaptou tão bem que até seu jeito de escrever tem sotaque da terrinha. Corredora dedicada, faz parte do grupo facebuquiano de corredores Portugal Running. Em março, Andreia fez sua estreia na meia maratona. Correu a prova de Lisboa, com sua emocionante largada na ponte sobre o Tejo e belo e histórico trajeto pelas ruas da capital portuguesa. Ela mandou para este blog o seguinte relato, que compartilho com você.

” A primeira vez será para sempre inesquecível. Já na noite anterior ao grande dia, a ansiedade foi forte. Havia chovido, e pensamos que poderia haver chuva na prova, mas, quando chegou o grande dia –25 de março–, fez sol e um calor intenso, o que foi pior.

Marcamos um encontrão com toda malta do Portugal Running e lá fomos nós, alguns pela primeira vez também e outros já com maratonas nas costas, mas a emoção é sempre a mesma.
Quando olhamos aquela ponte, com a multidão –havia mais de 37 mil inscritos–, a adrenalina ferve no corpo. Só pensei que iria terminar essa prova seja em que tempo e condição for.

Comecei bem calma até sair da confusão, só queria guardar o fôlego para as partes mais duras. É muito cansativo, mas, cada vez que passa pela cabeça “vou parar”, ali está o público que parece adivinhar os pensamentos e nos incentiva a correr mais.

Ouvi meu nome por diversas vezes, mas achava que era do meu subconsciente. Depois que fui saber que eram pessoas conhecidas que estavam a assistir a prova e me cumprimentaram. Eu já estava ligada no automático.

Andei, coxeei, corri e, quando passamos pela meta (chegada) no Mosteiro dos Jerônimos, o cérebro quer nos trair. Vemos o ponto final ali ao lado, mas é preciso ainda dar uma volta, são mais cinco quilômetros até a chegada.

As pernas parecem não obedecer. Confesso: foi desanimador e deu vontade de chorar. O legal é que há sempre alguém a correr ao seu lado, pessoas que não se conhecem, mas basta um olhar, um sorriso e aquilo nos dá imensa força.

Quando tentava parar, aparecia alguém e dizia “vá, não desista, falta pouco”. Mentira, às vezes faltava uns 8 km ou 9 km.

Mas, enfim, depois de 2h14 a correr lá estava ela a minha espera. Abri os braços e fui ao encontro da chegada, suor, lágrimas e dores, e acima de tudo o sabor da vitória.

Sou orgulhosa de mim mesma. Fui atrás de um sonho e ele se tornou realidade. Isso é mesmo viciante.”

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Corrida das Dondocas dá show de descontração

Por Rodolfo Lucena
03/04/12 12:19

Pois este seu blogueiro se vestiu de mulher. Não só como também, para escolher a sainha, foi buscar a assessoria de uma especialista, a drag queen Dindry Buck. Tudo em nome do jornalismo: fui cobrir (epa, opa) para a TV Folha a Corrida das Dondocas. Trata-se de um evento carnavalesco em Pindamonhangaba, interior de São Paulo.

Na corrida quase paroquial, organizada por Mauricio Cortez, os homens se vestem de mulher e as mulheres, de homem. Tudo no maior clima família: o vestiário é comum, improvisado na garagem da casa de Mauricio. Há roupitchas para quem esqueceu o modelito, maquiagem, perucas e por aí vai.

É uma corridinha de menos de 4 km, mas todo mundo se diverte. Os caras correm muito –os participantes são corredores de verdade, e todos saem em busca de algum troféu, pois a corrida distribui lembranças muito bonitas (até eu ganhei um, terceiro na minha faixa etária, a dos velhinhos).

Bom, como disse, fiz tudo isso em nome do videojornalismo: foi minha primeira aparição no programa da TV Folha que passa aos domingos na TV Cultura. Para relembrar aqueles momentos, confira o VIDEO CLICANDO AQUI.

Já que estou no embalo, aproveito para mostrar outros vídeos que produzimos ao longo dos últimos meses.

O de maior sucesso foi a cobertura da corrida Rocinha de Braços Abertos, na maior favela da América Latina. O vídeo está AQUI.

Também fiz uma entrevista com Adriana Aparecida da Silva antes da São Silvestre. Veja AQUI.

E corri o novo percurso da São Silvestre para mostrar as novas dificuldades. Aproveitei a assessoria do ortopedista Henrique Cabrita, que deu dicas sobre correr em descidas. Veja AQUI.

E, bem antes de tudo isso, fizemos um vídeo com dicas gerais para corredores. Veja aqui.

É isso. Aproveite, deixe seus comentários, divulgue os vídeos em sua página no Facebook e/ou Twitter. Enfim, divirta-se. E prometo que logo terei outras novidades.

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Herói de “Nascido para Correr” é encontrado morto nos EUA

Por Rodolfo Lucena
01/04/12 12:25

O corpo de Micah True, um dos mais famosos ultramaratonistas do mundo, foi encontrado no fim da tarde de sábado na floresta de Gila, Novo México. Conhecido como Cavalo Branco, o corredor teve sua história contada no livro “Nascido para Correr”, de Christopher McDougall, que fala sobre a tribo mexicana de ultracorredores descalços, os tarahumara.

Micah True (foto AP), que se transformou na encarnação daquelas tradições, organizava uma ultramaratona em Urique, no México, a Copper Canyon Ultra Marathon (saiba mais AQUI’).

