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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Tadese quer o hexa no Mundial de meia maratona

Por Rodolfo Lucena
14/03/14 16:31

Ele já ganhou cinco vezes o Mundial de meia maratona. Então, torcer por mais uma é o mínimo que pode fazer.

Minto. Pode fazer mais: pode correr como sempre fez e, quem sabe, levar mais um galardão de ouro. Estou falando de Zersenay Tadese, que, em Copenhague, vai  atrás da marca sem precedentes na história.

Além de ser pentacampeão da competição, Tadese detém o recorde do campeonato, com 58min59 que cravou em Udine em 2007.  O representante da Eritréia é também dono do recorde mundial da distância, 58min23, estabelecido em Lisboa em 2002.

Desta vez, ele volta a ter pela frente seu nêmese, o queniano Wilson Kiprop, que o derrotou em 2010 numa corrida que surpreendeu os especialistas de plantão.

O Brasil até o momento não confirmou a seleção, pois vários dos convocados pediram dispensa.

O Mundial de meia maratona ocorre “embutido” na meia maratona de Copenhague, tal como aconteceu quando o Mundial foi realizado no Rio. Isso é muito bacana, pois possibilita a corredores comuns estarem na mesmo evento em que estão presentes os melhores entre os melhores. Claro que não é a mesma prova, mas acontece tudo junto…

Há 25 mil inscritos no evento de massa. Não fossem as malditas lesões que me afligem desde o final do ano passado e eu estaria lá.

A corrida em Copenhague é no próximo dia 29.

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Circuito Popular de Corrida do Grande ABC já está com inscrições abertas

Por Rodolfo Lucena
11/03/14 13:47

O leitor assíduo deste blog sabe que não costuma ficar anunciando corridas, a não ser em situações especiais, que considere de alto interesse do leitorado.

Essa é a situação de um circuito de corridas realizado em cidades próximas a São Paulo, por preços bem baixos, considerando os valores que vêm sendo cobrados pelas inscrições. Há corridas de 10 km e caminhada de 5 km.

Estou me referindo ao Circuito Popular de Corrida de Rua do Grande ABC, que terá sua primeira prova no mês que vem, mas já está com as inscrições abertas.

São sete provas, cada uma em uma cidade da região. O corredor pode se inscrever de forma avulsa, em algumas provas que escolher, ou participar do circuito inteiro –nesse caso, vai disputar premiações especiais, se for bom de ritmo.

A inscrição comum para cada prova custa R$ 30; para o circuito todo, R$ 150. Maiores de 60 anos pagam a metade.

As cidades onde serão realizadas as provas e as datas das corridas são as seguintes: Diadema (6 de abril), Rio Grande da Serra (11 de maio), São Bernardo do Campo (1º de junho), São Caetano do Sul (27 de julho), Ribeirão Pires (24 de agosto), Mauá (21 de setembro) e Santo André (em 9 de novembro).

Esta é a segunda edição do circuito. No ano passado, também divulguei aqui a abertura das inscrições. Não tive oportunidade de correr nenhuma das provas, portanto não posso avaliar a qualidade da organização. Em contrapartida, também não me lembro de ter recebido nenhuma mensagem de reclamação, o que pode ser um bom indício.

Para mais informações, confira o site oficial do circuito, AQUI.

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Corredoras seminuas desfilam em vídeo feminista

Por Rodolfo Lucena
09/03/14 10:21

09eleonoreVALESETE

Num beco escuro, quatro mulheres dominam o gordinho. Uma o joga contra a parede, outra lhe coloca um estilete no pescoço: “Pede desculpas já ou eu corto tuas preciosidades”, ameaça. Suando, choramingando, o homem mal consegue responder, enquanto uma terceira lhe rasga a camisa: “Ele está com os mamilos durinhos.” Com violência, uma das atacantes lhe abre a bermuda em busca de suas partes íntimas.

É a cena mais dramática de “Majorité Opprimée” (Maioria oprimida), vídeo feminista francês que se tornou viral na web desde que, no mês passado, saiu em versão com legendas em inglês. Em cerca de 30 dias foi visto mais de 8 milhões de vezes (8.449.813 visualizações no momento em que escrevo); em comparação, a versão original, lançada há um ano, tem pouco mais de 533 mil visualizações.

O mote do filme é a inversão de papeis. De manhã cedo, o gordinho Pierre se prepara para levar o filho para a creche e encontra a mulher, que volta de sua corrida matinal devidamente sem camisa, de seios ao vento.

No caminho para a escola da criança, outra corredora seminua passa por ele, que mal move o rosto, num esforço para não chegar atrasado à escola. Na rua, é assediado por uma mendiga, que lhe assaca impropérios. Depois da agressão, vai reclamar na delegacia e a policial que o atende parece desconfiar de sua denúncia…

“Fiz esse filme porque estava de saco cheio com o machismo e com as pessoas que negavam o machismo. Não queria fazer algo moralista, então criei essa inversão de papéis para que os espectadores masculinos pudessem ter uma ideia do que uma mulher tem de enfrentar a cada dia. Muitos homens nem imaginam as coisas que uma mulher tem de aturar”, diz a diretora Eléonore Pourriat em entrevista exclusiva a este blogueiro.

Atriz e roteirista, Pourriat é uma parisiense de 42 anos envolvida com o que define como “empresa familiar”: escreve e atua em filmes dirigidos e produzidos por seu marido, Benoit Cohen. Os dois são casados há 16 anos e têm dois filhos adolescentes.

Trechos da entrevista que fiz com ela foram publicados na edição deste domingo da revista “sãopaulo” em reportagem de capa alusiva ao 8 de Março, Dia Internacional da Mulher (confira AQUI). A seguir, com a íntegra da minha conversa virtual com Eléonore Pourriat (foto Céline Nieszawer/Divulgação), este blog também faz uma homenagem às mulheres do planeta, as vivas e as para sempre lembradas.

09eleonoreretrato

Onde e quando a senhora nasceu? Como era sua família?

Nasci em Paris, há 42 anos. Minha mãe não trabalhava além de criar os filhos, fazer comida, lavar a roupa, arrumar a casa; meu pai teve uma grande carreira como médico. Minha mãe era uma feminista, ainda que pareça paradoxal.

Os dois eram loucos por cinema, meu pai parecia Jean-Luc Godard, e os dois conversam sobre cinema mais do sobre qualquer outra coisa. Comecei a ver filmes desde que nasci. Mas minha primeira paixão foi o teatro: desde os 15 anos eu queria ser uma atriz.

A senhora estudou cinema?

Fiz teatro em um conservatório e cursei literatura e línguas na universidade. Daí comecei a trabalhar como tradutora e roteirista de filmes. Assistir a filmes é a minha maior escola de cinema. Hoje sou uma atriz e roteirista. “Majorité Opprimée”  foi o primeiro filme que dirigi.

 Fale um pouco sobre sua carreira antes de “MO”.

Trabalho há 16 anos com Benoit Cohen, que é um diretor e produtor de filmes e meu marido. Nós escrevemos filmes juntos, eu atuo e ele dirige os filmes. Nós já fizemos cinco longa-metragens e uma série para a TV francesa, que teve duas temporadas. Atualmente estamos escrevendo uma comédia. Negócios de família: essa é minha ocupação principal. Também atuo como atriz, especialmente na televisão francesa. Mas também adoro escrever. Tenho um projeto para um romance e já escrevi duas peças de teatro. Mas dirigir meu primeiro filme, “Majorité Opprimée” , foi minha melhor experiência profissional até hoje. Quero mais!

