Vanderlei Cordeiro recebe prêmio do Comitê Olímpico pelo conjunto da obra
17/12/14 09:26Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze na maratona olímpica em Atenas-2004 e dono da medalha Barão de Coubertin pelo seu espírito esportivo, foi homenageado nesta terça-feira (16) pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Na sessão de gala em que são premiados os melhores atletas do ano, Vanderlei recebeu o troféu Adhemar Ferreira da Silva pelo conjunto de sua carreira atlética e contribuição ao epsorte brasileiro e internacional.
O troféu, segundo diz a página do COB, foi criado em 2001 “como forma de homenagear atletas e ex-atletas que representem os valores éticos, esportivos e morais que marcaram a trajetória de Adhemar, um exemplo de eficiência técnica, esportividade, companheirismo, sentido de coletividade e respeito ao próximo”.
A cerimônia toda foi muito chata e formal, mas o momento da entrega do troféu a Vanderlei acabou sendo um pouco mais descontraído. O coitado do maratonista parecia metido numa camisa de força, amarrado num terno um tanto apertado. Digo isso porque Vanderlei apresentou uma certa dificuldade para erguer os braços e mostrar o troféu no alto –parecia que a roupa dificultava seus movimentos.
Como apreciador do atletismo –e da justa distribuição das coisas pelo mundo afora–, achei que esse esporte está subapreciado pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Isso porque o COB seleciona apenas um “melhor atleta” na categoria, que tem tantas e tão diversas modalidades, da maratona ao salto em altura, do lançamento do martelo à corrida de obstáculos.
No caso do ciclismo, por exemplo, há prêmios para atletas nas modalidades BMX, mountain bike, estrada e pista; na canoagem, há prêmios para slalom e velocidade; a ginástica tem três modalidades.
Tudo bem que existam essas premiações, mas, tomando esses exemplos como base, o atletismo deveria premiar pelos menos três atletas –das modalidades de corrida, de lançamento e de salto. Talvez quatro, dividindo a corrida em provas de pista e de rua. De qualquer modo, está de parabéns a atleta premiada, a sempre simpática e certamente merecedora Fabiana Murer.
Voltando ao Vanderlei, quero fazer também aqui a minha homenagem a essa atleta. E a faço do meu jeito, contando sua história tal e qual ele me contou. O texto a seguir foi publicado originalmente na edição de setembro da revista “O2”.
BRONZE DE OURO
Eu não acreditava no que estava vendo. Sozinho no asfalto, longe de tudo e de todos, o brasileirinho mirrado liderava a maratona olímpica.
A bem da verdade, já fazia tempo que minha incredulidade se irmanava ao meu ceticismo para dizer que aquilo não iria dar certo. Locutor e comentarista responsáveis pela transmissão da prova, naquela tarde de 29 de agosto de 2004, também pareciam não apenas incrédulos como também descrentes. Um brasileiro não poderia, nunca, jamais, em tempo algum, vencer a maratona olímpica.
Mas era isso que estava acontecendo. Desde o quilômetro 20, mais ou menos, Vanderlei Cordeiro de Lima havia tomado a liderança da prova do sul-africano Hendrick Ramaala, que, por sua vez, havia escapado do primeiro pelotão pouco depois do quilômetro 10.
Ao contrário do que acontecera com o rival, porém, o brasileiro seguia abrindo distância, mesmo depois de dez quilômetros correndo sozinho. Passou meia hora, passaram 40 minutos, e nada de o pelotão chegar. Na passagem do km 35, cerca de 45 minutos depois de sua arrancada, Vanderlei mantinha uma vantagem de 28 segundos sobre os perseguidores mais próximos.
Então deu-se o inacreditável. Por volta do km 36, acontece o ataque. As câmeras que transmitem a maratona não pegam o início da cena. Mas todos percebemos que algo muito errado está acontecendo porque vemos, com o olho da câmera, os olhos de Vanderlei.
O paranaense de Cruzeiro do Oeste, então com 35 anos, arregala os olhos fundos no rosto magro e tenta mudar o curso de sua trajetória de corrida, dá uma espécie de drible para a sua direita, uma ginga de corpo. Que raios acontece?, mal temos tempo de perguntar, enquanto as câmeras se perdem, e logo a cena muda: Vanderlei está caído entre público que acompanha a prova, e um sujeito grandalhão, barbudo, sai em seu socorro, tentando livrar o brasileiro de um atacante que ainda não conseguimos reconhecer.