Atualmente, ele estava nos EUA, no Estado do Novo México, onde fazia seus treinamentos. No último dia 27, ele saiu do The Wilderness Lodge and Hot Springs, onde estava hospedado, para um treino de rotina, uma corrida de 18 km. Saiu de calções e camiseta, levando apenas uma garrafa de água. Deixou no hotel seu cachorro. Nunca mais voltou.

Equipes de resgate, que procuravam por ele desde quarta-feira, encontraram o corpo de Cavalo Branco, que tinha 58 anos, no final da tarde de sábado em um ponto remoto da Floresta Nacional de Gila.  Até agora não foi determinada a causa da morte, mas o líder da equipe de resgate disse à imprensa local que não havia sinais evidentes de trauma.

Cavalo Branco vivia em Boulder, Colorado, e era tido como um pioneiro da ultramaratona. Adorava corridas de superlongas distâncias, especialmente em terrenos inóspitos e com percurso de alto grau de dificuldade —como a prova que ele organizava.

Sua página no Facebook (AQUI) está lotada com mensagens de amigos e admiradores.

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Ex-etíope treina para Londres em túnel na Noruega

Por Rodolfo Lucena
29/03/12 15:05

Ex-etíope  treina para Londres em subterrâneo na Noruega

O título desta história talvez o tenha deixado confuso. A história é complicada mesmo, mas eu resumo rapidinho e depois já dou os detalhes.

Um corredor da Etiópia fugiu do país, há alguns anos, alegando razões políticas. Conseguiu refúgio na Noruega e agora é cidadão do país, onde trabalha como zelador. Nas horas vagas, treina para a maratona olímpica. Durante o escuro e gelado inverno do país, ficou rodando em um túnel de cerca de 2 km, por onde passam as redes de água e esgoto da pequena cidade onde mora.

Agora vamos aos detalhes, que a história é saborosa.

O nome de nosso herói é Urige Buta, hoje norueguês, mas natural da Etiópia, pátria de Haile Gebrselassie e do herói olímpico Abebe Bikila, que conquistou o ouro na maratona olímpica em Roma-1960 correndo descalço. O país também sofre com disputas políticas que às vezes ganham caráter violento.

Buta fugiu do país em 2003, depois que seu pai foi preso por ter apoiado  o lado perdedor em disputas políticas locais. Ajudado por contrabandistas de gente, acabou na Noruega, onde conseguiu asilo político.

Ficou por vários anos em um campo de refugiados, até que sua forma física chamou a atenção de um representante da federação nacional de atletismo. Contatos foram feitos, e Buta, hoje com 33 anos, acabou na mão do treinador Erling Askeland, um veterano com 30 anos de trabalho dedicados ao atletismo.

Com ele, foi treinar no clube de atletismo da pequena cidade de Haugesund (30 mil habitantes), onde vive agora. Em dois anos, tornou-se o melhor corredor do país, mas não podia representar a Noruega por causa de seu status de refugiado.

Ao mesmo tempo, por causa de seu trabalho de oito horas por dia, de segunda a sexta, não conseguia participar de grandes corridas. O critério para escolha de maratonas era: provas em que ele pudesse correr e voltar para casa ainda na noite de domingo. Afinal, segunda de manhã era dia de limpar o chão e lavar escadas no escritório onde trabalha.

Mesmo assim, treinando de madrugada e nos intervalos do trabalho, conseguiu o recorde pessoal de 2h09, o que é cerca de um minuto mais rápido do que o recorde nacional de seu novo país –no ano passado, ele finalmente conseguiu a cidadania norueguesa e deve representar a nova pátria nos Jogos de Londres-2012.

Ele sabe que é quase impossível uma medalha, mas espera ficar entre os 12 melhores. E, quem sabe, chegar ao pódio no próximo Europeu de atletismo.

Para isso, não deixou de treinar mesmo durante o longo, escuro e gelado inverno europeu. Até alguns dias atrás, fazia suas rodagens em um túnel de cerca de 2 km usado para serviços de manutenção das redes de água e esgoto da cidade. Agora, com a chegada da primavera, aos poucos volta à superfície.

Sobre suas dificuldades para treinar, filosofa à la Rolling Stones: “Nem sempre você pode ter tudo o que quer”. E emenda: “Mesmo quando seu corpo está cansado, sua mente pode ser forte”. Fortaleza que vem da esperança de tornar realidade o sonho olímpico de um refugiado político.

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Corrida de Aracaju deixa atletas sem água

Por Rodolfo Lucena
27/03/12 12:04

 Aracaju é a única capital do nordeste que ainda não conheço. A cada ano, juro que vou visitá-la em março e participar da corrida de aniversário da cidade. É uma prova muito bonita, mas também muito difícil, tanto por causa do percurso quanto por causa do calor. E fica ainda mais complicado porque a organização tem falhado na entrega de água aos atletas, como nos conta LIA CAMPOS, corredora de Fortaleza, que participou da prova. Acompanhe a seguir o relato de Lia (que nos saúda na foto abaixo), especial para este blog.

 

“A Corrida Cidade de Aracaju acontece sempre no dia 17 de março, o  aniversário de Aracaju. Foi quando, há 157 anos, a capital de Sergipe foi transferida da cidade de São Cristóvão para Aracaju. A corrida larga na antiga capital e a chegada é na atual.

