Conheça os riscos de correr no calor e saiba como se proteger
21/01/15 10:19Vou lhe dizer: eu sou um sujeito azarado. Apostas, loterias, prêmios, rifas, tudo isso passa longe de mim. Para não dizer que nunca ganhei nada, lembro-me de ter sido premiado em uma rifa em festa da escola, no quarto ano do ginásio (aposto que você nem tinha nascido ainda…). Foi um bolo confeitado. Nem comi.
Conto tudo isso para dizer que, justo no dia que escolhi para escrever sobre o impacto do calor em nossa corrida de cada dia, calhe de ficar nublado aqui em São Paulo. E, segundo me dizem os meteorologistas, vem por aí uma frente fria. O que vale é que as altas temperaturas voltarão, e fevereiro será um forno.
Não que eu fique satisfeito com isso –prefiro clima mais ameno. Mas, pelo menos, não perco a viagem; quero dizer, as pesquisas que fiz para produzir este texto.
Bueno, todo mundo sente na pele as consequências do forte calor. A gente se cansa mais rápido, às vezes fica agoniado, se sente sujo, pegajoso, quer banho a toda hora, não tem vontade de se movimentar e por aí vai. O corredor, porém, tal como o sertanejo, é antes de tudo um forte: se o treino pede X, a gente vai para a rua para fazer X e nem um pentesilhésimo a menos, qualquer que seja a marca no termômetro.
Isso é um erro! Uma c****** das boas, que pode ter consequências desastrosas para a saúde. Quem adverte é nada menos do que a Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Longa Distância (AIMS). Em documento de orientação sobre os aspectos médicos da prova, lembra que os riscos de dano provocado pelo calor aumentam muito com temperaturas acima de 21ºC e 50% de umidade; acima de 28ºC, as condições são consideradas muito severas.
A entidade montou um sistema de bandeiragem para classificar o grau de risco das condições climáticas. Temperaturas acima de 28 graus recebem bandeira preta: a prova deve ser suspensa ou os competidores devem ser alertados para não participar do evento. Claro que são linhas gerais de orientação; o próprio texto (AQUI, em inglês) nota que, se essas recomendações fossem seguidas à risca, muitas provas em Mundiais e mesmo em Olimpíadas teriam deixado de ser realizadas.
Se as provas não são suspensas, o que se dirá então de nossos treinos. Nesta semana, por razões profissionais, estive no parque Ibirapuera por volta do meio-dia. Fiquei impressionado com a quantidade de gente treinando, correndo, suando em bicas, vermelhões etc. e tal.
Olha, como você sabe, não passo de um corredor interessado. Não sou treinador nem especialista em fisiologia, mas já corri muito pelo mundo e já conversei e entrevistei um enorme rol de especialistas. Vou lhe dizer: a gente não ganha nada com esse tipo de treino. Só se perde tempo e dá menos ajuda ao corpo para se recuperar do esforço.
Falo isso para quem está treinando com um determinado objetivo, que tem uma prova alvo ou uma meta definida no tempo. A razão: o objetivo do treinamento é preparar o corpo para enfrentar, em um determinado momento no futuro, um enorme grau de estresse concentrado –a prova alvo.
Para isso, são organizadas sessões progressivas de esforço, seja de volume de corrida, seja de intensidade. Entre elas, é preciso dar descanso para o corpo não apenas se recuperar, mas ficar mais forte; esse é um dos princípios básicos do treinamento. Se o esforço é demais, na hora errada, e o descanso é de menos, a equação se desmonta…
Acredito, porém, que a maioria das pessoas que correm por aí o faça por pura diversão, para desestressar, perder peso, entrar em forma ou qualquer outra razão, menos competir. E correm quando podem, muitas vezes rasgando o asfalto na folga do almoço.
Mesmo esses podem se beneficiar de algumas medidas básicas para defender o corpo do calor. Vamos a elas, que são recomendadas pela IAAF (a Fifa do atletismo), livremente adaptadas e interpretadas por este que vos escreve.