Vestido com camiseta azul, bermuda e mocassim, ele alcança e empurra o agressor muito antes de um guarda que acompanhava a prova tivesse alguma reação. Vanderlei escapa da confusão e, mesmo meio atordoado, consegue ficar de pé, voltar para o asfalto e seguir sua corrida. O atleta parece não entender o ocorrido: para as câmeras que o acompanham, move a cabeça, abre os braços, como a dizer “O que foi isso?”.
No asfalto, o agressor está finalmente subjugado e não se livra de levar uns catiripapos da multidão furiosa e indignada. A polícia chega e recolhe o sujeito, que vestia um kilt (tipo de saiote para homens), barrete e meiões verdes. No colete, o homem grudara um cartaz em que dizia: “O padre do Grand Prix. A Bíblia diz que Israel cumprirá a profecia. A segunda vinda está próxima”.
Era Cornelius Horan, um ex-padre irlandês conhecido por ter invadido, no ano anterior, a pista do Grande Prêmio da Inglaterra, em Silverstone, também levando uma mensagem religiosa. Na ocasião, fora condenado a dois meses de prisão. Mas, pelo jeito, não aprendeu: diante de um tribunal em Atenas, depois da maratona, disse que esperava ser perdoado “no Juízo Final”.
Crendices à parte, Vanderlei seguiu tentando manter o equilíbrio. Mas a queda, o estresse e os segundos perdidos na confusão aos poucos cobraram juros. O brasileiro acabou alcançado pelos seus perseguidores, agora reduzidos ao italiano Stefano Baldini e Meb Keflezighi, que conseguem superar Vanderlei quando faltam, cerca de três quilômetros para o final.
Mesmo assim, o brasileiro não desiste. Entra no estádio Panathinaikos, palco na primeira edição dos Jogos Olímpicos de nossa era, sob os aplausos da multidão. Rosto pleno de alegria, o ex-bóia-fria manda beijos para a multidão, enquanto cruza a linha para conquistar o bronze mais dourado da história olímpica.
Num show de empolgação –e demonstração de resistência—faz aviãozinho na pista depois de completar a prova, que fechou em 2h12min11, um minuto e 16 segundos depois de Baldini ter se sagrado campeão da primeira maratona olímpica deste século.
Vanderlei é ovacionado, enquanto o Comitê Olímpico Brasileiro prepara moção de protesto e reivindica o ouro para o brasileiro –seria uma segunda medalha de vitória, sem tirar a do italiano.
O pedido é negado, mas o Comitê Olímpico Internacional oferece um prêmio talvez ainda maior. Dá a Vanderlei a medalha Barão Pierre de Coubertin, em reconhecimento pelo seu espírito esportivo –até então, apenas quatro atletas haviam recebido a comenda, um deles o maratonista tcheco Emil Zatopek.
Dez anos depois, na manhã do último dia 28 de julho, converso com Vanderlei por telefone. Ele tinha chegado havia pouco a Maringá, onde vive com a família. Havia estado por alguns dias no sítio que tem em sua cidade natal, Cruzeiro do Oeste.
Talvez ainda descansado pelos dias de pescaria e trabalho na terra, o maratonista mantém o espírito esportivo e a tranquilidade que o caracterizam. “Ih, rapaz, é mesmo, já foram dez anos, nem parece que passou tanto tempo. A velocidade do tempo é cruel”.
Mas a lembrança é boa, alegre: “O que vem na memória é a corrida, a conquista. De Atenas só tenho boas recordações.”
O jornalista, cético, não acredita. Vanderlei, pergunto eu, não sobra nem uma raiva do padre? O maratonista não cai na provocação, responde quase a mesma coisa que falou há dez anos, em Atenas: “Foi um incidente, claro que não fazia parte do decorrer da prova, foi um episódio externo. Mesmo diante daquela situação, ainda me superando e enfrentando a dificuldade da corrida, sempre naquela busca constante, ainda conseguimos um grande objetivo. Então vejo dessa forma: a minha conquista da medalha de bronze é muito mais significativa do que a lamentação por não ter ganhado a medalha de ouro devido ao incidente. Essa superação, acreditar que era possível, é muito mais um retorno positivo”.
