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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Blogueiro inicia projeto de corridas por assentamentos do MST

Por Rodolfo Lucena
31/08/15 16:49
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31 B corrida 4 bananal

Corrida no assentamento Boqueirão – Foto Eleonora de Lucena

 

Prezado leitor, querida leitora, trago agora uma mensagem em causa própria, contando a história de mais um grande projeto de corridas que começo a realizar.

Trata-se do MARATONANDO COM O MST. Vou correr em diversos assentamentos do país, com a participação de militantes e da juventude assentada, com o objetivo de divulgar os benefícios da atividade física e estimular a prática esportiva. Haverá palestras sobre o mundo das corridas, conversas sobre jornalismo e oficinas de produção de noticiário.

A primeira etapa começou neste fim de semana, com corridas em assentamentos ao longo da Estrada da Reforma Agrária, no município de Santa Maria da Boa Vista, no sertão de Pernambuco, às margens do rio São Francisco.

João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional do MST, comenta: “Esperamos que tenha uma influência positiva entre crianças, jovens, adultos, enfim toda população que é a base social do MST, para que se deem conta de como as atividades físicas e esportivas fazem parte de nosso cuidado com a saúde e o bem estar das pessoas. E, assim, gere um processo permanente de motivação para essas praticas”.

Nós planejamos fazer outras jornadas nas várias regiões do país. Ainda neste ano deve sair mais uma etapa, provavelmente no Rio Grande do Sul. Vou correr pelos assentamentos e mostrar o que o MST está fazendo, como as experiências na área da produção agrícola orgânica e trabalhos de alfabetização.

As atividades serão documentadas em textos, fotos e vídeos publicados em um blog especialmente criado para o projeto, que também trará observações sobre a vida e o trabalho nos assentamentos e acampamentos dos sem terra.

Aguardo sua visita.

O endereço do blog MARATONANDO COM O MST é http://mstmaratonando.wordpress.com. Minhas andanças também serão divulgadas na página http://facebook.com/lucenaaposentado e http://twitter.com/rrlucena; fotos e vídeos podem ser vistos em https://instagram.com/lucena.rodolfo/

Bora lá! Vamo que vamo!

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“Não quero ser Larsson pelo resto de minha vida”, diz autor da sequência de Millennium

Por Rodolfo Lucena
27/08/15 18:04
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Troco duas ou três palavras com a agente literária, assessora de imprensa ou sei lá o quê, e ela transfere o telefone para o escritor da hora, o “cara”: David Lagercrantz. No meio da tarde sueca, o jornalista até agora especializado em biografias mais ou menos romanceadas se transformou em conversador-por-telefone-em-série.

Com a voz excessivamente entusiasmada de quem luta para não deixar a peteca cair, Lagercrantz vai logo dizendo, com empolado sotaque britânico: “Estou exausto, em entrevistas com jornalistas dia e noite. Está uma loucura. Mas estou muito feliz porque as resenhas são excelentes em todo o mundo”.

Tudo bem, eu lhe devolvo o “Boa Tarde!!!” com o mesmo entusiasmo e pergunto sobre a produção da sequência da série “MILLENIUM”, criada pelo também jornalista sueco Stieg Larsson.

“Cada livro tem suas próprias circunstancias. Quando escrevi sobre Ibra [o livro mais famoso de Lagercrantz é uma biografia do artilheiro sueco], tive de entrar em seu mundo. Agora, tive de fazer uma pesquisa ficcional, li e reli os livros, decorei as histórias e depois tive de entrar nos personagens. Houve muitos desafios, especialmente encontrar uma trama. Larsson era um mestre em criar tramas, com tantos desdobramentos e muitos caminhos se encontrando. Tive de trabalhar dia e noite. Tinha de entender Lisbeth Salander {a super-hacker dona de imensa tatuagem de dragão nas costas]. Não apenas recriar o trabalho de Larsson, mas também colocar algo de mim mesmo no trabalho.”

Qual foi esse tempero pessoal que ele introduziu na franquia é a pergunta obvia, depois do que ele acabara de dizer.

Um foi o destaque para as questões cibernéticas, científicas. “Sou muito interessado em ciência. Também entendi que o bom dos grandes super-heróis não são apenas seus poderes, mas também seus perrengues. Tive a satisfação de poder tabalhar no personagem e responder a uma questão que Larsson não esclareceu: por que Salander é uma hacker tão boa.”

A criação de um personagem autista também foi da lavra do sucessor de Larsson.

“Certo dia, aordei às quatro da manhã e me lembrei de uma história antiga, na época do [filme] “Rain Man”, de um garoto que passou por um sinal de trânsito e depois fez um desenho exato daquilo. Então comecei a pensar nele como uma “figura espelho” de Salander e pensei o que poderia acontecer se um garoto como esse estivesse no meio de algo horrível, como um assassinato. E aí: bang-bang! Eu tinha uma história.”

A trama agora já não envolve apenas malvadões escondidos nos recônditos da polícia secreta sueca. Atravessa o oceano e envolve corruptos no interior da NSA, a agência de segurança dos Estados Unidos.

“Nos tempos de Larsson, os ataques de hackers eram feitos por indivíduos foras da lei. Agora é feito pelo Estado. O trabalho de genete como Salander parece cada vez mais necessário.”

Em meio a tanto confete, uma voz discordante é a da ex-companheira de Larsson, Eva gabrielsson, que detonou o projeto, que chamou de máquina caça-níqueis.

