Runtastic é bom, mas não fantástico
22/09/14 17:49Jornalista odeia anúncio, mas jornalista adora anúncio. A gente sabe que são as propagandas que sustentam a empresa e garantem o pagamento dos salários; em contrapartida, a publicidade tira espaço da redação, reduz a área para as reportagens, obriga cada um a escrever menos…
Como já se viu, é justificada a contradição da primeira frase.
Já leitor, não. Leitor compra o jornal para ler jornal (aos domingos, anos atrás, comprava para ler os anúncios classificados, também chamados de pequenos anúncios). Ainda que as empresas argumentem que anúncio também é informação, o leitor quer é ver reportagem, fotos, opiniões. E se sente traído, ludibriado, quando percebe que há muitos anúncios e pouca matéria, como a gente chama as reportagens e textos jornalísticos.
Quando era editor do caderno informática da Folha, recebi vezes sem conta telefones, e-mails e até cartas físicas reclamando da grande quantidade de anúncios, do espaço limitado para a redação. Tratava de atender bem a todos os reclamantes e dar explicações como as ditas anteriormente linhas cima.
Hoje, porém, ao testar a versão gratuita do aplicativo Runtastic, me senti como o leitor que me escrevia ou mandava e-mail reclamando do que ele considerava excesso de propaganda. O programa, um GPS voltado para uso por corredores, é bem legalzinho, mas seu uso é à base de soluços, constantemente interrompido pelo saltar de anúncios para a frente da tela.
Isso não só é chato, mas também atrapalha bastante usuários de primeira viagem. Não poucas vezes, cliquei em anúncios, no pé da tela, pensando que estava fechando a propaganda ou que estava acessando algum recurso do programa.
Você pode dizer que eu não enxergo bem –de fato, corro sem os óculos que preciso para leitura–, mas acontece que qualquer leitura fica mais difícil quando a pessoa está correndo. Se as letras são pequenas e a página desejada fica embaralhada com alguma propaganda não solicitada, então, é caminho certo para o erro.
Outro problema da versão gratuita é que a empresa, além de ficar colocando propagandas em pencas, também fica oferecendo o tempo toda a versão Gold, paga, do programa (veja acima). Cada empresa faz o que quer com os seus produtos, e não sei se os concorrentes da Runtastic também fazem isso, mas como usuário eu fico muito frustrado com isso.
Se os caras –e aí não me refiro apenas à Runtastic—põe no mercado uma versão gratuita, ela deveria ter as funcionalidades básicas e funcionar bem. Esses dias, por exemplo, fui baixar um gravador de conversas de Skype que, na versão gratuita, gravava apenas dez minutos. Desisti, é claro, e encontrei outro programa que também tinha propagandas, mas não impunha limites.
Cá comigo, eu acho que as empresas deveriam desenvolver coisas bacanas, atraentes, especiais –e aí cobrar por elas, mas sem tirar o básico. No caso do Runtastic, por exemplo, recebi todas as informações necessárias para avaliar o desempenho no treino, mas não consegui, na versão gratuita, ver os mapas de minhas corridas. Isso é especialmente frustrante porque, no resumo da atividade, o mapa aparece…
A empresa me informa que, para ver os mapas, deveria ter modificado a configuração de privacidade. De qualquer modo, exige uma troca para oferecer um recurso que deveria ser básico, padrão.
Bom, quanto à precisão, o aplicativo me pareceu bastante razoável. Eu sempre uso como base meu Garmin 210, que já é velhinho, mas bem confiável. Em treinos dos dias 16, 17, 19 e 20 de agosto, por exemplo, o Garmin marcou distâncias de: 3 km, 4,06 km, 4,11 km e 6,04 km. Já o Runtastic cravou 3,18 km, 4,36 km, 4,38 km e 6,33 km.
Como se percebe, não há um padrão nas diferenças. Além disso, eu nunca parei os relógios exatamente no mesmo segundo. Então, noves fora, pode-se dar um crédito de confiança ao sistema. Ou seja, está na média dos aplicativos do gênero que conheço ou já testei, traz as informações básicas necessárias e é simpática –manda elogios quando a gente “bate recorde” de distância ou ritmo.