Claro, o mundo homenageou Vanderlei. Mas ele não teve o gostinho da vitória. Naquele mesmo 29 de agosto de 2004, pelos dias que se seguiram e, aposto, a cada vez que a história é lembrada, debatedores mergulham em cálculos. Vanderlei vinha com X segundos de vantagem, os perseguidores tinham conseguido diminuir a vantagem em Y segundos, faltavam Z quilômetros para final, o brasileiro seria alcançado, o brasileiro não seria alcançado…
Deixemos que o brasileiro em questão diga o que pensa, fale dos seus cálculos. Para responder, Vanderlei mais parece um diplomata, cheio de talvezes e veja-bens. Lembro que os perseguidores vinham se aproximando e pergunto se ele acredita que, de qualquer forma, seria campeão.
A resposta começa com um “veja bem”. Então vejamos o que diz Vanderlei: “Aconteceu o incidente. Acabei voltando para a prova. É claro que você não se recupera assim instantaneamente para retomar a prova. Na verdade, eu me superei ali para me manter na prova. Mas jamais iria voltar a correr no ritmo em que estava antes”.
O que não aliviou de imediato as coisas para seus perseguidores: “Mesmo diante de todos os problemas que eu enfrentei depois do incidente, os caras demoraram dez minutos para me ultrapassar, me ultrapassaram no km 39”.
A quem ouve Vanderlei falar, a impressão que dá é que o atleta confia que seria o campeão. Ele, porém, nunca cedeu aos convites para a fanfarronada, nem no calor do pós-prova nem na distância de dez anos depois:
“Em condições normais, com a diferença que eu tinha, é difícil apontar para você, falar que a vitória era minha, com certeza. Eu não vou ser tão imprudente quanto foi o Baldini, quando deu uma entrevista. O repórter perguntou se ele tinha plena certeza de que seria o campeão, e a resposta dele foi que, independentemente de qualquer coisa que tivesse ocorrido na prova, ele seria o campeão de qualquer forma. Eu jamais, numa resposta à sua pergunta, vou subestimar os meus adversários. Eu teria tudo, pela minha sensibilidade, para ganhar a medalha de ouro se nada tivesse acontecido. Mas eu não posso afirmar, seria imprudente dizer que eu seria o vencedor de qualquer forma. Teria todas as possibilidades de chegar à medalha de ouro. O que aconteceu foi um fator externo que acabou tirando essa grande chance.”
Chances que não surgiram do acaso. Ao longo da década anterior, Vanderlei e seu técnico, Ricardo D`Angelo, haviam programado sua carreira, planejado os passos, construído avanços. O brasileiro, quando chegou a Atenas, era muito maior que a força, a resistência e a velocidade que suas pernas podiam dar ao corpo pequeno, apenas 55 quilos distribuídos em 1,64 m de altura.
“Para você se preparar para uma Olimpíada ou para qualquer prova que você vai competir, não importa apenas estar bem fisicamente. Acho que a força mental do atleta, do atleta individual, é importantíssima. Não só para romper as barreiras que vai encontrar durante uma corrida, mas para lidar com fatos que possam surgir ao longo da prova. Ninguém vai ser um campeão, um recordista mundial, só fisicamente. A cabeça faz parte do todo esse conjunto. Temos vários e vários atletas que têm potencial, mas não têm cabeça para direcionar sua carreira, direcionar seu treinamento, direcionar uma prova. Então muitas vezes num erro de uma tática em uma prova ele acaba perdendo a prova ou talvez a oportunidade da vida dele.”
Ele revela que a preparação para Atenas fechou um ciclo de 12 anos: “Fizemos todo um planejamento, usando todo o conhecimento que tínhamos da prova, do clima e dos nossos adversários. Eu estava muito preparado para essa prova, não só fisicamente, mas mentalmente também. Isso me deu uma condição diferenciada para vivenciar a volta para a prova depois do episódio e para conduzir o fato pós-corrida, que eu acho que foi a maior grandeza e maior demonstração de força, não só física, mas também demonstração dos valores do esporte”.
