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Rodolfo Lucena

+ corrida

Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Brasileira pioneira da maratona recebe homenagem nos Estados Unidos

Por Rodolfo Lucena
15/05/15 10:14

eleonora e bill rodgers

Eleonora Mendonça fez muitas coisas na vida: foi empresária, organizadora de corridas, divulgadora do movimento olímpico. Acima de tudo, foi e é uma corredora de longa distância, dona do espírito que caracteriza esse tipo de atleta.

Pois agora a brasileira também é umas raras pessoas homenageadas no Hall of Fame, a sala da fama da corrida de Monte Washington, nos EUA.

Única representa do Brasil na primeira maratona olímpica femina, Eleonora vive há muitos anos nos Esatdos Unidos, onde também competia em seus anos de corredora de elite, nas décadas de 1970 e 1980.

Por três edições seguidas, de 1976 a 1978, ela venceu a dura corrida que sobe até o topo do mais alto pico do nordeste norte-americano. Em duas oportunidades, estabeleceu novo recorde no trajeto –ela e a norte-americana  Chris Maisto são as únicas mulheres multirrecordistas do trajeto.

“Não posso esquecer a vista maravilhosa que tinha enquanto subia a montanha. A beçleza da paisagem me ajudou a prosseguir até o topo”, disse ela aos organizadores do evento.

Com outros homenageados, ela participou de uma cerimônia em que compareceram vários veteranos que são praticamente uma lenda no mundo das corridas –na foto do alto, publicada na página de Eleonora em uma rede social, ela aparece ao lado de Bill Rodgers, tetracampeão das maratonas de Nova York e de Boston.

Eu já tive a oportunidade de fazer uma longa entrevista com Eleonora Mendonça. O texto foi publicado na antiga versão deste blog, que você pode conferir CLICANDO AQUI

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Algumas dicas para quem vai estrear na maratona de São Paulo

Por Rodolfo Lucena
13/05/15 11:36

Parabéns a você, corredor que resolveu fazer sua estreia no mundo das maratonas correndo a prova de São Paulo, que acontece neste domingo (17.5).

Não tenho a menor ideia das razões que o levaram a fazer essa escolha, mas pode crer que você tem a minha admiração: trata-se de uma prova de percurso difícil e pouco inspirador; só os fortes de espírito passam incólumes pelos sofrimentos que ela apresenta.

Com certeza, isso não o assusta. O que não significa que, a poucos dias da largada, você não esteja um tanto nervoso. Pensa se treinou direito, duvida que aquele último longão tenha sido suficiente para dar a preparação final, fica na incerta em relação à quantidade de água que deve beber e outras coisas mais.

Bueno, vou tentar ajudar oferecendo alguns pitacos sobre o que fazer nesses dias que antecedem a prova e  como enfrentar o rigoroso percurso da maratona de São Paulo, que chega à sua 21ª edição.

Como você sabe, não sou médico nem treinador nem preparador físico nem especialista em coisa nenhuma. Mas já tenho uma certa experiência na arte de correr maratonas, entrevistei muitos especialistas e corredores profissionais, troquei ideias com outros tantos amadores.

Enfim, o que escrevo a seguir é resultado desse cadinho de cultura; não é verdade absoluta, mas o que serviu para mim ou o que eu observei que serviu para outros.

Primeira coisa: trata de se acalmar. O que foi treinado está treinado, não há mais tempo para mudar, melhorar, ajeitar, dar uma guaribada.  Você fez o melhor que lhe foi possível, está tudo muito bem. Não vou dizer para relaxar, porque ninguém relaxa nessas horas, mas tente descansar.

Comer e dormir é o melhor que você tem a fazer nesses dias. Dê preferência a massas com molhos leves (ao suco, aquele coisa), diminua um pouco as proteínas, tente controlar as gorduras. E vá dormir cedo, mesmo que não tenha sono. Descanse, alongue, pense na morte da bezerra…

Não! Na morte da bezerra, não! Pense numa bezerrinha nascendo, aos poucos se erguendo e saindo a trotar e comer grama pelos campos rechonchudos do Rio Grande do Sul!!! Planeje como você vai festejar sua chegada, aquela coisa… Quando você menos esperar, o sono chega.

Eu gosto de dar umas trotadas na semana da prova, uma duas vezes, com intervalos de um dia entre uma soltada e outra, coisa de 40 minutos, uma horinha de cada vez.

Mas é bom escolher um terreno plano e sem muitos obstáculos: não vá me torcer o pé nessa hora!!

Também gosto de aumentar a ingesta de líquidos, passo a uns três litros de água e chá por dia; nada de refrigerante e álcool.Também tento dar uma maneirada no café.

No sábado, separe a roupa com que vai correr, deixe o tênis arrumado, aquela meia velha acertadinha. Eu gosto de já na véspera pendurar o número no peito da camiseta; às vezes, dependendo do tipo de chip, também já o deixo preso no tênis. Enfim, quanto menos coisa para pensar na manhã da corrida, melhor.

No dia da prova,  eu costumo acordar umas duas horas antes da largada, dependendo de como vai ser o transporte até o local da corrida.

Para o café da manhã, repito o que tenho feito antes dos meus treinos longos. Como uma banana amassada misturada com granola e aveia; bebo chá. Outra opção são duas fatias de pão, uma com queijo cottage, outra com queijo cottage e mel. Nutricionistas não gostam que se coma pão integral ou coisa com muita fibra na véspera e no dia da corrida, mas eu prefiro pão integral.

Vou ao banheiro não sei quantas vezes antes de sair de casa ou do hotel  –sempre dá um nervoso antes de uma prova importante, e é melhor aproveitar o conforto e a limpeza do lar, pois os banheiros químicos são uma nojeira.

Ao sair , levo uma fatia de pão seco ou uma banana extra ou uma barrinha de cereal. Na minha pochete, carrego o celular e meia dúzia de sachês de carboidrato; no bolsinho de trás do calção, algum dinheiro. Pronto.

 

Para a maratona de São Paulo, o melhor é ir de metrô. Dificilmente você vai levar mais de 40 minutos, mas é bom conferir antes. É melhor descer na estação Brigadeiro da linha verde e fazer a pé o caminho em descida da avenida Paulista até o Ibirapuera, onde será a largada.

Quem cumprir todos esses rituais sem pressa vai acabar chegar ao ponto da largada uns 15 minutos antes de a corneta soar. É bom. Dá tempo de encontrar seu brete e não há muito tempo para voltara ficar nervoso.

Eu não gosto de participar das famigeradas sessões coletivas de alongamento; prefiro mexer o corpo numa boa, sem muito espicha e puxa. Afinal aquele quilômetro e pouco de caminhada lomba abaixo já foi um aquecimento bem razoável.

Largada!!!

maratona sp

 

Agora é só você e o asfalto. E não se preocupe, a maratona não tem 42.195 metros, isso é pura invenção de quem gosta de assustar os outros ou impressionar os incautos, aparecer como atleta no meio de um monte de sedentários.

De fato, veja bem.

Os primeiros cinco quilômetros você nem vai sentir, pois o corpo estará se acostumando ao asfalto, tentando entender o que está acontecendo, entrando no ritmo; os cinco quilômetros finais também mal serão percebidos, tão alto o nível da adrenalina no corpo, a ansiedade e a esperança dominando os músculos; e lá pelo meio há uns cinco quilômetros tão difíceis e doloridos que a gente nem quer lembrar que existem.

Vai daí que a maratona tem apenas 27 quilômetros, coisa que qualquer um faz todo o dia e não precisa se assustar. Ah, tem aqueles 195 metros, mas pode crer que eles não são o que mata a gente, como alguns brincalhões gostam de dizer; quando você chegar até eles, estará que é só sorrisos, então largue mão de pensar em micharia.

Bueno, o percurso da maratona de São Paulo é broca, como dizem os paulistanos. Não deixe de beber água em todos os postos de hidratação, mesmo que sejam uns três ou quatro goles de cada vez e faça sua reposição de energia como estiver acostumado –atualmente, estou fazendo a cada 40 minutos, mais ou menos.

Quanto ao trajeto, é quase todo plano. Você só precisa lembrar de uma coisa: a prova vai começar pouco depois do quilômetro 39. É quando os corredores entram no último túnel e tomam aquele choque de sombra e frio, fazem uma descida e sobem uma rampinha que, para alguns parece uma montanha.

Mais que seus músculos, seu espírito precisa estar preparado para essas mudanças em horário tão tardio da corrida. O que eu gosto de fazer, em condições semelhantes, é meter as caras na bagunça já pensando na saída.

Então, quando entrar no túnel, não dê muita bola para o sofrimento que vem. Pense na redenção: na saída, a subida rumo à avenida que leva até a chegada. Para mim, aliás, essa é uma das grandes lembranças da maratona de São Paulo.

Não, eu nunca fiz essa prova, mas assisti pela TV sempre que me foi possível. Em 1998, as câmeras perderam o sinal quando os ponteiros entraram no túnel. Na escuridão, não se percebia quem eram quem; sabíamos, porém, que dois quenianos tinham entrado na frente.

Eram perseguidos pelo gaúcho Diamantino dos Santos, que vinha de camiseta vermelha. E foi aquela camiseta a primeira coisa que se viu quando a imagem passou a outra boca do túnel, a da saída. Comecei a gritar, no conforto de meu quarto. Um brasileiro iria ganhar a maratona de São Paulo!!

A perseguição foi duríssima, a gente sempre achando que o queniano iria pegar Diamantino. Que nada! Gaudério dos pampas, o Gaúcho segurou a posição e se mandou para a vitória.

É assim que vai ser com você. O adversário não será um queniano, muito provavelmente, mas terá o tamanho de um monstro de asfalto de mais de 40 quilômetros. Estará prestes a cair. Basta mais um empurrãozinho.

Ande, vá! E chegue para se transformar em maratonista.

Talvez você não perceba na hora, mas fique certo: sua vida vai mudar.

 

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Haile, o mito, se aposenta das maratonas aos 42 anos

Por Rodolfo Lucena
11/05/15 13:26

haile reuters

Agora é para valer: depois de correr, no último domingo, a prova de 10 km Great Machester Run, na Grã-Bretanha, o multirrecordista Haile Gebrselassie anunciou sua aposentadoria da vida de atleta profissional.

“Estou me aposentado do mundo competitivo, mas não da corrida. Eu não posso abrir mão da corrida, ela é a minha vida”, disse o ex-recordista mundial da maratona e por muitos considerado o maior corredor de longa distância de todos os tempos.

Conquistas ele tem de sobra para justificar esse título: ao longo de seus 23 anos de carreira competitiva, quebrou 27 recordes mundiais em diversas distâncias, conquistou dois ouros olímpicos (10.000 m) e oito títulos em Mundiais de atletismo.

Ele já havia anunciado sua aposentadoria em 2010, depois de não ter conseguido completar a maratona de Nova York, mas voltou atrás. Chegou a tentar se qualificar para defender sua pátria nos Jogos de Londres-2012, mas não conseguiu; mesmo assim, seguiu competindo na elite.

