A equipe brasileira de ultramaratonistas ficou em 13º lugar no Mundial de ultramaratona (100 km), disputado na última sexta-feira (21) em Doha, no Catar. Participaram cerca de 200 atletas representando 38 países, de modo que o time verde-amarelo ficou na terça parte mais rápida. Se é que isso serve de consolo.
Individualmente, o atleta brasileiro mais bem colocado foi Márcio Batista de Oliveira, que ficou em 50º lugar, completando 20 voltas no circuito de 5 km em 7h49min56.
“Estou muito feliz por ter feito o percurso e por ter integrado, pela primeira vez, uma equipe brasileira completa. Passei mal, tive de parar três vezes, mas me despeço com orgulho das provas de 100 quilômetros”, disse o atleta de 46 anos. “É duro competir contra adversários que têm a metade de sua idade, mas me sinto recompensado”, completou, segundo despacho distribuído pela Confederação Brasileira de Atletismo.
Marcos Paulo Espírito Santo terminou em 67º lugar (8h02min36), enquanto Eduardo Silvério Calisto ficou em 91º (8h32min03) e Sinval Moreira Aguiar completou em 9h08min18, terminando na 109ª colocação. Somando os tempos dos três primeiros colocados da equipe, o Brasil totalizou 24h24min35.
A equipe norte-americana foi a campeã no masculino, com tempo total de 20h08min05; o Japão ficou com a prata, com 20h55min09, e a Grã-Bretanha completou o pódio, com 20h57min50.
No individual, o vencedor foi Max King, dos EUA, com 6h27min43. O sueco Buud Jonas ficou com a prata, com 6h32min04, e o espanhol José Antonio Requejo veio em seguida,com 6h37min01.
No feminino, o time britânico levou o ouro, com 22h56min27. Japão (23h22min32) e Rússia (23h53min31) completaram o pódio. A vencedora, no individual, foi a súdita da rainha Ellie Greenwood, com 7h30min48, seguida pela japonesa Chuyuki Mochizuki (7h38min23) e por sua compatriota Joasia Zakrzewski (7h42min02). As britânicas, por sinal, paparam três dos quatro primeiros lugares.
Dito isso, queria pedir um minuto a mais de sua atenção para a gente pensar junto: você tem ideia do esforço que significa correr seis horas e meia a um ritmo de 3,9min/km???.
Eu não sei você, mas o melhor quilômetro de minha vida foi algo em torno de 3min45 (nem me lembro direito) num tiro só, depois de vários treinos específicos, e eu terminei quase morto. Minha melhor média por quilômetro, em uma corrida, foi de 4min30 em uma prova de 8 km há uns 15 anos. Claro que eu não sou nenhum parâmetro de resistência nem de velocidade, mas esses dados servem para dar uma ideia da distância que separa o corredor comum dessas máquinas de correr que são os ultramaratonistas de elite.
Outra questão legal de discutir na mesa de bar ou em roda de corredores é o fato de que, diferentemente do que ocorre nas maratonas, nas ultras não há domínio absoluto de um país ou grupo de países. Mais especificamente, não são quenianos e etíopes os eternos donos do pódio.
Cá para mim, acho que isso não tem menos a ver com biotipo, genética ou coisa que o valha e sim como o fato de que a ultramaratona não oferece prêmios e patrocínios como as maratonas.
Outra coisa: um leitor comentou que “parece exagerado” o fato de a delegação brasileira teve mais gente no apoio (treinadores, coordenador, nutricionista etc.) do que corredores propriamente ditos. Nos atuais tempos de busca de completa transparência dos órgãos públicos, seria muito bom que a CBAt explicasse suas razões para a montagem da delegação.
CORREÇÃO E ESCLARECIMENTO
No texto original, informei que o time brasileiro havia ficado em 14º lugar. O dado, divulgado pela CBAt neste texto AQUI, que usei como base para a publicação acima, está errado.
Acabei de consultar a página oficial da Associação Internacional de Ultramaratonistas, com os resultados completos (você pode conferir AQUI).
Na verdade, de acordo com a página da IAU, a seleção brasileira completou no 13º posto, e não no 14º. O tempo informado está correto.
As colocações individuais citadas acima se referem à classificação geral (homens e mulheres). Entre os homens, os quatro atletas brasileiros ficaram, respectivamente, nos lugares 43º, 53º, 69º e 80º.
Bom dia, Rodolfo Lucena
É muito importante matérias sobre o atletismo, principalmente o amador, que no rigor da palavra quer dizer que tem outra atividade profissional.
Gostária muito que você fizesse uma matéria sobre cada atleta que representou o Brasil, sobre o que eles ganham realmente.
Pelo que sei a CBAt somente cedeu a marca, uniformes e 4 inscrições. O restante é por conta de cada atleta… ou de possíveis patrocinadores/ apoiadores.
É uma grande oportunidade de mostrar aos “normais” que todos podem chegar a competir basta esforço e dedicação.
Seu blog pode ser um facilitador entre o esporte e as pessoas.
Atte,
Igor Reis
Qual a importância disso para o Brasil ? O que muda na nossa vida ?
