Maratonistas brasileiros se aventuram nas lonjuras da Noruega
26/06/15 15:08A Noruega é um países mais bacanas que eu já visitei. Adorei caminhar pelas ruas de Bergen, andar pelos corredores do Museu da resistência em Oslo e, principalmente, participar em Tromso da Maratona do Sol da Meia Noite.
Quando estive lá, em 2003, tinha acabado de estourar duas hérnias na parte baixa da coluna, então nada de maratona para mim. Eleonora e eu fizemos a corrida familiar, ambos vestindo a camiseta do Grêmio.
Pois agora meu amigo, dedicado leitor e globe trotter por vocação CARLYLE VILARINHO me conta que participou da tal corrida em Tromso, que fica acima do Círculo Polar. Não só ele: outros cinco brasileiros também se aventuraram pelas lonjuras norueguesas.
Não tive dúvidas em pedir um relato da prova ao CARLYLE, que não só gentilmente concordou como fez algumas honrosas citações ao meu trabalho. Me deixou num mato sem cachorro: se corto as partes do texto em que ele fala de mim, alguém vai dizer que é falsa modéstia. Se mantenho o texto original, há quem vá me chamar de cabotino.
Como eu sou casca grossa e há muito tempo decidi fazer o que eu achasse melhor em cada circunstância, mantenho o texto original do Carlyle e agradeço pelas menções.
Dito isso, paro de escrever e deixo você com o texto de nosso amigo maratonista.
“Foi no livro “Maratonando”, do Lucena, que tomei conhecimento da Maratona do Sol da Meia Noite, a “Midnight Sun Marathon Tromso” que ele correu lá em 2003. E foi também no blog do Lucena que, pela primeira vez, li sobre a Maratona da Islandia, a Ilha de fogo e gelo 26/08/2008 http://rodolfolucena.folha.blog.uol.com.br/arch2008-08-01_2008-08-31.html. Ambas me despertaram enorme curiosidade, anotei na minha lista de prioridades: maratonas que tenho que um dia correr.
Neste ano resolvi seguir os passos, as pegadas, do Guru Lucena. A Maratona do Sol da Meia Noite, em Tromso, foi agora, no último sábado, 21 de junho. A Maratona da Islandia, em Reykjavik acontecerá no proximo dia 22 de agosto.
Eu não podia correr a primeira e esperar pela segunda, dois messes depois, lá perto do polo norte. Então , optei por correr a “Midnight Sun Marathon Tromso”. E, como não sei quando poderei voltar por aquelas bandas e correr também a Maratona da Islandia, decidi usar a Islandia como uma etapa para me aclimatar ao ambiente boreal, baixa temperatura – entre 6ºC e 11ºC – dias sem fim, sempre sol, sem luas ou estrelas no verão.
Em cinco dias na Islandia corri pelas ruas de Reykjavik, corri e fiz trilhas ao longo do Golden Circle (um roteiro de aproximadamente trezentos km de natureza exuberante e paisagem única) e experimentei muito da ótima culinária local. Come-se muitíssimo bem naquela terra, confira aqui no site do Slow Food da Islandia http://slowfood.is/slow-food-guide/.
Da Islandia e de Reykjavik viajei para Trondheim, na Noruega, onde mora meu filho. Lá fiz outras corridinhas de aproximadamente oito km, algumas trilhas e então com meu filho, a Rita e a Eloise, fomos para Tromso.
Chegando a Tromso, no aeroporto local tomamos um taxi para nosso hotel – uma cabana em um camping muito bom, fora da ilha. http://www.tromsocamping.no/en/. Deixamos as malas e fomos andando para o local da retirada do kit. No caminho, no asfalto, vi uma marcação em azul e deduzi que se tratava da marcação do percurso da maratona. Ao cruzar a ponte lá estava a marcação em azul e um numero 22, deu para sentir o que me esperava no dia seguinte.
A entrega do kit é em um edifício público, de fácil acesso. O kit é basicamente o peitoral com o chip e uma sacola com um jornal da prova e outros folhetos de divulgação. Quem quiser camiseta da prova tem que comprar.
Kit na mão fomos bater perna pela cidade. E como a noite nunca chega, por volta da meia noite fomos para o alto de um monte com geleiras em degelo contemplar o “por do sol” lá de cima.
O fim da tarde início e da noite do sábado agita a ilha de Tromso. O tempo esta ótimo, perfeito para correr, sol e temperatura em torno de 7ºC. Corredores de diversa idades e países se concentram no centro da cidade.
Aléḿ da maratona, mais cedo tem uma Corrida Infantil, depois uma outra de 5km e uma outra de 10km. A largada da maratona é as 20:30h e ás 22:30 começa uma meia maratona. Uma prova não interfere na outra, é tudo muito organizado.
Antes de cada prova, em um palco, um grupo de professores de educação física comanda um aquecimento bastante animado.