“Apesar de ter muito corredor de outros Estados, a prova, que está na sua 29ª. edição e é organizada pela Prefeitura de Aracaju, é claramente voltada para os sergipanos. Pra começar, sergipano não paga inscrição. A premiação também valoriza os da terra: prêmio em dinheiro para os dez primeiros colocados de Sergipe, assim como para os cinco primeiros funcionários públicos de Aracaju e para o sergipano mais idoso da prova (todos para o masculino e feminino).

“Foi fácil pegar meu kit, apesar de ouvir de um corredor baiano que algumas pessoas que fizeram a inscrição pela internet tiveram problemas devido ao fato de seu nome não constar da lista.

“A cidade de São Cristóvão fica a 25 km de Aracaju, a distância da corrida. Para esse trajeto de ida, a organização oferece ônibus para os atletas. Às 16 horas em ponto foi dada a largada. O calor era grande. Sol forte e abafado.

“Os primeiros 2 km são feitos dentro da cidade, em ruas de paralelepípedo. A população inteira fica nas ruas torcendo e aplaudindo. Aliás, a torcida em quase todo o percurso da prova é algo de chamar a atenção. Muitas famílias, muitas crianças. Tanto na zona rural quanto já dentro de Aracaju, a população comparece para torcer e animar os corredores. Muito legal mesmo.

“O percurso da prova é um capítulo à parte.  A região é toda montanhosa, então os primeiros 12km são todos de subidas e descidas bem difíceis. Segundo um blog que li, são exatas 17 subidas. Não tive ânimo de conferir a contagem, mas que são muitas, isso é verdade! Felizmente sopra um vento para aplacar o calor. O visual verde, o cheiro da natureza e os pastos ao longo do percurso são de encher os olhos e diminuir o cansaço.

“Depois de 12 km bastante sofridos, o sobe/desce termina e passamos a correr no plano. Todo o percurso, TODO mesmo, é interditado para os corredores. A partir do momento em que entramos em Aracaju, a polícia foi eficientíssima em  parar o trânsito nos cruzamentos na hora em que um corredor estivesse passando.  Nisso eles foram perfeitos. Mas infelizmente pecaram em um ponto para o qual que não existe perdão, principalmente em prova que acontece no Nordeste: a falta de água.

“Com postos de água a cada 3 km, o último em que peguei água foi o do km 12. Os outros não tinham nem uma gota. Absurdo dos absurdos numa prova tão longa e difícil. A reclamação foi geral. Conversei com outros corredores e me falaram que é comum a falta de água mesmo. Incompreensível para uma prova tão bem organizada em outros aspectos! É certo que vários corredores pegam copos para “tomar banho”, mas a organização deveria prever isso, considerando o intenso calor.

“Na chegada, kit alimentação com frutas e sanduíche e escoteiros distribuindo a medalha. Prêmio em dinheiro para os dez primeiros lugares e para os cinco primeiros de cada faixa etária. Isso faz com que a corrida tenha um nível muito alto. Os vencedores  levam para casa R$ 6.300. Neste ano dois quenianos participaram da prova, um homem e uma mulher. Não deu outra: primeiro lugar para ambos. Feminino, Pascalia Kipcoech, com 1h28 (vencedora da meia de SP deste ano), e  Stanley Coech no masculino, com 1h17.

“Corrida aprovada (com exceção da falta d’água) e recomendada para quem gosta de provas difíceis e diferentes, além de poder passear pela cidade agradabilíssima que é Aracaju, considerada a capital nordestina com melhor índice de qualidade de vida. Título mais do que justo.”

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Paulo Roberto, dos Gêmeos, reafirma candidatura a Londres

Por Rodolfo Lucena
26/03/12 13:14

Único brasileiro até agora com índice para estar presente na maratona olímpica, Paulo Roberto de Almeida Paula conseguiu ontem baixar seu tempo, tornando mais difícil a competição por uma vaga em Londres-2012. Ontem, na maratona de Barcelona, correu junto com seu irmão gêmeo, Luis Fernando, que não completou. Mas Paulo fechou em sétimo lugar, com 2h11min51 (na foto acima, da Reuters, a largada da corrida de Barcelona).

Isso, porém, não garante o corredor paulista na Olimpíada. O Brasil pode levar até três atletas com índice A (sub2h15), mas uma vaga já está fechada para Marílson Gomes dos Santos. Apesar de não ter, até agora, o índice qualificatório, Marílson, reconhecidamente o melhor maratonista brasileiro da atualidade, conquistou a vaga por um outro critério, o da posição no ranking internacional em 2011.

A decisão chegou a ser criticada à boca pequena, com gente dizendo que isso era uma espécie de qualificação no tapetão, mas ninguém saiu às claras –ou, pelo menos, eu não tive notícia disso—contestando a decisão da CBAt. De qualquer forma, Marílson vai participar da maratona de Londres no mês que vem e, se tudo correr de acordo com o que ele vem treinando, ele deve fechar em menos de 2h08.

Com isso, sobram dois lugares, que serão decididos até o final de abril. Paulo Roberto está com um bom tempo, que coloca pressão sobre os concorrentes, mas há outros corredores no seu encalço.