Por que a senhora resolveu fazer “MO”?

Eu fiz “MO” em 2010 porque estava de saco cheio com o machismo e com as pessoas que negavam o machismo. Eu não queria que fosse um filme moralista, uma lição de moral, então resolvi fazer essa inversão de papeis para que o espectador masculino pudesse ter uma ideia do que uma mulher tem de enfrentar a cada dia. Muitos homens nem imaginam as coisas que uma mulher tem de aturar.

Por que “MO” só apareceu internacionalmente agora, apesar de realizado em 2010?

A Orange TV, que ajudou no financiamento do projeto, tinha exclusividade durante um ou dois anos. Depois meus produtores, Matthieu Prada e Benoit Cohen, tentaram vender para outros canais, mas parece que ninguém tinha interesse em um filme feminista. Então decidimos colocar no YouTube  e deixar que as pessoas vissem e formassem sua própria opinião. Não aconteceu nada, até que, no final de janeiro, virou aquela LOUCURA! Começou na França, então eu coloquei no ar uma versão com legendas em inglês e, de uma hora para outra, estava sendo visto no mundo todo. Impressionante!!

Acho que as coisas mudaram na Europa nos últimos anos. Em 2010, as mulheres não estavam tão ativas. Hoje em dia, atitudes retrógradas estão de volta, e há uma urgente necessidade de que lutemos por nossos direitos, ou arriscamos perdê-los novamente.

Qual o impacto da viralização de seu vídeo?

Mais de 8,4 milhões de espectadores é algo gigantesco.. Mas até agora não vi um dólar sequer. Essa é a questão sobre a internet: é um passo, não um objetivo em si. Mas espero que essa publicidade toda facilite a produção de meus próximos filmes. É tão difícil conseguir financiamento quando você não trabalha com blockbusters…

Por que seu filme teve tanta repercussão?

Acho que toquei num ponto sensível ao mostrar o meu jeito de discordar da sociedade machista. Eu não sou a única a lutar, as mulheres estão lutando e vêm lutando por seus direitos há anos, mais ou menos de acordo com as condições sociais. Acho que o que as pessoas gostam no meu filme é o surpreendente humor que se torna amargo. Eu não tenho nenhuma lição a dar, nenhum programa a cumprir, sou apenas uma artista expressando seus sentimentos de uma forma particular. O grupo Femen, por exemplo, também tem sua maneira especial de se expressar.

A senhora se considera uma feminista?

Sim, sou uma feminista, o que significa dizer que quero que homens e mulheres tenham direitos iguais. Claro que meu filme não é um mundo ideal. Eu não fantasio sobre homens sendo atacados.

No YouTube, seu vídeo é classificado como restrito. Qual sua opinião sobre isso?

O vídeo foi provavelmente marcado por “haters”. O que me surpreende é que o YouTube tenha concordado com essa classificação. Ok, os diálogos são crus algumas vezes, mas vamos e convenhamos, há tanta vulgaridade na internet, eu fiquei furiosa com essa marcação. Não posso fazer nada contra ela, é o poder da internet, que pode te desintegrar tão rapidamente quanto te torna uma celebridade instantânea. De qualquer maneira, as pessoas continuam assistindo ao filme…

No seu filme, uma mulher ameaça cortar o sexo do protagonista…

Tentei abordar o maior medo dos homens, o complexo de castração. Toda a lógica do filme é mostrar equivalências entre o que uma mulher experimenta e o que um homem poderia viver num mundo em que os papeis dos gêneros fossem diferentes. O clímax do filme teria de ser tão assustador para o homem como o estupro é para a mulher. Eu tive a ideia de colocar uma mulher mordendo seu sexo. Não me importei com o realismo. A imaginação é a minha forma de criar realidade. O absurdo e a estranheza do ato o tornam violento e perturbador.

O mundo hoje está mais machista?

A ultradireita está crescendo na França. Teremos eleições municipais em breve e temo que possa surgir uma “onda negra”. Recentemente houve manifestações contra o casamento de gays, como manifestações segregacionistas, homofóbicas, racistas e antissemitas. A “onda negra” se levanta contra todas as minorias, e as mulheres sempre foram tratadas como uma minoria. Portanto, os direitos das mulheres estão, sim, em perigo hoje em dia.

A homofobia e a misoginia são universais. É por isso que meu filme inspira tanta gente. É um raio de sol na escuridão porque debocha do absurdo que é o machismo.

A senhora recebe mensagens de ódio? E elogios?

Tenho recebido muitas mensagens, a maioria delas entusiástica. As mulheres são emocionantes. Nós estamos juntas, compartilhamos uma visão do mundo. Também recebo muitas mensagens de homens, que me dizem serem feministas e que lutam por direitos iguais. Por outro lado, alguns maníacos mandam mensagens de ódio. Deixe que cuspam em seus computadores…

A senhora gostaria de ser um dos personagens de “MO”?

Não, não gostaria de ser nenhuma das personagens … mas eu sou o homem. Cada mulher já foi esse homem em alguma situação na sua vida. Acho que os personagens que eu crio são projeção de meus medos e inseguranças em relação a determinadas situações; são uma maneira de expor as zonas escuras dos seres humanos. Portanto, não gostaria de ser nenhum deles. Mas eu os amo, posso compreendê-los.

Fale sobre seus trabalhos mais recentes.

“You’ll be a Man” é um filme dirigido por Benoit Cohen, que foi lançado no ano passado. Escrevi o roteiro com Benoit, nosso filho faz o papel principal e eu interpreto a mãe. É uma bela história sobre a amizade entre uma criança e um jovem adulto. Foi selecionado para participar de vários festivais, especialmente nos Estados Unidos e no Canadá, e já ganhou alguns prêmios. Eu tenho muito orgulho desse filme, que é uma produção independente. Benoit gosta de fazer o que quer quando quer, sem ficar esperando indefinidamente até que banqueiros liberem o financiamento para fazer o filme. Atualmente, nós dois estamos escrevendo o roteiro de uma comédia romântica sobre uma mulher de 45 anos que tenta reconquistar seu marido machão. Estamos nos divertindo…

O sucesso de “MO” pode mudar seus planos?

Espero que o sucesso na internet me ajude a conseguir recursos para filmar meu mockumentary [falso documentário, em geral com tons de sátira] sobre o modismo da depilação pubiana (na França, os rapazes estão forçando suas namoradas a se depilarem, imagino que isso também aconteça no Brasil. É chocante). Talvez me ajude a conseguir recursos para o longa que tenho em projeto, “The Portrait of Her Mother”, sobre relações entre mães e filhas.

O que a senhora faz quando não está filmando?

Estou sempre escrevendo alguma coisa ou reescrevendo. Sou workahólica. Moro em Paris com meu marido e nossos dois filhos adolescentes, e vamos para Nova York daqui a alguns meses. Todos eles estão me apoiando bastante nesse momento, apesar de nem sempre ser fácil ter uma família de artistas.

Quando não escrevo, leio. Adoro literature americana –Jonathan Safran Foer, Toni Morrison, Paul Auster e Joyce Carol Oates são meus mestres. No cinema, adoro Jane Campion. Ela é a encarnação do talento e da inteligência. Suas tomadas me levam às lágrimas. Sou ateia, mas, se tivesse uma religião, seria campionista. Não corro, como as personagens do filme, mas danço balê. Como uma boa menina, alguém poderia dizer.

PS.: O vídeo com legendas em inglês está AQUI.