No domingo, fez sua última aparição com esse status, completando a prova em pouco mais de 30 minutos, o que lhe valeu o 16º posto (foto Reuters). Depois, voltou à largada e correu tudo de novo, desta vez com o povão.

É o que deverá fazer em outras provas de seu “circuito de despedida”; uma delas será em outubro, em Glasgow, na Great Scottish Run.

Agora, vai concentrar seus esforços na sua vida de empresário. A “Haile S/A” emprega mais de mil pessoas em diversos ramos de atividade –construção civil, venda de carros, administração de hotéis e plantação de café. Também é um embaixador da ONU e tem projetos sociais que envolvem a construção de escolas na Etiópia.

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Garota vence dupla maratona e bota marmanjos no chinelo

Por Rodolfo Lucena
04/05/15 11:16

Pela primeira vez na história do ultratriatlo, uma mulher venceu a etapa de corrida, deixando para trás homens mais fortes e experientes –que, na prova, não se provaram tão mais fortes assim.

Isso aconteceu no mês passado, em uma competição chamada UB515 –uma franquia disputada nas mesmas distâncias do Ultraman: 515 quilômetros divididos em 10 km de corrida, 421 km de ciclismo e uma dupla maratona (84,4 km), ao longo de três dias.

A autora do feito é uma jovem campineira, Luiza Tobar, professora de educação física de 27 anos que, nas horas vagas, gosta de brincar com seus três cachorros. Também aprecia um joguinho de baralho com a família e as horas passadas com o namorado.

No meio disso tudo, treina quando pode. E tem muito sucesso. Parte dele talvez se deva à genética: Luiza tem uma irmã gêmea que também é supercraque em provas de alta resistência. Cíntia, a mana igualzinha tal e qual, já fez provas de Ironman e é a recordista da ultramaratona Bertioga-Maresias (75 km).

Aliás, talvez por serem gêmeas as irmãs acabaram desenvolvendo uma certa timidez. Afinal, aonde iam chamavam a atenção. Luiza se protegia dos holofotes buscando a introspecção, mas se soltava na hora das brincadeiras ao ar livre, da queimada ao futebol.

No último domingo, saiu na Folha reportagem que fiz com ela (leia AQUI). Para produzir aquele texto, fiz uma entrevista bem mais longa, que apresento para você a seguir. Como você já sabe por que fui conversar com Luiza (fotos Karime Xavier/Folhapress), deixo a entrevista numa ordem cronológica, para que você possa acompanhar o desabrochar dessa atleta até a conquista da mais longa prova de sua vida.

luiza abre karime xavier

 

RODOLFO LUCENA – COMO VOCÊ COMEÇOU NO ESPORTE?

LUIZA TOBAR – Fiz natação no clube quando era pequena e me lembro muitos das aulinhas e dos festivais infantis. Depois disso migrei para o vôlei, depois tênis e, finalmente, com 12 anos fui para a corrida. Meu pai é corredor e me incentivou desde pequena a correr. Corria com ele duas vezes na semana, no parque Taquaral, em Campinas, e aos domingos saíamos da minha casa e íamos até o clube de campo do Regatas, em Souzas. O percurso é de 12 km, com muitas subidas, e até hoje é meu percurso favorito em Campinas. Depois disso, não parei mais de correr, fui aumentando as distâncias e com 16 anos já corria nas provas de corrida de rua, tanto de 10km, 18km e 21km (nesta época podia).

QUAL FOI SUA PRIMEIRA CORRIDA? E HOUVE ALGUMA PROVA MARCANTE NA SUA ADOLESCÊNCIA?

A minha primeira corrida foi aos 16 anos, em Campinas, uma prova de 10 km tradicional, Corrida da Lua. Ainda existe e é noturna. Na época, corri e fiquei em décimo lugar no geral e primeira da categoria.

A corrida marcante na minha adolescência foi a Meia Maratona do Rio, que fiz com 16 anos, e depois voltei uns anos depois. Sou apaixonada pela cidade do Rio de Janeiro.

COMO VOCÊ DESCOBRIU O TRIATLO?

Me mudei para Florianópolis em 2006 para fazer faculdade de educação física na Federal. E aquela ilha é perfeita para correr. Continuei correndo e participando de provas. Até que em 2007 participei de uma ultramaratona que se chama Praias e Trilhas. São dois dias de corrida de montanha e praia, 42 km cada dia. Nessa prova, eu fiquei em segundo lugar geral, chamando a atenção de uma triatleta e treinadora que estava lá, Vanuza Maciel.

Ela me chamou para treinar triatlo e trabalhar com ela. Era estudante morando fora e mesmo assim aceitei o convite, porque a Vanuza me deu uma grande estrutura de treinamento: academia para nadar e treinar; me passava o treinamento; me pagava inscrições de provas, e em troca eu era estagiária na sua assessoria, ajudando-a principalmente, quando ela tinha que viajar para competir.

A Vanuza não só introduziu e me deu uma oportunidade de entrar para um esporte que eu jamais teria condições financeiras de bancar, como ela foi uma grande inspiração pra mim. As mulheres em nosso país, ainda são muito discriminadas e infelizmente existe muito abuso (diversos) e machismo. Pra mim, ser mulher e atleta, no Brasil, é sinônimo de inspiração.

VOCÊ PODE DAR EXEMPLOS DESSES ABUSOS?

No esporte, um exemplo clássico é o cenário de quando uma atleta mulher sai para treinar sozinha. Já acostumei, porque fico na rua desde pequena treinando, mas é um caos. Buzinas, comentários desagradáveis, etc.

Acho que o brasileiro não é acostumado a aceitar uma atleta que corre na rua e pedala nas ruas e estradas. Além disso, toda a vida me senti deslocada, como se minha mentalidade não se encaixasse com a dos brasileiros. Como se fosse uma estrangeira, porém nasci no Brasil.

COMO SE DESENROLOU SUA CARREIRA PROFISSIONAL?

Estudei educação física em Florianópolis e não pensava em sair do paraíso até o momento que me formei e percebi que as oportunidades para trabalhar na área lá eram muito limitadas e o retorno financeiro muito baixo.

Tomei a decisão mais difícil da minha vida, da qual me arrependo muitos dias, mas que foi feito: voltei para Campinas atrás de oportunidades e com o objetivo de me desenvolver mais profissionalmente. Terminei há pouco tempo uma especialização na Unicamp de treinamento de triatlo, e acredito que no caos de São Paulo existam melhores opções, ainda pra uma área tão desvalorizada.

Trabalho com o treinamento de corrida e triatlo a distância também, mas não acho que tenho o perfil de profissional para formar uma grande assessoria esportiva. Prefiro menos caos, treinar menos gente e melhor.

E SUA CARREIRA ESPORTIVA?

Assim que comecei o treinamento de triatlo, a Vanuza me pagou a inscrição do Ironman 2008, pois percebeu que eu realmente estava levando a sério. Fiz meu primeiro Ironman em Floripa, em 2008, e já conquistei a vaga para o Ironman do Havaí. Logo de cara.

A partir daí, não parei mais de fazer Ironmans. Hoje tenho 12 Ironman completados, sendo quatro vezes no Campeonato Mundial de Ironman (Hawaii). Mesmo assim, em 2008 e 2009 permaneci treinando paralelamente para ultramaratona – como é bom ser estudante! Rsss- e tive o prazer de competir a Volta à Ilha em dupla, duas vezes consecutivas, enfrentando duplas de homens e pegando pódium em ambas.

De todas os pódios e provas, o título mais importante pra mim foi o pódio que peguei em 2010 em Kona, Campeonato Mundial de Ironman, quando fui quinta colocada na minha faixa etária. Era o último lugar no pódio, mas para mim foi um feito grande, pois, fora a Fernanda Keller, não existe outra mulher brasileira que subiu no pódio nessa duríssima prova.

VOCÊ SE CONSIDERA UMA ATLETA PROFISSIONAL?

Não tenho patrocínio, apenas apoiadores (treinadores, academia, suplemento alimentar, nutricionista, loja de bike). Não me considero profissional, porque divido meu dia em trabalho, obrigações domésticas (não tenho empregada), estudo; faço tudo que uma pessoa comum faz, e não consigo ter o treinamento apropriado de um profissional (comer, dormir e treinar). Fora isso, não tenho nenhum retorno financeiro; apenas gastos.

Preciso trabalhar para pagar as contas, como qualquer pessoa. Encaixo treinos de madrugada e nos horários livres. A melhor hora do meu dia é na hora do treino; no entanto, minhas obrigações vem em primeiro lugar; os treinos eu vou encaixando ao longo do dia, e não deixo de treinar um dia!

COMO PASSOU DO TRIATLO PARA O ULTRATRIATLO?

Tenho 27 anos e sou considerada nova para fazer tanta prova de Ironman. Completei 12 provas de Ironman, e em outubro já estou indo para mais um Campeonato Mundial, no Havaí, pois classifiquei no ano passado na prova de Fortaleza.

Cheguei a um ponto da minha vida que estava brigando para abaixar meus tempos de prova, e isso não é e nunca foi a essência de quem eu sou. Precisava de um novo desafio. Precisava treinar com medo de não completar alguma prova. E encontrei nessa prova, a prova perfeita pra mim, tanto pelas distâncias, quanto pela filosofia. Cansei do desfile do triatlo, das pessoas, roupas, equipamentos, etc.. Precisava lembrar que o melhor de um esporte de elite, ainda existe, que é a simplicidade e superação.

Quando o treinamento para uma prova se torna tranquilo, e o objetivo se torna correr contra o tempo, o treinamento se torna vazio. A busca pelo aperfeiçoamento deve ser acima disso; tem que ter sentido, tem que ter prazer, e acima de tudo, verdadeiro.

O QUE VOCÊ TEM QUE LHE PERMITE SE DESTACAR NESSE TIPO DE PROVA?

Sou uma atleta de resistência desde pequena. Tenho resistência e sei que isso reflete nas minhas respostas fisiológicas ao esporte. Mas do que isso, sou pronta psicologicamente para esse tipo de competição. Sou pronta para imprevistos e erros, pois comigo acontece muito, o tempo todo, e mesmo assim sigo em frente, não desisto.

EM GERAL, EM PROVAS LONGAS ASSIM OS COMPETIDORES SÃO MAIS VELHOS…

Sou uma jovem em alma mais velha. Sou séria e centrada. Muitas pessoas que não me conhecem acham que sou brava, ou as vezes antissocial. Sou na minha. Levo tudo a sério. E acho que essas características e personalidade são necessárias para provas de resistência.

VOCÊ JÁ TINHA FEITA UM ULTRATRIATLO ANTES?

Nunca tinha feito uma distância dessas. Como o triatlo é muito caro, sigo o ano todo treinando, mas escolho a dedo as provas. No ano passado, fiz uma prova de triatlo no primeiro semestre (meio longa), a maratona do Rio no meio do ano e o Ironman Fortaleza em novembro.

