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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Erro na corrida leva maratonista ao colapso, mas ela chega engatinhando

Por Rodolfo Lucena
18/02/15 11:31

Uma série de erros cometidos ao longo do percurso da maratona de Austin, Texas, no último domingo (15.2), acabou transformando a queniana Hyvon Ngetich em novo exemplo de determinação e bravura no imaginário maratonístico. Médicos e especialistas em corridas, porém, alertam que o caso não deveria servir de exemplo para ninguém, especialmente corredores amadores.

Aliás, até alguns amadores concordam: “Levar o corpo à completa exaustão não pode ser positivo”, escreveu um comentarista, voz quase solitária em meio às exclamações de “orgulho inspirador” e outras lorotas do gênero.

Vamos aos fatos. A queniana de 29 anos estava dando um banho de bola na concorrência, prestes a chegar sozinha com vantagem superior a 500 metros sobre a segunda colocada –uma queniana dez anos mais jovem que acabou se tornando a eventual campeã.

Quando faltavam 50 metros para a chegada, Ngetich desabou. Caiu ao chão, mas conseguiu ficar de quatro. O pessoal da organização e dos serviços médicos chegou oferecendo ajuda, até uma cadeira de rodas foi trazida, mas tudo ela recusou (foto Reprodução).

18  maratonista engatinha reprodução

Engatinhando lentamente, levou cerca de dez minutos para cruzar o meio quarteirão que a separava da linha de chegada. Viu a jovem compatriota Cynthia Jerop cruzar para vencer a prova em 2h54min21; quando estava prestes a completar, foi ultrapassada pela ex-terceira colocada.

Mais uma mão, mais um joelho, mais um pé; outro, mais outro, mais outro. Fim! Completou em 3h04min02, sob os gritos de entusiasmo e aplauso emocionado do público que acompanhava a corrida. O que lhe valeu até um prêmio extra…

“Você correu a corrida mais corajosa e engatinhou com bravura como eu jamais havia visto em uma maratona”, disse o diretor da prova, John Conley. “Foi uma demonstração de honra e coragem que merece se recompensada”, completou, anunciando que ela receberia, pelo terceiro lugar, os mesmos US$ 2.000 pagos à segunda colocada (o dobro, portanto, do prometido para o terceiro lugar).

O vídeo da chegada de Ngetich correu o mundo. Se você ainda não viu, pode clicar AQUI para conferir.

Claro que ela merece todos os elogios que recebeu e, de fato, sua chegada é demonstração de uma força de espírito e de uma determinação acima do que estamos acostumados a ver.

O que pouco se fala é que tudo isso foi também causado por uma série de erros da corredora ao longo do percurso.

Não encontrei nenhum texto que falasse sobre a ingestão de água ou suplementos alimentares, mas uma declaração dela já é suficiente para perceber que, no mínimo, ela é culpada de não ter ouvido os sinais de exaustão dados pelo seu corpo.

“Não lembro nada do que aconteceu nos últimos dois quilômetros”, afirmou ela. “Não sei como passei a linha de chegada”. Mas sabe por que resolveu engatinhar: “Eu podia ganhar. Olhei para trás e não vi ninguém.”

Está claro que ela falhou na hidratação ou no reabastecimento de carboidrato, pois a queniana nem correu muito para seus próprios parâmetros. Iria vencer em cerca de 2h50, um monte de tempo mais lento do que seu recorde pessoal –2h34min42 na maratona de Santiago do Chile em 2011.

Mas isso fica perdido em meio à demonstração de coragem, que lembra as cenas da chegada da primeira maratona olímpica feminina, em Los Angeles, em 1984.

E se ela não tivesse chegado? Se o desmaio ou mesmo algum problema cardíaco mais grave tivesse sido a punição pelos erros? Estaria ela, ainda assim, sendo elevada aos píncaros da glória?

Creio que não, e lembro aqui o caso bastante semelhante da brasileira Lucélia Peres, que em 2006 liderava a meia maratona do Rio com ampla vantagem. Foi quando começou a andar torto, cruzar as pernas e acabou por desabar na guia da calçada sem conseguir completar a prova.

Diversos fatores estiveram envolvidos no colapso de Peres. Entre outros, a falta de alimentação ao longo da prova.

Seu treinador, Edilberto Barros, foi transparente ao afirmar, conforme a imprensa registrou na época: “Nós tivemos um problema com o repositor [energético] e não conseguimos colocá-lo à disposição para ela ingerir na prova”.

De qualquer forma, a chegada de Ngetich se transformou –e é—em história de bravura e determinação. O que leva médicos especialistas em esporte a arrancar os cabelos, como diz a diretora médica da maratona de Cleveland, Laura Goldberg, ouvida pela imprensa norte-americana.

“Para os corredores amadores, nada justifica engatinhar até o final da corrida. Fico nervosa ao pensar em como histórias como essas são absorvidas pelo público em geral.”

Desidratação, excesso de calor e câimbras são algumas das causas possíveis para o problema vivido pela queniana, na opinião da médica.

Ela alerta que corredores amadores nunca deveriam sequer tentar seguir o exemplo da incensada Ngetich.

Caminhar ao sinal de algum problema ou mesmo parar, desistindo da prova, são as medidas sensatas e saudáveis quando o corpo começa a dar sinais de que o sofrimento está sendo grande demais.

Alguns sinais de alerta vermelho são parar de suar e sofrer calafrios, câimbras contínuas e aumento da frequência dos batimentos cardíacos. Às vezes também a gente fica meio bobo, sente tonturas, dores no peito ou dificuldade para respirar: parar na hora é a ordem médica.

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Comentários

  1. JCBaldi comentou em 23/02/15 at 15:03

    Lembro desse caso da Lucélia, assistia pela tevê na época. Incrível que o corpo dá sinal e o corredor não dá bola, segue mandando ver, talvez de olho na premiação. Preocupante pela possível sequela.

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