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Duda e Keila saltam na abertura do Mundial indoor de atletismo

Por Rodolfo Lucena
06/03/14 09:53

Três brasileiros já mostram sua garra na abertura do Mundial de atletismo em ginásio (indoor), nesta sexta-feira na cidade polonesa de Sopot. A competição segue até domingo e tem a participação de 587 atletas de 141 países.

Logo de saída teremos em ação o brasileiro Mauro Vinícius “Duda” da Silva, que vai defender o título de campeão mundial de salto em distância que conquistou em Istambul, na Turquia, em 2012. Ele participa da qualificação a partir das 15h20  (hora de Brasília).

Ele chega depois de um salto razoável e outro bom em competições preparatórias. Ficou em quarto lugar no GP Indoor de Birmingham, na Grã-Bretanha, com 7,89 m, e depois na primeira colocação no Campeonato Nacional de Clubes em Pista Coberta de Portugal, em Pombal, com 7,98 m.

Outra estrela da delegação brasileira, que levou sete atletas, é a pernambucana Keila Costa. Ela participa da qualificação no salto triplo. Bronze em Doha-2010 no salto em distância, participou de dois torneios preparatórios na Europa: foi terceira colocada no triplo no Meeting de Eubonne, na França, com 13,69 m, e quarta no salto em distância no GP de Birmingham, com 6,36 m.

As finais do salto em distância masculino e do salto triplo feminino estão marcadas para sábado à tarde no horário de Brasília.

Além deles, o gaúcho Anderson Henriques participa das preliminares dos 400 m. Finalista dos 400 m no Mundial de Atletismo de Moscou, na Rússia, em 2013, é o segundo atleta do país a correr a distância em menos de 45 segundos.

Os outros integrantes da seleção em Sopot são Augusto Oliveira e Thiago Braz, no salto com vara, Franciela Krasucki, nos 60 m, e Fabiana Murer, no salto com vara. Fabiana é a única brasileira campeã mundial ao ar livre (Daegu-2011) e indoor (Doha-2010).

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Ultramaratonista perde emprego e vira empresário

Por Rodolfo Lucena
03/03/14 12:03

De desempregado a empresário de sucesso, o botafoguense Márcio Villar encarou as agruras da vida como ultramaratonista que é: metro a metro, quilômetro por quilômetro. Perdeu o emprego em meados do segundo semestre do ano passado e logo tratou de montar uma empresa, que já começa a dar bons resultados.

Contei parte da história dele em reportagem publicada nesta segunda-feira de Carnaval na Folha (leia AQUI). O pequeno texto foi resultado de uma entrevista mais extensa, que coloco a seguir na íntegra (fotos Arquivo Pessoal).

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Conte um pouco sobre você.

Nasci em 28 de março de 1967 no Rio de Janeiro. Tinha três irmãos, um faleceu. Meus pais também já morreram –minha mãe faleceu em outubro passado. Meu pai trabalhou em banco e em empresas de aplicações financeiras. Sou casado e tenho uma filha de 22 anos

Ouvi falar que você é botafoguense. É isso mesmo?

Sou botafoguense, sim (rsrsrsrs). Foi uma herança que meu pai deixou para mim, seria um sonho poder correr pelo mundo com a camisa do Botafogo o representando, mas já tive uma reunião com o presidente do Botafogo, o Maurício Assunção, e ele me falou que o Botafogo não tem patrocinadores para esportes amadores. Eu brinco que faço o que faço correndo 700 km porque sou botafoguense e estou acostumado a sofrer.

Fale de você antes de ser corredor. Qual sua formação? Em que você trabalhava antes?

Sou formado em informática, com pós-graduação em análise de sistemas na PUC-RJ. No meu último emprego, uma empresa de construção, eu era responsável pela parte financeira da empresa, cuidava do contas a pagar, contas a receber, cobrança, contas bancárias, suporte de informática.

Quando e por que começou a correr?

Sabe quando tudo na sua vida vai mal? Estava tudo errado. Eu com 98 kg (tenho 1,73 m), só comendo besteiras e brigando em casa com minha filha e minha esposa por elas reclamarem de eu só comer porcaria. Sei que eu ia acabar morrendo, mas acho que é igual ao que acontece com uma pessoa viciada em bebidas ou drogas: não adianta ninguém falar, tem que partir de você, você tem que querer.

Um dia pela manhã fui pegar o ônibus para ir para o trabalho e não consegui correr até ele para subir. À noite, quando fui dormir, não conseguia ficar deitado, por causa de azia e queimação no estomago.

Levantei e fui ao banheiro. Quando me olhei no espelho, vi no monte de porcarias que eu tinha me tornado. Falei para mim mesmo: se eu não me amar, ninguém vai me amar.

Comecei a fazer uma caminhada no quarteirão em volta da minha casa, um total de 3 km, e fechei a boca. Todo dia era arroz integral, alface e peito de frango. Meu irmão fez nossa inscrição em uma corrida de 8 km em revezamento, cada um correndo 4 km. Era o ano de 2002, eu tinha 35 anos.

Como você passou às corridas mais longas?

Depois daquela primeira corrida, participava d eprovas de 5 km, sempre com o ob jetivo de baixar meu tempo. Depois entrei para a ACORUJA, que é uma equipe aqui do RJ, e fiz muitos amigos. Sempre tinha a brincadeira interna de um ganhar do outro isso foi muito bom para eu continuar a treinar. Passei para as provas de 10 k e consegui meu primeiro pódio.

Nunca vou esquecer: eu ia correndo normalmente quando vi lá na minha frente um cara com a camisa do Flamengo e pensei “perder para flamenguista nunca”. Saí na toda e eu passava ele e ele me passava e fomos brigando até o fim. Claro que ganhei dele. Para minha surpresa, fiquei em terceiro lugar na minha faixa etária graças a essa disputa.

Daí veio a meia maratona, Depois, o sonho de todo corredor de fazer uma maratona. Treinei tanto que baixou minha imunidade. Peguei uma gripe forte e febre, fazendo a maratona com 39 graus de febre. Um amigo meu falou que quando acabou a maratona eu desviava até de palito de fósforo.

Por que você gosta de correr?

Ainda pergunta por que? Se não fosse a corrida eu já tinha morrido de tanta porcaria que eu comia, a corrida me fez conhecer pessoas, lugares, mudar de vida, ter saúde.

O que a corrida faz com você e com seu corpo? 

Graças à corrida, eu nasci novamente, sou outra pessoa. Um dia que nunca vou esquecer foi quando minhas calças já estavam enormes, caindo, e fui no shopping comprar uma calça nova. Meu manequim era entre 46/48 ai pedi à atendente uma calça 44. Quando a vesti, deu tranquilamente. Aí, por curiosidade, pedi uma calça 42 só para eu ver se entrava. Quando e coloquei e deu certinho, eu saí ligando para todo mundo e contando, minha vontade era sair berrando pelo shopping de alegria.

O que me deixava triste é que as pessoas falavam que era fogo de palha, que logo eu ia voltar a comer besteiras e engordar novamente, virar de novo o Mocotó, que é como eles me chamavam no trabalho.

É isso que procuro passar para as outras pessoas nas palestras que eu dou: se eu consegui, todos podem. Não sou melhor do que ninguém, só acreditei em mim e fui em busca dos meus sonhos.

Quando você passou a fazer longas distâncias?

Depois que eu corri a maratona e acabei destruído, recebi um e-mail informando que iria ter uma Ultramaratona de 24 horas em São Caetano, em São Paulo. Eu não acreditei. Pensava “como pode uma pessoa correr 24 horas?”. Todo dia eu abria esse e-mail e lia e falava para mim mesmo: “Um dia vou fazer uma coisa dessas”. Porém um dia ao ler falei para mim mesmo: “Um dia droga nenhuma, vai ser agora” e fui lá e fiz minha inscrição.