Não tenho equipe de apoio enquanto compito. Geralmente levo alguém da minha família, ou namorado para torcer e estar presente comigo. Na prova UB515, que era uma prova aberta na rua, precisávamos, por segurança e logística -são 3 dias de prova- levar equipe de apoio.

luiza gemeas mais verticalGostaria que minha irmã gêmea tivesse dado apoio (foto arquivo pessoal), porém ela está morando fora do Brasil desde ano passado. Assim, escohi dois amigos triatletas para uma função difícil e cansativa. O Bruno Zoauin e o Donga.

Eles não são pagos, pelo contrário: largaram o trabalho, me ajudaram com um monte de gasto (gasolina, comida, etc) e ainda vieram com o próprio carro me ajudar. Eles dirigiram, me deram comida, fizeram massagem; cuidaram de mim todos os dias ao longo dessa jornada e só tenho a agradecer pela equipe que formamos.

No último dia, o Donga, ficou os 84 km de mtb do meu lado, sem comer quase nada, me alimentando e dando água, literalmente todo minuto. Foi nítido em toda a prova, que os dois se doaram 100% a mim e a prova.

VOCÊ CHEGOU ADOENTADA PARA A PROVA. O QUE HOUVE? VOCÊ PENSOU EM NÃO LARGAR?

Na segunda-feira da semana da prova (que ia começar na sexta-feira), saí do trabalho vomitando e fui para o hospital. Tomei soro e remédios, e foi detectada infecção bacteriana. Comecei a tomar um monte de antibióticos e fiquei arrasada.

Não tomo remédio por nada, tenho aversão aos seus efeitos colaterais. Sempre que tenho algum problema, vou a meu médico homeopata. Terça-feira estava medicada e de cama, e parecia que tinha melhorado um pouco; no entanto, à noite fui novamente para o hospital. Não consegui atendimento de madrugada, e voltei para casa.

Poucas horas depois estava viajando rumo a Paraty, doente, passando mal.

Em nenhum momento pensei em não largar, pois a dedicação para essa prova tinha sido muito grande. Havia treinado e me sacrificado muito. Além de tudo, o gasto financeiro da inscrição, hospedagem, comida de prova, tinha sido muito alto.

Estava pronta para largar, mas sabia que poderia ter de abandonar a prova.

Agi contra os médicos e contra a minha mãe, mas eu tinha que pelo menos tentar. No último caso, poderia sair de ambulância para um hospital da cidade e parar a prova. Assim, quarta à noite decidi que pararia de tomar antibiótico, e na quinta-feira fiquei o dia todo tomando remédio homeopático. Sexta-feira cedo foi dada a largada.

COMO FOI O DESENROLAR DA PROVA?

A prova começa em Paraty (RJ). No primeiro dia, nadamos 10 km na praia do Pontal (cinco voltas no circuito) e pedalamos 145 km (Paraty-Ubatuba, Ubatuba-Paraty).

A largada foi às 6h da manhã de sexta-feira, 17 de abril. No primeiro dia, vesti um maiô com roupa de borracha para nadar, e ao sair da água vesti uma roupa de ciclismo velha mesma, com a qual estava acostumada a treinar. Optei por blusa de ciclismo mais fechada para que não queimasse do sol, pois no dia seguinte teria que competir de novo.

Do ponto de vista psicológico, estava pronta para desistir se necessário. Fui tranquila, prestando atenção ao meu corpo e observando como ele reagia ao exercício. Nadei concentrada, sem pensamentos, apenas concentração em nadar reto, e fazer o que tinha que fazer. Não tive medo em momento algum da água. Pelo contrário, o mar me acalma e me faz bem. Nadei cautelosa, e mesmo assim, saí da água num tempo bom e colocação boa. Nem esperava por isso.

Fui pedalar tranquila e no final do dia terminei em primeiro lugar feminino. Mal pude acreditar. Estava satisfeita e feliz já neste dia. O restante dos dias pra mim já nem me importava como seria, estava despreocupada.

E O DIA DO PEDAL? COMO É SEU TREINAMENTO?

No segundo dia acordei preocupada Rsss. Estava passando meio mal do estômago. Me preparei psicologicamente para um dia pior possível, onde achei que fosse vomitar e que pudesse me desgastar muito fisicamente. Mais um dia que estava pronta pra ter que parar, caso isso acontecesse.

Só que não aconteceu. Dada a largada, fiquei comendo muita batata com sal, e meu estômago melhorou. Me senti bem, e fui pedalando. Ao longo dos 276 km fui passando um monte de gente, sempre cuidando da alimentação e hidratação. Terminei o segundo dia melhor ainda, primeira mulher e sexta geral. Estava inteira, nem conseguia acreditar.

Treinei bastante para essa prova. A divisão do meu treino não tem modelo pronto. A cada dia, fazia dois treinos de modalidade e sempre mais um de fortalecimento.  Meu treinador de triatlo é o Prof. Ricardo Dantas. Ele é pesquisador e professor acadêmico e um dos caras com maior conhecimento de treinamento de triatlo no país. Um grande exemplo de profissional de uma área em que existe tanta prática, tanto achismo e muito pouco estudo. O Ricardo tem doutorado e se dedica todos os dias ao laboratório de fisiologia e das aulas em faculdade.

Tenho um treinador de natação que se chama Samir Barel, e é especialista em águas abertas. Faço a combinação dos treinos dos dois treinadores.

Treino todos os dias da minha vida, e me preparo de maneira específica para as provas principais, que escolho a dedo, pois são caras, como Ironman, por exemplo. O restante das provas que faço, de maratona aquática, corrida de rua ou ciclismo, participo do que achar que vale a pena. De corrida de rua, geralmente ganho inscrições do Açaí Mill e Ross, um apoiador que me dá açaí todo mês, e que me incentiva a participar das provas de corrida de rua pelo interior de São Paulo.

De resto, não me preocupo muito em competir; amo treinar, e se não é possível participar dos eventos tanto quanto eu desejaria, já fico muito satisfeita em poder treinar e fazer simulados. Me viro com o que eu tenho, e agradeço ter a saúde pra isso.

PELO QUE ME DISSERAM, VOCÊ FOI A PRIMEIRA MULHER A VENCER A ULTRAMARATONA NA HISTÓRIA DO ULTRATRIATLO. É ISSO MESMO? E QUANDO COMEÇOU O ULTRATRIATLO?

Sou a primeira mulher do mundo a ganhar a dupla maratona (84,4 km) em uma prova de ultratriatlo. O Ultraman nasceu no Havaí em 1983, e a prova é baseada em 3 conceitos  “aloha” (love: amor), “ohana” (family: família), and “kokua” (help: ajuda).  Um dos conceitos da prova: “We came together as strangers, competed as friends, we part as brothers and sisters.” (Gerry van de Wint) [Chegamos como estranhos, competimos como amgos e nos separáramos como irmãos e irmãs]

Em 1993, o segundo Ultraman foi organizado no Canadá e se tornou um evento de classificação para aqueles que querem competir no Havaí (Campeonato Mundial de Ultraman). Hoje, essa prova não é mais uma classificatória.

Um terceiro evento se iniciou em 2011 no Reino Unido, e aconteceu por três anos consecutivos. Em 2014 surgiu o Ultraman Florida, e em 2015 surgiu o Ultraman Austrália.

Há eventos com a mesma distância, mas sem a chancela Ultraman, que são as provas 515, realizadas no Canadá, Brasil, Porto Rico, Texas e Mallorca. Elas não classificam para o Havaí. São provas com número limitado de participantes (geralmente, máximo 40).

VOLTANDO AO UB515, CONTE COMO FOI SUA CORRIDA. O QUE VOCÊ PENSA QUANDO CORRE? POR QUE VOCÊ CORRE?

Quando corro, não penso em nada. Eu corro porque faz parte de quem eu sou. Não consigo pensar em um dia sem correr. Correr é terapia, é alegria, é felicidade, é desafio, é companhia, é a melhor forma de me expressar.

Meu treinamento de corrida é normal. Faço treinos de tiros, intervalados, fartlek, contínuo progressivo, soltura, ritmo de prova, cross country… Emalgumas semanas corro todos os dias, algumas semanas não. Depende do foco da semana, depende de como está a minha rotina.

Não consigo pensar em mim sem associar á corrida. É um hábito que virou necessidade, como escovar os dentes; e um esporte que virou vício.

E A PROVA? PELO JEITO, VOCÊ CORREU SOZINHA O TEMPO TODO…

luiza parque karimeSim, corri sozinha o tempo todo. O percurso se inicia em Santa Cruz. O lugar é meio barra-pesada. O percurso começa na cidade, com um pouco de subida curta, logo entramos na ciclovia e um trecho plano até o km 21. Depois entramos em um braço da corrida de ida e volta para completar os 42,2 km. Essa parte é quase toda plana, com algumas ondulações, o chão é meio ruim de correr, mas nada demais.

No km 42m entramos numa serra bem inclinada e que parece sem fim. São apenas 2 km de subidas, mas parece eterno. Depois da descida, entramos num outro braço da corrida de ida e volta, que também é basicamente plano, com poucas ondulações e o asfalto ali é liso e muito bom.

Após este trecho entramos numa pequena serrinha com ondulações um pouco mais acentuadas, e por fim terminamos na orla do Rio de Janeiro, nas ciclovias da orla e na ciclovia da reserva da Barra.

Prestei atenção na paisagem sim, e não pensava em nada. Apenas corria e aproveitava o momento. Me concentrava em mim e no que eu precisava beber e comer… Em alguns momentos pensei: “Não é possível que estou liderando nesse ritmo devagar. A galera não treinou direito. Eles não sabem treinar específico”. Rssssss. Mas a grande parte da prova, eu não pensei em nada, apenas fui correndo e aproveitando o momento. Me concentrei no momento, porque também o trânsito era aberto, tinha que ser esperta e prestar atenção com tudo.

NO RANKING GERAL, VOCÊ CHEGOU CERCA DE UM MINUTO ATRÁS DO SEGUNDO COLOCADO. SE TIVESSE SIDO UM SEGUNDO POR QUILÔMETRO MAIS RÁPIDA, ESTARIA COM A MEDALHA DE PRATA FÁCIL. O QUE VOCÊ PENSA DISSO?

Penso que parei várias vezes pra fazer xixi. Na prova, temos que seguir as regras de trânsito. Parei duas vezes nos semáforos do Rio de Janeiro, para atravessar as ciclovias (da orla para o outro lado da avenida e depois voltar). Nos semáforos, fiquei cerca de 2 minutos’ ou mais. Muito demorado eles.

Então me considero vice-campeã mesmo não sendo.

Isso pra mim não tem grande importância. Fiz uma prova muito além do que imaginava, e mostrei para os marmanjos que uma menina sabe correr. Além disso, ao longo dos três dias, em todas as chegadas, percebi de alguns homens um certo desrespeito; me julgaram errado.

