Fãs de Lance Armstrong perdoam trapaças feitas pelo ídolo
27/10/14 08:00Saiu hoje no caderno Esporte, da Folha, resenha que escrevi sobre o livro “CIRCUITO DE MENTIRAS”, escrito pela jornalista norte-americana JULIET MACUR. Na obra, ela expõe a fraude da construção do mito Lance Armstrong, deixando claro que empresas e dirigentes também estiveram envolvidos, coniventes ou lavando as mãos em relação ao doping. O texto publicado no jornal (AQUI) é uma versão mais curta do que a inicial. Por limitações de espaço, não inclui, por exemplo, a pesquisa que fiz na internet e mostra a reação dos fãs à fraude. Bueno, sem mais delongas, leia a seguir o texto original.
“Lance Armstrong foi o maior ciclista de todos os tempos. Não só venceu sete edições seguidas do Tour da França, mais importante e exaustiva prova do circuito internacional, como sobreviveu ao câncer que atingiu seus testículos. Sedutor e conquistador, divertiu-se com loiras estonteantes –uma delas é sua parceira atual, mãe de dois de seus cinco filhos. Também tem senso de humor: em homenagem ao órgão extirpado na cirurgia anticâncer, batizou de Juan Pelota (João Bola) o bar que mantém em sua sofisticada loja de bicicletas em Austin, Texas.
E é um mentiroso de marca maior.
Foi movido a substâncias proibidas que conquistou cada um de seus títulos na França –todos foram cassados quando o doping foi descoberto e Armstrong, que negou a fraude até o último momento, passou por longo e doloroso processo de perdas financeiras.
Mas as mentiras, as meias verdades, o engodo e a fraude no ciclismo internacional não são privilégio desse texano de 43 anos, que chegou aos píncaros da glória de 1999 a 2006. Empresários, agentes, entidades fiscalizadoras, imprensa –todos mentem em algum momento, sempre em nome do esporte, ou melhor, dos lucros que o esporte pode dar.
É o que demonstra de forma exemplar “Circuito de Mentiras”, livro em que a jornalista Juliet Macur, do “The New York Times”, mostra o circo armado ao longo de anos para proteger o doping do super-herói americano. Deixa evidente como era frágil o segredo de Armstrong, quantos e quantos estavam envolvidos no que a agência norte-americana antidopagem chamou de “o programa de doping mais sofisticado, profissional e bem-sucedido que o esporte já viu”.
Não há, no livro e na vida, bons moços. Alguns tentam fugir ao doping, posando de vestais, mas sucumbem sob alegações esfarrapadas tipo “todo mundo faz” ou, ainda pior, “fui obrigado”.
Há os que participam de bom grado, com disposição, e depois, quando veem a casa pegando fogo, tratam de jogar gasolina na fogueira, fazendo acordos para denunciar ex-companheiros –não por acaso, Macur cita livros de ex-parceiros de Armstrong que encontraram na publicação uma forma de lucrar com a fraude em que haviam participado.
As fontes mais importantes da jornalista, porém, são gravações inéditas que ouviu e entrevistas que fez com dezenas de envolvidos na vida, na carreira e nas fraudes de Lance Armstrong. O próprio ex-ciclista, depois de anos de relação beligerante com a repórter, aceitou falar com ela sobre a débâcle. Mais que isso: convidou Macur para acompanhar seus últimos momentos da mansão de US$ 10 milhões que mantinha em Austin e da foi obrigado a abrir mão para fazer frente à montanha de processos em que ainda hoje está envolvido.
Com tudo isso, a repórter nem de longe faz um retrato isento dos envolvidos. Mostra os fatos, alinhava depoimentos e também deixa claro suas opiniões, posando às vezes como o que pode ser visto como baluarte da moral e da ética. Não lhe falta coragem, porém, para escancarar comportamentos que considere inadequados, mesmo se de poderosíssimas corporações, como a Nike.
Patrocinadora de Armstrong ao longo de anos, a empresa “abandonou o navio” quando a fraude foi exposta e emitiu nota dizendo ter sido enganada por ele “por mais de uma década”. A jornalista desmonta o marketing: “É claro que a Nike tinha conhecimento dos rumores de doping de Armstrong, assim como todo o mundo”.
E ironiza a posição assumida pela corporação: “Era como se uma das empresas esportivas mais sofisticadas do mundo não soubesse nada sobre o doping no ciclismo, apesar de vários vencedores do Tour terem admitido usar drogas”.
Para os fãs de Armstrong, porém, nada disso importa. Até o último dia 22, nada menos que 2.431.981 pessoas haviam curtido a página do ex-ciclista em uma rede social. Há comentários críticos, mas a reação dos seguidores da lenda norte-americana é exemplar: “Vá viver a sua vida e deixe que ele viva a dele”, responde uma curtidora, que completa: “Todo mundo erra. Vamos em frente”.”
De acordo com o Datafolha e o Ibope, se o Lance Armstrong fosse candidato a presidente da republica no Brasil seria reeleito com certa facilidade…
O Mundo é dos espertos,quem joga limpo morre na praia,infelizmente!