“Eu tenho o maior respeito por ela”, diz Lagercrantz. “Esse trabalho foi a maior emoção de minha vida, eu escrevi com paixão, não foi por dinheiro. Foi bom para mim de muitas formas, me tornou num escritor melhor. E a única coisa que me atrapalha e entristece é que ela tenha ficado tão brava. Eu tenho simpatia por ela, mas eu sei que isso é bom para o trabalho de Larsson, porque agora seus livros são lidos novamente. Agora uma nova geração de leitores vai descobrir seus livros. E vai conhecer o seu grande trabalho, de uma vida toda, que foi de lutar contra o racismo, contra a extrema direita e a intolerância, o que é hoje ainda mais importante.”

O escritor continua: “Eu respeito seus pontos de vista, e entendo quando pede que deixem o trabalho de Larsson em paz. Mas sou um escritor, e nunca conheci um escritor que quisesse que seu legado fosse deixado em paz. O escritores querem ser lidos. É por isso que escrevem. O que teria acontecido se sir Conan Doyle tivesse dito: não toquem meu Sherlock Holmes. Acho que isso é bom para os livros de Larsson e bom para os personagens que criou”.

Pendengas à parte, pedi a ele que contasse um pouco de como executava seu trabalho, se chegou em algum momento a sentir o tal bloqueio literário ou enfrentou outro tipo de dificuldade no processo.

“Nada de bloqueio”, afirmou. “Eu costumo dizer que era um a espécie de bipolar. Algumas vezes eu me considerava  “o cara!” , o melhor escritor da face da terra, e na outra hora eu pensava ser a pior pessoa já nascida. Mas isso era bom. Quando eu me via como superbom crescia minha autoconfiança; por outro lado, às vezes tinha medo mortal de errar, mas é bom ter medo, pois faz com que você trabalhe ainda mais.”

Trabalho realizado em meio a todo o segredo possível.

“Eu vivi numa espécie de mundo paralelo. Estava escrevendo sobre espiões e hackers e ao mesmo tempo temíamos que nosso trabalho fosse descoberto. Estávamos paranoicos, como me de invasão em nosso computador. Escrevi toda a história em um computador desconectado [da internet]. Foi algo paradoxal…”

E agora, qual o próximo passo? Ao longo da história, deixou fios soltos que podem ser usados em uma sequência da sequência, digo eu. Isso já está planejado?

“Talvez eu faça, talvez não”, escapa ela. “Atualmente estou simplesmente muito satisfeito com o trabalho, é um privilégio. Vou entrar em tour literário e espero que ter uma tempinho livre no final do dia para tomar um copo sozinho no meu hotel e pensar realmente no que gostaria de fazer. Eu sei que não quero ser Stieg Larsson pelo resto de minha vida. Vou pegar outros desafios. Talvez eu escreva um quinto livrou ou não. Vamos ver.”

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Garoto da Eritreia é o mais jovem campeão mundial da maratona na história

Por Rodolfo Lucena
24/08/15 11:00
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O adolescente Ghirmay Ghebreslassie, de 19 anos, tornou-se na manhã do último sábado na China (sexta á noite no Brasil) o mais jovem campeão mundial da maratona. Não só: o garoto da Eritreia, que completa 20 anos em novembro próximo, é o mais jovem medalhista de ouro competições de rua na história do Mundial.

A juventude não é só dele: seu próprio país mal passa dos 20 anos: a independência da Eritreia aconteceu apenas em 1993.

No final da sabatina, porém, Ghebreslassie não queria saber desse tipo de conversa: “Não consigo explicar o que estou sentindo, eu estou muito muito feliz. Todo mundo fica me perguntando sobre a minha idade, dizendo que sou muito jovem, mas isso não importa, eu estou muito orgulhoso dessa vitória”.

 

REFILE - CORRECTING BYLINEGhirmay Ghebreslassie of Eritrea celebrates with his country's flag after winning  the men's marathon at the 15th IAAF World Championships at the National Stadium in Beijing, China August 22, 2015.  REUTERS/Lucy Nicholson

Foto Lucy Nicholson/Reuters

Conquista que ele tomou com autoridade de um experiente campeão, homenageando sua pátria e mandando recados para o mundo. Ao entrar no túnel que lhe daria acesso à pista de atletismo do Ninho de Pássaro, olha para um lado e outro, gesticulava. Na saída, os que assistíamos ao evento percebemos o que ele buscava: alguém que devia lhe entregar a bandeira do país.

Com a flâmula na mão, ganhou a pista sozinho, no estádio ainda longe de estar cheio, e cruzou a linha de chegada em 2h12min07. Depois, festejou ainda com o etíope Yemane Tsegay e com Munyo Solomon Mutai, de Uganda –de mãos dadas, os três embandeirados correram pela pista saudando o público.

O jovem da Eritreia ainda teve pique para mostrar ao povo uma folha de papel onde estavam rabiscados os dizeres: “Nunca desistir até cruzar a linha[de chegada]”.

Foi esse o espírito que o norteou ao longo da competição, em que Quênia apareceu com uma equipe de sonhos: Dennis Kimetto, recordista mundial da prova, e seu antecessor, Wilson Kipsang; Mark Korir, conhecido dos brasileiros, completava o time.

A Etiópia não ficava atrás: Tsegay tem recorde pessoal de menos de 2h04min48. E Uganda vinha com o campeão olímpico e, agora, ex-campeão mundial da maratona, Stephen Kiprotich.