De certo eles pensavam que a prova ia me colocar no meu devido lugar.  Não que eu liguei para este tipo de coisa, pois acontece o tempo todo, em todo o lugar. Mas os homens brasileiros são muito machistas e não admitem perder para uma mulher, ou sequer chegar perto de uma. Isso é um cenário muito comum pra mim. E foi incrível a lição de humildade que foi dada a eles.

VOCÊ PODE DAR EXEMPLOS DESSE MACHISMO? E QUAL ERA A SUA REAÇÃO?

No final de cada dia de prova, a felicidade estava clara em minha face, somada ao fato de eu ter terminado todos os dias bem colocada entre os homens e em primeiro entre as mulheres.

Em todos os dias que estava na massagem, vinha algum homem falar: “Ah, hoje foi fácil, você vai ver amanha”. E assim seguia.

No segundo dia: “Ah, hoje foi tranquilo, amanha é o que bicho pega”. E isso pra mim é comum. Eu simplesmente ignoro, porque eu tenho fé em mim e me conheço. Se você não coloca fé em mim, e nem me conhece, fique quieto. Acho desagradável. E isso é comum.

Já fiz ultramaratona, e em um dos postos de hidratação, um atleta me pergunta, como é que eu vou fazer essa prova sozinha.

Eu fico indignada com homens que não aceitam perder de mulher. Eu simplesmente viro as costas e saio correndo –lógico, na frente deles.

O QUE VOCÊ GANHOU COM A VITÓRIA GERAL NA CORRIDA?

A prova não dá premiação em dinheiro. O que eu ganhei foi muito mais do que um primeiro lugar feminino e um terceiro geral de uma prova, ou qualquer título. Foi o resgate de quem eu sou; foi a comprovação de que nada é impossível no esporte e na vida.

O QUE VOCÊ QUER DA VIDA?

Quero conseguir permanecer no esporte ao longo de toda a vida. Me vejo com 80 anos fazendo Ironman, e espero que consiga casar, formar uma família e poder compartilhar com as pessoas aquilo que mais amo: o esporte.

 

 

 

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Cresce presença de brasileiros em maratonas internacionais

Por Rodolfo Lucena
29/04/15 11:15

Crise ou não crise, os maratonistas brasileiros seguem viajando pelo mundo. E não é só para a vizinha maratona de Buenos Aires, para as provas gringas de Nova York e Disney ou para as belezuras de Paris. Os corredores brasucas estão virando verdadeiros globe trotters, segundo indica um estudo internacional recentemente publicado.

Segundo os dados divulgados pelo site RunRepeat, os brasileiros não estão entre os maiores viajantes do mundo, mas também não ficam lá na rabeira. De 2009 a 2014, diz a pesquisa, a presença de corredores brasileiros em provas internacionais aumentou 40,42%.

Pode não ser muita coisa, comparada à alta da presença russa, que foi de 300%, mas é muito mais significativa do que o movimento dos suíços, cuja participação em provas no estrangeiro caiu mais de 30%.

É bem verdade que o trabalho não é um levantamento estatístico que reflete o universo de cada país. Antes, é uma fotografia baseada em um corte no universo de maratonas internacionais.

O estudo acompanhou 12 provas ao longo de seis anos: Chicago, Marine Corps (Washington), Boston, Londres, Paris, Berlim, Frankfurt, Atenas, Amsterdã, Budapeste, Varsóvia e Madrid.

Com mais de 1 milhão de registros, foi possível montar quadros envolvendo atletas amadores de 47 países, analisando seu desempenho e também o grau de popularidade da maratona nas diversas nações (como eu escrevi em reportagem publicada na Folha, que você pode conferir AQUI).

Um dos recortes escolhidos foi a divisão por gênero: como é a presença das mulheres na maratona? Tem crescido? Quais os países mais feministas? E os mais misóginos?

A resposta, no plano geral, não é muito positiva: na média geral, as mulheres respondem por 29, 76% do total de concluintes no universo analisado. Os corredores dos Estados Unidos têm a divisão mais igualitária, com 45,15% de mulheres, seguidos por Canadá e Nova Zelândia.

No extremo oposto, aparecem Portugal e Espanha, com menos de 10% de mulheres.

A pesquisa também analisou o desempenho dos corredores de acordo com sua origem nacional. Os brasileiros estão na parte de baixo da tabela, com média de 4h21min21; os espanhóis são os melhores, com 4h55min35, e os oriundos  das Filipinas, os piores: 5h05min13.

Abaixo você pode ver um quadro com a média de tempo por nação, contabilizando todo o período analisado (2009 a 2014). Para ver todos os dados da pesquisa, basta clicar AQUI.

maratona desempenho

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Brasileiro vence sul-americano de meia maratona

Por Rodolfo Lucena
27/04/15 10:02

meia maratona campeos

O brasileiro Gilmar Silvestre Lopes se sagrou neste domingo campeão sul-americano de meia maratona ao vencer a prova realizada em Montevidéu. Ele completou a prova em 1h05min43 e foi seguido pelo peruano Miguel Mallma  e pelo argentino David Rodriguez.

No feminino, as posições no topo do pódio se inverteram: a brasileira Adriana Aparecida da Silva conquistou a segunda colocação, dez segundos atrás da peruana Rocío Marisol Cántara, que completou em 1h16min26 (na foto Divulgação, os dois brasileiros).

Em outras plagas, Marílson Gomes dos Santos confirmou seu status de melhor maratonista brasileiro e completou a maratona de Hamburgo em 2h11 cravadas, o que lhe valeu a nona posição na prova e a conquista do índice para o Pan e o Mundial de atletismo, que serão realizados neste ano, e para a Olimpíada Rio-2016.

Agora, Marílson deve escolher qual das duas competições deste ano ele vai enfrentar.

Já em Londres, o esperado duelo entre o recordista mundial, Dennis Kimetto, e o ex-recordista Wilson Kipsang terminou pouco depois de começar. Os dois chegaram a liderar a prova, depois que o pelotão da ponta se afinou para quatro atletas, mas Kimetto não aguentou uma investida mais rápida de Kipsang.

Respondeu, mas sentiu o esforço e foi ficando para trás, deixando um trio em busca do título –a esperança de quebra de recordo mundial já tinha se ido embora fazia tempo.

O trio também não durou, ficando só Kipsang e seu compatriota Eliud Kipchoge na disputa. E o menos conhecido, menos famoso, teve seu dia de glória: no sprint final, Kipchoge deixou para trás o ex-recordista mundial da maratona e fechou em 2h04min42, supercoerente com suas passagem de 1h02min20 na meia maratona.

No feminino, a etíope Tigist Tufa também não deu bola para a fama que ungia outras corredoras e levou o caneco com 2h23min22.

 

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Maratona de Londres apresenta duelo de recordistas neste domingo

Por Rodolfo Lucena
24/04/15 12:19

kimetto

Não é todo o dia que isso acontece, um recordista mundial de qualquer coisa enfrentando ninguém menos que seu antecessor. Pois o fato vai se dar na edição deste domingo da maratona de Londres, que terá no pelotão de elite o recordista Dennis Kimetto lado a lado com seu compatriota Wilson Kipsang (foto Divulgação).

Ao vencer a maratona de Berlim do ano passado, Kimetto se tornou o primeiro ser humano a correr 42.195 metros em menos de duas horas e três minutos –fechou em 2h02min57.

Com o que detonou o recorde de seu companheiro de  treinamento Kipsang, que completa Berlim no ano anterior em 26 segundos a mais.

E ele diz que tem bala para mais: “Acho que vou correr em menos de 2h03. Estou treinando bem e estou em muito boa forma, ainda melhor do que estava quando bati o recorde em Berlim no ano passado”, disse ele na entrevista coletiva às vésperas da prova londrina.

Já Kipsang, 33, dois anos mais velho do que o colega, prefere não falar em recorde. “Em primeiro lugar, quero defender meu título”, disse ele, que venceu em Londres no ano passado com 2h04min29. “Depois vamos ver.”

Aliás, quem tiver canais a cabo poderá ver a prova pela SporTV. Pelo menos, é o que indica a programação da emissora, que prevê a transmissão da corrida a partir de pouco depois das 6h de domingo. Eu vou estar firme e forte em frente à TV e farei meus comentários ao vivo pelo meu Twitter.

Marque aí, por favor, e venha comentar a prova junto: http://twitter.com/rrlucena. Ou simplesmente @rrlucena. Ou clique AQUI.

Ah! Mais ou menos no mesmo horário, mas em Hamburgo, na Alemanha, o brasileiro Marílson Gomes dos Santos estará correndo em busca do índice para participar do Pan ou do Mundial. Às 9h, a Bandsports transmite um compacto da corrida.

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Gemini, da Under Armour, é confortável, mas fofo demais

Por Rodolfo Lucena
22/04/15 08:38

Logo que recebi o material de divulgação para a imprensa a respeito do novo tênis da Under Armour, achei que estava diante de um calçado de corrida muito legal.

Conhecia a empresa por causa de suas roupas esportivas, mas não sabia, até então, que também produzia tênis para corredores.

Resolvi testar o Under Armour SpeedForm Gemini, apesar de estar no meio dos treinamentos para minha primeira maratona como aposentado (saiba mais AQUI).

Hoje em dia, tenho como regra não fazer experimentos com calçados quando estou em ritmo de treinamento, pois já tive péssimas experiências. Mas, considerando que o tal calçado tinha, segundo a empresa, bastante amortecimento e era produzido para passada normal, decidi encarar.

Ao abrir a caixa, minha primeira impressão se confirmou. O tênis é muito bonito, pelo menos para meu gosto; o exemplar que recebi para testes é de um azul brilhante muito bacana, entremeado com toques de preto, que também é a cor da base, logo acima da sola.

gemini vale estaNão era exatamente o meu número –pelo visto, como fazem outras empresas, a UA não oferece numeração quebrada aqui no Brasil, não tem aquele famoso “e meio”–, mas tudo bem; usando sem palmilha daria para testar sem dores.

Experimentei e, de cara, gostei muito. Meu pé é alto e largo, costuma não se dar bem com boa parte dos calçados que experimento. Aqui, porém, deu tudo certo, graças ao tecido superflexível da parte de cima do tênis (o cabedal). A sensação é de que ele abraça o pé.

Acostumado a modelos de estabilidade e com bom volume de borracha na sola, achei o Gemini bem leve. Ao conferir as características técnicas, porém, vi que, de acordo com as informações das empresas, ele tem o mesmo peso do calçado que uso nos meus treinos (pouco menos de 300 g).

Outro aspecto positivo é a estrutura do calcanhar. Há uma pequena “armadura” com plástico firme –mas não rígido–, tornando aquela área crítica um pouco mais segura e estruturada, sem a molexa e flexibilidade que caracteriza o conjunto da parte superior do calçado.

Era hora de botar o bichinho para correr. E aí houve um certo desencanto.

Apesar de bastante confortável, ele me provocou insegurança logo nos primeiros metros de asfalto que, naquele dia, estava ainda bastante úmido.

Muitos calçados de corrida não suportam terrenos escorregadios, perdem aderência ou têm a aderência reduzida, mas esse aí foi demais. Cheguei a patinar em alguns pontos.

