Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Rodolfo Lucena

+ corrida

Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

Perfil completo

Na maratona, há coisa que até Deus duvida

Por Rodolfo Lucena
22/05/12 07:58

Uma paralítica que anda, uma epilética que desmaia 20 vezes e segue no asfalto, pacientes de câncer redivivos para a conquista da medalha: a maratona propicia conquistas que, como dizia minha mãe, “até Deus duvida”. Esse é o tema de minha coluna desta terça-feira no caderno Equilíbrio, da Folha (AQUI, para assinantes da Folha e/ou do UOL).

Algumas daquelas histórias são bem conhecidas e receberam ampla divulgação. Falo agora de outra epopeia, que tem ares de anedota, mas encerra drama e revela a fortidão do ânimo de um atleta. É um pedaço da trajetória de Paulo Roberto de Almeida Paula, o segundo mais rápido maratonista do time que o Brasil leva para Londres nos Jogos Olímpicos deste ano.

Bom corredor de provas de 10 km, distância em que construiu uma história ao lado de seu irmão gêmeo, Luiz Fernando, ficando os dois conhecidos por muitas vezes chegarem juntos, de mãos dadas e braços erguidos. Tão unidos são que, de certa forma, até perderam a identidade própria: no dia a dia, são chamados, indistintamente, de Gêmeos (na foto abaixo, de 15 de abril de 2007, nem tento dizer quem é quem…; a imagem foi captada durante uma corrida em São Paulo pelo fisioterapeuta Marcelo Semiatzh, que a cedeu gentilmente para este blog).

 Paulo sonhava com a Olimpíada. Em nome de tentar uma vaga em Londres-2012, desistiu de lutar por estar presente no Pan. Com o irmão mais velho –Luiz Fernando nasceu minutos antes, os dois completam 32 anos em julho–, retirou-se para intermináveis sessões de treinos na altitude, na boliviana Cochabamba.

De lá saía apenas para provas específicas, algumas meia maratonas em que testava sua regularidade, confirmada em resultados que se repetiam: 1h03 na prova das Cataratas, 1h02 no Rio, 1h02 em São Paulo. A confiança só fazia aumentar e, assim que abriu a temporada de caça ao índice, no ano passado, resolveu dar seu tiro.

Atleta profissional, conversou com seus patrocinadores para conseguir o tempo livre necessário para os treinos, ficando sem competir o tempo que achou necessário. Em contrapartida, bancou do próprio bolso todo o período de treinamento e as viagens. E assim lá se foram os Gêmeos para a estreia na maratona, em outubro passado em Amsterdã.

 De cara, atingiu o objetivo. Fez 2h13min15, índice A, apesar dos pesares. O dia estava frio, o debutante teve de correr de luvas, gorro, bater queixo no seu debute e ainda controlar os nervos.

“Parei duas vezes para fazer xixi. Acho que foi um pouco a ansiedade de querer fazer uma prova boa. Mesmo parando, não me atrapalhou em nada. Eu consegui encostar no bloco mais rápido, corri a prova tranquilo”.

 Mais ou menos. Os marcadores de ritmo –coelhos, no jargão da corrida—passaram a meia maratona mais rápido do que o combinado, e Paulo, que não pretendia lutar pela vitória, acabou correndo sozinho boa parte do tempo. Além disso, as reduzidas para aliviar a bexiga também cobraram um preço: “Depois de parar, corri o quilômetro seguinte a 2min50, para encostar no bloco, e na maratona você não faz isso. No km 25, de novo precisei parar e aconteceu a mesma coisa: forcei o ritmo para não ficar sozinho. Quando chegou no km 40, eu senti…”

Foi uma das melhores marcas de brasileiros no ano passado, mas não dava camisa a ninguém: o período de caça ao índice ia até 29 de abril último, e havia muitos corredores na perseguição. Nomes famosos, como o campeão pan-americano Solonei Silva e o ex-ouro do Pan Franck Caldeira, e outros menos conhecidos do grande público, mas também adversários perigosos, como Damião Ancelmo de Souza e Giovani dos Santos. Paulo Roberto voltou aos treinos.

“Desde que eu entrei na briga, eu não estava tranquilo, porque eu queria ser o melhor. Fiquei treinando. Se alguém batesse meu tempo, eu ia fazer de tudo para bater, porque eu queria ir para a Olimpíada, ninguém me tirava da Olimpíada.”

Montou sua estratégia para ser capaz de responder a qualquer surpresa. Apesar de já ter o índice, resolveu correr novamente em Barcelona, baixar sua marca e carimbar o passaporte no último dia 25 de março.

Carimbou foi os calções. Uma diarreia terrível o perseguiu durante quase toda a prova, mas ele não dá desconto: “Não me atrapalhou. O povo correndo e eu chegando todo c***. O meu negócio era fazer o índice. Se eu chegasse c**** ou chegasse torto, podiam falar o que quisessem, para mim não interessava desde que eu fizesse o índice”.

É a fala de um atleta profissional que prefere não dar desculpas por seu desempenho. Qualquer um que corre, porém, sabe o quanto as indisposições estomacais perturbam o desempenho.

Em meras provas de 10 km, às vezes a gente bebe água com mais sofreguidão, engole ar e o estômago já embrulha, deixa gases que precisam de algumas centenas de metros para serem expulsos. Imagine então uma diarreia: além das cólicas, do fedor, do desconforto, o corredor ainda perde água cada vez mais rapidamente.

Paulo Roberto diz que sua maratona começa no km 15. Até lá corre fazendo força, lutando para ficar junto do pelotão líder ou, pelo menos, do segundo grupo. A partir dali, porém, entra em ritmo de cruzeiro e consegue desenvolver sua prova, aumentar a velocidade, controlar o desempenho.