Solonei Rocha, campeão pan-americano da maratona, deve tentar a vaga em Londres –ele já correu 2h11, mas antes do período válido para a qualificação para os Jogos Olímpicos. Outro nome conhecido que sonha com a maratona olímpica é Frank Caldeira, que deve jogar suas chances no asfalto de Milão, no próximo dia 15.

A maratona italiana também será o palco para as tentativas de dois quase-estreantes na distância. Damião Ancelmo de Souza, melhor brasileiro na última São Silvestre, está em Cochabamba, finalizando seus preparativos para a corrida de Milão.

Com ele está seu colega de equipe, Giovani dos Santos, bronze nos 10.000 m no Pan de Guadalajara, que também quer uma vaga na maratona olímpica. Chamei os dois de quase-estreantes porque eles ainda não completaram uma maratona. Participaram da prova de São Paulo, no ano passado, mas pararam antes do final.

Agora, porém, segundo o técnico de ambos, Henrique Vianna, eles vão com tudo para conquistar o índice A. “Devem correr para 3min05 por quilômetro, o que dá 2h10”, disse Vianna.

O que não ainda não garante camisa a ninguém. Aliás, os Gêmeos anunciam que vão continuar na disputa até o último momento. Na sua página no Facebook, Luiz Fernando escreveu:

“Eu tive um problema na maratona, no 34km, uma contratura na coxa direita, mas isto faz parte de um grande atleta. Fico feliz por meu irmao, Paulo Roberto, ter conseguido mais uma vez fazer índice olimpico. Estamos ainda na briga. Terminamos a corrida inteiros, não terminou ainda prazo do índice. Vamos lutar até o ultimo dia. Que venha outra maratona, nao sei quando vai ser, mas até dia 29 de abril vamos entrar e sei que vamos conseguir. A grande luta só termina quando não há mais esperança para lutar. Sei que podemos lutar .”

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GPS da Nike é uma beleza –quando funciona

Por Rodolfo Lucena
22/03/12 14:57

Mais de um ano depois de ter sido provavelmente o primeiro jornalista brasileiro a ter em mãos o Nike+ SportWatch GPS, então apresentado em uma feira de informática em Las Vegas, finalmente testo o relógio com GPS da gigante do vestuário esportivo.

Confirmo minha impressão inicial: o aparelho é uma belezinha, bem de acordo com meu gosto espalhafatoso. Tem pulseira larga, preta com fundo verde-limão, e a tela é de boa qualidade, com algarismos gigantes quando na função relógio e de bom tamanho quando usado para seu objetivo principal –registrar os indicadores do treino, como distância percorrida, ritmo desenvolvido e tempo decorrido.

Ele usa GPS da Tomtom, que funcionou bem em todos os meus treinos. Mesmo na primeira saída, levou cerca de 30 segundos para encontrar o satélite; em um dos treinos, ficou pronto em dez segundos. O aparelho teve uma certa ajuda, digamos assim, pois saí da mesma região em quase todos os treinos; tentei dificultar, porém, ficando algumas vezes sob árvores ou perto de telhados.  

As funções dele são acessadas e comandadas por três botões: dois iguais, pretos, são navegadores, passando o cursor para cima ou para baixo, e o terceiro, grande e verde-limão, é o de ok, para confirmar a seleção feita. O SportWatch também responde a toques na tela, para acionar a luz de fundo ou marcar volta (nem tentei fazer isso; usei sempre o recurso de volta automática, que registra o tempo de cada quilômetro –ou outra distância desejada).

Os botões estão no lado esquerdo do relógio, o que torna o acesso a eles e seu acionamento um tanto desconfortável e mais lento do que se estivessem do lado direito. Usei o relógio em mais de dez treinos, e cada vez que ia acionar algum botão tinha de pensar no que fazer (Uso o indicador? O dedão? Passo a mão por cima ou por baixo do relógio?).

Claro que isso é uma questão de adaptação. Mas não entendi porque a Nike optou por esse posicionamento dos botões, uma vez que, segundo me diz a Wikipédia, apenas cerca de 10% da população mundial é canhota.

De qualquer forma, isso me incomodou menos do que o fato de que a informação principal mostrada na tela tem de ser determinada por software, quando o relógio está conectado ao computador. Ou seja, não pode ser definida diretamente no relógio.

Explico melhor. Quando em modo corrida, a tela do relógio é dividida em duas áreas. Na maior, com cerca de 4/5 do espaço, fica a informação que você considera principal –em geral, distância ou tempo, mas você pode optar por outros indicadores, como ritmo. Essa definição precisa ser feita pelo software que faz o carregamento dos dados para o site da Nike onde eles ficam arquivados. A aba Configurações (veja tela abaixo) dá acesso à guia Personalizar, pela qual você determina se a tela terá números brancos sobre fundo preto ou o contrário, e qual a estatística favorita. As demais (ritmo, calorias etc.) são relegadas à área que sobra, no alto da tela; se você desejar, podem ficar passando automaticamente, como se fossem notícias em um painel eletrônico.

Isso me incomodou. Faço treinos por distância e por tempo, e precisava me lembrar, à noite, de reprogramar o relógio conforme o plano do dia seguinte. Aliás, o usuário também não tem o controle total sobre a apresentação das estatísticas da corrida. Quando peço os tempos de cada km, eles vão passando automaticamente, e eu não consigo me deter em uma volta para analisar melhor aquele desempenho específico.

