Narcotráfico mata três em Urique, e ultra Caballo Blanco é cancelada
02/03/15 13:24ueA ultramaratona Caballo Blanco, uma das mais emblemáticas corridas do planeta, realizada no território dos índios mexicanos tarahumara, foi cancelada sábado (28.2) porque a cidade-sede fora invadida por narcotraficantes, que mataram três pessoas. O ataque é mais uma evidência de que a guerra do tráfico se estende mesmo a remotas regiões rurais do país.
Os organizadores da prova (confira AQUI o site oficial) conseguiram com que todos os corredores que lá estavam voltassem em segurança para seus locais de origem. Pretendem realizar a corrida em outra data, mas, agora, estão todos ainda chocados com os acontecimentos, lembrando que a segurança vem em primeiro lugar.
Eu recebi na manhã de hoje (2.3) mensagem de Josue Stephens, que organiza a prova junto com Maria Walton, viúva de Caballo Blanco. Ele faz um relato do que foram os últimos dias na serra Tarahumara (Estado de Chihuahua, norte do México).
Publico a seguir o e-mail que Stephens mandou para mim.
“A violência da guerra dos narcotraficantes finalmente chegou a Urique. Nos 13 anos em que nossa corrida foi realizada, Urique sempre foi uma cidade pacífica, e nunca ninguém foi ameaçado [NR.: trata-se de uma cidade histórica e linda; veja AQUI o site oficial].
Neste ano, os narcotraficantes invadiram a cidade, desarmaram a polícia e executaram três pessoas na última sexta-feira.
Uma parte do percurso da prova foi mais tarde fechada pelo Exército. Houve tiroteio e explosões de granadas durante todo o dia, fora da cidade.
Muitos corredores –inclusive eu—viram explosões bem à sua frente.
O prefeito da cidade e seus assessores se esconderam, esperando a chegada do Exército, ainda que, em tese, eles mesmos devessem combater os traficantes.
Urique estava em guerra, mas nós estávamos lá para correr em paz.
As coisas ficaram ainda piores no sábado. Como organizadores, Maria Walton e eu, não poderíamos manter a corrida sabendo que a segurança dos corredores estava em risco. Então, cerca de 12 horas antes da largada, tomamos a difícil decisão de cancelar a prova.
Fizemos o anúncio público de nossa decisão e realizamos uma cerimônia pela paz, com os corredores. Pedimos que todos ficassem na cidade até a manhã seguinte, quando forças do Exército iriam escoltar a população para fora da região.
Distribuímos aos corredores suas medalhas e informamos aos tarahumara que o milho prometido não deixará de ser distribuído ao seu povo, como combinado.
Maria e eu ajudamos os corredores, que partiram na manhã seguinte. Meu filho estava comigo, e eu tinha também de cuidar dele.
Nós estamos muito tristes.
Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas gostaríamos muito de continuar transmitindo a mensagem de Micah True [Caballo Blanco], realizando a corrida que ele lançou há 13 anos.
Até agora tivemos muito pouco tempo para pensar em tudo o que aconteceu, mas esperamos que a paz volte aos cânions. O governo do México precisa fazer alguma coisa, pois a violência está ficando cada vez pior nas áreas rurais.
Pedimos a todos que dediquem suas corridas à paz no mundo.”
ATUALIZAÇÃO
AUTORIDADES LOCAIS NEGAM CANCELAMENTO
Apesar do anúncio de cancelamento feito pelos organizadores da ultramaratona Caballo Blanco, que é realizada por uma entidade privada, as autoridades locais negaram a existência de qualquer problema.
Mais: o governo do Estado de Chihuahua emitiu comunicado dizendo que a prova foi realizada. Mais tarde, novo despacho oficial deu conta de que a corrida de 80 km fora vencida pelo mexicano Ranulfo Sánchez.
O comunicado também afirma que a corrida faz parte do festival Internacional de Aventura e que participaram competidores da China, Japão, EUA, Argentina e Holanda, além de corredores mexicanos e atletas de origem da tribo rarámuri (tarahumara).
Ao que parece, as autoridades locais realizaram a competição, que foi cancelada pelos organizadores oficiais.
A guerra de informações e a tentativa de esconder o ataque dos narcotraficantes a Urique já vinha de antes, segundo registra o diário “Presente”, que traz notícia confirmando a narrativa feita na mensagem que Josue Stephens mandou para mim e que você leu acima.
A notícia afirma que dois homens (não três, como informou Stephens) foram executados, o comandante da Polícia Municipal, Ramónm Sáenz, desapareceu, e outros policiais locais foram desarmados. Na quinta, os corpos foram encontrados a cerca de 20 km da cidade; os mortos, segundo o jornal apurou, eram Israel Castillo Torres, 26, e David Israel Herrera Castillo, 29.
O jornal informa que as autoridades municipais negaram o desaparecimento do comandante da polícia e o desarme dos agentes, mas os fatos foram confirmados pela população. Testemunhas ouvidas pela reportagem do “Presente” disseram que os narco também levaram uma caminhonete e uma ambulância. Há forças do Exército na região.
Para mais detalhes, confira AQUI a íntegra da reportagem em espanhol, que mostra que já há mais tempo Urique e a região têm sido palco de ações do narcotráfico.
Na falta de mais dados, mantive no título deste texto as informações enviadas por Stephens, a quem já entrevistei várias vezes ao longo dos últimos anos.
ATENÇÃO ATENÇÃO ATENÇÃO
NOVA ATUALIZAÇÃO
Às 18h55 de hoje recebi nova mensagem de Josue Stephens, a quem tinha questionado a respeito das notícias divulgadas em sites mexicanos.
Ele disse o seguinte: “O governo local realizou uma corrida alternativa que NÂO foi a Ultra Caballo Blanco. Foi uma tentativa de disfarçar, esconder o propblema que estava acontecendo, por medo de a violância prejudicar o turismo na região. Autoridades municipais me disseram que não havia razão para cancelar a porva porque ninguém tinha sido ferido ainda. O governo tentou ocultar os fatos porque elees ganham muito dinheiro com o turismo que envolve a prova.”
A nova carta que recebi de Stephens tem muito mais detalhes, mas ele não deixou claro se eram todos para divulgação. Voltei a entyrar em contato com ele e, assim que tiver mais dados, publico tudo aqui.