Pois foi exatamente no km 15 que a diarreia começou. “Fui até o km 40 fazendo cocô nas calças”, diz ele, comentando: “Eu fui esperto. Quando saía, eu limpava. Outros corredores, que também tiveram diarreia, chegaram todos sujos. Tinha gente com cocô até no cabelo…”

A técnica era simples: ”Eu usava água: a hora que dava a diarreia, eu pegava duas garrafas de água, abria um pouquinho o short e jogava água. Se você não limpa, assa. E aí é pior”.

Na hora, incomodou, mas hoje, diz ele, até dá risada. Também deve ter ficado contente com o resultado: inaugurou um novo recorde pessoal, 2h11min51, baixando seu tempo em mais de um minuto e 20 segundos.

Era hora de descansar, sentar nos louros e esperar os resultados dos rivais. Marílson Gomes dos Santos, o melhor maratonista brasileiro, já estava garantido pelo índice técnico. Tinha ficado entre os 30 melhores do mundo em 2011, o que lhe dava a vaga, segundo critérios anunciados pela CBAt, a entidade que coordena o atletismo brasileiro.

O problema é que faltava ainda mais de um mês para o final da temporada de caça ao índice. Vários analistas e treinadores afirmavam que havia atletas com bala para correr a 2h10. Um deles me disse que dois de seus atletas iriam correr as provas de abril em ritmo de 3min05 por quilômetro; pela previsão, já estavam em Londres.

Paulo Roberto cutuca: “É cheio de técnico com estatísticas dizendo o que acha que o atleta vai correr. Isso não existe. Você entra numa maratona, você tem de correr.”

Apesar disso, ele sabia que seus contendores viriam com  força, e havia provas rápidas no horizonte imediato: Londres, Milão, Pádua… Até seu irmão, Luiz Fernando, que fizera uma tentativa frustrada em Barcelona, onde parou por causa de lesão, imaginava voltar a correr, se conseguisse se recuperar a tempo. Paulo Roberto não queria saber de dar chance ao azar.

“Como o Marílson já estava na Olimpíada, eu queria ser o segundo homem. Se fosse para correr quatro maratonas, eu ia correr as quatro. Não sei seu eu ia chegar inteiro, mas, na hora em que botei como objetivo correr a maratona, eu entrei na briga para não perder.”

Por isso, diz ele, fez o que chama de “loucura” de correr duas maratonas em 28 dias. Foi o intervalo que separou a prova de Barcelona da de Pádua, na Itália.

“De tanto azar que eu tive nas outras, agora foi perfeito. Foi a prova ideal. É gostosa de correr. Temperatura agradável. Ela é praticamente plana, só tem três quilômetros com pedra, que foi onde eu quebrei um pouquinho…”

Muito pouco mesmo: lá fez o melhor tempo de sua vida e subiu ao pódio, com a medalha de bronze. Sua marca, 2h10min23, é a segunda melhor de um brasileiro neste ano, atrás apenas das 2h08min03 de Marílson. E, como ele sonhava, será o segundo homem do time do Brasil em Londres-2012. Franck Caldeira, que completou em 2h012min03 a maratona de Milão, completa a equipe. Entre as mulheres, apenas uma brasileira se qualificou para a maratona olímpica: Adriana Aparecida da Silva, que cravou 2h29min17 em Tóquio, passando a ser a segunda melhor maratonista da história do país, atrás apenas da legendária Carmem Oliveira.

Cada um, com certeza, vai tentar dar o máximo de si nesse momento de glória. Como diz Paulo Roberto: “Agora vou voltar aos treinamentos, quero ir atrás do que possa fazer de melhor. Eu garanto que vou dar meu melhor e tentar baixar minha marca. Minha briga não é nem contra os adversários, mas contra mim mesmo.”

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Novato engole ar na estreia em corrida de rua

Por Rodolfo Lucena
21/05/12 12:06

Com 16,5 mil inscritos, a prova 10 KM Tribuna FM-Unilus se confirma como uma das principais corridas de rua do país. Com percurso rápido, a corrida realizada em Santos viu ontem ser quebrado o recorde feminino e a interrupção da sequência de vitórias da ex-recordista Eunice Kirwa, que venceu em 2009, 2010 e 2011.

Desta vez, a queniana foi vice, perdendo para sua compatriota Paskalia Kipkoech, que venceu em 30min57, baixando em um minuto e 20 segundos o recorde de Kirwa. No masculino, o queniano Mark Korir ultrapassou o marroquino Mohamed El Hachimi nos metros finais, vencendo em 28min02, apenas dois segundos à frente do rival. Os novos campeões faturaram R$ 25 mil cada um.

Mas quem faz a festa, numa prova que reúne uma multidão tão grande, são os amadores. Por isso trago hoje a história de um leitor deste blog que fez ontem sua estreia no mundo das corridas de rua. ALEXANDRE VASCONCELOS, 38, analista de sistemas,  começou a correr há cerca de um ano, querendo fugir do sedentarismo, perder peso, ganhar saúde. Chegou bem ao início desde 2012 e, incentivado pela esposa (veja os dois na foto abaixo), resolveu se inscrever em uma corrida. Para começar, nada melhor do que uma prova em sua cidade natal.

A partir de agora, acompanhe o relato de ALEXANDRE, a quem agradeço pela participação.

 “Arranjei na internet uma planilha de treino de dois meses de duração e a segui fielmente, exceto por resfriados que me afastaram por duas semanas (acho que foram por falta de descanso adequado). Valeu pelo aprendizado empírico, ainda que adquirido com dias acordando dolorido, momentos de treino que pareciam que o coração iria saltar da boca, bolhas e tudo o mais.

“Sentia-me bem preparado para a prova e mantive a ideia de não fazer nada a mais do que me propus durante os treinos.