O jovem Ghebreslassie –o nome fez com que comentaristas de TV o tomassem por parente do grande corredor etíope Haile Gebrselassie, que obviamente, não tem nada a ver–, pelo retrospecto, não tinha a menor chance contra esses monstros da maratona internacional. Mas ser desconsiderado não era novidade para ele.

“Quando comecei, meu treinador achava que eu não tinha talento para a corrida. Ele só passou a acreditar em mim depois dos 11 anos. Mesmo assim, minha vitória de hoje vai ser uma surpresa para eles”, disse o garoto depois da prova.

Para eles e para todos os que acompanham o atletismo. A prova começou lentíssima, com um enorme pelotão correndo junto. Tanto que, na passagem do quilômetro cinco, o líder era um anônimo corredor de camisa amarela –um dos milhares de participantes da prova de 10 km que largou junto com a maratona. Sua marca, naquele ponto, foi de pedestres 16min06.

Até o km 15, o medo do calor parecia dominar os atletas, que seguiam embolados. O brasileiro Solonei Silva apareceu várias vezes no grupo da frente, que passou a meia maratona em 1h06min55 –não me lembro de nenhuma maratona internacional do grupo das grandes com passagem tão lerda nos último anos.

Mesmo assim, ninguém dos famosos parecia disposto a tomar a frente –Kimetto abandonou pouco depois da metade da corrida. Tanto que, na passagem do km 30 quem assumia a liderança e passava a abrir bem em relação ao pelotão perseguidor era um dedicado corredor do Lesoto. Tsepo Ramonene nem sequer levava o nome no número de peito –724–, mas deu um calor no grupo.

Ghebreslassie resolveu dar um gás, seguido por Tsegay –mais rápido e experiente, ficou cozinhando o galo. O eritreu tomou a liderança depois do km 35, levou o troco do etíope no 38, mas devolveu cerca de um quilômetro depois. Aí foi pau puro até quando chegaram perto do km 42, quando Tsegay passou a lutar para não ser ultrapassado por seu perseguidor. A liderança do eritreu estava assegurada.

Apesar das breves aparições de Solonei na primeira parte da prova, a participação dos brasileiros não foi boa. O ex-gari de Penápolis terminou em 18º lugar, com 2h19min20, muito pouco para quem tem 2h11min32 como recorde pessoal (mas até aí morreu o Neves, pois o tempo de Tsegay também foi uma porcaria para quem tem 2h04min48). Edmilson Santana e Gilberto Lopes não completaram.

 

 

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Punida por doping, russa perde títulos das maratonas de Londres e Chicago

Por Rodolfo Lucena
19/08/15 12:56
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A corredora russa Liliya Shobukhova vai perder os títulos de três maartonas de Chicago e uam de Londres, além de duas conquistas de US$ 500 mil na World Marathon Majors. Flagrada em exame antidoping, ela teve anulados os seus resultados desde nove de outubro de 2009, Segundo decisão da IAAF (a Fifa do atletismo).

Shubokova foi banida em 2014 pela federação de atletismo da Rússia. A IAAF só tomou medidas agora porque precisava que todos os recursos e apelos fossem examinados. A punição vigora até março do ano que vem.

O exame de seu passaporte biológico –registro de dados fisiológicos da atleta—demonstrou curvas hematológicas anormais. A atleta não apenas vai perder seus títulos como terá o registro de seus resultados anulados.

Assim, seu recorde pessoal de 2h18min20 (Chicago, 2011) não é mais válido, e ela deixa de ser considerada a segunda mulher mais rápida da história, atrás de Paula Radcliffe. A honraria agora é da queniana Mary Keitany, com 2h18min37 (Londres, 2012).

Os títulos da WMM passam para a alemã Irina Mikitenko (2009-2010) e a queniana Edna Kiplagat (2010-2011). “Estamos examinando os procedimentos legais para recuperar o dinheiro”, diz representante da WMM. Os organizadores das maratonas de Chicago e de Londres também estudam medidas para minorar seu prejuízo.

Não está claro se os novos vencedores vão receber os prêmios.

 

 

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Muvuca na chegada reduz brilho de bela (e quente) corrida no Espírito Santo

Por Rodolfo Lucena
17/08/15 13:11
corte 3 baia

Fotos Rodolfo Lucena/Folhapress

“Vamo, vamo, meu bem, olhaí, tem uns velhinhos te passando, estão te deixando para trás”, disse o garotão sarado para sua jovem e formosa companheira, talvez pensando que assim a incentivasse a acelerar o passo no início da prova que ainda teria muitos quilômetros e sol para mais de metro.

Não sei se esse tipo de apelo funciona, mas devo dizer que nem eram tantos velhinhos assim que estavam ultrapassando a moça. De acordo com os fatos daquele momento, aferidos ao vivo e em cores por este repórter, havia apenas um sujeito de barbas brancas cruzando pelo jovem casal –este mesmo aqui que cuida de contar a história da última edição da prova Dez Milhas Garoto, realizada neste domingo no coração do Espírito Santo: parte da capital, Vitória, e termina na bela Vila Velha.

Acho que não deu certo, a garota ficou na dela, não apressou o passo, e seu insatisfeito acompanhante teve de se resignar a acompanhá-la naquele ritmo mesmo (ou a largou no meio do caminho, mas espero que não tenha tomado essa tão pouco cavalheiresca atitude).

De minha parte, segui apreciando o mar que bate na praia de Camburi, onde se deu a largada com a presença de cerca de 10.000 corredores –pelo menos, esse foi o número de inscritos, segundo os organizadores. Foi minha primeira corrida desde a maratona que fiz no Alasca, minha primeira como aposentado (confira AQUI toda a história), e precisava ir com calma para conferir se o esqueleto e a carne que o cobre estavam funcionando bem.

