Mulheres correm contra a violência, por igualdade e justiça
10/03/15 06:40A cada vinte segundos, uma mulher é espancada no Brasil; uma mulher é assassinada a cada hora e meia; de cada cinco brasileiras, uma sofre algum tipo de violência.
Os dados da Secretaria de Política para as Mulheres são uma evidência de que, por mais que governos e instituições tenham feito, ainda há muito por fazer para que a mulher brasileira possa se sentir livre, protegida e capaz de enfrentar os ataques que sofre na rua, no trabalho e em casa.
Essa é uma das razões que levaram um grupo de blogueiras e corredoras a corrida Movimento pela Mulher , que será realizada em São Paulo no próximo domingo –as inscrições podem ser feitas até amanhã 911.3). Homens também podem participar.
Conversei com a promotora Gabriela Manssur, uma das “inventoras do projeto” –as outras são a blogueira Paula Narvaez e a poderosa do Instagram Deborah Aquino. (tem mais de 80 mil seguidores na rede social de fotografias). Elas estão juntas na foto abaixo (da esq. para a dir., Deborah, Paula e Gabriela).
Casada, três filhos, Gabriela é promotora de Justiça titular de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Ela e sua equipe tomam conta de seis mil processos em curso, número que sempre aumenta: por dia, chegam cerca de 20.
Ele me disse que corre “desde pequena”, mas, nos últimos 20 anos, aumentou sua participação em corridas de rua. No ano passado, fez sua primeira maratona.
Eis a seguir os principais trechos de nossa conversa, realizada por e-mail.
RODOLFO LUCENA – O que é a corrida Movimento Pela Mulher?
GABRIELA MANSSUR – É uma corrida que visa reunir homens e mulheres para juntos representar a luta pelo fim da violência contra a mulher, além de incentivar as mulheres a buscarem qualidade de vida por meio da corrida. Visa também reunir o maior número de pessoas em um único evento, a fim de chamar atenção dos órgãos públicos para o alto índice de violência contra mulher e a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas em prol das mulheres.
Por favor, comente o slogan da prova “Empoderamento, Igualdade e Justiça”?
A mulher precisa de apoio para sair de um ciclo de violência, ou para sair da vulnerabilidade e até mesmo para conseguir se equiparar aos homens em direitos. E esse apoio permite que a mulher denuncie uma agressão, tenha acesso ao mercado de trabalho, à educação, profissionalização, atendimento médico, acompanhamento psicológico, direito à moradia e acesso ao esporte e lazer.
Se a mulher tem esse apoio, ela se sente empoderada (independente financeiramente e emocionalmente) e não se submete a nenhum tipo de violência. Ela se fortalece e então passa a exigir em todas as esferas de sua vida (pessoal, social, profissional), igualdade de direitos em comparação com os homens. E claro, o acesso à Justiça é que vai garantir proteção a essa mulher em situação de violência e vai fazer valer os seus direitos, caso sejam violados.
E a que se refere a consigna: “Quem tem força para correr tem força para dizer não”?
Para nós, idealizadoras desse protejo, a corrida nos fortalece a cada dia. Todas nós temos históricos de circunstâncias que nos exigiram uma força muito grande para enfrentar, superar, vencer. E percebemos que a corrida nos traz essa força.
Se você corre 5 km, você consegue enfrentar um probleminha; se você corre 10 km, você consegue enfrentar um problemão, se você corre uma meia maratona, já nem aceita violência, e se você corre uma maratona….ah!!!! Aí ninguém segura, você é capaz de conquistar o mundo.
A corrida gera autoconfiança, prazer, determinação, disciplina e a certeza de que é possível conquistar um sonho, um objetivo. E a conquista da independência para as mulheres que sofrem qualquer tipo de violência (física, psicológica, material, sexual) é um sonho que pode ser alcançado.
Pelos dados sobre violência, muitas mulheres levam tempo para se rebelar ou mesmo ficam sem ação…
Sim, é verdade. Os crimes de violência contra a mulher geralmente são cometidos por pessoas que possuem laços afetivos e/ou vínculos familiares com a vítima. É muito difícil denunciar um pai, um filho, um marido, um namorado, o pai dos seus filhos.
Há também o fator medo, que interfere muito: medo de apanhar mais, de morrer, de causar tristeza nos filhos, nos pais.
A vítima se sente culpada pela violência.
Outro fator que conta muito é a sensação de impunidade: muito embora a Lei Maria da Penha esteja em pleno vigor, ainda faltam mecanismos de aplicabilidade integral, equipamentos necessários e delegacias, promotorias e varas especializadas para atender todos os casos. Não se pode atender uma vítima de estupro na mesma delegacia que se atende um tráfico ou um roubo.
Essa sensação de impunidade gera uma insegurança na vítima em procurar ajuda e elas acabam sofrendo essa violência sem pedir ajuda. E cada vez a agressão vai ficando mais e mais grave, até que o agressor venha a matá-la.
Isso sem falar na dependência financeira, na vergonha, no envolvimento emocional. Praticamente 90% dos casos denunciados não vão até o fim. Ou as vítimas desistem ou não há decisão judicial.
Mesmo assim, a mulher vem reagindo?
Sim, a mulher está procurando ajuda, denunciando, não aceitando a violência. A informação, o conhecimento da lei e o apoio dos familiares, amigos e do poder público são essenciais para que ela rompa com o ciclo da violência.
Há a necessidade de que as mulheres sejam independentes financeiramente, para que elas não se submetam a nenhuma forma de violência e a inclusão dessas mulheres no mercado de trabalho, para mim, é uma das melhores formas de fortalecê-las.
Acredito muito no trabalho com os homens agressores: eles precisam saber as consequências de seus atos e também serem inseridos numa rede de atendimento: muitos deles estão com problemas de alcoolismo ou drogas, estão desempregados, com baixa autoestima, têm a cultura muito machista e acabam agredindo as mulheres.
Nada a ver.
Foto da Gabi correndo by @fernandabalster
🙂 🙂 🙂
Eu apóio a Gabi desde sempre!
Sou presença garantida no domingo.
Tem histórico familiar de agressão, ou seja, reproduzem comportamentos dos pais. Pesquisa acerca do DNA da violência busca explicações genéticas para a violência, entre elas, a violência doméstica.