Nos primeiros 2 km, tinha muuuita gente e foi impossível desenvolver o ritmo planejado de 6 min/km. Como já haviam me alertado sobre isso, relaxei, desencanei momentaneamente do tempo e curti a atmosfera que, aliás, estava ótima, tanto pelas pessoas, como pelo tempo –nuvens tamparam o sol, e temperatura estava amena.

No km 3, olhei para as calçadas e, vendo que as pessoas não lotavam esse espaço, decidi me manter por ali, o que me permitiu manter uma velocidade confortável e constante.

No km 4, minha primeira dificuldade como debutante em provas de rua. Chegou o primeiro posto de água e embora não estivesse com sede, já que estava ali, resolvi pegar um copinho para ver como era beber correndo (no meu treino tomava um copo antes de sair e depois só quando terminava, já em casa). Depois de abrir o copinho, no primeiro gole, alguém esbarrou no meu cotovelo que fez que com que o copinho caísse (ainda bem que não estava com sede). Mas quando fui engolir, acho que desceu ar junto com a água e comecei a tossir. Isso atrapalhou o ritmo da respiração, além de me deixar com aquela sensação de ar preso por uns 100 metros. Depois que me livrei desse ar inalado contra minha vontade, retomei o bem-estar e o bom ritmo de corrida.

No km 5, a segunda conta a pagar pela falta de experiência. Como estava correndo pela calçada enquanto a grande maioria ia pela rua, passei lotado pelo tapete que marcava a passagem intermediária dos chips. Ouvi um sonoro “Passagem do chip aqui! Passagem do chip aqui!”. Avisado de meu erro, tive que voltar alguns metros para a correção (mas depois voltei para a calçada) e fiquei mais atento para o caso de aparecer uma nova passagem obrigatória.

No km 7, mais um posto de abastecimento. Peguei meu copinho e dessa vez olhei bem para ver se ninguém se aproximava perigosamente. Mas, por incrível possa parecer, tive a capacidade de me engasgar de novo. E tome mais algumas dezenas de metros de lentidão.

Tendo guardado energias para os últimos 2 km e me sentindo bem, resolvi dar uma forçada no ritmo, mas no km final enfrentei o mesmo problema do início da prova. Muita gente e pouco espaço lateral para ultrapassar: agora não dava para ir para a calçada, que estava bloqueada com cercas.

Assim, completei minha primeira prova de 10 km, fazendo o mesmo tempo de meu último treino, que foi 56min. A sensação que tive foi a de que, não fossem esses problemas, talvez conseguisse terminar em menos de 55min, mas valeu demais!”

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Memórias de corridas em Praga

Por Rodolfo Lucena
17/05/12 20:31

Nunca corri a maratona de Praga, que muitos dizem ser uma das mais belas provas urbanas do planeta. A edição deste ano foi realizada no último domingo, e a Reuters colocou no ar um monte de fotos bacanas, como esta, que mostra a multidão de corredores cruzando a ponte Carlos, construção medieval que resiste ao tempo.

Apesar de nunca ter participado da maratona, já corri muito por Praga e circulei um tantinho pela ponte Carlos. Na última vez que fiz a travessia, minha mulher quase foi assaltada. No meio na multidão de turistas, um vagabundo qualquer já tinha mexido no fecho da mochila. A sorte foi que alguém avisou a tempo e nós conseguimos nos safar sem perdas maiores.

Minhas corridas foram todas solitárias, há mais de dez anos. Ficamos hospedados em um hotel simples, longe do centro, tipo umas quatro ou cinco estações de metrô. Lembro que fiquei muito impressionado com a profundidade do metrô. Quando a gente voltava para casa e começava a escalar as escadas rolantes, elas pareciam intermináveis, e lá de cima vinha um vento terrível.

Para não prejudicar nossos passeios, eu costumava levantar bem cedo e sair a correr, voltando antes de terminar o horário do café da manhã.

Uma das primeiras aventuras foi simplesmente pegar a rua do hotel e seguir reto em direção ao centro, um trajeto bem burocrático, apenas para me situar na cidade.

Depois fiz experiências: cruzei o rio, atravessei uma ponte, voltei por outra e fui novamente para o outro lado, para subir em direção ao castelo, na parte antiga da cidade. Vi os jardins do palácio antes de a turistada chegar e depois, quando fomos os dois passear, podia dar dicas de caminhada para minha mulher.

Esse foi o percurso mais bonito, e o repeti pelo menos uma vez, caprichando para passar por uma ilhota do Vltava usada para atividades esportivas –há nela até um estádio. Vendo do alto, como na imagem foto abaixo (gostou desta?: alto, abaixo…), você percebe um monte de caminhos; correndo por lá, porém, me perdi umas tantas vezes.

Ou por outra: os caminhos que escolhia não iam até onde eu imaginava que eles fossem, e eu era obrigado a retornar, escolher outro rumo até chegar ao ponto certo. Odeio fazer isso, mas quando não tem tu, vai tu mesmo, como diz o outro.

Também explorei o lado da cidade onde ficava o hotel. Em vez de sair em direção ao rio, fui para o lado oposto, subi uma pequena ravina, ganhei um morro e corri por uma estrada de terra, ao lado dos trilhos de trens ou bondes elétricos já não lembro direito –como disse, isso foi há uns dez anos…

Lembro, porém, que descobri um praça com um prédio monumental, muito bonito, mas de arquitetura severa. Tinha enormes portas de aço, encravada com gravuras mostrando a luta do povo tcheco (acho que era isso). Havia também esculturas gigantes de trabalhadores e da mulher camponesa: apesar de o país já estar, na época, sob nova direção, ainda guardava ícones do tempo do socialismo.

Também fiquei bem impressionado com a organização do trânsito da cidade, que é em estrutura de círculos concêntricos (ou, pelo menos, foi o que me pareceu, não cheguei a estudar mais detalhadamente), combinando trem, metrô, bondes e ônibus. A cidade que vi então era limpa, gentil, com bons restaurantes e vida cultural intensa. Estava se abrindo para o turismo e ainda tateava com o trato das multidões, onde batedores de carteira tentavam fazer sua festa particular.