Apesar de algumas nuvens, o sol dominava o terreno e castigava o lombo dos atletas. Essa é uma prova que costuma ser muito quente –na minha participação anterior, os termômetros haviam estourado a boca do balão e faltou água para os participantes.

Quem se inscreve nela, portanto, está ciente de que as condições deverão ser adversas. Por isso, acho que não dá para reclamar do calor.

Mas pode-se protestar contra os organizadores, que também estão carecas de saber da quentura espiritosantense e bem poderia puxar a largada para mais cedo, às sete da manhã ou mesmo às seis da matina. Já faz anos que, neste blog e sempre que tenho oportunidade, defendo que as corridas no Brasil devem começar pelo menos às sete horas para dar aos corredores condições mais saudáveis de participação.

Isso posto, toca a aguentar o calor! As Dez ilhas de Vitória/Velha Velha têm uma particularidade: a Terceira Ponte, que une as duas cidades, cruzando sobre a baía de Vitória (que é a foz do rio Santa Maria). É uma bela obra de arquitetura, com uma subidona e subsequente descida ao longo de seus 3,3 quilômetros de extensão.

corte 4 subida

Esse, porém, é o tamanho “oficial”. Para os corredores, são pouco mais de cinco quilômetros entre a alça de acesso, em Vitória, depois de 4.300 metros de corrida na capital, até sair das obras arquitetônicas e ganhar o asfalto das ruas de Vila Velha.

Neste ano, a prova ganhou mais espaço; na saída da ponte, pegamos um complexo viário elevado, com uma ondulação considerável.

A modificação –em relação à última vez que eu fiz essa prova—reduziu o dobra-e-desdobra, passa-e-repassa que havia anteriormente, deixando o percurso mais escorreito, mais livre; em contrapartida, aumentou o tempo em que os corredores ficam totalmente expostos ao sol, sem condição de buscar eventual sombra dos prédios em Vila Velha.

corte 2 descida

Mas o que importa mesmo é a ponte. Ontem, muitos chegamos a ela já abalados pela quentura do dia e pela má distribuição dos postos de água –havia apenas um em todo o trajeto antes da Terceira Ponte (o que, considerando a distância, talvez seja razoável em circunstâncias normais, mas é insuficiente no clima quente do Espírito Santo).

A paisagem, no entanto, ajuda a relaxar. É tudo muito bonito. Eu tentei forçar as pernas a seguirem no trote até o ponto mais alto da ponte, para só então dar aquela paradinha para bater algumas fotos. Fiz até uma imagem engraçada –pelo menos, eu achei—com a dubiedade que o dia deu à placa de trânsito.

corte 1 cartaz

Para mim, do ponto de vista de ritmo, foi a partir dali que a prova engatou. Com a redução na ponte, as paradas para foto e as caminhadas nos postos de hidratação, cheguei ao km 10 com 1h14, média por quilômetro de maratona com cansaço. Tinha de melhorar essa parada!

Pois em Vila Velho tudo se conjuminou para me ajudar: o trajeto fica totalmente plano depois do km 10, os postos de água estavam abastecidos e colocados a intervalos de cerca de dois quilômetros –o que foi muito bom–, voltamos a pegar parte do percurso margeando a praia e ainda tivemos, nos dois quilômetros finais, um pouco de sombra dos prédios da cidade.

Consegui reduzir bem minha ,média por quilômetro, mesmo prestando atenção no meu entorno e até acompanhando uma “DR” rápida entre dois corredores.

“è por isso que não dá para fazer dupla”, dizia um, continuando a reclamar: “Se é para fazer dupla, os dois têm de treinar igual, não dá para entrar e depois acabar cansando…”. O coitado do outro sujeito, que já estava ficando para trás, não chiava nem bufava (pelo menos eu não ouvi).

Fiquei lá pensando com minhas joaninhas: para mim, correr em dupla tem a ver com compartilhar experiências, bater papo quilômetros afora; não com desempenho, ainda que sempre um possa puxar o outro. Para insatisfação do sujeito mais lento da tal dupla, o parceiro dele não pensava assim e resolveu se mandar depois da tal “discussão de relação”.

De modo geral, porém, as pessoas em volta me pareciam satisfeitas. E eu também fiquei muito feliz ao passar sob o pórtico de chegada em 1h57min18. Claro que o resultado não é grande coisa para a maioria dos corredores –fiquei no 2.433º lugar entre os 2.936 homens que completaram a prova na categoria geral (havia ainda as categorias atleta capixaba e colaborador da patrocinadora); mas a melhora do ritmo na segunda parte da prova mostra que o velho corpitcho está reagindo bem aos treinos.

Só não reagi bem à bagunça formada depois da chegada. Para uma prova até então bem organizada –problema apenas na distribuição dos postos de água em Vitória–, aquela muvuca destoou completamente.

Pouco metros depois do pórtico havia uma verdadeira barreira humana, gente que esperava amigos, curiosos, fotógrafos, uma confusão. Depois, a bagunça continuava, com gente indo e vindo, corredores emedalhados e atletas ainda por receber sua medalha, todos circulando no mesmo espaço  –enfim, um estresse desnecessário que indica falta de cuidado da organização.

Logo naquela hora em que a gente só quer água, pegar a medalha e ir lamber as feridas ou festejar as conquistas, o descaso deixa o atleta irritado e insatisfeito.