Podia não ter tanta propaganda e trazer mais recursos e informações na versão gratuita.
Bom, ao testar o aplicativo, tive a oportunidade de experimentar também um outro produto dessa empresa criada em 2009 por jovens austríacos. A Runtastic vem tendo tanto sucesso com os aplicativos para corrida e boa forma –contabiliza mais de 85 milhões de downloads e mais de 40 milhões de usuários registrados no runtastic.com—que resolveu lançar um traquitana para acompanhar o exercício do vivente.
Seguiu, como se diz, a tendência da moda no segmento e lançou sua versão de pulseira atlética –neste blog, você já viu os testes que fiz das pulseiras da Garmin (releia AQUI) e da Samsung (releia AQUI). Como disse naqueles textos, esses produtos não me interessam, mas podem ser úteis para uma parcela da população –especialmente o da Samsung, mais completo, ainda que mais caro.
Lamento, mas não posso dizer isso da Orbit, a pulseira da Runtastic.
Ela até que tem os recursos essenciais desse tipo de produto:“O aparelho contabiliza passos dados, minutos em atividade física, calorias queimadas, metas e até mesmo iluminação ambiente. Outras características incluem um monitor OLED, hora e alarme e tecnologia Bluetooth Smart. É também à prova d’água até 300 pés”, informa o material distribuído à imprensa.
De fato. O problema é que a gente não consegue ler o que o dispositivo está medindo. Diferentemente dos produtos da Samsung e da Garmin, que têm telas retangulares, o Orbit tem uma pequena tela praticamente quadrada, menor que a unha de meu dedão –e olha que o tamanho de minha mão é apenas mediano.
Por via de consequência, como diria o outro, as letrinhas na telinha também são pequenininhas. E aí a leitura fica inviável para um cinquentão de olhos cansados –e aposto que, durante a corrida, não é confortável mesmo para um garotão de olhos de lince.
Para piorar as coisas, o uso da Orbit provoca aumento de gasto de bateria do celular, como o qual se comunica por sistema Blutooth.
Resumo da ópera: não gostei. A Orbit não vai ser vendida no Brasil; na Amazon, é encontrável por US$ 109.
De qualquer forma, vale a pena entrar na página da empresa e conferir os outros aplicativos esportivos que oferece. Gostei muito, por exemplo, de um chamado Six Pack, que traz dicas para fazer abdominais. A série de aplicativos gratuitos incluídos no Fitness Colection tem ainda programas para flexão, agachamento e barra fixa. Não sei se funciona, mas sempre é um incentivo a mais para a gente se mexer.
Comprei o aplicativo da Runtastic Road Bike por U$4,99 e não tenho o que falar. Usava a versão free, mas gostaria de ter mais informações detalhadas das minhas voltas de bicicleta, tais como elevação e velocidade. O aplicativo free liberava apenas uma e de tempos em tempos mudava a opção de detalhamento. Fiquei satisfeito pois além de remover as propagandas (não peguei tantas, mas eram bem chatas), ele ainda permite fazer o download de mapas, o que para um ciclista que sai por aí, em terras sem muita conectividade e sem 3G, não seja surpreendido por morros (o mapa possui informações de topografia) e tem as ruas listadas, além de detalhar bem a fundo de 5 em 5 km, o ritmo, velocidade, etc. Claro que para ter um controle completo, os acessórios são essenciais, como o medidor de frequência cardíaca, cadência e velocidade. Mas por enquanto, pra mim todas as informações que já aparecem pra mim já são satisfatórias. Outro detalhe é que, no meu caso, eu comprei o app na loja da Apple e depois, ao buscar Runtastic, apareceu um pacote chamado Cardio Pack, com o Road Bike, mais alguns como o de corrida, um monitor cardíaco, um pedômetro e um altímetro. Talvez em um pacote, o preço até seja menor, ao invés de comprar todos os aplicativos individualmente.
Contentar o consumidor não é fácil.
No mesmo artigo reclama das propagandas de um aplicativo, noutro aplicativo optou por uma versão com propagandas porque a versão free é limitada.