Bem diferente da cidade que revi há três anos, desta vez só de passagem, sem correr.

O choque começou já no aeroporto. Mal me preparava para pegar minha mala, ouço uma sirene, parece aviso de algo de emergência, incêndio, talvez. Policiais correm de um lado para outro, agentes de segurança abordam as pessoas mandando todo mundo sair: era um alarme de bomba.

E lá me fui para fora do aeroporto, bem pequeno para os padrões europeus. Não estava preparado, porém, para o frio que me esperava: uma chuvinha fina, sem vergonha, nem chegava a molhar, mas a neve impressionava quem tinha recém saído de um verão paulistano de 30 graus…

Para variar, a montanha pariu um rato. Logo os policiais estavam caminhando com calma e tudo ficou tranquilo. Pude então achar o transporte que me levaria Brno, uma cidadezinha universitária onde iria visitar as instalações de uma empresa de informática.

O caminho também foi gelado, como você pode perceber. Nem passamos por Praga, apenas na volta, e então me pareceu uma cidade bem menos hospitaleira e amistosa.

Tinha mais o jeitão de uma Las Vegas medieval, com cartazes anunciando mulheres dispostas a trocar carinho por dinheiro, cassinos com luzes piscantes, aquele estilo kitsch implantado em prédios antigos, estruturas cinzentas.

Quem sabe, porém, se eu voltasse às ruas talvez encontrasse a alegria de antes, como imagino que os participantes da maratona tiveram oportunidade de experimentar. E é com eles, em fotos da Reuters, que encerro esta mensagem.

Há o corredor com uma perna amputada, que dá show de resistência e determinação correndo de moletas, e o deficiente visual que participa da prova com seu cachorro.

Há também o gaiato que corre de fantasia, e a atleta profissional que dá o sangue para vencer e, depois da chegada, pode enfim secar o suor do rosto.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Maratona de Porto Alegre tem novo percurso

Por Rodolfo Lucena
16/05/12 12:41

“Parece que virou moda: quando a gente começa a se acostumar com um percurso, vem alguém e muda o trajeto de uma prova querida.”

Apesar de estar entre aspas, o parágrafo acima foi redigido por este blogueiro que vos fala. O texto é de 2009, e eu estava me referindo à maratona de Porto Alegre (se quiser ler o texto completo, confira AQUI; é preciso rolar a página).

Pois aproveitei a mesma exata abertura para este texto de hoje porque mais uma vez a maratona de Porto Alegre, que considero a melhor do Brasil, muda de percurso.

Isso é bom? Isso é ruim? Maratonistas costumam ser pessoas obcecadas: fazem treinos intermináveis, rodam milhares de vezes por rotas iguais, comparam os tempos de sua tricentésima subida da Biologia (uma longa rampa na Cidade Universitária, em São Paulo) e de sua centésima primeira, guardam arquivos de cada uma das provas em que estiveram presentes e por aí vai.

Donde se conclui que, em geral, maratonistas que voltam às mesmas maratonas devem preferir voltar ao mesmo percurso. Mesmo porque, se assim não for, não dá para comparar os desempenhos. Se você faz uma maratona cheia de subidas, a uma altitude de 3.500 m, em um tempo dez minutos inferior ao de uma com percurso plano, a nível do mar, onde você se saiu melhor?

Mas será que alguém sai prejudicado? Acho que não. E o novo percurso também é muito bom, segundo afirma Paulo Silva, presidente da Corpa, associação de corredores de Porto Alegre que organiza a prova. Ele é superexperiente nesse quesito, e diz que o novo trajeto deve ficar ainda mais rápido que o do ano passado, pois saiu uma das subidas. Ainda que falar em subida na maratona de Porto Alegre é até um certo exagero; subidinha fica mais adequado.

Bom, antes de prosseguir, confira abaixo o mapa do novo percurso, que, como no ano passado, começa e termina em frente ao hipódromo do Cristal. A prova será realizada no dia 3 de junho e ainda há vagas (confira AQUI).

A principal diferença, como quem correu no ano passado logo percebe, é que, em vez de largar em direção à zona sul, fazendo logo no início da prova um monte de idas e vindas –coisa que eu não gosto nem um pouco.

Em maratonas e em qualquer prova, prefiro os trajetos ponto a ponto ou uma grande volta, mas não trajetos que fiquem bordejando por aqui e ali, só para fazer quilômetros, em vez de mostrar mais da cidade, enveredando por locais menos conhecidos ou diferentes.

Bueno, mas não vou ficar aqui com saudosismos em relação à maratona de Porto Alegre. Avaliando o mapa, o que me parece ser o trecho mais chato é o que vai do km 32 ao km 36, passando por locais trilhados lá no início da prova. Mas há um bom intervalo entre um momento e outro, de modo que talvez não seja tão desagradável assim.

Outro momento de ida e vinda é o na avenida Ipiranga, do km 18 ao km 23. Esse trecho já vem de várias edições (talvez não exatamente igual) e foi um dos mais sofridos na última vez em que corri essa prova, por causa do vento contra –é bem verdade que eu já estava meio escangalhado na época, então não posso atribuir ao vento toda a responsabilidade do sofrimento.

Chatinho também, para meu gosto, é o trecho que vai do km 28 ao km 31, aí só por causa do vai e volta. Há quem até se agrade desses momentos, porque dá para aplaudir quem está na frente e ver se a gente não está muito atrás, se há outros corredores em situação pior…

Bueno, de qualquer forma, Porto Alegre é linda, hospitaleira, cheia de amor para dar e aposto que os maratonistas vão se divertir bastante por lá, ainda que surjam eventuais problemas ao longo do percurso.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Morte na maratona é dramática, mas rara, diz pesquisador

Por Rodolfo Lucena
15/05/12 15:12

Um estudo publicado há poucos dias no “The American Journal of Sports Medicine” mostra que, na maratona, a taxa de morte de corredores mais jovens (menores de 45 anos) é igual à dos veteranos.