Foi longe aquele menino mirrado, que acompanhava os pais no roçado e catava mamoma para conseguir um dinheirinho extra e comprar doces que os pais não podiam lhe dar.
Vanderlei é o sétimo filho de seu Zé Pequeno (José Cordeiro de Lima) e dona Aurora, um casala de retirantes que nos anos 1960 se instalou no Paraná, fugindo da seca que castigava o nordeste. Nasceu no dia 4 de julho de 1969 em Cruzeiro do Oeste, interior do Estado do Paraná –o registro oficial carimba a data como 11 de agosto.
Ainda menino, com seis anos, mudou-se com a família para Tapira, uma cidade próxima, onde os pais trabalhavam como boia-fria. Muito cedo, a partir dos oito anos, Vanderlei começou a criar calos nas mãos empunhando a enxada:
“Na parte da manhã eu estudava. Quando chegava em casa, ia levar a comida para meu pai e já ficava ajudando. Meu pai sempre incentivava, dizia assim: vamos brincar um pouquinho, pega uma enxadinha ali, vai catando uma mamona ali no chão… Era aquilo, sempre tinha uma coisa para fazer. E meu pai sempre plantava, assim, um pedacinho de roça, quando arranjava espaço na terra dos outros. A gente sempre plantava mamona. Plantava feijão. Eu catava mamona debaixo dos pés. Se quisesse comprar um doce ia na roça, catava dois, três quilos de mamona, vendia para às vezes comprar um docinho, alguma coisinha assim pequena…”
Foi na escola que descobriu o jeito para o esporte.
“Um menino que vive numa pequena cidade no interior do Brasil não tem muitas perspectivas. Quando comecei a praticar esporte na escola, nos Jogos Escolares, era assim uma forma de brincadeira. E a visão minha era a de que o esporte poderia me proporcionar uma condição diferente para eu poder viajar. Esse sempre foi meu grande propósito, começar a correr para poder viajar. Nesse momento não me passava muita coisa pela cabeça, eu nem conhecia o atletismo direito. Na verdade, o meu objetivo primeiro era realmente me locomover.”
E olha que o cara conseguiu se locomover como ninguém. Fez as tais corridinhas na escola e logo passou a representar a escola Estadual Presidente Castelo Branco em Jogos Escolares, primeiro na cidade, depois nos Jogos Regionais e assim foi, como ele mesmo conta:
“Depois dessa fase de Jogos Escolares, passei a treinar com um amigo, meio sem noção. Nos fins de semana, ia com ele participar de corridas. Comecei a me destacar na região. Mesmo sendo juvenil, chegava entre os primeiros entre os adultos. Em 1987, aos 18 anos, fui para Maringá, que é a cidade onde eu resido hoje. Passei a ser federado pela Associação Atlética Ingá, e pude disputar o campeonato paranaense de atletismo. Comecei a me destacar, ganhar prova de 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m, e batendo recordes. Em 1988, recebi um convite da Eletropaulo para vir para São Paulo.”
A vida mudou. Ele passava a ser um atleta, vivia do que ganhava para correr. O que não significa que fosse uma vida fácil.
“Eu morava lá no Largo do Socorro (zona sul de São Paulo), num alojamento no ginásio de esportes da Eletropaulo. Saía de lá às cinco e meia, horas da manhã, vinha muitas vezes pendurado nos ônibus. Naquela época os ônibus andavam de porta aberta, era muita gente nos ônibus, a gente andava pendurado pelo lado de fora. Vinha cedo para o Ibirapuera para treinar.”
Quando chegava a hora do almoço, tinha de fazer mais exercício: “Às 11h a gente saía, ia até o Cambuci, caminhando, para almoçar no restaurante da Eletropaulo. Depois voltava para o Ibirapuera, descansava um pouco, começava a treinar às 15h30. Aí quando dava cinco e meia, seis horas, voltava para o Largo do Socorro”.
Chegava ao alojamento mais ou menos na hora em que uma perua da empresa levava a comida para os atletas: uma marmita para o jantar e um saquinho com um pão e uma caixinha de leite que seriam usados no café da manhã.