- Procure correr nos horários mais frescos do dia. Para quem está com uma programação organizada de treinamento, vale a pena acordar ainda mais cedo para fugir da maior unidade e calor. Se ainda estiver escuro e você treinar nas ruas, tome medidas para ficar bem visível. Se seu único horário disponível for o meio-dia e você não quiser abrir mão dele, confira as dicas a seguir.
- Refresque-se antes de começar o treino. Trata-se de tentar reduzir o calor corporal –a Deena Kastor, por exemplo, usou um colete térmico (gelado, é claro) enquanto esperava, na sombra, a largada para a maratona olímpica em Atenas-2004. Para nós outros, vale tomar água gelada antes de partir ou passar uma toalha molhada na nuca, que é sempre refrescante.
- Mantenha-se hidratado. Isso vale para o dia inteiro, antes, durante e depois dos treinos. Cada um tem uma exigência diferente de hidratação; eu costumo tentar beber um copinho de 200 ml ou 300 ml a cada meia hora, 40 minutos. Tim Noakes, um dos mais célebres estudiosos da corrida, recomenda de 400 ml a 800 ml por hora—as maiores quantidades são indicadas para corredores mais lentos ou mais pesados.
- Reduza a intensidade do treinamento. Diminua o tempo e/ou o ritmo da puxada. Só o poder do calor vai fazer com que seu ritmo se reduza em cerca de 20%; não lute contra isso. Troque sessões de treino de velocidade, por exemplo, por rodagens mais leves em que você possa prestar mais atenção ao seu estilo. Quem corre de forma mais econômica rende mais e gasta menos energia –portanto, sofre menos com o calor.
- Use roupas adequadas. Parece óbvio por demais, mas a gente vê cada coisa por aí…
Bom, essas são as cinco grandes linhas da IAAF. Acrescento que é bom não esquecer o protetor solar.
Em resumo, não derreta, por favor. Beba mais água, vá com calma e aproveite.
Legal abordar a questão Rodolfo.
Eu acho muito útil correr sempre com o frequencímetro, qualquer que seja a temperatura. Dessa maneira passamos a conhecer bastante bem como nosso organismo responde de maneira geral a determinados treinos. Num dia de calor, costumo adaptar o ritmo para manter a mesma faixa de batimentos. Acredito que dessa maneira o treino ainda possa ser realizado com alguma qualidade.
Boa, Paulo, controlar o ritmo pela frequência cardíaca é sempre bom.
Corro a 28 anos, tenho 49 e hoje após muito aprendizado, erros e a falta de respeito com o meu corpo, faço meus treinos com 80% mente e 20% corpo.
Independente de temperatura, é importante a pessoa conhecer seu corpo e entender que, cada corpo é diferente do outro, o que é bom para o meu, não é para outra pessoa e vice e versa.
Para mim o mais importante é, estar bem treinado físico e mentalmente, treinar com inteligencia, estar hidratado antes e se preciso durante e após o treino e bem alimentado.
Faço treinos na rua de 12km, com tempo médio de 57min com 35 graus com sensação muito maior e me sinto muito bem durante e principalmente depois do treino, corro 6 dias e descanso 1.
Oi, Marcelo, que bacana, mas com certeza você é um privilegiado, a maior parte de nós sofre muito com o calor. Abraço
Muito esclarecedor o seu texto.
Me enquadro na maioria que corre por prazer, e confesso que está muito difícil manter o ritmo e o tempo de treino com este calorão.
Gostei das dicas e vou procurar aplicá-las.
Obrigado, abraço
Adorei a matéria !
Obrigado, adorei seu comentário!
Eu acho importante “rodar” no calor, porém sem muito esforço. Essa semana fiz um treino leve aqui em Porto Alegre, às 18:30h o termômetro marcava 33ºC, dureza…
Abraço.
É isso aí. Abs