O estudo também constatou que, apesar do enorme aumento do número de participantes em maratonas, o índice de mortalidade se manteve estável, em menos de 1 por 100.000.

O objetivo da pesquisa era exatamente esse: verificar se, com o aumento do número de participantes em maratonas registrado de 2000 a 2009, a taxa de mortalidade havia sido afetada. Os pesquisadores também queriam descobrir se houve mudança significativa no desempenho.

Para tanto, pesquisaram dados de maratonas realizadas nos Estados Unidos de 2000 a 2009 (inclusive).

No período, o número de concluintes aumentou em mais de 50%, passando de 299.018 para 473.354.

O tempo médio, porém, que poderia ter caído bastante com a chegada desse contingente de novatos, ficou praticamente estável: 4h34min47 era a média em 2000, sofrendo leve queda para 4h35min28 em 2009.

No período, foram registradas 28 mortes –seis mulheres, 22 homens– durante as maratonas ou nas 24 horas imediatamente após as provas. Isso em um universo total de 3.718.336 participantes em maratonas.

A taxa média de morte ao longo do período foi de 0,75 por 100.000 maratonistas. A taxa entre os homens é muito maior (0,98/100.000) do que a das mulheres (0,41/100.000). Segundo os pesquisadores, não houve mudança significativa nesses índices ao longo do tempo.

A idade média dos mortos era de 41,5 anos. Metade das mortes foi de corredores com menos de 45 anos. Entre os mais velhos, as principais causas de morte foram infarto do miocárdio/aterosclerose, com 93% do total. Entre os mais jovens, houve uma variedade de causas, e a com número maior foi ataque cardíaco sem causa especificada.

A conclusão foi a de que, apesar do aumento do número de participantes em maratonas de 2000 a 2009 nos Estados Unidos, não houve mudança na taxa de morte nem no tempo médio de conclusão da prova.

“É muito dramático quando alguém morre durante uma corrida, mas não é comum”, assegura o doutor Julius Cuong Pham, que liderou o projeto. Professor de medicina de emergência na Faculdade de Medicina da Universidade John Hopkins, ele ainda assegura: “Ninguém pode dizer que os corredores estão fora de perigo, mas o risco de morte por correr uma maratona é muito, muito pequeno”.

Em contrapartida, diz ele, “correr traz vários benefícios para a saúde, como redução dos riscos de hipertensão, colesterol alto e diabete”.

O que não significa que seja a panaceia para todos os males, pois quase todo o corredor também se lesiona: o índice chega a 90%, segundo estudos citados pelo próprio Pham.

A questão é a seguinte, meu caro leitor: cautela e caldo de galinha. Vá com calma, mantenha seu check-up em dia, não exagere nos aumentos de volume nem nos aumentos de intensidade.

O que é exagerar? Para você pode ser uma coisa, para mim outra, concordo, mas em geral os médicos recomendam que não se deve aumentar volume e/ou intensidade em mais de 10% de uma semana para outra.

Outra coisa, essa tirada da experiência de corredores de elite: 70% ou mais do total de seus treinos deve ser em ritmo inferior ao que pretende rodar na sua prova alvo. Traduzindo: não queira diminuir seu tempo nos 5 km ou nos 10 km a cada treino. Deixe para tentar bater seu recorde em uma prova específica, “a boa”, e daí vá com a cara e a coragem.

Hidrate-se bem, alimente-se bem, descanse bastante. Se puder, procure assessoria de profissional especializado; se não puder, seja ainda mais cauteloso nos ritmos e desafios a que se propuser.

Correr é muito bom, mas a gente tem de estar vivo e saudável para poder aproveitar.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Um pouco de poesia ao final de um treino

Por Rodolfo Lucena
14/05/12 08:39

A vantagem de correr pelas ruas é estar nas ruas, não dentro de um ônibus apertado, embaixo da terra nos trilhos do metrô ou engravatado numa sala com ar-condicionado.

Correndo pelas ruas, dá para sentir um pouco mais a pulsação da cidade, ver as pessoas que esperam ônibus, o nervosismo do motorista aguardando a troca do sinal, o acidente, o beijo do casal de namorados, a amoreira carregada, o abacateiro ameaçando jogar seus frutos nas cabeças dos passantes…

Há riscos. Motos entram na contramão sem dar o menor aviso, carros fazem curvas em velocidade inaceitável para o convívio urbano, ônibus expelem fumaça preta fedida…

Há também recompensas. Há tempo para ver o que está rolando à sua volta. Dia desses, voltando para casa, me deparei com poesia. Foi quase um metapoema: um pouco de poesia depois de um treino.

Gostei deste, bem romântico:

Neste aqui, resolvi dar um pitaco, e apareço como sombra, fotógrafo fotografado.

Para encerrar, em outra rua, um poema colado num poste me fez lembrar muitos momentos de minha vida. Afinal, quem é que não esquece de se lembrar?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Réquiem para Caballo Blanco, lenda da ultramaratona

Por Rodolfo Lucena
11/05/12 10:30

Foi um problema cardíaco a causa da morte do ultramaratonista Micah True, conhecido como Caballo Blanco e considerado uma das lendas mundiais da modalidade. A trajetória do corredor, que vivia boa parte do ano com a tribo Tarahumara, índios corredores do México, é o coração do livro “Nascido para Correr”.

Como você já leu aqui neste blog, Caballo Blanco morreu durante um treino em trilhas pela floresta de Gila, no Novo México (EUA), no final de março. Ele saiu para correr e não voltou mais; seu corpo só foi encontrado vários dias depois, sem sinais de violência. Agora, a autópsia recém-divulgada revela que ele tinha cardiomiopatia, um problema que afeta a capacidade do coração de bombear sangue para o corpo.

