Recordista mundial da maratona responde a dúvidas sobre sua estreia
24/12/14 16:01
Depois de várias tentativas, finalmente consegui entrevistar o recordista mundial da maratona, o queniano Dennis Kimetto, primeiro ser humano na história a correr a exaustiva prova em menos de duas horas e três minutos.
Ele respondeu com simpatia a uma série de perguntas que mandei por e-mail. Falou do começo de sua carreira e também do dia da prova em que entrou para a história.
Também contou que, como outros quenianos pobres, trabalhou na roça desde pequeno. E já na infância começou a forjar sua resistência, caminhando rápido para chegar à escola distante.
Após completar a escola primária, teve de começar a trabalhar. Para variar, era uma fazendo que ficava a oito quilômetros da casa em que morava com os pais. O percurso era feito a pé, correndo ou caminhando.
Mas ele sonhava com uma vida melhor. E, ouvindo os amigos, passou a imaginar que poderia tentar a sorte no mundo das corridas. Afinal, quando era pequeno ganhava até de colegas mais velhos e mais fortes –a melhor lembrança daquele período foi um quinto lugar conquistado em uma prova escola de cinco quilômetros.
Assim Dennis Kimetto passou a treinar forte; nas suas corridas, vez que outra via a turma que se preparava ao lado de Geoffrey Mutai, já então um nomão no país e no mundo. Um dia, Kimetto tomou coragem e foi conversar com seu ídolo, pedir uma vaga na turma.
Aquilo foi uma revolução. Com treinos estruturados e organizados, rodagens e treinos de ritmo e velocidade seis dias por semana, sua força e rapidez apareceram.
Resumo da ópera: em 2012, um ano depois de ter começado a treinar com Mutai, fez o que até agora é o debute mais rápido em uma maratona com percurso reconhecido pela IAAF. Também foi uma estreia que gerou polêmica, pois Kimetto pareceu evitar passar seu mentor, que, com a vitória naquela corrida, a maratona de Berlin, garantiria por antecipação o título –e o prêmio de US$ 500 mil— do circuito World Marathon Majors.
Até hoje ele é questionado a respeito daquele episódio, que contei assim em um texto que mandei para a Folha.
ESTREIA POLÊMICA
Eram os metros finais da maratona de Berlim de 2012. Dois quenianos vinham sozinhos na frente, como costuma acontecer nessas provas.
Geoffrey Mutai, famoso mundialmente e com várias vitórias no currículo, estava na frente, mas parecia cansado, prestes a ser superado pelo estreante Dennis Kimetto. A ultrapassagem, porém, não aconteceu, gerando especulações de final arranjada, pois o debutante era pupilo do veterano.
“Já me fizeram essa pergunta muitas vezes, mas o que eu sempre digo é que eu posso ter parecido estar forte, mas o fato é que por dentro eu estava muito cansado e só pensava em terminar a prova. Eu não tinha experiência, quem tinha era Mutai”, disse Kimetto na entrevista à Folha.
Ele completou em 2h04min16, com respeito um segundo de diferença para o campeão. Recorde para um estreante em circuito referendado pela IAAF, foi na época o quinto melhor tempo na história.
Apesar dos comentários surgidos na imprensa especializada, o resultado nunca foi oficialmente contestado, ainda que os contendores sempre sejam interrogados a respeito. O próprio Mutai, no ano passado, disse a este repórter em entrevista realizada em São Paulo:
“Há muita conversa. As pessoas dizem que foi planejado. Mas eu não tinha a menor ideia do que iria acontecer. Eu não sabia que ele podia correr uma maratona daquele jeito. Perguntei a ele por que ele me esperou, por que ele não foi? Ele me disse que simplesmente queria chegar ao final. Eu não sei o que passou na cabeça dele, eu sei que eu queria apenas completar a prova.” (RL)
Bom, esse texto era um boxe para a reportagem principal, com o grosso da entrevista, que foi publicada AQUI (edição impressa). No site da Folha, saíram os dois textos, um em seguida do outro (confira AQUI).