Os meus amigos de corrida ficaram debochando de mim, dizendo que eu ia correr duas horas e dormir 22 horas, que eu ia correr de fralda geriátrica, que eu quase morri na maratona imagina o que ia acontecer em uma prova de 24 horas.

Isso só me motivou mais ainda para não dar esse gostinho para eles. No dia, para minha surpresa, em minha primeira 24 horas corri 166 km, ficando em primeiro lugar na minha faixa etária.

Eu não acreditava, chorava feito criança de tanta alegria e aí ferrou: fui cada vez querendo mais e mais

O que o levou a fazer longuíssimas distâncias, dobrando e triplicando?

Essa historia é meio estranha, eu tinha acabado de chegar dos Estados Undios, onde tinha participado da Badwater 135 (217 km), uma ultramartona realizada no deserto do Vale da Morte com 55ºC de temperatura.

Como tinha ganhado a inscrição das 24 horas do RJ, pensei: “Vou lá para rever os amigos e correr um pouco”. Minha ideia era fazer só seis horas como treino porque só tinha dez dias que tinha chegado do deserto.

Comecei só trotando e batendo papo minha colocação era uns sessenta e pouco. Porém depois de seis horas eu senti que encaixou e continuei.

Quando estava amanhecendo o dia, eu estava em terceiro geral. Ultrapassei o terceiro colocado, que era um grande amigo meu, eu pedi desculpas para ele por ultrapassá-lo.

Continuei correndo, já no segundo lugar, e vi que o primeiro não aguentava mais, chegou a cair no chão de cansado. Eu parei, dei a mão a ele, pedi para ele levantar que eu não queria ultrapassá-lo, que faria o resto todo da prova ao lado dele para ele vencer.

Depois disso fiquei em casa pensando: “Eu amo correr, mas não quero disputar com amigos”. Resolvi criar meus próprios desafios, dobrando e triplicando as provas, pois ai a disputa é unicamente contra meu corpo. Hoje faço desafios de 400, 500, 600 e ate 700 Km, de preferência em ambientes extremos.

O que isso tem de bom?

O bom é que você aprende a conhecer seu corpo e a trabalhar sua mente a seu favor. Eu sempre falo que somos capazes de fazer coisas que nem imaginamos.

Há pessoas que nem tentam e acham que não conseguem, o “será que consigo?” já te faz um derrotado. Quando a gente faz o que ama, se dedica, tem determinação, foco, comprometimento, não tem como dar errado. O resultado é só consequência natural.

Existe treino para correr 700 km? Claro que não, é minha mente que me leva aonde eu quero. Eu aprendi a trabalhá-la para isso e também ensino isso na minha palestra.

O que tem de ruim?

Duas coisas são ruins. A primeira é que, nessas grandes distâncias, às vezes fico de 10 a 15 dias fora de casa e longe da família. A outra coisa é a falta de patrocínio, na ultramaratona não tem premiação em dinheiro. Minha especialidade são ambientes extremos (onde há riscos); hoje em dia, se a prova  tem 200 km, eu dou três voltas (corro 600 Km).

Por favor, fale um pouco das ultramaratonas mais estranhas e gigantescas que fez. Qual a mais longa?

A maior distância foi triplicar a Ultra dos Anjos, a prova tem 235 km de montanhas na Serra da Mantiqueira. Em 2011, ganhei a prova. Em 2012, eu cheguei para correr a prova e o criador do caminho dos Anjos tinha um carro antigo (Rural) e eu fiquei apaixonado pelo carro.

Falei para ele: “Quer apostar essa Rural comigo, que eu dou duas voltas na prova, correndo 470 km?”. Ele não acreditou e apostou. Eu larguei sozinho e corri os primeiros 235 km. Depois larguei novamente com todos os atletas para a prova normal (eles descansados e eu já tinha corrido os 235 km) e mesmo assim cheguei em segundo lugar geral, dando um total de 470 km e  levando a Rural para casa.

Aí voltei agora em 2013 (ano passado), e esse mesmo cara tinha uma F75(Rural pickup). Falei para ele: “Você quer apostar sua F75 na minha Rural, que eu dou três voltas na prova (705 km)”?

Acho que ele pensou que ia recuperar a Rural dele, coitado kkkk…

Lá fui eu. Corri 235 km, depois mais 235 km, dando 470 km, e aí depois larguei para a prova de 235 km com todos os atletas, eles descansados, e eu já tinha corrido 470 km. Mesmo assim ainda cheguei em terceiro lugar geral e a F75 está aqui na garagem da minha casa, foram 705 km de montanhas.

A mais difícil?

Nesse caso são duas.

Uma foi dobrar a Jungle Marathon, correndo 509 km dentro da Floresta Amazônica. É uma prova de sete dias com os grandes corredores de aventura do mundo. Nos sete dias em que corri a prova oficial, o pessoal do staff espantava os bichos, mas, nos sete dias em que corri sozinho, eu era a caça. Tive que fugir de onça, que me seguiu por muito tempo, pisei em cobra, bebi água de pântano. Mesmo largando para a prova oficial com os outros atletas do mundo já tendo corrido sozinho os 254,5 km, ainda cheguei em terceiro lugar geral e me tornei o único atleta do mundo a dobrar a Jungle Maratohn.

A outra prova mais difícil é a Arrowhead, uma prova de 217 km na divisa dos EUA e o Canada onde corro puxando um trenó por uma floresta congelada pegando até 50ºC negativos (cheguei a aceitar a morte nessa prova, tendo ficado com pés, mãos e peito congelado, mas me recuperei e ainda busquei o sexto lugar). Só falta dobrar essa prova para ser o único no mundo a dobrar todas as provas da  Copa do Mundo de ambientes extremos, pois eu fui o primeiro atleta do mundo a completar todas.

Falando nisso, liste algumas de suas conquistas.

Primeiro atleta do mundo a completar a Copa do Mundo de ambientas extremos (provas de 135 milhas -217 km- em montanha,neve e deserto)

Único atleta do mundo a triplicar a ultramaratona dos Anjos – 705 Km (Serra da Mantiqueira)

Único atleta do mundo a triplicar a Brazil 135 – 651 Km (Serra da Mantiqueira)

Único atleta do mundo a dobrar a Jungle Marathon – 509 Km (Floresta Amazonica)

Recordista em mais de 20 horas da Double da Badwater – 434 Km (deserto do Vale da Morte)

Primeiro sul-americano a completar a Arrowhead – 217 Km (com 50 negativos)

3villarlivroFale de seu livro. O que você conta nele?

Eu queria contar para as pessoas minha história e poder motivá-las a mudar de vida também, a saírem do sofá e acordarem antes que seja tarde. O nome do livro é “Desafiando Limites” e nele eu conto a historia de como saí dos 98 kg e me tornei o primeiro atleta do mundo a completar a Copa do Mundo de ambientes extremos (quando eu conseguir dobrar a Arrowhead, vai sair o segundo livro, só com as ultramaratonas dobradas e triplicadas)

Como foi feita a edição?

Entrei em contato com uma editora. Queriam publicar o livro vendendo a R$ 30 e me darem R$ 3. Eu falei: “Eu faço a história e eles que ganham o dinheiro?” Não aceitei, entrei em contato com uma gráfica por indicação de uma amiga e cotei preço para pagar do meu bolso a publicação.