No livro, por sinal, é relatado um episódio em que Caballo Blanco passa mal. Sua namorada, Maria Walton, disse que ele sofria de hipoglicemia, o que às vezes o deixava tonto, se ele não estivesse se alimentando adequadamente.

Mais importante do que saber a causa da morte desse apaixonado pelas corridas, porém, é lembrar sua vida. Ao longo de seus 58 anos, ele passou por poucas e boas (se você puder, confira a revista “O2” deste mês, em que escrevi um breve perfil desse ultramaratonista), mas acabou se transformando em um arauto da vida simples.

Para falar sobre Caballo Blanco, convidei um jovem ultramaratonista, JOSUE STEPHENS, que conheci pela internet. Organizador da ultramaratona Fuego y Agua, na Nicarágua, ele será o sucessor de Caballo Blanco à frente da organização da Copper Canyon Marathon, em Urique, México, onde vive a comunidade Tarahumara. Dito isso, segue o texto que STEPHENS mandou para nós, especial para este blog.

 “Sou um ultracorredor de 31 anos de Austin, Texas. Criei e dirijo a Ultramaraton Fuego y Agua, uma ultra extrema, de caráter filantrópico, em uma ilha vulcânica da Nicaragua.

Filho de missionários, cresci no México e na America Central. Com 13 irmãos, em uma família que viajava como ciganos, experimentei muitas aventuras. Vivemos nas Barrancas del Coble  (Copper Canyon) com os Tarahumara, na Guatemala e na Nicarágua nos períodos revolucionários, nas montanhas de Puebla, México, no litoral da Costa Rica e em muito outros lugares.

Cerca de seis anos atrás (com 25 anos), eu me tornei um ávido corredor de ultramaratonas, mas isso foi uma espécie de continuação de um treinamento que tive desde os 12 anos. Meu pai era um fanático por corridas e boa forma e sempre nos falava sobre procuramos sermos como a tribo dos Tarahumara, do México. Minha irmã e eu chegamos a treinar para participar, com ele, de uma corrida de 80 km.

Em 1993, ele nos mostrou um artigo sobre a ultramaratona Leadville Trail 100, de 160 km, que foi vencida por corredores Tarahumara. Alguns anos depois, comecei a ler sobre um homem estranho, mas apaixonante, que se chamava Caballo Blanco e vivia com os Tarahumara nas Barrancas del Coble. Em 1996, vi, no site caballoclanco.com, um artigo sobre aquela corrida de 1993.

Fiquei muito empolgado! Era aquela figura misteriosa, e ele estava organizando uma corrida nas Barrancas Del Coble com os Tarahumara. Imediatamente chamei minha irmã mais velha e disse a ela que devíamos treinar: estava entusiasmado para voltar às Barrancas Del Coble.

Passei a trocar e-mail com Caballo Blanco a respeito da prova de 2008. Ele foi muito simpático e disse estar disposto a me receber na ultramaratona, apesar de eu ser então um novato. Quando chegou o dia da prova, eu tinha feito até então apenas quatro ultramaratonas.

Depois de viajar de avião, trem, ônibus e até na carona de pick-ups, chegamos enfim às profundezas do  cânion de Urique, um dos mais profundos das Barrancas Del Coble. Enquanto no topo dos cânions fazia frio, lá embaixo era quente, havia bananas e laranjas.

O encontro com Caballo Blanco foi quase como eu havia imaginado. Cabeludo e solitário, com uma cerveja na mão, em um bar vazio, ele foi muito simpático apesar de seu jeito pensativo e seu olhar distante.

Ele falava as coisas de forma muito direta e parecia determinado a alcançar o objetivo que tinha proposto a si mesmo. Conversamos bastante sobre suas aventuras e experiências nas Barrancas Del Coble.

Sua visão da vida era simples. Apesar de ter sido um bom corredor quando mais jovem, ele não era pretensioso nem ficava se achando o máximo. Corra porque você gosta e corra em liberdade –esses eram seus lemas.

Depois de vários dias de corridas, longas caminhadas pelas montanhas, natação e muita comida boa com um grupo de ultracorredores, finalmente chegou o dia da prova. Na largada, éramos 110 corredores, apenas 14 não Tarahumara. A corrida foi um dos momentos de maior euforia na minha vida: participar de um evento com corredores que viviam a vida de forma tão simples e tão apaixonada. Caballo Blanco a tudo observava sempre com um sorriso no rosto.

Depois da corrida, sentamos todos para jantar e conversamos sobre a prova. Percebi que Caballo Blanco havia criado alguma coisa muito especial nos cânions do México. Ele estava trazendo de volta à vida, recuperando a beleza da cultura corredora dos Tarahumara e tornando possível a outras pessoas compartilharem essa experiência profunda e cheia de significado.

Nós só pudemos viver aquele momento por causa de Caballo Blanco, porque ele era verdadeiramente apaixonado pelos Tarahumara e por seu estilo de vida. Eles simbolizavam liberdade e simplicidade, que Caballo Blanco sempre buscou.

Em poucas palavras, encontrar Caballo Blanco mudou minha vida. Nunca mais fui o mesmo depois daquela experiência nos cânions do México. Continuei me correspondendo com Caballo Blanco e passei algum tempo com ele no Colorado e no Texas depois que saiu o livro “Nascido para Correr”. Ele me deu conselhos sobre a criação de minha própria corrida, a Ultramaraton Fuego y Agua na Nicarágua, que eu projetei pensando na Copper Canyon Ultramarathon.

Caballo foi um homem simples, que via beleza nas coisas mais elementares da vida. Sua paixão era correr, não para competir, mas por causa da beleza e da simplicidade de movimentar-se pela natureza usando apenas a força do próprio corpo.