Em contrapartida, o relógio é totalmente festivo. Se você quiser, ele o cumprimenta a cada treino mais longo ou mais rápido. Também manda mensagens de aviso e incentivo, se você deixar essa opção ligada. E tem um registro de recordes, outra função para lustrar o ego do usuário.

Durante os treinos, o SportWatch só se comportou mal uma vez. Registrou um km feito em 51min12 (!). A marcação de quilômetros parou enquanto o cronômetro e eu continuamos correndo. Os quilômetros anteriores foram gravados com tempo certo, cada um feito em cerca de 7min40.

Na hora de fazer a comunicação do relógio como computador e, especialmente, com a internet, foi um desastre. Duas vezes só se conectou ao computador depois de várias tentativas, mandingas, reza braba, sopros e passagem de paninho nos conectores.

Parênteses: a saída USB do relógio fica embutida na pulseira; basta dobrar uma das pontas para que a lingueta eletrônica apareça. Isso me parece um bom achado de design e, pelo que vi, a lingueta fica bem protegida de suor e poeira (foto).

Ela pode ser ligada diretamente a uma porta USB, mas há também uma pequeno cabo que serve de comunicação entre o relógio e o computador –às vezes, é útil. Eu preferi usar o cabo, para não deixar o relógio pendurado na CPU de meu computador.

 Bom, volto à via-crúcis da conexão. Além daqueles dois testes de minha paciência, em outra oportunidade o relógio falou imediatamente com o  computador –o que ficou claro porque apareceu na tela a imagem de uma bateria, indicando que ele estava sendo carregado–, mas não acionou o software para carregar os dados no site da Nike (foto).

Outro parênteses. Agora, com essa história de computação em nuvem, virou moda arquivar os dados do seu relógio com GPS apenas no site do fabricante –com o MotoActv, já testado por este blogueiro, também é assim. Isso é muito bom, porque é possível consultar os dados usando qualquer computador ou outro aparelho conectado à internet. Em contrapartida, o usuário fica totalmente dependente da operação do site do fabricante, o que não me deixa muito à vontade, para dizer o mínimo. Os primeiros GPS que usei vinham com um programa que armazenava todos os dados no computador. Além disso, era possível transmitir os dados para um site, interagir com outros serviços (como o Google Earth) e outros internautas. Mas isso é outra história…

Na maior parte das vezes em que liguei o relógio ao computador, as coisas funcionaram bem. Ele carregou os dados para o site e abriu a janela do NikeRunning para que eu fizesse meu login. Isso feito, imediatamente apresentava na tela o balanço geral do último treino realizado (veja abaixo).

E aí, mais uma vez, ocorreram problemas. Apesar de obviamente o GPS ter funcionado tanto durante o treino (o relógio marcou a quilometragem realizada, o ritmo por km etc.) quanto ao passar os dados para o site (aparecia a mesma quilometragem realizada), várias vezes o site NikeRunning dizia não ter recebido os dados de GPS para montar o percurso do treino. Na metade dos treinos realizados neste teste, esse processo não funcionou.

O trajeto gerado com base nos dados do GPS é vital para que o usuário tenha acesso a algumas estatísticas. Quando o mapa aparece, surge um quadro que mostra o tempo de cada volta (na primeira tela, também dá para ver o tempo das voltas, mas apenas uma de cada vez). Os dados de altimetria –ainda que pouco úteis da forma como são apresentados—também só ficam disponíveis com o carregamento do mapa (abaixo, uma tela completa).

Em alguns dos treinos, o mapa não carregou imediatamente –nem na segunda, nem na terceira vez em que acessei o site–, mas dois ou três dias depois apareceu. O que deixa claro que os dados haviam sido transmitidos do relógio para o site, mas este não foi capaz de administrá-los adequadamente e em tempo hábil. Afinal, quando o usuário passa os dados para o site quer ver a informação na hora, e não dois dias depois.

Bom, quando o mapa carrega aparece também um gráfico que mostra a relação entre a velocidade desenvolvida e a altimetria do percurso. Para mim, esse gráfico foi um dos elementos mais irritantes de tudo o que o site apresenta. A razão: ele mostra que o sistema tem dados úteis para oferecer ao usuário, mas os apresenta de uma forma totalmente inadequada. Não dá para saber qual a altitude em cada ponto ou a cada km, muito menos a velocidade em cada ponto –além de o gráfico ser ridiculamente pequeno, não tem números (como você pode ver ao lado).

A numerália é apresentada em tempo real. O que significa isso? Quando você clica no gráfico, um cursor laranja (indicador da velocidade) começa a andar sobre um fundo cinza (a altimetria); abaixo do gráfico, um quadro mostra, a cada instante, em que velocidade você estava naquele ponto e qual a altitude do local. Considere uma maratona e imagine quantas vezes você teria de ver o gráfico em operação para decorar a altitude do km 27 ou do km 38…

Para piorar as coisas, tudo funciona de forma muito lenta. Parafraseando aquele dito que afirma que as coisas não são caras, a gente é que ganha pouco, alguém pode argumentar que o site não é lerdo, a rede da minha casa é que não presta.

Aliás, questionada sobre o assunto, a Nike respondeu: “Na maioria das vezes, o problema está na conexão de internet, que não é boa”.