A medalha, em compensação, é grandona e bonita. E, depois da prova, dá para curtir uma praia, tomar água de coco gelada e sorrir para o céu azul.

 

PS.: Fiz as Dez Milhas Garoto a convite dos organizadores.

 

 

 

 

 

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Aos 98 anos, brasileiro Frederico Fischer é prata nos 100 m no Mundial de veteranos

Por Rodolfo Lucena
12/08/15 16:12

Até quando a gente pode correr, saltar, lançar, arremessar? Com que idade ficamos velhos? Um bando de homens e mulheres está se encarregando de desafiar ideias preconcebidas, disputando na cidade francesa de Lyon o Mundial de atletismo para veteranos.

Dá uma inveja!!!

É sensacional acompanhar os resultados de pessoas que já passaram dos 80, dos 90, dos 95. Não são mais crianças, não têm a força da juventude, mas têm determinação inquebrantável e servem de exemplo para qualquer um.

A delegação brasileira está tendo um desempenho sensacional, que deveria servir de exemplo e iluminação para os dirigentes esportivos de nossas modalidades olímpicas.

No quadro de medalhas, o Brasil aparece em 19 pódios (pelo que vi, porém, está desatualizado e já há mais uma medalha verde-amarela). O país contabiliza nada menos do que seis campeões mundiais.

Um deles é o meu amigo, entrevistado e perfilado em meu livro “+Corrida” Frederico Fischer.

Do alto de seus 98 anos, lançou o martelo a 16,62 m para conquistar o ouro na categoria de maiores de 95 anos (M95). No arremesso de disco, ficou em segundo, com 13,21 m (perdeu para um austríaco três anos mais jovem).

Mas o que me impressiona mesmo em Fischer é a inabalável decisão de continuar treinando corrida nas areias de Peruíbe. Faz “tiros” de 50 metros, intercala com caminhada, começa tudo de novo, depois de alguns alongamentos. Também realiza trabalhos de força.

fischer vale esta

Foto Fernando Donasci/Folhapress – janeiro de 2009

Vale a pena: é o recordista mundial dos 100 m entre os maiores de 90 anos (M90) e os maiores de 95 (M95). Neste mundial, conquistou a prata na distância, que completou em 24s89, apenas um segundo e 39 centésimos atrás do britânico que levou o ouro e tem dois anos a menos.

Não é à toa que Fischer diz: “Não é só bocha e truco que o idoso deve fazer. Tem é que se movimentar mesmo. E outra: sentir cansaço. Não é começou a cansar e parar. Tem de forçar um pouco mais”.

Ele deu essa receita em entrevista que me concedeu há seis anos e resultou em uma reportagem na Folha que você pode ler clicando AQUI. A transcrição (quase) integral de nossa conversa –e também de uma longa entrevista com outro veteraníssimo brasileiro, o “seu” Toniquinho—você pode ler na versão antiga deste blog, clicando AQUI –tem de rolar a página até chegar ao texto desejado.

Ainda que Fischer seja talvez a estrela mais brilhante da delegação verde-amarela, temos outros grandes atletas na turma dos superveteranos.

Recordista mundial nos 100 m e nos 200 m, categoria maiores de 85 anos (M85), Yoshiyuki Shimizu conquistou neste Mundial o ouro nas duas distâncias. Aos 87 anos, traz também o primeiro lugar no salto triplo!!

E uma senhora de 84 anos de mesmo sobrenome –esposa dele, talvez, não consegui confirmar–, dona Mitsu Hotsumi Shimizu, traz o bronze para o Brasil nos 100 m para mulheres de mais de 80 anos (W80).

Falando em mulheres dessa faixa etária, há que tirar o chapéu para Margarida Hochstatter, que conquistou a prata nos 5.000 m, com impressionantes 31min30s99 (ainda que eu não seja parâmetro para nada, adianta que hoje não consigo nem chegar perto disso)

Dona Margarida também foi prata nos 10.000 m, com 1h04min39s93. E ainda pegou um bronze na distância intermediário de 8.000 m (prova não olímpica), com 55min16.

Nessa distância, aliás, outro brasileira também brilhou: Marisa Cruz, 71, trouxe o bronze na categoria maiores de 70 (W70) –mesmo posto que obteve nos 10.000 m, completados em 52min02s65!!!!

Volto à homarada para destacar os resultados do senhor Mamoru Ussami, que representou o Brasil na categoria maiores de 90 anos: traz o ouro nos 200 m e a prata nos 100 m.

Infelizmente, não dá para citar todo mundo. Mas prometo que vou atrás de alguns desses nomes e de outros competidores brasileiros; pretendo trazer várias entrevistas para você.

Enquanto isso, fique ligado no Mundial de veteranos (o site oficial está AQUI). Domingo, dia 16, será realizado o Mundial de maratona para maiores de 35 anos, homens e mulheres.

Assim que tiver dados disponíveis, conto tudinho para você.

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Por causa da crise, Maratona de Atenas corta prova de elite

Por Rodolfo Lucena
10/08/15 13:58

 

A crise econômica que atinge a Grécia faz vítimas também no mundo da corrida.

Na semana passada, depois de uma boataria on-line e mensagens equivocadas dando conta de que a maratona de Atenas teria sido suspensa, os organizadores da prova informaram que a corrida está mantida, mas não haverá a competição de elite.

Como se sabe, para atrair os grandes corredores do mundo, as provas costumam pagar luvas, viagens e hospedagem, além dos prêmios pelo desempenho na maratona. Por medida de economia, a maratona de Atenas (que incorporou a palavra “autêntica” ao seu nome –quando eu fiz, era “clássica”) eliminou essa parte do evento.