Para testar, fui passando de propósito por poças e pelas áreas pintadas em faixa de pedestres. A primeira sensação talvez tinha sido exagerada, mas, de qualquer forma, em alguns pontos reduzi o ritmo para manter o equilíbrio.

Outro problema ocorreu nos trechos em descida. A borracha da sola é muito fofa, senti o calcanhar “encostando” no asfalto. Com isso, claro que perdi confiança, ainda mais considerando meu histórico de dois casos brabos de fasciite plantar.

Apesar das dúvidas em relação ao calçado, voltei a usá-lo mais um dia. As primeiras impressões se confirmaram.

Ou seja, o Gemini é um tênis de corrida muito confortável, mas fofo demais para o meu gosto.

Corredores mais leves do que eu e com melhor biomecânica provavelmente vão se dar muito bem com ele, que chega às lojas com preço de lista de R$ 499.

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Romances, gols e alguma tristeza de Pepe, o Canhão da Vila

Por Rodolfo Lucena
14/04/15 11:32

Este é um blog de corridas, mas sempre tem espaço para esportistas de alto coturno que queiram conversar comigo. Desta vez, tive a satisfação de participar de uma entrevista com o artilheiro Pepe, uma das lendas do futebol brasileiro, que compartilhou conosco algumas de suas divertidas e emocionantes lembranças.

Escrevo “conosco”porque também participaram do encontro a filha dele, Gisa Macia, que acaba de escrever a biografia do pai, e o jovem repórter esportivo Rafael Valente, que começou a correr em março e recentemente estreou em corridas de rua.

A conversa foi na cobertura do confortável apartamento de Pepe em Santos, perto do calçadão que margeia o mar (fotos Eduardo Knapp). As paredes da sala estão repletas de fotos, troféus, diplomas, pinturas e até um busto do jogador, que conquistou quatro títulos mundiais (dois pelo santos, dois pela seleção brasileira) e fez 405 gols atuando pelo Peixe.

Um resumo da entrevista foi publicado na Folha alguns domingos atrás (leia AQUI).

Agora, trago uma versão mais completa, que mostra também os caminhos tomados pela conversa, que começou com Pepe, batizado José Macia reclamando do calor e contado que as altas temperaturas foram um dos problemas que enfrentou quando trabalhou como treinador no Qatar.

Aos 80 anos, o Canhão da Vila lembra com carinho do final da década de 1980, quando já não jogava havia muito tempo.  Atuava nos bastidores, como treinador vencedor: “Aquele ano foi muito bom. Ganhei três títulos em dez meses. Primeiro no Fortaleza, em 1985. Aí vim para a Inter de Limeira e fui campeão estadual em 1986. Depois fui para o São Paulo e vencemos o Brasileiro de 1986, embora as finais tenham sido em 1987”, diz ele.

Foi como treinador, aliás, que Pepe conseguiu melhorar sua situação financeira. Gisa fala um pouco sobre o assunto: “Sem dúvida o meu pai ganhou mais dinheiro como técnico do que como jogador. Antes de 1983, tínhamos uma vida de classe média normal; depois que meu pai voltou dos dois anos de contrato no Qatar, em 1984 e 1985, as coisas melhoram. Mais conforto e estabilidade. Meu pai conseguiu dar um apartamento para cada um dos quatro filhos, mora numa confortável cobertura e tem uma chácara que é o verdadeiro refúgio do Canhão. O nome é ‘Vida Macia’ e fica em Socorro. Meu pai gostaria de morar lá por causa do clima mais fresco, mas a minha mãe ainda reluta…”

Ex jogador PEPE e sua filha Gisa Macia

A filha de Pepe também revela a gênese da biografia que escreveu: “Na verdade, uma pessoa solicitou escrever a biografia do meu pai. Na época, eu estava parada como jornalista, cuidando da família. Quando meu pai me ligou falando que tinha uma pessoa que tinha interesse eu achei interessante. Meu pai merece uma biografia, mas pensei: ‘Poxa, eu podia escrever essa biografia’. Entrei em contado rápido e pedi para o meu pai segurar e não deixar ninguém escrever. [risos]. Isso faz quatro/cinco anos. Não que eu tenha ficado cinco anos escrevendo, mas é que tem um processo com a editoria, o projeto. No livro ‘Bombas de Alegria’, lançado em 2008,  ele conta histórias engraçadas do futebol. Algumas que ele vivenciou e outras que são folclóricas. São contos. As pessoas confundem. Pensam que já existe a biografia do Pepe, mas aquele livro não conta a história da vida dele.”

Dito isso, vamos à conversa; para facilitar, dividimos a entrevista em tópicos, seguindo mais ou menos o andamento do papo, que foi muito informal e agradável. Bueno, você vai entender.

FORMATO DO LIVRO

GISA: “O livro conta a história da vida do Pepe. Começa quando os pais dele vieram da Espanha. Conversei com primos e pessoas da família para pegar histórias da infância. Dizem que o biografado é a pior fonte que tem para se fazer uma biografia. Mas, no caso do meu pai, ele tem uma memória incrível, ele se lembra de muitos detalhes da infância. Então, ele me ajudou imensamente porque ele lembra de bastante coisa.”

SURPRESAS QUE ENCONTROU NAS HISTÓRIAS

GISA: “Achei interessante quando ele tinha uns quatro anos e ele disse que costumava ficar sentando na sarjeta na rua, quando estava chovendo, e ficava olhando os pingos da chuva cair numa poça d’água e imaginava um jogo de futebol…”

PEPE: “Era um jogo de futebol, os pingos d’água caindo e [simula com os dedos movimento e faz barulho com a boca, como se fosse a bola sendo tocada pelos jogadores].”

GISA: “Achei isso poético. Ele tinha quatro anos, nunca tinha ido ao estádio. Não tinha televisão na época. E achei incrível isso… Outras histórias são sobre as partidas de futebol na infância. Meu pai é muito inteligente. Eu quero fazer uma conta, eu falo para ele e ele me responde na hora. Mas na escola, quando tinha 12/13 anos, ele repetiu três vezes de ano. Por quê? Porque ele só queria saber do recreio, de jogar bola com os amigos.”

ALGUMA COISA SURPREENDEU / QUAL HISTÓRIA GOSTOU MAIS DE CONTAR

GISA: “Uma coisa que perguntei diferente foi sobre a Copa do Mundo de 1950. Como ele ficou sabendo que o Brasil perdeu o título…”

PEPE: “Eu tinha 15 anos quando o Brasil perdeu a Copa. Eu estava jogando bola em São Vicente, em um campo chamado de Areião. Era em um barranco, do lado de baixo da avenida Antonio Emerich. Jogava bola às 14h e ficava até anoitecer. Meu pai ia ao campinho quando estava escuro, de avental, ele era dono de mercearia, e assobiava [faz o assobio e um gesto indicado que estava encrencado]. Isso significava que estava na hora de tomar banho e jantar. Eu era um menino de bola. Não gostava de empinar papagaio, rodar peão. Não tinha televisão na época, era só o rádio. Esse jogo do Brasil com o Uruguai, eu estava jogando bola com os amigos. Alguém comentou: ‘Brasil fez 1 a 0, gol do Friaça’. Passou um tempo, soubemos que o Uruguai empatou com o Schiaffino. Não escutamos mais nada. Como não ouvi nenhum foguetório, até pensei que pudesse ter ocorrido algo. Ao chegar em casa, fiquei sabendo que o Gighia fez 2 a 1 para o Uruguai e perdemos o título. Fiquei decepcionado com a perda do título.”

QUAL FOI O RESULTADO NO JOGO DE FUTEBOL NO DIA DA FINAL DA COPA

PEPE: “[risos] Ali era sempre 12 a 10. Não tinha nem trave. Era um pedaço de ripa”

GISA: “Interessante é como eles contavam o tempo naquela época…”

PEPE: “Tinha um bonde que passava na Antonio Emerich, então a gente fazia o primeiro tempo três bondes para um lado. Depois três bondes dava o segundo tempo. Dava quase o tempo de uma partida normal. Às vezes o bonde descarrilava, aí a gente ficava jogando o dia inteiro[risos].”

COMO REGISTROU TANTAS MEMÓRIAS

PEPE: “Eu sempre gostei de anotar tudo, mas esses detalhes da infância ficaram na memória. Anotar mesmo eu passei a fazer quando eu fui para o time infantil do Santos. Eu tinha 16 anos e anotei todos os jogos… incrível, né? Como eu poderia saber que iria ser jogador de futebol? Eu podia parar no infantil mesmo. Mas em 1951 fui para o infantil. Em 1952, passei para o juvenil. Em 1953, juvenil e júnior e, em 1954, comecei a minha carreira. Anotei tudo. São vários cadernos. Inclusive, o Santos me pediu esses cadernos e eles ficam expostos no Memorial. Tem a “Vitrine do Pepe”, com camisas, medalhas e meus cadernos. Comecei a anotar em 1951. Eu anotava a escalação dos dois times. Comecei no infantil, tem Paulista, Brasileiro, Libertadores, Mundial. Sempre, as duas equipes, o árbitro, o dia e a renda. A renda é que não devia ter colocado. Devia ter colocado público presente porque a renda o dinheiro já mudou 80 vezes. Os cadernos são uma relíquia que eu tenho e qualquer hora vou pedir de volta para o Santos.”

FONTES PARA O LIVRO

GISA: “Além do meu pai, conversei com pessoas da família, amigos de infância, jogadores. Mas a principal fonte foi mesmo o meu pai. A história que contei sobre ele ter repetido três vezes o mesmo ano, acho que foi a sétima série, e teve três anos aula…”

PEPE: “É que eu me preocupava mais em jogar bola. Até na classe ficava jogando botão com algum coleginha. Eu sempre fui uma pessoa inteligente, mas eu era folgado. Aí não estudava e repetia.”

GISA: [completando] “Ele teve aula de francês com a professora Gisele por três anos seguidos [por causa de ter repetido a sétima série]. E ela foi visitá-lo quando ele estava no Santos”.

PEPE: “Isso foi sensacional. Uma vez fizeram uma reportagem é perguntaram qual tinha sido minha professora preferida. Eu disse a professora Gisele, de francês, no ginásio no Martin Afonso e no Carpino Silva, em Santos. Eu gostava muito das aulas dela. Eu preferia falar francês do que inglês. Anos depois, eu já era jogador, ela por acaso leu a reportagem e me ligou. Disse que teria o maior prazer em revê-la. Ela já era casada, enfim. E foi ao Santos me encontrar.”

QUAL HISTÓRIA SURPREENDEU GISA

GISA: “A história do Fusquinha foi a que mais me surpreendeu. Pepe tinha 26 anos, não tinha carro. Muitos jogadores já tinham carro…”

PEPE: “Eu pegava o circular 22 [para ir aos treinos]…”

GISA: “Meu pai é assim, super humilde e também econômico…”

PEPE: “Já tinha imóveis, mas não tinha carro…” [risos]

GISA: “Aí a torcida fez uma vaquinha, colocavam dinheiro em uma urna na Vila Belmiro. Não conseguiram chegar ao valor do automóvel, mas o Santos inteirou.”