Vi que, se eu fizesse mil livros, sairia quase pela metade do preço de fazer 200 livros, mas pensei “o que vou fazer com tantos livros? Vai ficar tudo em casa encalhado”. Resolvi apostar e mandei fazer os mil livros. Tive apoio da Gaffa MKT Comunicação que diagramou e corrigiu os erros para mim de graça.

Como foram as vendas?

Foi surpresa total, divulguei no Facebook que estava vendendo meu livro. Era muito trabalhoso o processo: a pessoa me mandava um e-mail com o CEP, eu entrava no site dos Correios, calculava o frete, enviava de volta para a pessoa o valor a ser depositado com meus dados bancários, a pessoa fazia o depósito, me enviava o comprovante e o endereço, eu colocava no Correio e enviava para pessoa o número para rastreamento.

Mesmo com todo esse trabalho vendi os mil livros em 45 dias. Só na minha mão, fiz o lançamento durante a entrega do kit da Maratona do Rio de Jneiro (tenho que agradecer os organizadores que foram fantásticos comigo) e só nesse dia vendi 200 livros.

O que tem o livro a ver com sua loja on-line?

Resolvi montar a loja virtual para facilitar as vendas. Na loja virtual já calcula o frete automaticamente, avisa quando pagou e já me dá os dados para o envio e baixa do estoque automaticamente.

Com o livro, vieram os convites para palestras. Resolvi abrir a empresa para poder emitir nota Fiscal para as empresas que me contratam. Também faço uma venda  casada de dar a palestra com distribuição do livro para as pessoas (caso seja de interesse da empresa) que assistem.

O livro já estava praticamente escrito, com os relatos das ultras, faltava o início, como tudo começou. Aí entrei em contato com um amigo que é escritor, Denilson Monteiro, e nos encontramos e foi montando capitulo a capitulo.

Hoje o livro está na segunda edição. Não tem em nenhuma loja, só na minha (confira AQUI). Custa R$ 30 mais o frete, sendo que já está perto de esgotar a segunda edição, já foram vendidos mais de 1.800 livros.

Então a empresa foi criada para vender seu livro. Como está hoje?

A empresa foi criada em setembro de 2013. Começou com os livros. Depois eu vi que muitos atletas entravam em contato comigo querendo saber o que eu uso nas provas, qual roupa, qual mochila, qual meia, qual tênis…

Eu tinha uma fabricante de artigos esportivos que era minha patrocinadora havia quatro anos, fiz o contato para a minha loja passar a vender os produtos dela, pois se um produto aguenta 700 km, o quanto vai durar em um atleta que corra 5 km, 10 km, 21 km e maratona? Eu ainda brincava com a empresa dizendo que iria me tornar seu maior vendedor. Lógico que não sou, mas chego lá.

Também tenho fornecedoras de tênis de corridas e calçados especiais, para neve e trilha.

No momento, vendo produtos de seis fabricantes, cerca de 160 produtos. Estou fechando contrato com uma sétima fornecedora, vou chegar a oferecer mais de 200 produtos na minha loja on-line.

As coisas não estão tão rápidas porque comecei tudo sozinho e sem dinheiro. Não tenho sócio, então faço tudo com os pés no chão porque vendendo ou não os boletos têm de ser pagos. Quando tem grandes corridas ou ultras, eu monto minha loja para vender nos eventos e isso ajuda muito, vendo em um dia o que levo para vender em dez na loja. Vou às assessorias esportivas oferecer, nas academias, não fico esperando cair do céu em casa.

Quando tudo isso começou você tinha acabado de ser demitido, não é? O que aconteceu?

Eu trabalhava na área financeira de uma construtora.  A Construtora parou de construir e foi mandando um a um embora até sobrarem somente eu e o contador. Como é o contador que fecha a empresa, chegou minha vez. Eu já sabia que um dia isso ia acontecer, já esperava, mas foi muito triste trabalhar em uma empresa 12 anos e vê-la ter esse fim.

Qual sua situação hoje? Como estão as vendas?

Não posso reclamar, é gente do Brasil todo que compra na loja, tenho clientes de Manaus, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, além do Rio de Janeiro. Hoje faturo uns 25% a 30% a mais do que quando estava empregado, mas isso não é nada ainda, estou engatinhando.

As vendas dependem muito dos tipos de prova. Minha especialidade é corrida de grande distância em ambientes extremos, mas tenho artigos para todos os tipos de corrida. Os atletas entram em contato comigo pedindo dicas da corrida o que usar, o que comer, e estou sempre à disposição de todos para ajudar no que for possível.

 3villarpraiaAlém da loja, você trabalha também como palestrante. Como é essa atividade?

Quando eu abri a minha empresa já abri como comércio e serviços, para poder das as palestras, que se chama “Desafiando os Limites Para Vencer”. É uma palestra motivacional.

Já falei para 200 pessoas. Em dezembro passado, dei uma palestra para os 40 melhores funcionários de uma empresa. Terminou com o diretor em lagrimas me contratando na mesma hora para uma palestra para 200 funcionários, na Costa do Sauípe. No fim da minha palestra fui aplaudido de pé pelos 200 funcionários e fiquei mais de uma hora autografando meu livro e tirando fotos. Foi inesquecível ver a reação das pessoas e todas vindo falar comigo e saírem vibrando.

Qual seu planejamento a longo prazo ou a médio prazo?

Cada vez ter mais produtos e fabricantes para atender mais pessoas e passar a vender produtos de outros esportes. Pretendo no fim do ano abrir uma loja física porque infelizmente tem fabricantes que não vendem para quem tem somente loja virtual, já tomei não de duas empresas.

E nas corridas, quais seus planos para este ano?

A cada Rei e Rainha do Mar (são três edições por ano), eu faço 100 km na areia (foto)  e em troca a organização doa 10% do arrecadado para o Hospital Pro Criança Cardíaca. Todos os anos, faço um desafio para o INCA (Instituto Nacional do Câncer) de no mínimo 200 km, para arrecadar fundos para o hospital. Fora esses, estou vendo para o meio do ano uma prova de mais ou menos 500 km no exterior e em setembro vou tentar bater o recorde mundial de sete dias em esteira, que atualmente é de um francês, com 822 km.

 

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Conheça o calçado ideal para o corredor que você é

Por Rodolfo Lucena
28/02/14 10:04

Pronto! Tudo resolvido. Leia este texto de cabo a rabo e, depois do Carnaval, você estará pronto a escolher o calçado de corrida ideal para o corredor que você é, sabendo seu tipo de pé e de pisada, considerando seu peso e a frequência com que treina.

Protegido pelo tênis justo e perfeito, você estará em melhores condições de enfrentar as durezas do treinamento e as agruras de maratonas e ultramaratonas, provas curtas de rua e até desafios em pista, sem falar de corrida em montanhas e outros terrenos inóspitos. Melhor: estará protegido contra lesões. Não vou dizer que nunca mais você vai se machucar na vida, mas seu risco cairá enormemente.

Que maravilha, não?! É isso o que vários fabricantes de calçados de corrida querem nos fazer acreditar. Alguns chegam até a dizer que o tênis vai ajudar a promover o fortalecimento de setores de sua musculatura além de ajudar a aumentar a sua velocidade. Desde que seja o ideal para sua pisada, que pode ser com superpronação (roda o pé para dentro), supinação (para fora) ou neutra (deu para entender, né?).

Os argumentos se sucedem, muitas vezes embasados por trechos de artigos supostamente científicos, por evidências médicas, desenhos, ilustrações, exemplos dos mais diversos tipos.