Mas a maratona continua de pé, segundo os organizadores afirmam em seu site, e será realizada no dia 8 de novembro (confira o site da prova AQUI).

Já cá por terras brasileiras a situação é mais complexa, pelo menos no que se refere ao Grande Prêmio Brasil de Atletismo.

A CBAt anunciou que, por falta de patrocínio,  o evento não será realizado neste ano. Criado em 1985, o GP faz parte da série Word Challenge, da IAAF (a Fifa do atletismo).

Segundo nota divulgada pela Confederação Brasileira de Atletismo, a entidade buscou apoio de instituições públicas e privadas, sem sucesso.

“Primeiro foi o Governo do Pará que avisou da impossibilidade de realizar a competição em Belém então, tentamos fazer em São Paulo, mas também não conseguimos o apoio necessário”, disse o  presidente da CBAt, José Antonio Martins Fernandes.

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Depois de cirurgia na cabeça, corredor enfrenta 250 km na altitude do Equador

Por Rodolfo Lucena
05/08/15 09:46

Hoje trago para você um texto do ultramaratonista CARLOS DIAS, que nos conta, dia por dia, como foi sua jornada de 250 quilômetros pelas montanhas do Equador. Sem mais delongas, segue o relato de DIAS.

Foto Arquivo Pessoal — Carlos Dias durante jornada de 250 km no Equador

 

“Quando decidi ir correr nas montanhas do Equador, tinha em minha cabeça as montanhas do Nepal, onde corri 103 km em quatro dias, em 2011.

Naquela ocasião, não aguentei ficar os sete dias na altitude, abandonei a  prova sem cumprir a meta que eu tinha me proposto.

Mas voltei do Nepal com uma lição: correr na altitude era um exercício mais mental que físico. Os anos passaram, e agora eu tive no Equador a oportunidade de cumprir a minha meta de completar os 250 km em sete dias em altitude.

Comecei o ano com um desafio intenso, corri 42 maratonas em 42 dias, expondo o meu corpo ao máximo de exigência possível para poder chegar ao Equador o mais preparado possível fisicamente e mentalmente.

Faltando quarenta dias antes da grande largada, sofri uma agressão covarde, por racismo. Fui submetido a uma cirurgia na cabeça, fiquei por pelo menos 15 dias em repouso, tomando antibióticos e perdendo muito em resistência física.

Mesmo assim, não desisti do projeto. Cheguei a Quito, cidade a 2.980 metros de altitude, cinco dias antes da largada, para uma aclimatação na altitude. De cara, porém,  senti os efeitos da altitude, tontura, enjoo e insônia.

No dia 25 de julho seguimos rumo ao primeiro acampamento no sopé do Vulcão Cotopaxi, a 3.350 metros de altura e muito frio. Passei a primeira noite, tentando respirar, as roupas me protegeram do frio mas não do cansaço imposto pela altitude.

 O meu primeiro dia de corridafoi um verdadeiro curso para aprender a andar. A largada  já começou com uma longa subida, e os passos sendo cortados, com um vento gelado no rosto, me fazendo reforçar a cada minuto minha determinação.

Acordei para o segundo dia com mais vontade de melhorar meu desempenho. Nesse dia o paratleta Vladmi Virgilio teve um colapso e foi socorrido ao hospital, saindo da prova. Seguimos com dois brasileiros na prova, eu e a Jane Carvalho, de Salvador, mas o segundo dia foi ainda mais difícil, corremos pelo vale de vulcões, trilhas e longas subidas com canyons.

Chegamos a 3.600 metros de altura, senti momentos de tonturas, outros de enjoo, muitas vezes as pernas simplesmente não respondiam ao meu comando, o choro vinha, pois achava que não conseguiria terminar a etapa, procurava manter firme meu entusiasmo, ajudando um atleta aqui outro ali, e quando chegava aos check points acionava os staffs com brincadeiras, mesmo que no momento eu estava vivendo um dia de muita dor.

O terceiro dia foi um sobe e desce incrível, e finalmente enfrentamos o caminho inca, uma trilha fina fincada em paredões gigantescos, onde um erro, poderia nos levar a uma queda fatal. Nesse  dia meu corpo, me deu uma trégua e consegui correr melhor, mas de forma cautelosa para não ter uma acidente, e preservando meu corpo para os dias extremos que tinha pela frente.

No quarto dia, o mais difícil, na minha concepção, começamos correndo em um vale, florestas, cruzamos um rio gelado e subimos uma trilha pesada, que parecia não ter mais final.

Quando chegamos ao topo dessa trilha, estávamos apenas na metade para subir a trilha do Vulcão Quilotoa com  uma cratera gigantesca com água cor verde esmeralda, a subida lenta e gelada, com ventos fortes, nos cortando a pele.

Depois de circular a cratera chegando a quase 4.000 metros de altura, começamos a descer uma trilha entre florestas e cheias de areias e pedras, que me fez cair por três vezes, e a forçar todas as minhas articulações de joelho, tornozelo e pés. Ao chegar no acampamento  o enjoo cresceu, fiquei mais fraco, e tenso pois o dia seguinte era a etapa longa.