Ele não era muito ligado em formalidades: era o tipo de pessoa direta, que dizia o que pensava. E, apesar de ser superdedicado ao trabalho, ele também dava muito valor ao descanso e aos momentos de relax, com uma boa cerveja gelada e uma boa conversa.

Eu não acredito que ele temesse a morte. Ele sabia que sua jornada iria terminar em algum momento.

Quando seu corpo foi encontrado na floresta de Gila, no Nova México, seu rosto tinha uma expressão de paz. Ele estava em paz porque morreu fazendo o que amava. Que maneira melhor para esse guerreiro passar para o outro mundo?

Em tributo a Caballo Blanco, busque o que você ama na vida, seja verdadeiro consigo mesmo.

Descanse em paz, Caballo Blanco, meu amigo e companheiro de jornadas.”

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

TV mostra ao vivo início da Liga Diamante

Por Rodolfo Lucena
10/05/12 09:15

A primeira etapa da Liga Diamante, série de competições de atletismo que reúne o melhor da elite internacional da modalidade, será realizada nesta sexta-feira em Doha, no Catar. De acordo com programação que recebi, o canal BandSports vai transmitir o evento ao vivo, a partir das 13h de amanhã.

Usain Bolt não estará presente nem Yelena Ishinbayeva, mas estão previstos vários duelos interessantes. Talvez o mais acirrado seja nos 100 m masculino, onde estarão presentes Asafa Powell, da Jamaica, e o norte-americano Justin Gatlin. Nos duelos entre os dois, o americano vence por 6 a 3, mas o jamaicano tem o melhor tempo (9s72 contra 9s85).

Para o meu gosto, porém, a prova mais interessante deve ser a dos 3.000 m, que exige muita velocidade e esperteza maior ainda, para saber quando atacar e destruir os adversários. Na prova masculina, as estrelas são o etíope Kenenisa Bekele, que deverá ter como principal desafiante o queniano Augustine Kiprono Choge. Na única vez em que se enfrentaram, Bekela venceu.

Entre as mulheres, o duelo Jamaica-Estados Unidos vai se repetir nos 100 m. A jamaicana especialista na distância Campbell-Brown enfrenta a norte-americana Allyson Felix, que gosta mais de 200 m e dos 400 m. Nos encontros das duas, a jamaicana vence por 5 a 0 nos 100 m, enquanto a norte-americana lidera por 6 a 4 nos 200.

Nos 3.000 m, de novo o duelo é entre Etiópia e Quênia. A etíope Meseret Defar tem larga vantagem histórica sobre Vivian Cheruiyot (7 a 1), mas a queniana venceu exatamente o mais recente encontro das duas. Vamos ver.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Paralítica em traje biônico faz maratona em 16 dias

Por Rodolfo Lucena
08/05/12 17:29

Depois de 16 dias de caminhada, uma mulher paralítica completou hoje a maratona de Londres com o auxílio de um traje biônico.

Em lágrimas, a ex-amazona Claire Lomas disse que “estava nas nuvens”. Centenas de pessoas aplaudiram sua chegada (foto AFP) e três cavalarianos serviram com guardas de honra durante os últimos metros de sua jornada.

Uma queda de cavalo há cinco anos deixou a moça paralítica, mas, desde os primeiros momentos depois do acidente, ela procurou fazer o possível para se manter ativa.

Com o traje robótico, que mimetiza as respostas que as articulações do corpo dariam se estivessem funcionando bem, a moça de 32 anos conseguiu caminhar cerca de três quilômetros por dia. Antes, passou por longas sessões de treino até aprender a controlar o equipamento.

“Várias vezes, durante o treinamento, eu tive dúvidas se iria conseguir. Mas, depois que comecei, fui vivendo um dia de cada vez, caminhando o que era possível”, disse ela.

Ao longo do caminho, foi apoiada pelo marido e pela filha do casal, que tem pouco mais de um ano, além de outros familiares. Na chegada, rasgou a fita, mas seu tempo não será oficialmente computado nem ela vai receber uma medalha da maratona de Londres –para isso, teria de ter completado a prova no mesmo dia da largada.

Apesar das regras e regulamentos, Claire, que tem 32 anos, não vai ficar sem sua medalha de maratonista: cerca de uma dúzia de outros corredores já ofereceram a ela suas medalhas em reconhecimento à luta da moça, que hoje trabalha como designer de joias.

Além de todo o esforço para controlar seu traje robótico, Claire ainda levantou fundos para a pesquisa de tratamentos para a paralisia causada por rompimento do cordão espinhal. Arrecadou na sua jornada 86 mil libras (quase R$ 270 mil).

“Algumas pessoas chegam a perder os movimentos dos braços e das pernas. É preciso encontrar uma cura”, disse ela.

Chamado ReWalk, o traje robótico que ela usou custa cerca de R$ 130 mil. Por meio de sensores de movimento e controles computadores, permite que pessoas paralíticas fiquem de pé, caminhem e até subam escadas.

Veja neste blog AQUI mais fotos do fim da maratona de Claire Lomas.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Médico quarentão estreia na maratona

Por Rodolfo Lucena
08/05/12 13:16

Cerca de 300 pessoas participaram, no último domingo, da maratona de Brasília, que passa pelos principais pontos turísticos da cidade –Catedral, Esplanada dos Ministérios, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes, Eixão Sul, Eixão Norte. A prova marcou o debute do leitor deste blog Paulo Henrique Ribeiro de Paiva, de 42 anos, na distância. A seguir, acompanhe o relato dessa pequena aventura de Paulo Henrique, que é médico hematologista e mora em Uberlândia (MG).