Seria esplendoroso, não fosse tudo fantasia de Carnaval, sonho de uma noite de verão ou qualquer outra metáfora que você queira usar para ilusão passageira. Às vezes, é mais do que ilusão: chega mesmo á fraude, como já demonstraram processos nos Estados Unidos. Em geral, porém, tudo fica no terreno da legalidade.

O que não significa que fique no terreno da verdade. Há cada vez mais estudos de revisão, que analisam dezenas, centenas, às vezes milhares de pesquisas sobre um tema a fim de verificar se há consistência, se há padrões. Também há um número crescente de pesquisas que, desvinculadas a marcas ou empresas, procuram funcionar como “advogados do Diabo”, tentando ver a veracidade ou repetibilidade de estudos anteriores.

Está rolando pela internet um desses estudos, e eu resolvi mostrá-lo também neste espaço porque vem sendo divulgado pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

Trata de um tema caro aos corredores, que adoramos escolhe rum tênis novo e estamos sempre pesquisando para encontrar o produto ideal para nosso pé. Participamos de estudos, fazemos testes e, no final, gastamos uma grana preta em tudo isso –um investimento que, a julgar pelo trabalho que passo a comentar, talvez não fosse necessário ou pudesse ser direcionado para outros lugares.

O estudo em questão busca analisar se o uso de tênis “adequados” ao tipo de pisada de cada corredor vai contribuir para melhorar sua saúde e reduzir índice de lesões.

O trabalho foi feito na Suécia e acompanhou durante um ano quase mil corredores, analisando cerca de 2.000 pés. Descobriram que há até corredores que supinam de um pé e superpronam com o outro. A maioria absoluta era de pés neutros (70%); 22% eram supinados ou supersupinados, e o restante pronado ou superpronado. Todos usaram ao longo de todo período o mesmo tipo de tênis, indicado para pisada neutro. Pouco mais de ¼ deles (27%) teve algum tipo de lesão no período.

Nos primeiros 500 km de cada corredor, não houve diferença significativa no índice de lesão por tipo de pisada; a partir dali, nos primeiros mil quilômetros, os corredores com pés pronados  tiveram menor índice de lesão que os demais.

Conclusão geral: não há evidência de que o uso de tênis “adequados” reduza o índice de lesão. De modo geral, o tênis mais indicado é o confortável para o corredor, com bom amortecimento (há correntes que até são contra o tal amortecimento, preferindo os tênis minimalistas ou nenhum calçado).  Tênis neutros são adequados para qualquer corredor, mas é preciso cuidado na quilometragem, especialmente a partir de 500 km de rodagem.

Especialista em medicina do esporte e diretor da Sociedades Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, Ivan Pacheco diz o seguinte:

“Existe uma hiperindicação até mercadológica de uma questão que nem tem suporte na literatura científica. Isso porque a maioria das pessoas tem ‘deformidades’ discretas e muitas delas não necessitam de um tipo de tênis especial, o tênis neutro é o suficiente. Elas não precisam de um calçado pronador ou supinador porque não são desvios significativos. Quando esse desvio existe, é preciso precisa fazer uma avaliação com o médico antes para ver se há mesmo a necessidade de um tênis especial. Nesse caso, quando o desvio é significativo, ele pode alterar a biomecânica de todo o membro inferior da corrida. Porém tem muita gente que tem um pé mais alto e outro mais baixo, mas que são variações normais. Os pés não são totalmente iguais. Eu acredito que existe um exagero mercadológico nessa questão, veio para ajudar, mas está sendo exageradamente indicado.” (citação de artigo publicado no “Correio Braziliense” e reproduzido no site da entidade; leia o texto completo AQUI).

Bom, eu aproveitei para dar uma olhada na literatura médica a respeito e encontrei, orientado pelo dor Márcio Freitas, ortopedista especializado no cuidado dos pés, dois artigos daquele tipo que citei no início deste texto, de revisão da literatura.

O resumo da ópera é o seguinte: não há evidência de maior ou menor proteção contra lesões conforme o tipo de tênis usado. As lesões de corredores estão vinculadas a uma série de fatores; o mais importante parece ser o volume/intensidade/frequência de treinos. Eu coloquei essa trindade como se fosse uma coisa só porque são variações do mesmo problema: abuso do corpitcho.

Um dos estudos apresenta até diagramas em que aparece a “curva da lesão”; a partir de uma certa quilometragem semanal, o índice de lesão aumenta desproporcionalmente. Os estudos também destacam o que muitos treinadores sérios gostam de repetir: cada um é um, o que serve para um corredor pode não servir para o outro, não há “receita de bolo” no treinamento.

Mas há orientações gerais de proteção, que são o feijão-com-arroz: progressão gradual, descanso, boa alimentação.

Mesmo sabendo de tudo isso, a gente se lesiona. Há corpos que já chegam prejudicados ao treinamento; outros que, uma vez lesionados, passam a ter maior frequência de machucado. São as coisas da vida…

De onde se conclui que o calçado ideal para você, prometido no título deste texto, pode ser uma quimera, mas também pode ser aquele que você escolher, o mais confortável e o mais gostoso, mas que não deve ficar muuuuito tempo em uso.

Saudações caranavalescas que agora vou para o ala-la-ô (#sqn)!

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Pela primeira vez, cai obesidade infantil nos EUA; informação e prevenção funcionam contra o mal do século

Por Rodolfo Lucena
26/02/14 11:01

Eu, você e as torcidas do Flamengo, Corinthians, Chicago Bulls e Lakers sabemos: a obesidade é uma epidemia que assola a sociedade moderna, tanto nos países riquíssimos como em nações em desenvolvimento, como o Brasil.

A gordura em excesso traz riscos conhecidos: doenças cardíacas, diabetes e o escambau. E nosso próprio estilo de vida, cada vez mais sedentário, contribui para isso, ao lado da dieta hipercalórica e gordurosa que nos acostumamos a consumir.

Já está ficando chato escrever tudo isso, mas deixe-me montar primeiro o quadro e logo chego na novidade, que é uma ótima notícia.

Antes, lembro que governos e entidades médicas de vários âmbitos têm feito programas de incentivo à atividade física e à mudança da dieta da população. Os resultados são mais ou menos, para ficar no terreno do otimismo.

PORÉM, e este é um enorme PORÉM, ao que tudo indica a informação e todo esse trabalho de prevenção estão dando resultados onde mais importa: no cuidado com o futuro da humanidade, as criancinhas deste mundão velho sem porteira.

Dito isso baseado num sensacional dado recém-divulgado nos Estados Unidos. Na última década, caiu quase pela metade o índice obesidade entre crianças de dois a cinco anos. A taxa de redução, segundo a pesquisa, foi de 43%. Conforme os dados obtidos em 2012, cerca de 8% das crianças nessa faixa etária era obesa, contra 14% de obesos dez anos antes, em 2002.

Isso é sensacional, pois aumenta a esperança de um futuro um pouco mais saudável para essas crianças. As estatísticas dizem que crianças obesas de três a cinco anos têm cinco vezes mais chances de se tornarem adultos obesos ou com excesso de peso.

Essa é a primeira vez que foi registrada uma queda significativa da taxa de obesidade em qualquer uma das faixas etária analisadas, segundo Cynthia L. Ogden, pesquisador do Centers for Disease Control and Prevention e coordenadora do estudo, publicado hoje no “The Journal of the American Medical Association”. São indícios, acredita ela, de que o combate à obesidade infantil está dando resultado.

