Algumas dicas para quem vai estrear na maratona de São Paulo
13/05/15 11:36Parabéns a você, corredor que resolveu fazer sua estreia no mundo das maratonas correndo a prova de São Paulo, que acontece neste domingo (17.5).
Não tenho a menor ideia das razões que o levaram a fazer essa escolha, mas pode crer que você tem a minha admiração: trata-se de uma prova de percurso difícil e pouco inspirador; só os fortes de espírito passam incólumes pelos sofrimentos que ela apresenta.
Com certeza, isso não o assusta. O que não significa que, a poucos dias da largada, você não esteja um tanto nervoso. Pensa se treinou direito, duvida que aquele último longão tenha sido suficiente para dar a preparação final, fica na incerta em relação à quantidade de água que deve beber e outras coisas mais.
Bueno, vou tentar ajudar oferecendo alguns pitacos sobre o que fazer nesses dias que antecedem a prova e como enfrentar o rigoroso percurso da maratona de São Paulo, que chega à sua 21ª edição.
Como você sabe, não sou médico nem treinador nem preparador físico nem especialista em coisa nenhuma. Mas já tenho uma certa experiência na arte de correr maratonas, entrevistei muitos especialistas e corredores profissionais, troquei ideias com outros tantos amadores.
Enfim, o que escrevo a seguir é resultado desse cadinho de cultura; não é verdade absoluta, mas o que serviu para mim ou o que eu observei que serviu para outros.
Primeira coisa: trata de se acalmar. O que foi treinado está treinado, não há mais tempo para mudar, melhorar, ajeitar, dar uma guaribada. Você fez o melhor que lhe foi possível, está tudo muito bem. Não vou dizer para relaxar, porque ninguém relaxa nessas horas, mas tente descansar.
Comer e dormir é o melhor que você tem a fazer nesses dias. Dê preferência a massas com molhos leves (ao suco, aquele coisa), diminua um pouco as proteínas, tente controlar as gorduras. E vá dormir cedo, mesmo que não tenha sono. Descanse, alongue, pense na morte da bezerra…
Não! Na morte da bezerra, não! Pense numa bezerrinha nascendo, aos poucos se erguendo e saindo a trotar e comer grama pelos campos rechonchudos do Rio Grande do Sul!!! Planeje como você vai festejar sua chegada, aquela coisa… Quando você menos esperar, o sono chega.
Eu gosto de dar umas trotadas na semana da prova, uma duas vezes, com intervalos de um dia entre uma soltada e outra, coisa de 40 minutos, uma horinha de cada vez.
Mas é bom escolher um terreno plano e sem muitos obstáculos: não vá me torcer o pé nessa hora!!
Também gosto de aumentar a ingesta de líquidos, passo a uns três litros de água e chá por dia; nada de refrigerante e álcool.Também tento dar uma maneirada no café.
No sábado, separe a roupa com que vai correr, deixe o tênis arrumado, aquela meia velha acertadinha. Eu gosto de já na véspera pendurar o número no peito da camiseta; às vezes, dependendo do tipo de chip, também já o deixo preso no tênis. Enfim, quanto menos coisa para pensar na manhã da corrida, melhor.
No dia da prova, eu costumo acordar umas duas horas antes da largada, dependendo de como vai ser o transporte até o local da corrida.
Para o café da manhã, repito o que tenho feito antes dos meus treinos longos. Como uma banana amassada misturada com granola e aveia; bebo chá. Outra opção são duas fatias de pão, uma com queijo cottage, outra com queijo cottage e mel. Nutricionistas não gostam que se coma pão integral ou coisa com muita fibra na véspera e no dia da corrida, mas eu prefiro pão integral.
Vou ao banheiro não sei quantas vezes antes de sair de casa ou do hotel –sempre dá um nervoso antes de uma prova importante, e é melhor aproveitar o conforto e a limpeza do lar, pois os banheiros químicos são uma nojeira.
Ao sair , levo uma fatia de pão seco ou uma banana extra ou uma barrinha de cereal. Na minha pochete, carrego o celular e meia dúzia de sachês de carboidrato; no bolsinho de trás do calção, algum dinheiro. Pronto.