PEPE: “Foi uma homenagem que os diretores me prestaram. Entregaram a chave em frente a Vila. Um fusquinha azul.”

GISA: “Mas uma semana depois foi dar uma volta e…”

PEPE: “Fui dar uma volta e dei uma traulitada em um posto.”

[Na primeira saída?, pergunta Rodolfo].

GISA: “Na primeira saída. Foi mostrar para dois amigos que já estava dirigindo e bateu. Ai já foi para oficina. A torcida nem ficou sabendo. Vai saber agora no livro. Outra história é a que eles ficavam jogando na concentração do Santos, porque o time era uma família. E o Lula [técnico] ficava junto. Eles ficavam muito unidos. Jogava “pif-paf”, sinuca…”

PEPE: “Jogamos várias coisas. Teve um jogo que o pessoal foi dormir três ou quatro horas da manhã e no dia tinha jogo com o Corinthians, às 11h. O Lula estava perdendo e era o nosso técnico. Mas teve uma hora que tivemos parar por causa do jogo, que era sério. Eu não fui relacionado. Jogou o Tite. O Santos ganhou de 2 a 0 do Corinthians, sem dormir ou dormindo mal. Jogo foi de manhã, gols de Vasconcelos e Tite. Isso foi em 1954. O treinador entrava na brincadeira. Ele foi responsável por tantos títulos, por saber escalar os melhores, pelo olho clínico de ver Pelé e Coutinho. Afinal ele podia ter mandado eles embora no primeiro treino. Pegou o Pepe no infantil. Ele foi uma figura super importante naquele Santos, mas ele gostava desses joguinhos de bozó [dados]. [risos]. Mas isso aí acho que é bom não colocar. Pode denegrir a imagem do cara. Ele já morreu…”

GISA: “Mas isso tá no livro!” [risos]

PEPE: “Ah é?” [fica com cara de surpresa, sem graça]

GISA: “As histórias picantes ele não quer me contar. Acho que fica pensando na filha”.

Ex jogador PEPE e sua filha Gisa MaciaALGUMA HISTÓRIA É REVELADA NO LIVRO

PEPE: “Minha vida sempre foi um livro aberto. Filho de pai espanhol. Ele tinha uma mercearia, era muito bravo. Educou muito bem a gente. Éramos três. O Silvinho, que morreu cedo, em 1937, quando eu tinha dois anos, em um acidente. Foi um acidente que abalou muito meus pais. Ele estava numa janela, radiando um jogo de futebol entre dois meninos que estavam jogando botão no alpendre. De repente ele caiu de cabeça. Ele tinha sete anos [era o primogênito, diz Gisa]. Caiu de cabeça no chão. Foi um hematoma incrível. Meu pai e minha mãe correram para o hospital, cuidaram, mas logo em seguida ele morreu. Meus pais não se recuperaram [do choque]. Sabe o que aconteceu, ele fraturou o baço. Os médicos curaram o hematoma na cabeça, mas não o baço. Ele morreu de hemorragia interna. Essa foi a maior tragédia. Eu lembro pouco. Tinha um outro irmão, chamado Mário, que já morreu. Ele ficava muito na mercearia central, que era do meu pai. Tomava conta da mercearia e do meu pai. Quando o Santos jogava, eles tinham um rádio enorme. Não tinha televisão. As pessoas se reuniam para acompanhar os jogos. Se saísse um gol do Corinthians ou do Palmeiras, meu pai ficava bravo. Queria bater em quem comemorasse.”

GISA: “Meu avô era muito bravo. Não aceitava que falassem mal do Pepe.”

PEPE: “Meu irmão tinha de segurar meu pai. Meu pai chegou a encurtar distância várias vezes.

[Seu pai era rígido com você, “cornetava” suas atuações?, pergunta Rafael]

PEPE: “Vou confessar uma coisa. Eu era o queridinho. A bronca do Mario era essa. Ele dizia: “Você é o queridinho”. [risos]

GISA: “A relação dos irmãos era muito bonita. Eles ficaram muito unidos, só os dois. O tio Mario preparava toda a noite um copo de leite, com Nescau, e bolachinhas para meu pai. Toda a noite. Mesmo quando eles estavam brigados, sem se falar havia uma semana.”

PEPE: “Toda a noite ele preparava o Todd com as bolachas. Mesmo quando a gente estava de mal. A gente acabava discutindo, geralmente por causa de futebol. Lembro uma ocasião, na primeira vez em que o Santos foi ao Peru, em 1955, na primeira vez também que eu viajei ao exterior. O Tite não renovou contrato. Ele era um ponta esquerda e. como não acertaram as bases deles, eu fui e joguei como titular. Fiz gols, vencemos. Quando voltei, o pessoal estava falando de mim, que eu era artilheiro. Eu tinha um chute forte, marcava muitos gols. Quando eu fui para o Peru, eu estava de mal com meu irmão. Mas na volta fizemos as pazes, demos um abraço muito forte e nunca mais brigamos.”

CONTATO COM A FAMÍLIA QUANDO ESTAVA NO EXTERIOR

PEPE: “A partir de 1958, quando três santistas foram campeões do mundo, eu, Zito e Pelé, ficava fácil, principalmente com o Rei do Futebol, viajar. Tinha muitas excursões. Começando em 1959. Janeiro e fevereiro fazíamos excursões para a América Central, do Norte e do Sul. Maio e junho iamos para a Europa. Isso todo ano. Com isso conheci mais de 60 países.

GISA: “A comunicação era por cartas. Meu pai gosta de escrever”.

[Rodolfo pergunta se Pepe já era casado]

PEPE: “Eu casei em 1964, com 29 anos. Em 1958, eu conheci dona Lélia.”

[Rafael pergunta se Pepe não tinha medo de avião]

PEPE: “Medo de avião nunca tive. Um susto ou outro, mas não teve coisa muito séria. Uma ocasião, eu já era técnico, saiu no jornal que tinha um avião marcado para cair, que iam colocar uma bomba no avião que eu ia viajar. Eu fui para o avião preocupado, mas não teve bomba nenhuma.”

GOLS ESPECIAIS

PEPE: “Os gols mais marcantes são os da vitória contra o Milan, na final do Mundial [1963]. Ficaram na história, né? O Santos tinha perdido para o Milan na Itália por 4 a 2 e tinha de ganhar aqui. Escolhemos o Maracanã porque não tínhamos torcida em São Paulo. Vai me dizer que corintianos, são-paulinos e palmeirenses iam torcer pelo Santos? Então fomos para o Rio. As torcidas de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense torceram pelo Santos. Perdemos por 2 a 0, mas uma chuvarada caiu no intervalo caiu no Maracanã. Parece que lavou todos os pesadelos que a gente tinha, com relâmpago. Viramos para 4 a 2. Eu fiz o primeiro e o quarto, ambos de falta. Depois ganhamos por 1 a 0 [o terceiro jogo da final, no Maracanã], gol de pênalti do Dalmo. O jogo do 4 a 2 foi seguramente o melhor da minha carreira.”

GISA: “Foi o primeiro jogo transmitido pela televisão. Quando as pessoas encontram meu pai falam sobre aquela partida.

PEPE: “As pessoas mais antigas falam: aquele jogo contra o Milan. Era um time forte. Tinha Amarildo, Mazzola, Trapattoni que marcava forte, o Maldini. Esse jogo me marcou muito. No dia do jogo teve um detalhe muito interessante. O Lula gostava de dar uma pitada diferente, especialmente em jogos decisivos. Em 1962, contra o Benfica, ele tirou o Mengálvio. E ele era titularissimo. Puxou o Lima para o meio-campo e colocou o Olavo na lateral direita. Até hoje o Mengálvio diz que não sabe porque não jogou. Como ganhamos por 5 a 2, passou batido. Em 1963, eu achei que ia sobrar para mim. Ele queria colocar o Batista, que foi um ponta-esquerda do Noroeste. A gente estava concentrado no Maracanã, o jogo era as 21h, por volta das 14h o Dalmo falou ‘Pepe, você não vai jogar’. E eu pensei ‘Como vou ficar fora de uma decisão assim’. O Dalmo disse ‘Ele chamou uma turma, disse que quer fechar o time e vai colocar o Batista’. Eu pensei em apelar, eu era muito sossegado, tranquilo. Por volta das 18h, me convocaram para uma sala no Maracanã. Estavam Lula, Nicolau Moran e Modesto Roma, os homens fortes do Santos. Só não tava o presidente. Quando subi a escada pensei: ‘Estão me chamando para dizer que eu não vou jogar e não posso me aborrecer’. Mas quando eu cheguei o Lula disse: ‘E aí Bomba –ele me chamava assim– como você está?’. Eu disse: ‘Estou bem, a disposição professor’. Então, ele disse: ‘Vamos lá, precisamos ganhar esse jogo’. Como tava sem o Pelé, sem o Zito, sem o Calvet [todos machucados] eu era um dos trunfos do time nem justifica ele me tirar. Não sei dizer o que ele quis. Talvez mexer com meus brios, não estava numa fase muito boa.

SELEÇÃO BRASILEIRA

PEPE: “Eu fiz 40 jogos e 22 gols pela seleção, você vê que é uma média muito boa. Pela tradição, embora tenha feito gols na Argentina, o gol mais marcante pela seleção foi o que eu fiz em Wembley. Estava 1 a 0 para a Inglaterra e eu empatei em um chute de falta, de 40 m. O goleiro era o Gordon Banks. Ele nem viu a bola passar. Esse jogou me marcou por esse gol. Eu era conhecido pelo meu chutão quando jogava no exterior, especialmente na França. Na França, meu prestígio era tão grande ou até maior do que o do Pelé porque eu fazia muitos gols de falta. Uma coisa interessante é que até quando tinha faltas contra o Santos os torcedores gritavam: ‘Pepe, Pepe’. Queriam até que eu batesse falta contra o Santos. Até recebi propostas para jogar na França, mas nunca quis sair do Santos.

DUAS COPAS QUE GANHOU SEM JOGAR

PEPE: “Eu não fiquei na reserva. Eu me machuquei. Não tinha banco naquela época, não tinha substituição. Se não me engano, só o goleiro ficava no banco e isso em 1962. Não é possível não ficar triste. Em 1958, eu joguei todas as partidas como titular. Fomos jogar na Itália antes de ir para a Suécia. Fizemos dois amistosos, quando eu me machuquei. Ganhamos de 4 a 0 da Fiorentina e eu fiz um gol. Depois jogamos com a Inter de Milão, a uma semana da Copa. Eu parti direto pela ponta-esquerda, mas veio um alemãozinho atrás de mim, era um ponta-direita, e deu um toque no meu tornozelo direito, virei o pé e ficou deste tamanho [gesticula para mostrar]. Passou o jogo, fomos para a Suécia de avião. Ao chegar lá, eu estava de chinelo. Aí começou a Copa. No terceiro/quarto jogo eu estava melhor, mas já não havia porque mexer no time. Em 1962, jogamos com País de Galês no Maracanã. Eu que não machucava nunca no Santos torci o joelho esquerdo. No Maracanã, que era um tapete e não tinha buraco, nada. Meu joelho ficou desse tamanho [gesticula novamente mostrando o joelho esquerdo].