Estava valendo a pena: no mesmo ano em que saiu de Maringá iniciou sua trajetória internacional. “Tive de participar de um campeonato brasileiro, eu já peguei a seleção brasileira de atletismo, fui escolhido para disputar o Mundial de atleta. Imagina, eu, havia dois três anos estava na roça, naquele mundinho pequeno, e agora iria fazer minha primeira viagem internacional. Consegui me classificar, ser escolhido para a seleção Brasileira para disputar o Mundial de atletismo júnior no Canadá. Foi em Sudbury, em 1988, fui disputar os 10.000 m e os 20 km de estrada.”
Não conseguiu nada no Mundial, mas se destacou em uma competição prévia. “Uma semana antes, fomos disputar um torneio nos Estados Unidos. Cheguei entre os três primeiros, fui um dos atletas que se destacaram. Aí vai crescendo uma expectativa de que realmente a vida possa ser diferente. A partir desse momento que eu comecei a sonhar.”
Os sonhos foram construídos no asfalto, virando realidade a cada passo. Depois de dois anos na Eletropaulo, Vanderlei passou para a Funilense (antecessora do Clube de Atletismo BMFBovespa). Em 1992, na nova equipe, conquistou o quarto lugar na São Silvestre e ganhou projeção no exterior.
Naquele ano mesmo, já passaram por uma temporada nos Estados Unidos. No ano seguinte, pegou pódio em uma meia maratona no Japão. Em 94, fez uma temporada na Europa e veio o convite para um trabalho extra: ser coelho na maratona de Reims, na França.
“Eu já estava no final da temporada, meio cansado, correndo provas de dez milhas, meia maratona, 10 km. Não tinha nada a perder e ainda ia ganhar um dinheiro”, lembra ele, que voltaria para o Brasil na semana seguinte.
Chovia muito, e ele tinha a responsabilidade de dar o ritmo para o primeiro pelotão até a metade. “Aí deu vontade de correr. Resolvi correr até os 25, mas daí estava indo bem, decidi ir até os 30, pensando em abandonar ali com o outro coelho, pegar o carro que nos esperava e ir embora.”
Que nada! O atleta que ele estava puxando começou a perder o ritmo, foi ficando para trás. “Eu me empolguei. Acabei indo até o final e ganhei a prova, fiz 2h11min06. Mas sem nada planejado”, lembra Vanderlei.
A partir daí, as maratonas passaram a ser o foco da carreira de Vanderlei. Em 1996, fez o que lembra como prova mais emocionante –sem contar o bronze de Atenas, é claro.
“Eu nem estava posicionado como favorito, acabei surpreendendo todo mundo. A maratona foi disputada até os últimos metros. Nos últimos cem metros, houve o sprint final entre eu o Antonio Pinto, de Portugal, que tinha ganhado em Londres, tinha feito uma ótima marca lá… Nós dois, nos últimos cem metros, peito a peito ali, ninguém sabia quem ia ganhar. Naquele dia eu fiz duas horas, oito minutos e 38 s, e ele também fez 2h08min38, o relógio cravou o mesmo tempo dos dois, a diferença foi de milésimos. São boas lembranças, pela garra e determinação que eu tive ali no final para brigar pela conquista. Foi algo muito emocionante. É até gostoso de lembrar e ficar pensando como foi aquele momento. Muito gratificante.”
Em contrapartida, até hoje lamenta a dor que o levou a abandonar a maratona do Pan-2007, no Rio de Janeiro. “Era o grande momento, queria buscar o tricampeonato dos Jogos, eu já era bicampeão do Pan… Infelizmente, devido a uma lesão, acabei abandonando a prova no quilômetro 37. E eu estava entre os primeiros. Mesmo assim, não foi nada que estivesse ao meu alcance. Foi algo que estava além de meu poder.”
Quando as coisas estão dentro do alcance, porém, ele vai atrás, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, como fez no asfalto fervente de Atenas. Chega a fazer filosofia: “Ao longo da minha vida, as vitórias foram importantes, mas o aprendizado com a derrota é algo que você não esquece e que te fortalece a cada passo”. E completa: “Eu não fui um atleta grande vitorioso. Eu fui um atleta que me superei. Eu não nasci atleta, eu me fiz atleta”.