De fato, a internet na minha casa é devagar quase parando; minha conexão de 2 Mbps às vezes chega a 2,5 Mbps por muito favor, mas não passa disso. Também é fato, porém, que ela é igual ou superior à velocidade da conexão de 63,3% dos usuários domésticos de internet neste país (Ibope, jan. 2012).

Outra coisa: o abrasileiramento do site não está completo, misturando guias em inglês e em português (veja abaixo). A mim, isso dá impressão de desleixo.

Independentemente desses problemas, o site é festivo e amistoso. Tem botões para conexão automática com redes sociais (se seu treino carregar, vai direto para sua página no Facebook ou Twitter) e oferece a possibilidade de etiquetar cada treino com ícones indicando sua avaliação do desempenho ou as condições do treino (veja abaixo).

A bateria é recarregável e recebe energia cada vez que o relógio é conectado ao computador. Uma carga completa, diz a Nike, dura até nove horas com GPS; em modo relógio, até 70 dias. O SportWatch tem memória para 20 corridas; segundo a empresa, quando você faz a 21ª, as anteriores são deletadas automaticamente, liberando a memória interna do aparelho.

O GPS da Nike chega às lojas brasileiras por R$ 999,90. Nos EUA, custa US$ 199 (R$ 360). Ele pode ser usado também como frequencímetro, pois reconhece uma faixa de monitoramento cardíaco desenvolvida pela Polar especialmente para a Nike. É um acessório vendido separadamente. No Brasil, o preço sugerido é R$ 249; na Amazon, está por US$ 59,99. Ou seja, completo o SportWatch custa US$ 260 nos EUA. Para comparação, um Garmin Forerunner 405CX, também com monitor cardíaco, é encontrável na mesma Amazon por US$ 179,99.

Resumo da ópera: a Nike fez um flamante relógio com GPS, que deve agradar a muita gente, apesar dos problemas aqui relatados. Ainda precisa trabalhar no site para que ele seja mais útil e eficiente. O preço está dentro do praticado tanto nos EUA quanto aqui, mas o custo/benefício é pior do que o de alguns concorrentes, especialmente por causa do comportamento irregular do site.

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Dicas para uma gordinha que deseja correr

Por Rodolfo Lucena
20/03/12 12:56

Dias desses, corria pelas avenidas do mundo quando encontrei uma colega de outros carnavais. Ela também corria, as faces vermelhas, um braço ajudando o movimento, o outro segurando a bolsa com pertences essenciais. Sorrisos, cumprimentos e, tempos depois, recebi dela uma mensagem em que pedia dicas sobre corrida.

Achei as perguntas muito boas, mas as respostas estavam completamente fora de minha alçada. Tratei de consultar alguns especialistas, pois imaginei que a questão pudesse interessar não apenas à consulente mas a uma boa parcela do leitora deste blog.

Em essência, trata-se do seguinte: uma mulher madura, na menopausa, que não faz reposição hormonal e tem sobrepeso, pode correr?

Ela fez a pergunta com mais detalhes: “Estou bem acima do peso, com 94 kg e meço 1,70 m. Há um ano faço musculação. Desde maio, três vezes por semana, com fortalecimento para as pernas, joelhos, braços etc. Uso caneleiras de 5 kg e levanto como se fosse manteiga. Duas a três vezes por semana, caminho 6 km em uma hora. Já iniciei programa de corrida e cheguei a correr 3,5 km. Ontem corri 2 km e hoje 2,4 km, quando te encontrei. Bom, terminado o contexto, vamos à pergunta: com esse peso, posso continuar correndo para chegar a 5 km? Ou é melhor perder peso primeiro? Detalhe, estou com 51, anos, na menopausa e sem reposição hormonal. Ou seja, está difícil pracas perder peso, mesmo com dieta equilibrada. E perco poucos kg em um mês. Só dois. Continuando as perguntas que não calam: posso continuar correndo com peso acima da média? E meus joelhos? Vão sofrer muito com o impacto? O que diria seu ortopedista? Ou os ortopedistas que você entrevista? Abraços e força para as gordinhas!!!! Bora correr!”

 Como você pode ver, ela está entusiasmada com a corrida, mas tem um monte de dúvidas, todas bem pertinentes.  Mandei seu questionamento para alguns especialistas. Cada um deles observou o caso sob seu ponto de vista. Cabe a cada corredor analisar a sua situação individual.

Sem mais delongas, vamos às respostas.

Começo com o fisioterapeuta Marcelo Semiatzh, especializado em reeducação postural e no estudo do movimento, cocriador do método Força Dinâmica.

Ele diz o seguinte:
“No meu ponto de vista, a decisão de continuar a correr ou não é da própria pessoa. A questão são os riscos.

“Com essa estrutura corporal, sua corrida será lenta, ou seja, com mais apoio e menos propulsão, levando o corpo a uma maior carga antigravitacional, forçando os tendões, ossos e ligamentos do corpo. Seria mais adequado se prolongasse a atividade aeróbia com uma caminhada mais intensa, que privilegie mais a propulsão do corpo. Com isso, você poderia fazer mais tempo de atividade com menos riscos para o corpo.

“O risco de aplicar cargas intensas num período de menopausa está relacionado com questões cardiovasculares e ósseas, como fraturas de estresse em regiões como joelho (platô tibial), articulação do quadril (colo do fêmur e acetábulo), coluna, canela e pé.