O quinto dia chegou, e seria longo, mais de 60 km para cumprir, e mais subidas e descidas. Fui cantando, na trilha, focado em chegar bem; nesse dia passamos por fazendas, me integrei com as pessoas, procurei buscar em minha mente momentos de alegria, na minha vida, e isso me trazia momentos leves, esquecendo um pouco o cansaço e as tonturas, começamos a percorrer a florestas de nuvens, que não dava para enxergar nada pois o nevoeiro era fortíssimo, me assustava com os cachorros das fazendas e outros pequenos animais da floresta. A noite chegou e com ela a lua cheia, comecei sozinho na escuridão da floresta, que pulsava em vida, com corujas, sapos, gambás e outros tantos bichos com tantos ruídos.

O meu maior companheiro foi o rio, que descia a montanha ao meu lado e a cada passo ia mostrando sua força, com um barulho incrível da água batendo em rochas a sua frente.

Por algumas horas tive como companhia, os amigos da Coréia do Sul Elizabeh e Tong shing, depois voltei a seguir sozinho na trilha e cheguei ao acampamento às 2h 55 min.

Foi uma emoção enorme, ali eu sabia que tinha conseguido superar todas as minha fraquezas e a força da altitude do Equador.

A última etapa era a mais curta, cerca de 11 km, mas cheia de obstáculos, a cabeça  só pensava em chegar, e não importava se tinha um rio, uma subida, uma ponte fina, ou uma descida difícil.

A verdade era que eu estava pleno de felicidade e disposto a chegar para conseguir celebrar com todos os amigos construídos na trilha.

E o dia 1 de agosto não irá sair da minha mente, levantei, meditei, pois foi o dia que fazia cinco anos da morte da minha mãe. Seguir pela trilha lembrando, todos os momentos superados para chegar até aquele dia. e quando vi me deparei com a chegada e a festa de todos na cidade. Foi um grande alívio.

Terminei o percurso de 250 km em altitude, com 63 horas, a minha colocação geral foi 112º lugar. Mas o meu maior êxito foi me manter na trilha até o final sem ter nenhuma lesão e nenhuma bolha.

O campeão no masculino foi Ake Fagereng da Dinamarca com 27h15 min  e no feminino Sarah Sawyer  da Inglaterra com 35h25.

A noite, na cerimônia de premiação eu estava junto com outros atletas na mesa celebrando, a jornada.

E muito feliz com minha medalha, na altitude, quando ouvi meu nome ser chamado pela organização da prova.

Foi um momento incrivelmente mágico, todos se levantaram e aplaudiram entusiasmados, eu andei da minha mesa até o palco, com a respiração sufocada pela emoção, e o choro desceu de forma abundante. Eu estava recebendo um  troféu muito especial, o Troféu Spírit Awards  pelo espírito esportivo em momentos extremos, e por ser solidário aos atletas em momentos de adversidade na trilha.”

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Desistir de uma corrida é sempre uma opção para o corredor

Por Rodolfo Lucena
03/08/15 12:55

O grande treinador e filósofo do mundo das corridas Gilmário Madureira, marido e técnico da maratonista olímpica Marily dos Santos, colocou hoje a seguinte imagem em sua página na rede social.

03 cartaz

Reprodução

À guisa de legenda, escreveu o seguinte: “Produção da Golden Four, em tempos de suposto vergonhoso escândalo IAAF/WADA, a frase duvidosa, no lugar errado por ser de um autor mais errado ainda.”

Eu secundei a publicação de Gilmário, compartilhando a dita cuja na minha página na mesma rede social. Mas acho que o assunto merece mais.

Não é de hoje que nos acostumamos a ver a corrida sendo saudada como uma forma de heroísmo, sendo os corredores combatentes indomáveis capazes de suportar os maiores sofrimentos para chegar ao final de uma prova, qualquer que ela seja.

“Desistir é para os fracos!”, “Sangue nos óio”, “a dor é passageira, o orgulho é para sempre” (e variantes, como a vergonha é para sempre ou a tal frase que aparece no cartaz).

Vou lhe dizer uma coisa: isso é a maior bobagem. Os maiores corredores de nosso tempo não se avexaram jamais de parar quando isso lhes parecia necessário.

Haile Gebrselassie parou, Marílson parou, treinadores incensados pararam; Valmir Nunes, maior ultramaratonista brasileiro em atividade, me disse ter parado dezenas de vezes. Aliás, acaba de parar na Badwater, prova de que tem o recorde, quando liderava com muita folga sobre o segundo colocado.

Desistir em uma corrida não é dar adeus ao correr ou abandonar o esporte. Não poucas vezes, parar é a melhor forma de garantir que o corredor poderá prosseguir em futuras jornadas.

Os profissionais sabem disso. Eles dependem do corpo para garantir o pão de cada dia. A experiência mostra que forçar mais um pouco pode transformar uma dorzinha resolvível com duas semanas de fisioterapia em uma lesão que leva meses para ser curada.

E o pior: se forçar e se machucar de verdade, o atleta vai ficar com sentimento de culpa, vai ter de se preocupar com não engordar, vai cair em depressão, vai ser uma m****.

Nós não temos de brigar com nosso corpo, mas sim usufruir dele, aproveitar sua grandeza e permitir que descanse quando for preciso, mesmo que isso implique abandonar uma corrida antes do final.

Claro que há provas e desafios que, na mente do desafiante, transcendem qualquer dor ou sofrimento que possam ter de enfrentar. Não é disso que tratamos aqui: o tal cartaz estava exposto como referência para milhares de participantes em uma prova que integra um circuito de competições no Brasil.

É conhecido o caso da ultramaratonista de Formosa que, durante a Transe Gaule (corrida em etapas que somam mais de 1.100 km na França), rejeitou os conselhos médicos e não quis parar por causa de grandes bolhas que lhe feriam os pés. As feridas infeccionaram, houve ataque de uma bactéria não combatida a tempo e a contento, e a atleta acabou tendo as duas pernas amputadas.