 “Nunca me dei bem em esportes coletivos, talvez um pouco por timidez e muito por falta de aptidão física mesmo. Sempre dei minhas corridinhas, mas sem pretensões. Depois a faculdade, pós-graduação, trabalho, filhos e  outras prioridades me fizeram ficar uns dezoito anos sedentário. Há uns cinco anos, não aguentei mais e comecei a me exercitar. O planejamento da maratona veio depois. Não sei o que faz os corredores sempre quererem algo mais difícil. Talvez a sensação de vencer obstáculos, ultrapassar seus limites, ou simplesmente o prazer de praticar a corrida.

“O treino exige disciplina. Tem que treinar diariamente, independente de sol, chuva, calor, frio, na rua, academia, durante viagens ou onde quer que seja. Todo corredor que se preza já se molhou todo, tropeçou e caiu, foi perseguido por cachorro, ouviu gritos de “maluco”, xingamentos de motoristas e outras coisas mais.

“O pior pesadelo são as lesões. Algumas simples (bolhas, unhas que caem, hematomas, calos, assaduras, insolação), outras nem tanto (tendinites, bursites, contraturas musculares, distensões, problemas articulares…). Quando ocorre uma lesão, perde-se às vezes um período de treino, uma prova importante e, principalmente, a animação e vontade de continuar. Alguns ficam pelo caminho, mas felizmente, a maioria dos corredores que conheço é persistente.

“Estava treinando para a maratona de São Paulo, quando fui convidado para correr a de Brasília. Como é uma cidade mais próxima à minha, uma prova menos movimentada, num relevo mais tranquilo (pensava eu), topei. Brasília é uma cidade aberta, cheia de verde, com seus lagos e, o que acho mais bonito, seus horizontes são bem visíveis. O pôr do sol, então… Demais!

“Os primeiros 10 km são tranquilos, bons para chegar ao ritmo de cruzeiro. Aproveitei para apreciar a paisagem, observar os corredores ao meu lado, escutar músicas. Pensei na minha filha mais nova, a Maria Fernanda. Lembrei do seu nascimento, da hemorragia durante o parto, que exigiu perícia do obstetra, de nos surpreender ao andar com menos de nove meses de idade, dos seus cabelos cacheados, da personalidade marcante, do carinho com que me brinda, e também da noite mal dormida no hotel, porque estranhou a cama e me deixou sem dormir na véspera da maratona.

“Dali até o km 20, já dá para ir melhorando o ritmo, mas senti uma fisgadinha na coxa, lembrança de contusão passada. Mas continuei tranquilo. Tentei puxar conversa, mas todos estavam compenetrados no ofício de correr. Que pena! Pensei muito na minha filha mais velha, a Juliana. A alegria no nascimento do primeiro filho, os micos gerados pela inexperiência de ser pai pela primeira vez, da sua beleza deslumbrante, olhos azuis, cabelos loiros naturalmente com mechas, da sua esperteza, da capacidade de fazer amigos e da profunda amizade entre nós dois, que me faz sentir novamente com oito anos.

“Do vigésimo ao trigésimo km, não vi paisagem nenhuma, desliguei o iPod, não tentei falar com ninguém. Aquela fisgadinha na coxa esquerda virou uma danada dor em ambas as coxas. Começou uma fisgada foi na coluna lombar. A preocupação com hidratação, isotônico, carboidrato em gel virou obsessão. Tentei me concentrar. Lembrei-me da minha esposa, a Silvana. Da dificuldade que foi conquistá-la, das aventuras que passamos juntos (quase 22 anos já), das dificuldades, conquistas, das filhas que me deu. Acho que todos passarão em minha vida, mas ela –creio– me acompanhará até a morte.

“Depois do trigésimo km, o bicho pega. Tentei me distrair, lembrei da minha infância, das dificuldades que passei e venci, faculdade, concursos, noites em claro, plantões. Mas as dores musculares atacam coxas, panturrilhas, costas, pescoço, até os braços.

“Cada km é uma vitória individual. Um a um, parecem intermináveis. O ritmo caiu de 5min30/km para uns 10min/km, nem sei direito. Parece que estou arrastando um pneu de caminhão amarrado em cada pé. Meus joelhos parecem levar uma martelada a cada passo, minha lombar parece que levou um chute do Anderson Silva e meus pés (ainda os tenho?) não os sinto mais. As câimbras na musculatura da coxa esquerda pioram.

“Eu paro, tento fazer alongamentos, molho com água gelada no próximo posto de hidratação. Mas uns 500m adiante, volta tudo de novo. Tento me convencer que vou conseguir. Tenho que conseguir. Já estou no km 36, não vou parar antes da chegada.

“Quando se chega ao km 40, só faltam 2, certo? Errado. Parece que faltam 200! Pode conferir: toda prova que se preza tem subida no final. Mas a cabeça já está melhor. Parece que vamos mesmo conseguir terminar. O corpo, surrado, começa a ficar leve.

“Pórtico de chegada adiante, vi minha esposa, minhas meninas, a cunhada, posei para fotos e abri os braços ao atravessá-lo! O som anuncia: “Parabéns ao Paulo por ter concluído a maratona”.

“O fato é que, ao contrário do soldado grego, eu também cheguei para contar e comemorar minha vitória…. mas VIVO!”

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailrodolfolucena.folha@uol.com.br
  • FacebookFacebook
  • Twitter@rrlucena

Buscar

Busca
Publicidade

Tags

rocinha corrida rodolfo ocupação morro do alemão video rocinha dondocas tv folha são silvestre adriana aparecida rodolfo lucena rocinha rio de janeiro
  • Recent posts Rodolfo Lucena
  1. 1

    A despedida do blogueiro

  2. 2

    A música da maratona

  3. 3

    Tênis da Nike falha, e queniano vence em Berlim com bolhas e sangue nos pés

  4. 4

    Segundão agora tenta o recorde mundial na maratona de Berlim

  5. 5

    São Silvestre abre inscrições a R$ 145

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 01/11/2006 a 29/02/2012

Blogs da Folha

Categorias

  • Geral
  • Vídeos
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).