Algumas dicas para quem vai correr a São Silvestre
19/12/14 11:05Quem treinou treinou, quem não treinou que vá com a cara e a coragem, mas o certo é que a mais tradicional, importante e desejada corrida de rua do Brasil já está aí na nossa porta. Faltando menos de duas semanas para a largada, agora a hora é de sombra e água fresca, sem relaxar muito para não engordar nem ficar molenga e desmotivado.
Nesses dias, o que eu costumo fazer é manter o treino em ritmo leve, rodando de uma hora a uma hora e meia dia sim, dia não. Não faço mais sessões ditas “de qualidade”, aquelas com subidas ou com ritmo definido ou mesmo com blocos intervalados. Nananina.
Cuido da alimentação e da hidratação, especialmente a partir de três ou quadro dias de antecedência em relação à data da prova.
Quando a São Silvestre era à tarde, havia uma preocupação maior com a adaptação ao horário, fazia testes de alimentação e toda uma liturgia envolvendo a preparação para a corrida fora da hora em que eu costumo correr.
Agora, não. Sendo pela manhã, o que faço no dia da prova é praticamente o que faço nos dias de treino. Claro que com “um plus a mais”, como diz o outro, caprichando na comida e nos intervalos entre as refeições.
De qualquer forma, com pelo menos três dias de antecedência costumo aumentar a ingesta de líquido, especialmente água. Também tendo ir dormir cedo (bem, em geral eu já vou para a cama por volta das dez da noite, o que está mais que bom).
No dia da São Silvestre, acordo uma hora e meia antes do horário da largada (foi o que eu fiz nos dois últimos anos). Meu café da manhã em geral é chá e banana amassada com granola; às vezes, como duas fatias de pão integral, uma só com queijo cottage, outra com queijo cottage e mel, sempre com chá.
Saio de casa cerca de 45 minutos antes da largada e pego direto o metrô linha verde, descendo na estação Trianon/Masp. Sei que na estação Brigadeiro tem menos muvuca, mas também é preciso caminhar mais até a largada. Bueno, acho um pedaço de sombra e fico por ali mesmo, esperando a hora da largada.
Faltando uns cinco minutos, começo a me mexer, porque a largada está a cerca de dois quarteirões, e a coisa é sempre bagunçada. Vou seguindo a massa, ficando na minha, pensando na prova e tentando não dar encontrão em ninguém e também não sofrer empurrão.
A parte mais complexa da corrida é exatamente esse início na avenida Paulista, por causa da multidão.
É preciso ir com calma, cuidar do chão, ver onde pisa e não se preocupar com o ritmo –é mais importante ficar atento aos folgados que gostam de sair correndo, costurando entre a massa, como se fossem ganhar alguma coisa.
Apesar da confusão, é também um momento muito legal, pois é quando há maior acúmulo de público ao longo de vários quarteirões. Sempre tem alguém para abanar, alguém para mandar um beijo ou gritar qualquer coisa. Trato de aproveitar, olhar para as pessoas, cumprimentar quem me cumprimenta, saudar o mundo: afinal, é disso que se trata a corrida, uma saudação à cidade, ao povo.
Quando você acha que vai dar para acelerar um pouquinho é a hora de ficar esperto: pouco depois do primeiro quilômetro haverá uma curva fechada à direitada, iniciando-se ali uma descida forte. É a tal descida da Major Natanael, ao lado do Serviço Funerário Municipal. Foi no final dessa ladeira que, há dois anos, morreu o cadeirante Israel de barros, depois de perder o controle de sua cadeira de rodas de corrida e bater no muro do estádio Pacaembu.
Vá com calma. Preste atenção ao seu corpo, tome cuidado com os apressadinhos, não vale a pena levar um tombo tão cedo na corrida (nem mais tarde, não é mesmo?).
Depois de passar o estádio, é sopa no mel. A partir daí, é praticamente tudo plano (ah, tem aquela subidinha na Brigadeiro….), e você só vai se dar mal se fizer alguma coisa muito errada –ou se, como já aconteceu não poucas vezes, houver falhas na organização, faltando água ou com água quente servida no postos de hidratação.
É o momento para dar uma acelerada, experimentar a velocidade, testar a musculatura. E se preparar para o primeiro posto de água, que estará aguardando os atletas na esquina das ruas Margarida e Marta, cerca de 300 metros depois da passagem do quarto quilômetro. Todo esse trecho pelas ruas laterais da avenida Pacaembu é bem chatinho, oferecendo dificuldade para desenvolver uma corrida mais solta por causa das constantes curvas.