“Não estou querendo ser chato e pessimista, mas tenho visto aumentar o número de casos dessas fraturas. Outro dia num curso que demos uma senhora um pouco mais velha e com esse mesmo perfil me procurou para dizer que ela estava muito feliz por ter começado a correr, mas que tinha ocorrido uma coisa rara com ela, uma fratura do platô tibial no joelho.

“Eu disse a ela que antigamente senhoras de 50 anos não começavam a correr. Isso tem sido mais frequente e por isso vamos passar a ver essas ocorrências com mais frequência. O que estou querendo dizer é que a carga tem que ser mais adequada a cada corpo para evitar as lesões.

“É possível, sim, uma pessoa com 50 anos correr, mas primeiro vamos emagrecer, controlar a osteoporose, regular a alimentação. Volte a caminhar, suplemente corretamente e aí, sim, com calma, aumente a carga.

“Com relação ao treino de força, ao invés de subir a carga, diminua, aumente o número de repetições e controle o tempo das pausas para melhorar a força das fibras que realmente ajudarão no treino de caminhada ou de corrida.”

 Agora, vamos à resposta de uma treinadora especializada no trabalho com mulheres, Cristina de Carvalho, que também é atleta de ponta em provas de resistência –sua dupla venceu a última edição da ultra em etapas Cruce de Los Andes. Eis o que ela diz.

“Correr é parte do nosso padrão motor e portanto podemos praticar em qualquer idade ou peso se os exames médicos de rotina estiverem em dia. No caso dessa corredora, é importante um exame de densitometria óssea, exame de sangue, de esforço ou cardiovascular e outros que o médico julgar necessário. Se os exames médicos permitirem, você poderá correr no dia seguinte sem nenhum problema.

“Se assim for, o importante é você correr com passadas curtas, baixas e sem pressa enquanto estiver mais pesada para minimizar o impacto do movimento da corrida e evitar sobre carga em seus joelhos.

“Ainda tem que buscar como ponto de apoio de suas passadas a parte dianteira dos pés, anulando o peso sobre seus calcanhares e projetando seu tronco à frente de seu corpo de forma que sua musculatura seja mais envolvida como padrão motor desse deslocamento.

“Uma boa dica para você evitar sobrecarregar seus joelhos é ficar o menor tempo possível em contato com o solo, ou seja, imagine um chão pegando fogo e tente por e tirar seus pés do chão o mais rápido possível sem que implique em velocidade e sim em menor contato possível com o solo. Vai cansar mais rápido, no entanto, minimiza o tempo que seu peso será sustentado pelos seus joelhos.

“Agora, lógico que dor é alarme de segurança. Portanto, se doer, caminhe ou intercale dias de descanso até seu corpo permitir mais um dia de treino sem dor. As principais lesões ocorrem pela negligência em relação aos primeiros sintomas. Por isso, é importante ter responsabilidade e recuar sempre que necessário.

“Sobre perder peso, saiba que o metabolismo a partir dos 40 anos muda constantemente e  a queda hormonal complica muito a disposição de nosso corpo. Atividade física mais alimentação balanceada é o caminho certo; no entanto essa relação terá que ser amadurecida diante das novas necessidades e demandas de seu organismo. Tudo indica que precisamos de menos alimentos e muito mais qualidade, o que nem sempre conseguimos atingir sem suplementação específica. Se faltar uma simples vitamina, todo metabolismo pode ficar comprometido e preguiçoso, o que justifica a dificuldade de perder peso nessa idade. Acho superimportante ter um mediador, ou seja, um médico para avaliar melhor esse equílibrio.”

Falando em médico, concluo com a resposta do ortopedista Wagner Castropil, que também é corredor e foi judoca olímpico. Veja o que ele diz:

“Nossa leitora está com um índice de massa corporal (peso peso dividido pela altura ao quadrado) de 32,5, o que é bem acima do normal (25). A corrida com esse sobrepeso acarreta uma sobrecarga nas articulações (coluna, quadris, joelhos e tornozelos) que pode gerar lesões.

“O aconselhável para ela é chegar ao IMC de 29 para iniciar a corrida, o que no caso dela significa chegar ao peso de 84 kg. Para isso, sugiro que trabalhe com exercícios intervalados (na musculação ou aeróbios), mas sem impacto.”

 Espero que as opiniões dos especialistas ajudem não só à consulente mas a muitos de nós que estamos um pouco –ou bem mais do que um pouco—acima do peso e queremos começar a correr ou continuar a correr. O importante é não se afobar, dar tempo ao tempo e trabalhar dentro das condições específicas de cada um. E aí, sim, como disse a leitora, “bora correr!”

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SP no celular: um violista no asfalto

Por Rodolfo Lucena
19/03/12 12:28

Chegaram os treinos longos, e eu estou saindo cada vez mais cedo de casa, para fugir do calor. Lerdo como sou, qualquer 20 km está durando quase três horas, com caminhadas, paradas para ir ao banheiro e para fazer fotos, como essa do sol acordando numa manhã de sábado.

A vantagem é que as coisas da cidade ficam mais livres e limpas nas horas matutinas, sem tanta confusão de gente e trânsito. Dá para ver restos que mendigos deixaram no viaduto da Dr. Arnaldo. Parece uma instalação de Duchamp, mas é só lixo mesmo.

Cortando por um lado e outro, de repente avisto um gato preto em campo de neve, tal qual o título do livro de Érico Veríssimo.