Destaca ainda que não dá para sair por aí soltando rojões, pois as taxas gerais continuam na mesma, e até aumentaram em alguns grupos populacionais, como mulheres de mais de 60 anos. Um terço dos adultos e 17% dos jovens dos Estados Unidos são obesos, aponta.

Ainda assim, a queda na taxa das crianças é promissora e pode indicar que os programas de informação e prevenção estão dando algum resultado. Há alguns números que indicam mudanças significativas nos hábitos da população.

Em relação a 1999, as crianças de hoje consomem menos calorias em refrigerantes. Um número maior de mulheres amamenta por mais tempo, o que pode gerar crianças mais saudáveis. Algumas pesquisas indicam que há uma redução na quantidade de calorias consumida por crianças na década (menos 7% para meninos e menos 4% para meninas), mas especialistas dizem que a redução é insuficiente para provocar diferença.

De qualquer forma, há luz no fim do túnel.

Tomara que no Brasil as coisas também estejam funcionando desse jeito. Tomara que cada vez mais mulheres tenham condições de amamentar seus filhos por pelo menos seis meses, que haja água limpa em abundância e que as escolas orientem a criança a comer bem.

Este blog está totalmente comprometido com a divulgação de práticas saudáveis, ainda que o blogueiro propriamente dito goste de uma costela gorda e muito chocolate.

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Cinquentão faz sub4h na maratona de Tóquio

Por Rodolfo Lucena
23/02/14 13:17

“A prova foi genial, maravilhosa”, me escreve o amigo e leitor Carlyle Vilarinho, que deves estar até agora festejando do outro lado do mundo, nas ruas e nos bares de Tóquio. Ele não só completou a prova inteiro e com saúde como também fechou em menos de quatro horas. Pode não parecer grande coisa, mas é um feito considerável para nós, cinquentões. Morador de Brasília, Carlyle tem 55 anos (é um garoto, perto de mim…) e, como todos os outros mais de 30 mil candidatos à maratona de Tóquio, passou a última semana torcendo para que ac abassem as terríveis nevascas que torturaram a cidade de Tóquio e deixaram pelo menos 19 mortos (última contagem que vi).

Bom, o tempo melhorou, a corrida saiu e temos agora este texto de CARLYLE VILARINHO, a quem agradeço a participação no blog. Ele começa do começo, das emoções da chegada. Então, acompanhemos o maratonista passo a passo.

23carlyle

 

“O sonhado momento está chegando. Nevasca ou mera neve é coisa do passado. A meteorologia indica bom tempo para o fim de semana.

Na quinta-feira, primeiro dia de retirada do kit. O local é meio longe do centro e dos hotéis, leva uns 30 minutos de trem até lá. Cheguei cedo, bem na abertura. Ler aquele portal “Tokyo Marathon 2014”, sentir o clima, foi a primeira emoção: caramba, é verdade, eu estou aqui, eu vou fazer parte dessa história.  A entrega do kit é rápida, o pessoal é muito gentil e camarada.

Kit na mão, chip checado, vamos para a feira. A feira é bem grande, bonita e organizada. As grandes marcas estão aqui, exceto a patrocinadora da CBF. Tem diversas novidades, muitos brindes, fotos e brincadeiras. Os preços são muito, muito em conta, segura o cartão. Ao final, já na saída, uma banca tem uma série de produtos (camisetas, agasalhos, calções, moletons, abrigos) a preços superacessíveis, baratos mesmo, superpechincha.

Chegou o sábado, dia da corridinha festiva, a International Friendship Run. O céu está claro, a temperatura em torno de 5ºC às 10h30. O local é mesmo Tokyo Big Sight, o local das grandes feiras internacionais de Tóquio, também ponto de chegada da maratona. Encontrei ali amigos virtuais que tinha feito durante a preparação para a maratona, no grupo que criamos em uma rede social. Foi bem bacana ver aquele pessoal, agendar uma maratona futura.

Ao final da brincadeira, volta para casa, almoço e repouso. Amanhã é pra valer. Tenho duas opções de roupa para correr, vai depender do momento. Preciso dormir, confesso que estou muito aceso, excitado, aguardando o momento sonhado por 16 longa semanas de treinamento e dedicação.

Chega 23 de fevereiro, dia da maratona de Tóquio. Acordo cedo, confiro a meteorologia: variando de 0ºC a 10ºC, pela janela vejo um céu meio escuro. No restaurante do hotel, tomo café da manha: arroz, batata cozida e pão. Ali vejo outras pessoas com jeito de que também vão correr a maratona.

Pego minha sacola, pronta desde a véspera e me dirijo a pé por 1,3 km até o local da largada, o Tokyo Metropolitan Government. O termômetro acusa 1ºC, deixo o abrigo aberto, não coloco luvas nem gorro. Quero usar este momento para avaliar com que roupa vou correr.

Nas imediações da largada. milhares de corredores  já estão concentrados, fazendo os últimos ajustes em suas indumentárias antes de deixar a bolsa no guarda volume.

Decido correr de shorts e camisa manga curta, como sempre corri em qualquer temperatura; tinha dúvida quanto à necessidade do gorro e das luvas, como está ventando vou não arrisco, vou vestido com eles enquanto tolerar. Então, sem maiores problemas, deixo a sacola no caminhão e vou para meu lugar, pelotão F, do grupo de 4 horas, na largada.

O percurso da maratona é bem interessante. Saindo do Tokyo Metropolitan Government, passa pelos principais pontos turísticos da cidade. Não tem uma altimetria muito plana, começa com uma descida de uns 6 km e então vai plana até o km 35, quando começa uma sucessão de passar por uma e outra ponte e correr em um elevado.

Por diversas vezes a gente corre indo em um faixa da avenida e já tem uma turma, mais rápida, voltando na outra faixa da mesma avenida. Imaginei que isto pudesse ser ruim, desestimulante. Estava enganada, foi bem positivo.

Ao longo do percurso há 25 atrações, entre bandas e  grupos amadores realizando performances. Na beira da calçada, um boa quantidade de pessoas acompanhando, torcendo e dando balas e comidinhas para os corredores. Esta torcida não é tão numerosa nem barulhenta como das maratonas de Chicago ou Londres, mas te incentiva bastante, é o jeito japonês de torcer.

Ao longo dos 42 km, a cada 3 km tem água e isotônico, do km 21 em diante também há uns três postos com comida: banana, tomate, balas e chocolate. Em cada ponto de hidratação, as mesas são longas, não causando tumulto algum nem fazendo com que agente tenha que parar para pegar qualquer coisa.

Hoje, mais que nunca, tive certeza de que maratona é um esporte emocional. A minha corrida foi excelente, maravilhosa. Vim aqui para correr uma maratona que não tinha em meu currículo, para somar mais um souvenir na minha coleção. Vim também porque queria realizar o sonho de conhecer o Japão, comer sushi e sashimi na fonte (agora já sei que a culinária japonesa é muito, muito mais que isto) sentir de perto essa cultura fascinante. Aconteceu que minha prova foi fantástica e estou encantado com Tóquio!

Larguei tranquilo, correndo os primeiros 6 km em descida ciente de que a prova são 42.195 metros. Assim passei o km10 com 56min. Por aí o sol saiu e até esquentou bem, tirei o gorro e as luvas e coloquei no cinto. O tempo podia mudar e eu precisar deles novamente. Fui nesse ritmo até o km 15.

23carlyle2Nesse ponto o céu voltou a ficar nublado e entrar um vento frio. Uma voz não sei de onde me disse que dava para aumentar o ritmo. Obedeci e passei este km em 5min09, o seguinte ainda mais rápido, 4min59 e assim nesse passo fui até passar a meia maratona com menos de 2h05.