De qualquer modo, logo a gente está de volta à avenida Pacaembu e a boa notícia é que, neste ano, não vai ter aquela ida e volta chatérrima na Mario de Andrade. Nada. É só seguir calmo pela avenida Pacaembu.
Depois o percurso segue plano, com exceção do maldito viaduto Orlando Murgel, na avenida Rudge indo para a Rio Branco. Esse é pior por ser (ou parecer) mais longo e também mais alto, além de já estar mais quente e o corpo já ter enfrentado mais da metade da prova. Mesmo assim, tente prestar atenção no entorno, que é típico do centrão: favela, área abandonada, cidade sofrida.
Em compensação, passando o viaduto começa a melhor metade da corrida. Tudo plano (menos a Brigadeiro, ah, a Brigadeiro…), muita coisa legal para ver.
A São Silvestre segue pela Rio Branco, chega à Ipiranga e se encontra com a São João, dali desce para o Arouche para desenhar o tal coração (já mostrei neste blog, mas repito o desenho para que fique mais claro.)
Para o Arouche, aliás, com suas flores e árvores, está prometido mais um posto de água (o terceiro). É nesse que costumo aproveitar para engolir o meu gel de carboidrato (quem vai fazer a prova em mais de uma hora deve usar algum tipo de repositor de energia, segundo me recomendam especialistas).
Saindo dali, é o centrão que nos chama. Voltamos a cruzar a esquina emblemática da canção caetânica, vamos até o largo do Paissandu, onde costumam ficar bêbados, desocupados e gente da noite curtindo uma ressaca e aproveitando para aplaudir, incentivar ou até vaiar os intrépidos corredores da última corrida do ano.
Olhe como respeito e carinho para o prédio do Teatro Municipal, curta a travessia do viaduto do Chá e prepare o corpo, o coração e a mente para a última etapa da corrida.
Eu acho a subidinha da Libero Badaró, ainda que curta, mais desafiadora do que a própria Brigadeiro. É que ela vem de repente, sem aviso. A gente está no planinho, numa boa e, ao fazer a curva, dá com aquela ladeira, que vai ficando cada vez mais forte ao longo de cerca de três centenas de metros.
Passou. As vetustas arcadas da Faculdade de Direito do largo de São Francisco observam os corredores que, por sua vez, podem fazer homenagem à estátua Beijo, que está ali expondo sua desabrida luxúria (que ela dê um pouco para cada um, que luxúria nunca é demais).
E aí, meu irmãozinho, minha querida leitora, é hora de correr. Eu gosto de acelerar nessa descidinha da Cristóvão Colombo, já olhando lá na frente o paredão da Brigadeiro. Assim, sempre consigo entrar forte na subida derradeira.
Está certo que já estou meio velhusco e nunca fui rápido, mas também nunca abri o bico na Brigadeiro. É engatar o ritmo e seguir nele até enxergar a Paulista, de-lhe-que-te-de-lhe.
E assim, correndo, lançando os braços para o alto, gritando ou calando o corpo em emoção privada, particular, cada um cruza a linha de chegada.
E para todos eu digo: Feliz 2015!!!
Rodolfo, adorei teu texto. É incentivador! Vamos de Porto Alegre correr essa corrida que é um grande sonho, no grupo mais feliz do RS: o grupo de corrida do Banrisul. E de-lhe-que-te-de-lhe!
Rodolfo, corri muito nos últimos anos e fiz as famosas Provas de Rua. Tenho mais de 80 medalhas de participação. Nunca fiz uma SS, mas admiro quem faz. Faço uma corrida de rua em ARARAQUARA – SANTO ONOFRE – que é o santo protetor dos bêbados. Ela é no final da tarde do dia 31/12. É bem interessante.
Feliz 2015!!!
Rodolfo, adoro os seus textos e até já te cumprimentei na rua. Revise a parte do “viaduto Antártida” porque acho que a SS não passa por ali. Abraços!
Ótimas dicas! Esse ano farei a minha primeira SS, realizando um sonho de criança que assistia a corrida noturna na passagem do ano. Um abraço!
Muito bom o texto. Me emocionou. Assim seja, amém!
JÁ estou emocionado. Será a minha primeira SS, uma meta desde quando eu falava que ia correr uma, ironicamente, há 30 quilos atrás. Vou cruzar essa linha de chegada vestindo uma cabeça de cavalo. 🙂
Obrigado pelas dicas, Rodolfo, espero encontrar você no trajeto ou na chegada para compartilhar os votos de um Feliz 2015!