GISA: “Dessa vez o senhor chorou em campo… duas vezes fora da Copa por lesão na véspera.”

PEPE: “Chorei no campo. O Aymoré Moreira, treinador da seleção em 1962, disse que ia precisar muito de mim na Copa. Ele me conhecia de outras seleções, da seleção paulista. Teve um ano que fomos campões e o artilheiro fui eu. Nem o Pelé. O Aymoré gostava de mim e gostava de um ponteiro ofensivo. Ele disse que eu precisava ficar bom, mas eu não fiquei. Em 1962 [depois da Copa], cheguei em Santos com queimadura de terceiro grau. Na época não tinha recursos que tem hoje. O tratamento era toalha quente e gelo, toalha quente e gelo. Eu queria ficar bom, mas foi o destino.”

GISA: “A grande frustração da carreira era ter jogado a Copa, ter sido campeão em campo.

 APOSENTADORIA

GISA: “Já estavam surgindo Edu e Abel, meu pai já estava mais velho, já estava ficando carequinha.” [risos]

PEPE: “Foi isso mesmo. Um ano e meio antes [de 1969] já estava o Edu, o Abel. Eu era o Pepe. Tinha 32 anos. A diretoria falou comigo, que tinham consideração comigo e que eu deveria encerrar a carreira no Santos e permanecer no clube. Fizeram uma proposta de um contrato de 18 meses. Quando ele fosse encerrado, eu teria 34 anos e poderia iniciar a carreira como técnico. Eles achavam que eu levava jeito. Achei interessante a proposta. Já estava casado e vi como uma possibilidade de dar sequência a minha vida. Quando aconteceu [a aposentadoria] foi muito bonito. Eu dei uma volta olímpica na Vila Belmiro aplaudido pela torcida. O Santos jogou contra o Palmeiras e perdeu por 1 a 0. Eu não joguei. Eu dando a volta olímpica. Quando acabou o jogo, os caras ficaram falando: ‘Não para não, Pepe. Se você tivesse jogado, a gente não tinha perdido’. Agora vejo os caras com 36 anos jogando, naquela época estava calvo e me aborrecia. Fazia uma boa partida e os jornais diziam: “Pepe revive suas grandes jogadas’.

PREPARAÇÃO PARA SER TÉCNICO

PEPE: “Eu pensava que ficaria a vida toda como treinador do infantil e do juvenil. Eu gostava de lidar com a molecada. A coisa correu tão bem que começamos a ganhar e eu subi.”

GISA: “O senhor fez faculdade de educação física com o Leão, um grupo só de jogadores.”

PEPE: “Foi logo que parei de jogar que eu fiz faculdade. Já estava como técnico e estudando.”

GISA: “O senhor tentou ser corretor de imóveis, né? Mas não deu muito certo.” [risos]

PEPE: “Eu tinha um conhecido que era corretor de imóveis e me convidou para trabalhar com ele. Cheguei a fazer um curso para ser corretor de imóveis. Mas não era minha praia. Teve a loteria esportiva. Quando surgiu, eu fui um dos privilegiados. Por ser campeão mundial, tinha direito a ter uma sessão. Montei uma em São Vicente com o ex-jogador Delvecchio, mas não deu certo. Eu fechei. Posteriormente treinei várias equipes, acabei indo para o Qatar. Minha família conheceu, japão, Portugal. No Qatar, eu estava no Al Ahli e o sheik disse que estava com vontade de trazer o Guadiola. Eu só conheci o Guardiola de vê-lo jogar. Uma semana depois chegou. Eu estava dando o treino e ele chegou com o empresário dele. Disse: ‘Mister, estoy llegando. Ainda brinquei com ele. Disse ‘Pep, está vendo a linha divisória do gramado? Pois com uma tentativa vou colocar a bola lá’. Ele não acreditou. ‘Tem uma coisa, de frente é muito fácil. Vou fazer de costas’. E eu fazia muito. E fiz. Quando acertei, ele disse: ‘Mister, sempre faz isso?’. Eu respondi: ‘Normal’. Lá no Qatar não tinha muito o que fazer. Depois dos treinos a gente ficava batendo papo e tomando chá. Ele muito inteligente, já estudioso, perguntava como era o Santos do Pelé, do Clodoaldo. Como o Zito jogava. Ele adaptou algumas coisas que eu falei para ele, tenho certezo. Isso foi em 2004. Depois meteu 4 a 0 no meu Santos. Não devia ter ensinado ele.” [risos]

QUAIS AS SEMELHANÇAS DA VISÃO DE TREINADOR E DE JOGADOR

PEPE: “Modéstia à parte, eu fui um bom jogador. Mas às vezes o cara não é um bom jogador e vira um bom treinador. Como eu fui um cara de bons princípios, fui disciplinado, nunca fui expulso. Isso parece que servia de espelho para meus jogadores. Como treinador fui expulso várias vezes porque banco de treinador é uma câmara de gás. Mas tenho prêmio Belfort Duarte como jogador, nunca fui expulso. Foram 750 jogos, mais o que fiz com seleção. Foram 800 partidas. Tinha um juiz que sempre me dizia: ‘Minha consagração vai ser te expulsar na Vila Belmiro’. Eu respondia: ‘Eu não dou motivo’. Mas ele rebatia: ‘É precisa de motivo? É só expulsar e pronto’.”

ALGUMA LEMBRANÇA NEGATIVA

PEPE: “Teve um jogo com o Santos em São Paulo que foi dito que o Santos fugiu em campo. O Lula pediu para eu simular uma contusão. O jogo estava 1 a 1 e o São Paulo fez um outro gol, depois 3 a 1 e já não tinha mais tempo. Pelé e Coutinho já tinham sido expulsos. E acho que o lateral tinha sido expulso também. O Lula pediu para eu e o Dorval simularmos uma contusão para acabar o jogo. A gente estava com oito. Não poderia continuar. Eu me arrependo disso. Não foi uma grande mancha porque eu obedeci o técnico. Mas não foi legal. Ficou chato. Não teve repercussão na imprensa. Tinha um saldo tão positiva que a imprensa não pegou no meu pé.”

MELHOR TIME QUE TREINOU

PEPE: “Meu xodó é a Inter de Limeira. A Inter foi campeã em 1986 e ninguém esperava. Fui campeão várias vezes no Santos, no São Paulo também, mas a vida de treinador ela teve duas fases: antes da Inter e depois da Inter. Depois que passei pela equipe passei a ser reconhecido internacionalmente como um técnico bem-sucedido. Foi a primeira vez que um time do interior foi campeão do Campeonato Paulista. Veja que fui para o Qatar alguns anos depois. Ganhamos do Palmeiras os dois jogos no Morumbi, na final.”

TRAGÉDIA/MORTE INTER DE LIMEIRA (ZEZINHO FIGUEROA)

PEPE: “Eu já era o treinador, mas foi um pouco antes do começo do trabalho no Paulista. Foi durante um dia de testes, de treino. O pessoal pensou que ele estava brincando. Foi um drama, um trauma.”

GISA: “Meu pai passou por isso no Fortaleza. Um jogador morreu também.”

PEPE: “Um jogador chamado Bui. Alto, magro. Durante um treino acabou morrendo. Isso mexeu com o grupo. Fomos campeões [estaduais] em 1985 após muitos anos de jejum títulos. O título foi também para o Bui.”

PORQUE INTERROMPEU TRABALHO COMO TÉCNICO EM 2006

PEPE: “Em 2006, eu estava com 71. Já estava na hora de ficar mais com a família.”

GISA: “Na verdade, o senhor virou coordenador técnico. E nós achamos muito bom. Técnico tem muito desgaste, fica muito ausente com as viagens. E coordenador não viaja tanto.”

PEPE: “É verdade. Virei coordenador. Era mais suave. A Ponte Preta me convidou para deixar de ser técnico e virar coordenador. Eu concordei. Tinha responsabilidade, mas não era a mesma daquela cadeira elétrica de técnico durante os 90 minutos.”

GISA: “Além do problema da audição, né pai?”

PEPE: “Ah é. Eu sou meio surdinho. Zero alguma coisa. Não escuto nada com o esquerdo e escuto 40% com o direito. É uma herança do meu pai.”

DEFINIU PROFISSÃO DE TÈCNICO COMO CADEIRA ELÉTRICA, CÂMARA DE GÀS

PEPE: “Pode escolher um desses dois.” [risos]

[Rodolfo pergunta qual o momento mais “cadeira elétrica” que Pepe viveu]

GISA: “Eu pensei no Qatar em 1984 porque os árbitros não sabiam as regras. Pepe ficava muito nervoso. Não sabia falar o idioma local e os juízes ainda cometiam barbaridades. A bola não entrava e eles davam gol para uma equipe. Mas outros jogos…”

PEPE: “Em Portugal. Treinei o Boa Vista, que era uma equipe para buscar um sexto ou quinto lugar, mas quando jogava com o Porto –que era mais time, muito forte e os árbitros facilitavam muito as coisas para o Porto– tinha muita pressão.”

GISA: “Como filha, posso falar que até eu sofria. Eu estava em Portugal com meu pai. O Boa Vista era um time mediado. Os torcedores eram os aposentados, que não tinham o que fazer e ficavam esperando meu pai após os jogos. O Boa Vista empatava em casa e eles ficavam xingando. ‘Volta para o seu país’. Eram bem ofensivos. Eu sofri com aquilo.”

PEPE: “O Boa Vista era um time para quinto ou sexto lugar, mas a ideia da diretoria era disputar torneios europeus. Tinha de ficar em quarto ou quinto. Às vezes, não conseguia nem isso. Tinha o Porto, o Benfica, o Sporting e às vezes o Belenenses, com Marinho Peres. Tinha outros times do interior que eram forte. O pessoal que ficava jogando sueca no clube, era uma portuguesada danada e pegava no pé do técnico.”

GISA: “A gente sempre saia do estádio com o motorista, sr. Augusto, e a torcida fechava o carro na saída do estádio. Meu pai gritava ‘toca, toca’, mas ele apertava a buzina [risos].”

PEPE: “Esse detalhe era interessante. Augusto dirigia meu carro. E era praxe irem eu, minha mulher e os filhos. Um jogo que empatamos ou perdemos em casa a torcida ficou brava e ficou esperando para ofender. Eu dizia para o seu Augusto ‘toca, toca’. E ele apertava a buzina, mas eu dizia ‘Não é para tocar a buzina, é para correr com o carro’. Era uma figura. Foi uma coisa que convivemos em Portugal por um ano e meio. Os portugueses são inteligentes, mas são brutos.”

