É possível fazer eletrocardiograma de maratonistas em tempo real durante a prova, mostra estudo alemão
29/10/14 11:00Pesquisadores alemães demonstraram que é possível realizar monitoramento das funções cardíacas de maratonistas em tempo real, com envio de dados de eletrocardiograma para um centro médico especializado.
O trabalho realizado foi o que os cientistas chamam de “prova de conceito” –ou seja, mostrar que dá para fazer e que os resultados podem ser importantes. Há um longo caminho a ser feito para que a tecnologia possa vir a ser implantada em provas no dia a dia.
O monitoramento em tempo real das funções cardíacas de maratonistas foi obtido pelo uso de um miniparelho de eletrocardiograma, que funcionou ao longo de todo o tempo da prova. Ele mandava sinais para um smart phone que o corredor carregava; os dados foram transmitidos ao centro de controle pela rede pública de celular
Segundo os pesquisadores, esse monitoramento em tempo real poderá permitir o diagnóstico instantâneo de desordens de ritmo cardíaco potencialmente fatais.
Esta é a primeira vez que estudo desse tipo é realizado, e os resultados vão ser apresentados nesta sexta-feira no primeiro Congresso Europeu em e-Cardiologia e e-Saúde pelos pesquisadores do Centro de Telemedicina Cardiovascular de Berlim.
Depois de testes com um total de dez corredores em duas maratonas, os cientistas consideram que a técnica é “promissora” e pode ser útil para prevenção de acidentes que, de outra forma, poderiam ser fatais. “No caso de arritmias que coloquem em risco a vida do atleta, os serviços médicos de emergência atuando na prova poderiam ser alertados com antecedência, facilitando o diagnóstico e o atendimento”.
Durante os testes, os dez participantes envolvidos, com idade média de 41,7 anos, passaram bem e concluíram a prova sem problemas, no tempo médio de 3h37. Já a qualidade do sinal do eletrocardiograma (ECG) não foi tão regular.
Na primeira experiência, em uma maratona com mais de 7.000 corredores e 150 mil participantes, a coisa desandou quase completamente. Praticamente não houve sinal aproveitável tanto por problemas na comunicação Bluetooth entre o mini-ECG e o celular quanto por falhas na rede pública celular.
Os pesquisadores deram um tempo para desenvolver melhorias no sistema e voltaram à carga seis meses depois, numa prova com mais de 15 mil corredores e 300 mil espectadores –ou seja, em tese, piores condições para garantia de precisão.
Mesmo assim, afirmam os cientistas, graças às mudanças no software a qualidade do sinal foi “excelente” .
Esse segundo resultado demonstrou que é possível manter boa qualidade de dados e transferência rápida entre os dispositivos carregados pelo corredor e o centro de monitoração.
Também mostrou que, mesmo com uma multidão usando a rede pública celular, a transmissão se manteve com qualidade.
Apesar desse investimento em prevenção de acidentes cardíacos, os pesquisadores afirmam que casos de morte súbita são raros entre maratonistas e outros atletas que participam de provas de resistência –em 2012, por exemplo, houve uma morte na maratona de Londres, o segundo caso no evento em três anos.
Apesar de relativamente pouco frequentes — um estudo de 2012 mostra incidência de 0,54 caso a cada 100 mil corredores—, os casos de morte em maratona ganham ampla divulgação. Vários países estão exigindo que participantes em provas de longa distância passem por exames prévios –a Itália tem uma política assim, notam os pesquisadores.
O monitoramente em tempo, real, porém, seria uma forma mais eficiente de prevenção. Mas ainda há muito a fazer, alertam os pesquisadores. É preciso um sistema capaz de acompanhar simultaneamente milhares de atletas e de identificar qual é o corredor em risco, no caso de receber sinais anormais.
Também será necessário criar um sistema de comunicação entre o centro de telemonitoramento e o pessoal do pronto-atendimento na prova.
Enfim, há muito há fazer. O estudo demonstrou que é possível o monitoramento em tempo real; agora, há que ver quais as melhores aplicações do método.
PS.: Obrigado ao doutor Julio Abramczyk, que chamou minha atenção para essa pesquisa