Há quem corra provas em homenagem a entes queridos e suporta grandes sofrimentos e muitas outros casos de trabalho na superação total.

Ninguém desmerece esses heróis  –que assim sejam chamados, por falta de outra qualificação–, mas nem todos somos ou precisamos ser heróis.

Somos corredores e queremos dos divertir com a corrida. Para isso, nos preparamos o melhor possível. Há quem diga: sofremos nos treinos para não sofrer na hora da prova.

Alguma dor é inevitável. Mas o prazer precisa ser maior, até para fazer com que o corredor continue interessado em treinar para a próxima corrida. Enfim, cada um com seu cada qual, mas a regra deveria ser: proteja-se, defenda-se e, na dúvida, não ultrapasse.

Cada um tem razões que a própria razão desconhece, e não cabe recurso às decisões decisões individuais.

Mas creio que empresas e profissionais do mundo da corrida deveriam trabalhar sempre em prol da saúde; incentivar é bacana e sempre é bom para o corredor. Frases de apoio expostas ao longo da prova costumam ser bem-vindas pelos atletas. Mas há que ter discernimento; gente responsável precisa agir com responsabilidade, deixando o entusiasmo para os entusiasmados.

Dito isso, cabe ainda um comentário sobre a autoria da frase. Não sei qual a pesquisa feita pelos realizadores da prova. Talvez Lance Armstrong tenha efetivamente dito isso; ele já falou muita coisa. Mas a frase é por demais conhecida, já está no domínio público há anos, que fico com a pulga atrás da orelha e uso meu ceticismo jornalístico para duvidar da autoria.

Ainda que fosse do dito Armstrong, há ainda outro porém: será que uma corrida que se pretenda limpa e honesta deve citar alguém que foi condenado por trapacear no esporte, usando meios ilícitos para vencer?

Aliás, sobre frases, alguém lembrou o ditado popular dos meus tempos de infância, que dizia: “Tudo na vida é passageiro, menos cobrador e motorneiro”. (Motorneiro, para quem não sabe, era o “motorista” dos bondes)

Não tenho ideia de qual é o tipo de controle que a Asics (e os outras empresas cujos nomes aparecem no cartaz) tem sobre a organização e a realização da prova que leva seu nome. Tenho a impressão, porém, de que tais controles deveriam ser aprimorados…

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Gordinha estrela de “Girls” adora correr na vida real

Por Rodolfo Lucena
31/07/15 12:09

Mais uma vez a corrida mostra sua altíssima capacidade de conquistar mesmo as figuras mais improváveis, mesmo aquelas que declaram peremptoriamente que não, never, nunca jamais.

Isso porque, senhores e senhoras, Lena Durham virou corredora. Não só: virou uma orgulhosa corredora, tão satisfeita consigo mesma que não só não se importou em ser fotografada enquanto fazia seu treino pelas ruas de Nova York como postou a imagem em sua página em uma rede social.

Ih, você não conhece miss Durham?

Pois eu lhe digo: tanto na vida real quanto em sua persona artística, a atriz do seriado “Girls” (também escritora best-seller)  vinha sendo até agora uma das maiores oponentes da atividade física que a telinha tem mostrado.

Ele gosta de ler, escrever, comer, usar roupas folgadas e namorar. Gordinha, não dá a mínima se deixa para fora pedaços de coxas ou barriga; ao contrário: ela veio ao mundo para demonstrar que todos somos iguais e que ninguém deve ser julgado pela aparência.

Por pura dedicação ao namorado da época (mais ou menos par eterno ao longo da maior parte dos episódios da série), aceitou o convite do bofe para uma corridinha, em um dos episódios de “Girls” na primeira temporada da série. O resultado foi deplorável…

Na vida real, porém, ela é uma dedicada corredora, que não abdica de seu treino mesmo durante o apertado horário de filmagens: na última quarta-feira, aproveitou um intervalo nas gravações para queimar o chão nas ruas do Brooklyn.

Não sei importou com o calorão e até ficou satisfeita ao se ver suadinha na imagem “roubada” por um fotógrafo dessas revistas de celebridades. Tanto que postou a imagem em sua página, acrescentando uma declaração bombástica para alguém que até agora divulgava perfil de “couch potato” (batata do sofá, gira para sedentários que passam o dia comendo e vendo TV).

 

lena

Foto Reprodução

“Não costume divulgar fotos de paparazzi”, escreveu ela, “mas essa me enche de orgulho. Basicamente, ao longo de toda a minha vida odiei correr e, quando corria, era como um bebê peterodáctilo manco. Não só era embaraçoso como também eu sabia que não conseguiria fugir correndo de um edifício em chamas ou menos acelerar para chegar antes a uma mesa de bufê.”

Mas tudo mudou. Tempos atrás, ela publicou uma foto vestindo um top esportivo. E, agora, leva sua experiência para o seriado: a produção pretende usar a corrida como forma de melhorar a autoestima e autoconfiança da personagem Hannah, interpretada por Durham.

A atriz passou a treinar com especialistas na área. “Depois de apenas uma hora, minha relação com essa antigamente torturante atividade já tinha mudado. Eu me senti forte, ágil e orgulhosa. Não pretendo virar uma triatleta, mas conseguir ficar mais conectada ao meu corpo me traz uma real satisfação.”

Como diria um certo corredor gordinho e velhusco de barbas brancas cá do Cone Sul, “vamo que vamo!!”

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