Não tinha dor, me sentia muito bem e pensei comigo mesmo: por que não tentar fechar esta prova  em menos de 4h? Hoje parece o dia perfeito para este feito. Me concentrei e passei a ficar atento ao relógio, a passagem por cada km. Assim cheguei ao km 30 sem maior dificuldade.

Do km 30 ao 36 tudo continuava tranquilo, tinha a certeza de terminar dentro da nova meta de menos de quatro horas. No km 36, estava bem descansado. É que aí começa uma série de subidas de pontes, uma trás da outra, então o rendimento foi caindo. Ainda assim, fiz cara brava para os trechos íngremes, olhei para baixo e não me deixei vencer. No km 41 tudo voltou a ficar plano, então dei a ultima acelerada.

Cruzei a linha de chegada inteiro, com tudo em cima, sem nem uma dorzinha. Incrível, foi uma prova perfeita. O painel indicava 4h08 como tempo bruto, deu 3h58min29 no tempo líquido. Curti aquele momento como bobo, cumprimentando e agradecendo todo o staff. Recebi a medalha, um monte de brindes, tirei fotos e fui encontrar meu filho que veio da Noruega só para comemorar comigo mais uma maratona (foto). Ah! Isso não tem preço.

Com essa, completei 5 das 6 da série Majors Marathons. Já tinha feito Nova York, Chicago (duas vezes), Berlim e Londres.

Amei esta maratona, recomendo. Se alguém quiser dicas, estou à disposição. Meu e-mail é este AQUI” (clique para conferir).

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Maratona vira ferramenta de ensino em escola de Boston

Por Rodolfo Lucena
21/02/14 09:52

O que aqueles gregos queriam, afinal? Se Maria anda 500 metros em três minutos, quantos metros percorre em meia hora? Onde fica a África? O que aconteceu na primavera passada?

Perguntas desse gênero vêm sendo feitas nas salas de aula de uma escola da região de Boston, onde uma criativa professora resolveu usar um dos principais eventos da cidade como ferramenta educativa. É isso mesmo: ela decupou a maratona em muitos pedacinhos, os que remetem à história, à geografia, ao estudo de línguas, às matemáticas e outras ciências, como física e biologia.

Professora de educação física, Debra Pinto conseguiu mobilizar seus colegas professores para que todos usassem a vetusta maratona de Boston nas salas de aula. Mais uma tentativa para tentar a atrair a atenção de adolescentes.

Claro que também debatem questões como segurança, democracia, direitos civis e direitos individuais. E até formaram um grupo de corrida. Alguns vão atuar apenas para arrecadar fundos; outros efetivamente vão correr a prova. E toda a escola vai participar de uma supercorrida de 4.219 metros (aproximadamente, eles vão usar a distância em milhas, correndo um décimo da distância da maratona).

Eu achei a ideia muito legal. É mais do que hora de usar grandes eventos ou circunstâncias que tenham impacto na comunidade como forma de aproximar da realidade o que se ensina na escola.

Não estou querendo aqui “ensinar o padre a rezar missa”, pois imagino que em muitas escolas brasileiras coisas semelhantes vêm sendo realizadas. Só estou apontado como é importante que o ensino e o currículo estejam vinculados à vida real das crianças e adolescentes, para que eles possam mais facilmente entender sua importância e impacto nas próprias vidas.

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Esse cachorro tem nome

Por Rodolfo Lucena
19/02/14 12:22

Eu já tive vários cachorros pela vida afora e sempre procurei lhes dar nomes que considerava criativos.

“Lobo” foi o nome do meu primeiro cachorro, um policial capa preta, pastor alemão de gema (ou, pelo menos, eu imaginava que fosse). Morreu atropelado antes de fazer um ano e deixou uma criança triste pela vida toda.

Mais taludinho, tenho sido capaz de enfrentar o passamento de outros amigos peludos, como a Maria Cristina (Kika), o Viking, o Asterix, a Bibiana. O nome da cadela que resta é Maria Eduarda, mais conhecida como Duda.

Vai daí que raramente me surpreendo com os nomes que as pessoas escolhem para seus cães. “Nestor”, por exemplo, é o cachorro de alguém que eu conheço, mas não lembro quem –veja só os descaminhos da memória, lembro do nome do cachorro, mas não tenha a mínima ideia de quem seja o dono.

Tudo isso é para contar que hoje, quando caminhava em direção à feira, ouvi de revesgueio a conversa de duas senhoras, cada uma delas levando na guia seu respectivo cão. Não sei se elas se referiam a um dos guaipecas que as acompanhavam, ou se o nomeado seria um terceiro.

Imagino que fosse outro, pois nenhum dos animais ao redor me parecia digno de tão retumbante, tonitruante, efervescente, amazônico, babilônico nome.

Kennedy Onassis da Silva!

Que beleza, que maravilha, que inspiração histórica e internacionalista!

Se você é muito jovem, talvez não conheça as referências usadas pela madrinha do cãozinho. Ou cãozão, por merecimento onomástico.

Kennedy se refere a John Fitzgerald Kennedy, presidente dos Estados Unidos assassinado em 1963; ou, simplesmente, àquela nobre família americana, que teve muitos outros políticos de escol, como o irmão mais novo de John, Robert, também assassinado.

Onassis é o sobrenome de um riquíssimo armador grego, que tinha por nome uma homenagem a um dos maiores filósofos da história –vai daí, Aristóteles Onassis se chamava. Além de cheio da bufunfa, o cara era também um conquistador de mão cheia, tanto que casou com a viúva do já mencionado John Kennedy, a elegantérrima Jacqueline Kennedy. Ela manteve o sobrenome do ex-marido ao casar com o grego, passando para a história como Jacqueline Kennedy Onassis.

E Silva, meu amigo, minha cara leitora, Silva somos todos nós, brasileiros, de alguma forma aparentados uns com os outros. Mas, considerando o padrão do nome do cão, talvez a madrinha do bicho estivesse de olho em um Silva específico, o mais famoso de todos (pelo menos, de todos os que conheço), o Luís Inácio Lula da Silva.

Nunca saberei. A não ser que, em um momento qualquer no futuro, em nova caminhada à feira das quartas-feiras, encontre pelo caminho as duas senhoras e resolva tomar coragem e interpelá-las. Acho que  são pequenas as chances de que isso ocorra, por isso me restringi a pensar em como poderia ser o nome de um cão apadrinhado não por alguém fã do Primeiro Mundo, mas sim do universo esquerdista (hoje bem minguado, diga-se de passagem).

Vladimir Stálin dos Santos!

Que tal? Não é uma equivalência perfeita, já que junta nome e sobrenome e faz referência a duas figuras de um mesmo país, Vladimir Illich Lênin e Josef Stálin. Pensando melhor, que tal Allende Lênin dos Santos?

Enfim, as possibilidades são muitas. Quanto ao “dos Santos”, que não expliquei, somos todos nós, também, brasileiros irmanados numa mesma emoção, não pensei em nenhuma figura específica. Mas a área de comentários está aberta às suas sugestões.

Ah, onde já se viu falar de cachorro num blogue de corrida?, talvez você esteja se perguntando, pronto para fazer alguma crítica cáustica a este blogueiro. Bom, nem vou responder a essa questão, deixo que você mesmo descubra a resposta. Dou apenas uma dica: cachorro é um bom assunto em qualquer lugar, em qualquer circunstância.

Além disso, a já citada Duda está passando mal e merece ser reverenciada neste espaço.

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