Garoto da Eritreia é o mais jovem campeão mundial da maratona na história
24/08/15 11:00O adolescente Ghirmay Ghebreslassie, de 19 anos, tornou-se na manhã do último sábado na China (sexta á noite no Brasil) o mais jovem campeão mundial da maratona. Não só: o garoto da Eritreia, que completa 20 anos em novembro próximo, é o mais jovem medalhista de ouro competições de rua na história do Mundial.
A juventude não é só dele: seu próprio país mal passa dos 20 anos: a independência da Eritreia aconteceu apenas em 1993.
No final da sabatina, porém, Ghebreslassie não queria saber desse tipo de conversa: “Não consigo explicar o que estou sentindo, eu estou muito muito feliz. Todo mundo fica me perguntando sobre a minha idade, dizendo que sou muito jovem, mas isso não importa, eu estou muito orgulhoso dessa vitória”.
Conquista que ele tomou com autoridade de um experiente campeão, homenageando sua pátria e mandando recados para o mundo. Ao entrar no túnel que lhe daria acesso à pista de atletismo do Ninho de Pássaro, olha para um lado e outro, gesticulava. Na saída, os que assistíamos ao evento percebemos o que ele buscava: alguém que devia lhe entregar a bandeira do país.
Com a flâmula na mão, ganhou a pista sozinho, no estádio ainda longe de estar cheio, e cruzou a linha de chegada em 2h12min07. Depois, festejou ainda com o etíope Yemane Tsegay e com Munyo Solomon Mutai, de Uganda –de mãos dadas, os três embandeirados correram pela pista saudando o público.
O jovem da Eritreia ainda teve pique para mostrar ao povo uma folha de papel onde estavam rabiscados os dizeres: “Nunca desistir até cruzar a linha[de chegada]”.
Foi esse o espírito que o norteou ao longo da competição, em que Quênia apareceu com uma equipe de sonhos: Dennis Kimetto, recordista mundial da prova, e seu antecessor, Wilson Kipsang; Mark Korir, conhecido dos brasileiros, completava o time.
A Etiópia não ficava atrás: Tsegay tem recorde pessoal de menos de 2h04min48. E Uganda vinha com o campeão olímpico e, agora, ex-campeão mundial da maratona, Stephen Kiprotich.
O jovem Ghebreslassie –o nome fez com que comentaristas de TV o tomassem por parente do grande corredor etíope Haile Gebrselassie, que obviamente, não tem nada a ver–, pelo retrospecto, não tinha a menor chance contra esses monstros da maratona internacional. Mas ser desconsiderado não era novidade para ele.
“Quando comecei, meu treinador achava que eu não tinha talento para a corrida. Ele só passou a acreditar em mim depois dos 11 anos. Mesmo assim, minha vitória de hoje vai ser uma surpresa para eles”, disse o garoto depois da prova.
Para eles e para todos os que acompanham o atletismo. A prova começou lentíssima, com um enorme pelotão correndo junto. Tanto que, na passagem do quilômetro cinco, o líder era um anônimo corredor de camisa amarela –um dos milhares de participantes da prova de 10 km que largou junto com a maratona. Sua marca, naquele ponto, foi de pedestres 16min06.
Até o km 15, o medo do calor parecia dominar os atletas, que seguiam embolados. O brasileiro Solonei Silva apareceu várias vezes no grupo da frente, que passou a meia maratona em 1h06min55 –não me lembro de nenhuma maratona internacional do grupo das grandes com passagem tão lerda nos último anos.
Mesmo assim, ninguém dos famosos parecia disposto a tomar a frente –Kimetto abandonou pouco depois da metade da corrida. Tanto que, na passagem do km 30 quem assumia a liderança e passava a abrir bem em relação ao pelotão perseguidor era um dedicado corredor do Lesoto. Tsepo Ramonene nem sequer levava o nome no número de peito –724–, mas deu um calor no grupo.
Ghebreslassie resolveu dar um gás, seguido por Tsegay –mais rápido e experiente, ficou cozinhando o galo. O eritreu tomou a liderança depois do km 35, levou o troco do etíope no 38, mas devolveu cerca de um quilômetro depois. Aí foi pau puro até quando chegaram perto do km 42, quando Tsegay passou a lutar para não ser ultrapassado por seu perseguidor. A liderança do eritreu estava assegurada.
Apesar das breves aparições de Solonei na primeira parte da prova, a participação dos brasileiros não foi boa. O ex-gari de Penápolis terminou em 18º lugar, com 2h19min20, muito pouco para quem tem 2h11min32 como recorde pessoal (mas até aí morreu o Neves, pois o tempo de Tsegay também foi uma porcaria para quem tem 2h04min48). Edmilson Santana e Gilberto Lopes não completaram.