Começa a maratona. Os primeiros três km são na ilha, terreno plano. Então cruzamos a ponte – uma elevação de 40 metros- e entramos no continente. Pegamos uma rua/estrada e vamos em frente, quase linha reta, com alguma discreta elevação, por sete km. Chega-se a um determinado ponto e retorna na mesma via. Ao longo do trecho famílias, crianças, nas calçadas incentivando os corredores, alguns colocam mesas com água e comidinhas.
Neste primeiro trecho me sinto muito bem. Após cruzar a ponte encontrei o pace de 4 horas, segui na cola dele por um tempo, por um km ou pouco mais. Estava tão bem que não tive paciência e acelerei o passo, passei pelo pace e fui embora. Corria entre 5:30 e 5:40, quase constante. Me bateu uma boa expectativa de completar a prova abaixo de quatro horas. Me sentia todo pimpão.
Corrido o primeiro trecho voltamos a cruzar a ponte de volta a ilha de Tromso, outra subidinha de 40 metros. Na parte da descida da ponte, quase no final da mesma, novamente vejo aquela marcação dos 22 no asfalto. Não é que eu já tivesse corrido 22 km, mas que é a distância que me falta percorrer. Sim, lá a marcação da quilometragem é em ordem decrescente. Enquanto corria me perguntei diversas vezes: marcação em ordem decrescente é melhor ou pior do que a tradicional, crescente? Não cheguei a nenhuma conclusão.
Na ilha o percurso passa pela rua debaixo da rua da chegada e vai embora, rumo ao aeroporto. A estrada vai contornando a ilha, bem próxima ao mar de um lado, com os montes cheios de neve no outro lado, no continente. Corre-se aproximadamente 2,5 km em linha quase reta e chega a um dos extremo da ilha.
Uma curva meio fechada e chega no outro lado da ilha. Aqui são mais 7,5 km, outra vez quase reto, apenas duas curvas um pouco mais significativas para quebrar a monotonia até chegar ao aeroporto. Contorna o aeroporto e faz-se todo o mesmo percurso de volta. Mais dez km para ganhar a linha de chegada. E neste trecho não tem casas, não tem crianças nem incentivadores nas calçadas.
Este segundo trecho é bem mais ondulado do que o primeiro, ao menos é a sensação que trago comigo, que me marcou. Já no km 25, ainda faltando outros 17km como me lembra a marcação, já não consigo manter o ritmo. As passadas não rendem, as panturrilhas doem, parecem encurtadas. Primeiro corro a 6:00, depois a 6:30. O pace me alcança, tento segui-lo mas não consigo. Lá se foi o sonho do sub quatro.
Os corredores da meia maratona estão espalhadas entre os maratonistas, isto é bom pois não corremos sozinhos. Se alguém corre por perto ajuda a gente ser corajoso, a não desanimar, a pensar duas vezes antes de querer andar.
No km 30 o incomodo da dor falou mais alto e no posto de abasteciemtno dei uma paradinha, e o ritmo já caiu para 7:00 e 7 alto. Agora pequenas elevações no relevo parecem grandes montanhas. . No km 35 sou vencido pela primeira vez, ando um pouco e o tempo bate em 8:40. Consigo retomar e correr na casa dos sete novamente. No km 38 outra vez dou uma parada e outra caminhada.
Enquanto ando no km 38 uma brasileira me alcança e me encoraja. Pego carona com ela, Denise Polonio, de São Paulo, e por um km ou mais consigo acompanha-la. Mas ainda que lenta ela esta mais inteira que eu, e vai embora. Chego ao km 40 e sinto que é possível completar em menos de 4:40h. Isto me anima e então não paro mais, vou firme.
Quando chega na cidade, faltando 1,5km para a chegada, entro na rua principal correndo praticamente sozinho. A medida que avanço noto a presença de pessoas nas calçadas a gritar incentivos. Ouço o chamado do meu filho e correndo faço pose para as fotos. Vou fechar em menos de 4:40h e neste momento isto é muito bom.
Cruzo a linha de chegada com 4h38min26 e recebo uma linda medalha. Mais uma maratona completada. Mais uma vez meu filho me esperando na chegada de uma maratona.
É uma 1:10h da manhã, o sol esta alto, a temperatura na casa de 7ºC. Pegamos um taxi e voltamos para casa com mais um sonho realizado.
A prova foi vencida pelo queniano Antony Mugo em 2:26:14h, seguido pelo autraliano Grant Schmidlechner, com 2:39:14h. Oitocentos e sessenta e seis maratonistas completaram a prova, seis deles brasileiros.
Antes de escrever este texto li no blog que o Velho Guru Lucena também terminou sua maratona da meia noite, mas desta vez, neste fim de semana, lá no Alasca. Gostei do relato, já esta na nova lista de desejo. Parabéns, meu Guru.”
OBSERVAÇÃO: Agora sou eu escrevendo de novo. Se você não leu o relato da prova no Alasca, confira lá no meu blog de corredor aposentado. BASTA CLICAR AQUI