O campo, porém, é o capô que um carro velho deixado para morrer numa garagem abandonada, protegido apenas por um pano branco que vai se esvaindo com o tempo. O chato é que a câmera do meu celular é bem pior do que eu pensava quando escolhi esse modelo, e a foto fica devendo muito para a cena que vi em uma quebrada de Higienópolis.

Também me divirto com a decoração das lojas. Essa aí de cima é um detalhe da frente de uma butique da Oscar Freire. Tecidos trançados, rotos, lembra um favela estilizada, mas os preços da tal loja devem ser lá das alturas…

Para cenas amplas e iluminadas, até que a câmera do meu celular não se sai mal. Gostei do resultado desta imagem do lago do Ibirapuera.

A grandes paisagens, porém, prefiro detalhes da cena urbana. Esta é uma instalação curiosa que apareceu em na praça em frente ao Pacaembu:

 À noite, é iluminada por dentro e ganha um ar fantasmagórico. De dia, capta reflexos em suas laterais espelhadas –até eu apareço na foto.

Inesperado também é o surgimento desse violista de chinelos em uma esquina paulistana. Em vez de brincar com fogo ou equilibrar bolas, faz música em troca de moedas. Quando pedi para fotografá-lo, perguntou: “Quem é você, um hippie corredor?”

Eu não lhe perguntei quem era, segui correndo, mas inventei uma história na minha cabeça. Neto de ciganos, tinha aprendido violino com o avô, em um vilarejo da Romênia, de onde fora trazido para cá pelos tios em busca de vida melhor. Hoje já não fala a língua-mãe, mas guarda como tesouro o instrumento que lhe provê o sustento.

Assim termina mais esse SP no celular, com um adendo trazido por uma corrida especial –de carro—até o Itaquerão. Se o estádio vai ficar pronto a tempo, não sei, mas os trabalhos estão em andamento, e a visão do canteiro de obras impressiona.

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Na ponta do lápis, correr não é tão barato assim

Por Rodolfo Lucena
16/03/12 12:08

A corrida é apontada como o mais democráticos dos esportes. Basta colocar um tênis –ou nem isso— e sair por aí, sem precisar de clubes, piscinas ou parceiros.

Isso é verdade. Quando o corredor resolve participar de provas, porém, a coisa muda de figura. Logo fica fissurado por melhorar seu tempo, derrotar algum adversário ou simplesmente colecionar mais uma medalha. E vai pagando mais uma inscrição e outra e outra.

Começa a desconfiar dos tênis, compra mais um par, escolhe roupa tecnológica, meia especial e lá se vai o rico dinheirinho do fulano. Claro que cada um gasta conforme suas posses e, como o investimento vai sendo feito aos poucos, parece nem pesar no bolso. Será mesmo?

Corredor há mais de cinco anos, com mais de 140 provas no currículo, Carlos Alexandre Batista Ribeiro resolveu tirar a prova dos noves. Aproveitando sua experiência como administrador financeiro, tratou de fazer cálculos para tentar estimar o gasto médio com corridas.

Trata-se de uma exploração sem caráter estatístico, em que Ribeiro faz estimativas com base em sua própria experiência. Há quem gaste mais, há quem gaste muito menos.

Vejamos o que ele aprontou. Começou fazendo uma lista de produtos e serviços que o corredor utiliza, colocando em primeiro lugar os tênis.

O preço médio de um bom par de tênis, no cálculo de Ribeiro, está em R$ 400 (já eu nem amarrado pago mais de R$ 200 ou o equivalente em dólar…). Em geral, o corredor alterna pelo menos dois pares; como a duração média é de três meses, são quatro pares no ano = R$ 1.600. Para estimar essa duração de três meses, Ribeiro levou em consideração a suposição de que o tênis funcione bem por cerca de 600 km, e que o corredor faça em média 50 km por semana.

Em seguida, Ribeiro fez estimativas para o custo com roupas especiais para corridas, determinando preço médio de R$ 40 para shorts e camiseta (cada um). O corredor alterna dois conjuntos e faz a troca a cada seis meses, totalizando um gasto anual de R$ 320. Aí está um custo muito por baixo e ele nem incluiu as meias especiais: as de corrida estão por pelo menos R$ 20, e as estrelas da moda, as meias de compressão, quase batem nos R$ 200. Mas vá lá.

Agora vem a paulada do preço das corridas. Ele calculou o custo da inscrição em R$ 95, em média, e estima que o corredor participe de duas provas por mês. Lá se vão R$ 2.280 no ano…

Ribeiro incluiu um custo para o qual eu não havia atentado: o gasto para buscar o kit. Fez cálculos com preços de passagens de ônibus e metrô e gastos com gasolina se o sujeito for de carro: noves fora, chegou a uma estimativa de gasto de R$ 11 para ir buscar cada kit. O que dá R$ 22 no mês e R$ 264 no ano.

Um total geral de R$ 4.464, e isso que não estão sendo levados em conta outros gastos diretamente ligados à corrida, como a compra de suplementos, vitaminas, carboidrato em gel. Sem falar em mensalidade de assessoria esportiva e academia, do relógio com frequencímetro, do GPS e por aí vai…

Enfim, não é a coisa mais cara do mundo, mas também não é dinheiro de pinga…

Quanto você calcula que gasta para correr?

Independentemente do valor, digo-lhe uma coisa: vale a pena.

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