Piaba à moda dos pescadores do rio Paraná é comida especial para corredor
06/04/15 17:41Ai, ai, ai, já estou vendo algum ou alguma nutricionista vir com quatro pedras na mão contra mim. Alto lá, amigos, não pretendo açambarcar vosso trabalho. Acontece que, dia desses, comi um peixe que era um deus-nos-acuda, coisa boa demais, e considero minha missão compartilhar tal prazer com o leitorado deste blog.
Além do mais, de fato peixe é bom para corredor, como faz bem para todos nós. Reportagem publicada pela “Zero Hora” nota que o consumo de pescado “está relacionado a menores níveis de colesterol ruim, aumento do colesterol bom, beneficiando diretamente a saúde do coração. Além disso, há amplos estudos que indicam que os peixes ajudam a evitar enfermidades como a asma, a artrite reumatoide e as doenças inflamatórias intestinais”.
Se não bastasse isso, especialistas afirmam que “os peixes fornecem uma proteína de excelente valor biológico, de fácil digestão e, ao contrário das outras carnes, não são ricos em gorduras saturadas e possuem menos calorias, podendo auxiliar na perda de peso”.
Para mim, porém, o que importa é que peixe é ótimo. Gosto de bacalhau fresco ou salgado, sardinha, arenque, pacu, tainha, curumbatá, tambaqui, salmão, filé de bagre, congrio, asa de anjo, arraia ensopada, o que vier pela frente. E tem mais: o pescado dá um ótimo assado, com o perdão da rima rica. Há que prepara-lo com esmero, carinho e atenção.
Foi assim que um punhado de aventureiros que vive do que tira do rio Paraná, no nordestão da Argentina, quase lá na Tríplice Fronteira, preparou um trio de piabas da maior qualidade, coisa supimpa, grelhada com engenho e arte, tempero e carvão.
Comi até me esbaldar, lambi os beiços e pedi mais. Por satisfeito que estava, me lembrei de você, que também precisa das valorosas proteínas, e vi por bem trazer-lhe aqui a receita da piaba escalada à moda dos pescadores das barrancas do rio Paraná.
Dê só uma olhada no resultado, atente para a beleza do conjunto, imagine o sabor celestial desse assado campeiro e depois passe a estudar a receita.
Começa com a preparação do braseiro, que você faz como achar melhor. No caso, o cozinheiro preparou uma grelha baixa, colocou bastante lenha, tascou fogo e deixou virara carvão.
Enquanto o carvão aquece, há que limpar e temperar o peixe. Nós outros, cá na cidade, não precisamos disso, pois o pescado, mesmo inteiro, já vem pronto do supermercado. Mas aquelas três piabas haviam sido caçadas de manhãzinha.
Corta-se a cabeça, abre-se o bicho com um corte longitudinal pela barriga, do “pescoço” à cauda, e tiram-se as entranhas, lavando tudo muito bem. Então abre-se o peixe, que fica como se fosse uma borboleta, com “asas” unidas pela espinha dorsal (não me venha algum entomólogo dizer que borboleta não tem espinha; todo mundo entendeu muito bem a imagem e o que estou querendo dizer).
Ainda cruzito, tempera-se o peixe com sal, limão e alho bem picadinho, espalhando bem, com carinho e cuidado, para cobrir toda a área de carne branca.
A essa altura, se você fez tudo direito e com calma, o carvão já deve estar bem quente, que é o que a gente precisa.
Levamos então o peixe à grelha, com a carne virada para as brasas, por um zás-trás, apenas o suficiente para dar uma selada na carne, para que o tempero fique firme. Isso é coisa de um minuto ou dois, dependendo da temperatura, e é preciso atenção para que as carnes não se grudem à grelha.
Vira-se então a piaba, deitando-a na grelha “de costas”, com a pele escamada voltada para o calor. Enquanto ela assa, preparamos o tempero do chef, o segredo do cozinheiro: o molho que vai cobrir as partes carnudas do pescado.
Vai tomate, cebola e abobrinha, tudo cortado em fatias finas e temperado a gosto, com uma boa pimentinha e mais um pouco de sal –mas vá com calma no sal, pois o peixe já levou uma primeira remessa desse tempero quando ainda estava cru. Os ingredientes do tempero são cozidos em sua própria água, formando um caldo em que aparecem os pedaços dos pertences.
Daí novamente espalha-se com carinho e gentileza pelo corpo carnudo. E espera-se o cozimento, coisa de mais 20 minutos, se tanto.
Quando estiver quase pronto para servir, polvilha-se tudo com queijo ralado grosseiramente. A gente não tinha queijo ralado, apenas um queijão que foi cortado em generosas fatias e estas distribuídas sobre o trio de piabas.
Cada um dos comensais pode se ajoelhar para comer, render graças ao churrasqueiro, ao pescador, às brasas e aos temperos e se empapuçar, acompanhando o pescado com pão assado ou batatas cozidas, arroz ou outra cosita qualquer.
De sobremesa, moranga cozida inteira na água, que já é doce que é uma beleza. Se desejar, polvilhe com açúcar ou labuze com um pouco de leite, é puro deleite (desculpe aí, não resisti).
Daí, pronto, vá dormir. Corrida, agora, só no dia seguinte.