Para a maratona de São Paulo, o melhor é ir de metrô. Dificilmente você vai levar mais de 40 minutos, mas é bom conferir antes. É melhor descer na estação Brigadeiro da linha verde e fazer a pé o caminho em descida da avenida Paulista até o Ibirapuera, onde será a largada.
Quem cumprir todos esses rituais sem pressa vai acabar chegar ao ponto da largada uns 15 minutos antes de a corneta soar. É bom. Dá tempo de encontrar seu brete e não há muito tempo para voltara ficar nervoso.
Eu não gosto de participar das famigeradas sessões coletivas de alongamento; prefiro mexer o corpo numa boa, sem muito espicha e puxa. Afinal aquele quilômetro e pouco de caminhada lomba abaixo já foi um aquecimento bem razoável.
Largada!!!
Agora é só você e o asfalto. E não se preocupe, a maratona não tem 42.195 metros, isso é pura invenção de quem gosta de assustar os outros ou impressionar os incautos, aparecer como atleta no meio de um monte de sedentários.
De fato, veja bem.
Os primeiros cinco quilômetros você nem vai sentir, pois o corpo estará se acostumando ao asfalto, tentando entender o que está acontecendo, entrando no ritmo; os cinco quilômetros finais também mal serão percebidos, tão alto o nível da adrenalina no corpo, a ansiedade e a esperança dominando os músculos; e lá pelo meio há uns cinco quilômetros tão difíceis e doloridos que a gente nem quer lembrar que existem.
Vai daí que a maratona tem apenas 27 quilômetros, coisa que qualquer um faz todo o dia e não precisa se assustar. Ah, tem aqueles 195 metros, mas pode crer que eles não são o que mata a gente, como alguns brincalhões gostam de dizer; quando você chegar até eles, estará que é só sorrisos, então largue mão de pensar em micharia.
Bueno, o percurso da maratona de São Paulo é broca, como dizem os paulistanos. Não deixe de beber água em todos os postos de hidratação, mesmo que sejam uns três ou quatro goles de cada vez e faça sua reposição de energia como estiver acostumado –atualmente, estou fazendo a cada 40 minutos, mais ou menos.
Quanto ao trajeto, é quase todo plano. Você só precisa lembrar de uma coisa: a prova vai começar pouco depois do quilômetro 39. É quando os corredores entram no último túnel e tomam aquele choque de sombra e frio, fazem uma descida e sobem uma rampinha que, para alguns parece uma montanha.
Mais que seus músculos, seu espírito precisa estar preparado para essas mudanças em horário tão tardio da corrida. O que eu gosto de fazer, em condições semelhantes, é meter as caras na bagunça já pensando na saída.
Então, quando entrar no túnel, não dê muita bola para o sofrimento que vem. Pense na redenção: na saída, a subida rumo à avenida que leva até a chegada. Para mim, aliás, essa é uma das grandes lembranças da maratona de São Paulo.
Não, eu nunca fiz essa prova, mas assisti pela TV sempre que me foi possível. Em 1998, as câmeras perderam o sinal quando os ponteiros entraram no túnel. Na escuridão, não se percebia quem eram quem; sabíamos, porém, que dois quenianos tinham entrado na frente.
Eram perseguidos pelo gaúcho Diamantino dos Santos, que vinha de camiseta vermelha. E foi aquela camiseta a primeira coisa que se viu quando a imagem passou a outra boca do túnel, a da saída. Comecei a gritar, no conforto de meu quarto. Um brasileiro iria ganhar a maratona de São Paulo!!
A perseguição foi duríssima, a gente sempre achando que o queniano iria pegar Diamantino. Que nada! Gaudério dos pampas, o Gaúcho segurou a posição e se mandou para a vitória.
É assim que vai ser com você. O adversário não será um queniano, muito provavelmente, mas terá o tamanho de um monstro de asfalto de mais de 40 quilômetros. Estará prestes a cair. Basta mais um empurrãozinho.
Ande, vá! E chegue para se transformar em maratonista.
Talvez você não perceba na hora, mas fique certo: sua vida vai mudar.
Rodolfo, SENSACIONAL! parabéns pelo artigo, ajudou muito, principalmente na preparação da mente.
Abraço.