Em continuação, e em razão de que já estava me prolongando demais. Segue cópia de postagem de Adelmo Emídio no perfil do https://www.facebook.com/brazilianultrarunners?pnref=story:
“Por muitas vezes vemos equipes de atletas sendo convocados para participarem de mundiais de Cross Country, Meia Maratonas, Maratonas e até Olimpíadas. Quando vem os resultados ficamos sabendo que determinados atletas não completaram as distâncias a que foram selecionados, fico decepcionado e até entristecido com tais atitudes. Mais uma vez tivemos uma equipe convocada para um mundial e não um mundial qualquer e sim um mundial de ultramaratona (100 km), 4 atletas, 4 guerreiros, 4 humildes trabalhadores que com simplicidades aceitaram o desafio de representar nossa nação. Eles não ganharam a corrida, não subiram no pódium e também não chegaram entre os primeiros… Que importância tem isso? Eles correram 100 km, em uma corrida que tinha tudo pra dar errado eles cumpriram suas missões, enfrentaram o desafio e mesmo com tantas adversidades que apareceram durante suas jornadas foram até o final e honraram nosso país e todos aqueles que ficaram aqui acompanhando e torcendo por todos e cada um desses guerreiros que receberam e merecem e muito serem chamados de Os 4 Fantásticos. Confesso que fiquei muito feliz e orgulhoso por estar sendo representados por esse quarteto de guerreiros e amigos, que souberam honrar com garra e determinação até o final, à todos eles o meu respeito e orgulho.”
Que importância tem isso? Deram mostras de respeito. A eles, e a você, Adelmo, meus RESPEITOS!
Boa noite, ou bom dia de acordo com o horário em que ler este, Rodolfo!
Primeiramente, informo que leio regularmente tuas postagens, e vou continuar a ler enquanto permanecer escrevendo. Portanto, nenhum aparte contra a opinião ou comentário teu já colocado.
Vamos ao texto:
1. 13º lugar, no terço mais rápido, se é que isso serve de consolo. Serve sim, mas não de consolo, e sim de orgulho, pois tive a pachorra de ficar sentado (estou quadrado até agora) por mais de 9 horas assistindo a prova. Como o site que apresentava os resultados parciais somente mostrou até o km 40 (8º volta) quase ao final (ou estava tão perdido que não achei), fiquei fazendo cálculos de quanto cada dos nossos, quando apareciam, e apareceram até bastante, gastava a cada volta. Ou morriam a cada volta, depois de um bom tempo. Infelizmente. E, ao ver o que fizeram, repito, fiquei orgulhoso. Não satisfeito, mas orgulhoso!
2. “Estou muito feliz por ter feito o percurso… Passei mal, tive de parar três vezes… despeço com orgulho das provas de 100 quilômetros”, disse o atleta de 46 anos. “É duro competir contra adversários que têm a metade de sua idade…” Duro competir, mas competiu, não apenas participou! Passou com 3:32 os 50 km, Eduardo 3:36, Marcos Paulo a 3:43 e Sinval a 4:01. Atletas que correram a 6:47 e outro a 7:37, em QUALQUER OUTRA CONDIÇÃO teriam desistido, pensando em “outras provas”, como nós sabemos, Rodolfo! Mas, esses não. Foram competir, não participar, e não tinham como meta estar presentes, mas sim em terminar. Incluindo o Sinval, trocando o tênis antes dos 50 km (perguntemos a ele o porque. Porque trocou e porque não parou). Repito: fiquei orgulhoso. Não satisfeito, mas orgulhoso!
3. “isso não tem menos a ver com biotipo, genética ou coisa que o valha… a ultramaratona não oferece prêmios e patrocínios como as maratonas”. Fato! Treinam, se orgulham em representar, e vão até o final, pois é isso que atleta deve fazer! Ao menos respeito a quem ficou e gostaria de ter ido. Quem foi, terminou! Até o km próximo do km 80 o russo Larkin (6:13 como melhor 100 km, 23 anos) liderou. Acometido de câimbras, teve que parar. A Rússia não fechou a equipe. E ela é um dos “Quênias”, “Etiópias” das ultras, basta ver o ranking de todos os tempos. Repito: fiquei orgulhoso. Não satisfeito, mas orgulhoso!
4. “mais gente no apoio (treinadores, coordenador, nutricionista, massagista)”. Tirei o nutricionista da postagem. “seria muito bom que a CBAt explicasse suas razões para a montagem da delegação”. Tirei da postagem, mas faltou na delegação. Saíram na segunda, chegaram na quarta de madrugada, rodaram, ainda bem que tinham massagista. 2 treinadores. Ainda bem, principalmente se repassarem o que aprenderam (ainda que provavelmente pouco em 4 dias) para termos um maior contingente de HERÓIS que se dedicam a essas provas. Gostaria também de saber o porque de quem estava lá, mas quem estava vi no vídeo de percurso durante toda a prova, ajudando, abastecendo e apoiando. Muitos? Pode ser. Mesmo número de atletas? Certo. Particularmente colocaria umas 4 mulheres para equilibrar a participação, motivando-as a surgir outras Venâncios e a santista que me deu um branco do nome.
Finalmente: repito: fiquei orgulhoso. Não satisfeito, mas orgulhoso!