Ex jogador PEPE e sua filha Gisa Macia

HISTÓRIA QUE FOI “ARRACANDA” DE PEPE PARA ENTRAR NO LIVRO

GISA: “Eu sei que meu pai era jovem, jogador, que ele namorava com a minha mãe e tinha caso com uma vedete…” [risos]

PEPE: “Ah não [mostrando não ficar tão à vontade com a história].”

GISA: “Na época, eles mantinham as esposas castas e ele tinha caso com uma vedete. Na época, as vedetes eram as panicats de hoje, eu acho.”

PEPE: “Não, eu era um cara solteiro [Gisa diz “já namorava a mamãe”]… namorava, mas não transava. Mas aí…”

GISA: “Essa vedete deu uma entrevista para uma revista e um dos melhores amigos do meu pai falou com meu pai por carta, acho que meu pai estava no exterior, falando que ela disse que tinha ficado noiva do meu pai. Aí ele terminou o romance com ela. Essa história está no livro, só não está o nome da vedete. Meu pai já era famoso no Santos. Tinha uma namorada no Peru…”. [risos]

PEPE: “A gente jogava todo ano no Peru. Então, não só eu, mas todos os jogadores tinham.”

GISA: “Depois ela reencontrou meu pai, quando ele foi treinar o Peru. Aí viu ele careca e já não quis mais nada…” [risos] “Mas acho que é uma coisa folclórica, que os ex-jogadores fazem.”

PEPE: “Quando voltei ao Peru com a delegação do Santos chegou eu estava de chapéu. Um chapéu bonito, que tinha uma peninha. Quando eu desci no aeroporto, a Lupi estava esperando. Antes de tirar o chapéu, ela disse ‘Pepito, como te encontro bién!’. Aí eu tirei o chapéu, e ela ‘Nostra, que lastima. Después te telefono’. Nunca mais ligou. Isso foi o pessoal que inventou. É lenda.”

GISA: “Essa parte é folclore deles.”

PEPE: “Eu fui treinar o Peru, olha onde fui parar. Fazia tanto gol lá, joguei tanto. Fui ser técnico da seleção do Peru para chegar à Copa de 1990. Foi na época que o Peru perdeu o time em um acidente [acidente áereo do Alianza Lima, em 1987]. Tinha de reconstruir o time. O futebol lá parecia um festival. O campeonato tinha dez jogos. E tinha de montar um time novo, mas não consegui. Não tinha material humano. Joguei contra o Brasil três vezes, empatou duas e perdeu uma. Tocou o hino do Brasil e quase cantei junto [risos]. O futebol nos obriga a ficar contra a seleção nossa.”

GISA: “Foi também a época do Sendero Luminoso no Peru, um grupo terrorista. Foi difícil. A gente tinha de usar táxi fretado, tinha ameaça de bomba. Ficamos vários dias sem luz no hotel e não tinha como volta para o Brasil. A gente tinha segurança particular”.

PEPE: “A minha família saia com dois seguranças acompanhados”.

[A família sempre viajava junto com o senhor?, pergunta Rodolfo]

GISA: “Não. Quando meu pai foi contratado pelo Atlético-MG, na primeira fez que ele saiu do Estado, minha mãe disse: ‘Vamos mudar para Belo Horizonte’ [Pepe gargalha e diz ‘essa menina é fogo, que memória]. Fizemos despedida na escola, homenagens. Mas meu pai foi mandado embora um mês depois. Já tava todo mundo matriculado na escola em Belo Horizonte. Aí minha mãe decidiu que quando meu pai fosse treinar alguma equipe no Brasil a gente não iria se mudar porque a profissão é muito instável. Quando ele foi para fora, que tem um contrato de dois anos, aí nós para o Qatar, depois para Portugal. Quando ele foi para o Peru, nós fomos só passear. Foi assim no Japão também, até porque eu estava fazendo faculdade.”

PEPE: “Geralmente eu ia primeiro, fazia o contrato, procurava o apartamento, ajeitava tudo direitinho e depois a família ia.”

GISA: “Peru foi a experiência mais difícil por causa do Sendero Luminoso”.

[Além da história da vedete, tem alguma outra “picante”, pergunta Rodolfo]

GISA: “Meu pai nunca foi da turma dos boêmios. Nunca bebeu, nunca fumou. Ele sempre foi muito família, sempre preocupado com o futuro. Ele não tinha automóvel, mas tinha imóveis. Da turma deles, o Pepe, o Gilmar e o Dalmo era os mais quietos”.

CAPÍTULOS FINAIS

GISA: “Todo domingo de manhã é de praxe meu pai ir para São Vicente, em uma árvore centenária, e reencontra os amigos de infância. Isso há muitos anos. Só quando ele não estava no Brasil ele deixava de ir.”

PEPE: “Eu não ia, mas os outros vão.”

GISA: “Quando chove e não dá para ir ele fica bravo. É um ritual. Inclusive a gente está fazendo uma pré-venda do livro em um site e tem vários brindes para quem comprar. Um dos brindes é que cinco pessoas vão passar uma manhã com meu pai contando causos na árvore”.

PEPE: “Á arvora fica perto da praia Boa Vista e a gente fica sentado na mureta”.

GISA: “Todo domingo meu pai acorda cedo e fala: ‘Estou indo na árvore’. Meus filhos ouvem, eles são pequenos, e perguntam: ‘Mãe, o vô fica sentando nos galhos da árvore?’. E o Tiago pensa: ‘Mas vai estar o Dorval, Mengálvio, Coutinho sentados na árvore’. Não. São os amigos de infância”.

PEPE: “Todo domingo acordo e dona Lélia diz: ‘Vai para árvore hoje?’. [risos]

 MAIS

[Marcador que mais incomodou]

PEPE: “Tinha dois marcadores quando eu jogava que eram o Djalma Santos [Palmeiras] e o De Sordi [São Paulo]. O De Sordi era mais duro, não era tão bom jogador como o Djalma Santos. O Djalma Santos era muito leal, não era violento, nunca deu um carrinho. Tecnicamente eu considero o melhor marcador o Djalma Santos. Depois eu tive, no final de carreira, um marcador no Fluminense quando eu estava na faixa dos 30. Eu me lembro que perdemos por 4 a 2 para o Fluminense, na época em que eles tinham Manoelzinho, Joaquinzinho, um tima assim, sabe, sem figuras de grande destaque. Mas me lembro que cheguei no pessoal de São Vicente e disse: ‘Ontem me marcou um lateral direito, um tal de Carlos Alberto, esse vai ser o melhor do Brasil seguramente. Não toquei na bola’. O garoto tinha 18 anos e já partia para o ataque, coisa que o Djalma Santos e o De Sordi não faziam. Era um garoto fantástico e foi também um dos melhores marcadores que eu tive”.

[Melhor jogador que treinou]

PEPE: “Pelé não vale? Eu treinei o Pelé em 1973. Pelé é hors concours. Acho que o melhor estrangeiro foi o Guardiola, no Qatar. E brasileiro foi o Denner, na Portuguesa. Desequilibrava. Tinha tudo para ser um novo Pelé, só não tinha cabeça, juízo.

[Melhor treinador]

PEPE: “O melhor treinador foi o Lula. Fiquei muitos anos com ele no Santos. Talvez o Aimoré Moreira, meu técnico na seleção, fosse mais tático, mas o Lula sabia fazer um bom ambiente para os jogadores e ficou muito tempo no Santos. Tinha também um bom olhar. Chegou Pelé, chegou Coutinho, além de outros jogadores, e ele soube identificar os talentos.”

[Time de que mais gostava de ganhar]

PEPE: “Do Corinthians.” [risos]. “Em geral, dos grandes, Corinthians, São Paulo e Palmeiras. O Corinthians teve um tabu longo contra o Santos e durante a semana a gente sabia que o jogo era contra o Corinthians e já dava o bicho como ganho. Os corintianos já ficavam preocupados”.

[“O Corinthians nunca te procurou”, pergunta Gisa]

PEPE: “Já no fim da minha carreira, quando o Abel estava jogando, vieram dois diretores do Corinthians na minha casa para me contratar. Eu pensei, não estou jogando, mas sentia que dava para jogar. Falei para eles falarem com o pessoal do Santos. Mas o Modesto Roma não aceitou. ‘Se eu deixar o Pepe sair para o Corinthians, vão tocar fogo na Vila Belmiro. Daqui ele não sai’, respondeu o Modesto. Uma vez também o Santos foi jogar nos EUA, eu estava com 32 anos, foi em 1967. Ainda chutava forte. Estávamos perdendo para o Saint Louis por 2 a 0. Era um time bom. Tinha francês, argentino e húngaros. E eu empatei 2 a 2 com chutes de fora da área, de falta. E o Pelé fez o terceiro. Ganhamos por 3 a 2. Quando acabou o jogo, estava saindo com a minha mochila. Um diretor me chamou e apresentou outros dois diretores. Disse que era dois americanos e que eles estavam interessados em me contratar. ‘Olha eles são donos de um time de futebol americano e querem te contratar para você dar aquele chutão’, disse. [risos] Falaram uma quantia boa até, mas eu não sei como é que se faz isso. Como eu já estava compromissado com o Santos, que ia terminar a minha carreira. Eu não aceitei”.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Mais de mil tentam em 29 anos, mas apenas 14 corredores completam a mais difícil ultramaratona do mundo

Por Rodolfo Lucena
08/04/15 11:45

Ninguém conseguiu completar a ultramaratona “The Barkley 100-Mile Marathon”, realizada no final de março no Tennessee, EUA. Isso não é exatamente uma novidade, pois ao longo de quase 30 anos de existência da prova apenas 14 corredores conseguiram completar a corrida dentro do limite de 60 horas.

E não foi por falta de tentativa: cerca de 1.100 corredores, no total, já se inscreveram nessa corrida, que é realizada no final de março ou início de abril desde 1986. A prova deste ano, por exemplo, teve 40 intrépidos desafiantes, todos eles quebrados antes do final.

Com tal currículo, não é de admirar que ela seja considerada por muitos como a mais difícil ultra do mundo na sua modalidade.

Além de ser realizada em terreno terrivelmente adverso, a ultra de 160 quilômetros é provavelmente a corrida com maiores diferenças de altitude: no total, há cerca de 20 quilômetros de subida, com a contraparte de 20 quilômetros de descida. E dizem que o percurso é maior do que os 160 quilômetros anunciados…

Um dos primeiros a completar a prova foi o britânico Mark Williams, que fechou as cem milhas em 59h28 em 1995. A corrida só foi ter novos concluintes seis anos depois, quando dois corredores conseguiram completar em 58h21. Mas foram ambos desclassificados, porque correram menos de 200 metros fora do percurso oficial!!!

Para que você tenha mais uma ideia da dificuldade do percurso, basta dizer que um daqueles concluintes desclassificados, Blake Wood, tinha vencido naquele mesmo ano outra corrida de cem milhas em 16h13!!!

Bueno, se você achou que pode tentar enfrentar o monstro, clique AQUI para saber mais sobre a corrida.

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