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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Novo recorde da maratona mostra que menos é mais

Por Rodolfo Lucena
29/09/14 16:29

29 kimetto ap

Dennis Kimetto provou: é possível ao homem correr uma maratona em menos de duas horas e três minutos. No último domingo, a maratona de Berlim voltou a ser palco para uma quebra de recorde na distância –ali a marca então em vigor já foi derrubada por nomes como Wilson Kipsang, Paul Tergat e Haile Gebrselassie, para citar apenas alguns.

Kimetto (foto AP) também demonstrou, no asfalto, que é válida e verdadeira a tese de muitos cientistas do esporte e especialistas em maratona: quem guarda tem e, se você for errar no ritmo, é melhor errar para mais do que errar para menos –ou seja, é melhor correr mais devagar do que o previsto do que correr mais rápido.

Ainda que obviamente o erro não tenha sido planejado, foi isso o que aconteceu no domingo em Berlim. Erros nos primeiros blocos de cinco quilômetros podem ter sido, se não decisivos, pelo menos úteis na quebra do recorde mundial.

Exemplos do contrário, temos tido aos montes em provas –mesmo experiente especialistas, quando forçam muito cedo ou vão muito rápido em tentativas de quebra de recorde, acabam pagando o preço da ousadia.

No domingo, o começo ficou aquém do que, em tese, deveria ser uma tentativa de quebra de recorde. A passagem do km 10 foi em 29min23.7, cerca de sete segundos pior do que a marca de Kipsang quando estabeleceu seu recorde no ano passado.

Mesmo com esse alerta, os caras pareciam estar dormindo no ponto. Os cinco quilômetros seguintes só pioraram a situação: a passagem do km 15 foi 24 segundos mais lenta do que a cravada por Kipsang.

Daí os caras mandaram ver. Cruzaram pela marca da meia maratona em 1h01min45, o que indicava que precisariam fazer o que se chama de split negativo, completar a segunda etapa em menos tempo do que a primeira.

Pediu, levou.

Emmanuel Mutai puxou a frente, Kimetto respondeu, e os dois passaram a travar o duelo mais rápido da história da maratona.

Para ninguém dizer que falo sem provas, basta este exemplo: na passagem dos 30 km, Mutai estabeleceu novo recorde mundial para a distância, cravando 1h27min37, um segundo a menos do que Patrick Makau correu quando quebrou o recorde da maratona, também ali em Berlim.

Quem voasse menos dançaria. E os dois fizeram os cinco quilômetros seguintes, do Km 30 ao km 35, em 14min10!!

Chegou a hora da decisão. No km 38, Kimetto deu o bote e escapou. Não fugiu, não desapareceu. Mutai ficou no seu encalço, obrigando o compatriota a manter o ritmo forte. No final, os dois terminaram, em tempo menor do que o antigo recorde, 2h03min23.

Kimetto, o campeão e novo recordista, cravou 2h02min57, e parecia pronto para outra. Mutai, sua sombra, completou em 2h03min13, e deixava evidente no rosto e nos sinais corporais o quanto o esforço lhe tinha sido penoso. Logo estava botando os bofes para fora, até receber ajuda.

Logo, porém, estava em condições de comentar o desenlace: “Estou satisfeito com a conquista. Lutei para vencer, mas meu colega foi mais forte. Talvez eu vote no ano que vem e possa esmagar seu recorde mundial.”

29 kimetto recorde reutersKimetto (toto Reuters), por seu lado, enrolado em uma bandeira do Quênia, era só alegria: “Estou muito feliz. Vamos ter uma grande festa lá em casa”.

Aos 30 anos, ele é relativamente novato em disputas internacionais –ou mesmo nacionais, para ser mais preciso. Costumava treinar sozinho no Quênia, participando de vez em quando dos longões coletivos que os corredores costumam fazer na região em que moram –no caso, Kapng’tuny . Num desses, deixou então já conhecido internacionalmente Geoffrey Mutai comendo poeira.

G. Mutai, que não é parente de Emmanuel e também não é nenhum bobo, convidou o cara para participar de seu grupo de treinamento. Para encurtar a história, em 2012 os dois protagonizaram aquela estranha final na maratona de Berlim, em que Mutai venceu Kimetto por um segundo, apesar de seu pupilo parecer claramente em melhores condições (eu escrevi sobre isso na época, leia AQUI).

Bom, o certo é que a corrida mudou na vida do agricultor e dono de algumas poucas cabeças de gado. Com os prêmios que recebeu nos últimos anos, comprou mais gado, está de carro novo e casa nova. Também garantiu o estudo dos filhos. E quer mais:

“Eu acho que é possível fazer uma maratona em duas horas”, disse ele.

Quem viver verá.

 

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Comentários

  1. Gerardo Alonso Marquez comentou em 30/09/14 at 17:40

    Caro Lucena, parabéns pelas sua matéria. Se já é difícil fazer a maratona abaixo de 3 horas, imagine abaixo de 2 horas que com certeza algum Queniano o conseguirá.

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