Relógio da TomTom com GPS traz bons recursos e preço competitivo
15/09/14 12:39Reconhecida como a líder no mercado de relógios com GPS para corredores, a Garmin enfrenta concorrência cada vez mais séria.
Há poucos meses, a famosa marca finlandesa Suunto ampliou sua linha de relógios esportivos voltados para o mercado mais sofisticado –significa: compradores dispostos a pagar mais. Agora, a TomTom, de fortíssima presença no mundos dos GPS para carros, ataca com um relógio de custo relativamente baixo, buscando o mercado de corredores dedicados, mas que dão grande importância à economia e à relação custo/benefício.
Recentemente testei o relógio com GPS da Suunto, que confirma as tradições de qualidade da empresa. Ainda que tenha várias aspectos em que pode melhorar –como tudo e todos–, já se apresenta como forte competidor da Garmin na faixa de preço de R$ 1.000 a R$ 1.500 (o preço de lista no Brasil é R$ 1.199; leia mais AQUI).
Muito mais perigoso para a Garmin parece ser o mais novo integrante do portfólio da TomTom. A empresa holandesa começou há poucos anos a tatear nesse mercado, que promete ser saboroso –as vendas de produtos para exercícios GPS devem chegar a US$ 2,6 bilhões em 2018, segundo previsões da empresa britânica de pesquisa ABI Research.
A primeira investida foi fornecer o sistema de GPS para o relógio esportivo da Nike. A parceria continua, mas a TomTom agora está voo solo. Com sua própria marca, lançou modelos de relógio para corrida e multiesportivos, que já estão sendo vendidos no Brasil. Em abril lançou na Europa uma versão com frequencímetro embutido, que chega em outubro às lojas brasileiras.
Testei o relógio multiesportivo da TomTom durante algumas semanas –não foram muitos treinos, porque continuo em processo de recuperação e estou devagar quase parando.
O uso que fiz foi apenas no modo corrida, mas o relógio também serve para acompanhar o desempenho em ciclismo, natação, exercício na esteira e um curioso estilo livre, para uso em atividades não compreendidas nos outros esportes –skate, por exemplo, ou caminhada.
Um dos grandes atrativos é o preço: a versão de entrada do TomTom Runner tem preço de lista de R$ 749.
Outro ponto especial do relógio é sua facilidade de uso: tudo é controlado por apenas um botão gigante, quadrado, que fica abaixo do aparelho propriamente dito. Ele é único, mas vale por quatro: cada uma de suas bordas funciona como botão e aciona diferentes recorsos do relógio.
A maior dificuldade para o usuário é se acostumar com esse mecanismo: não poucas vezes me vi buscando botão no corpo do relógio, que é grande, mas não mangolão. Pode ser usado no dia a dia sem chamar muito a atenção –pelo menos, chamando tanto a atenção quanto qualquer outro relógio esportivo.
Por causa desse estranho casamento entre relógio retangular e botão gigante, o design do conjunto não é exatamente a coisa mais linda do mundo, mesmo para quem, como eu, gosta de coisas mais estrambóticas. Quando montado na pulseira, porém, que é o que interessa, o conjunto não é tão feio como quando “pelado”.
Ainda no terreno aparência/usabilidade, há que notar o tamanho dos algarismos. A tela de uso oferece basicamente três informações. A principal, em algarismos gigantes, é predefinida: você pode acessar a hora, o tempo de exercício e a distância percorrida, por exemplo, fazendo as mudanças pelo acionamento do botão.
No alto da tela, há dois campos programáveis (distância, ritmo, velocidade, horário, calorias e batimentos cardíacos –se você tiver a cinta que monitora o coração—são alguns deles). Nesse caso, os algarismos são bem pequenos, menores do que os algarismos pequenos da tela do Garmin simples que uso. Para mim, foi impossível ler os números pequenos enquanto corria; na caminhada, porém, prestando atenção, a leitura foi fácil mesmo sem óculos.
Isso porque a resolução e o contraste da tela, assim como a tipologia escolhida, favorecem a leitura. Não são tão bons quanto os do Garmin, mas são bem razoáveis (para mim, parecem melhores que a tipologia e o contraste do Suunto que testei, por exemplo).
Antes de prosseguir, devo dizer que, apenas de fácil de usar, ele não é tão “intuitivo” como a descrição anuncia. Acho que eu acabaria descobrindo as regras de operação, mas, para ir mais rápido, tive de dar uma olhadinha no guia rápido de operação que vem no pacote. Uma vez entendida as regras (bordas laterais mudam o modo do relógio, bordas de cima e de baixo do botão fazem girar a informação apresentada na tela), aí foi fácil seguir em frente.
O emparelhamento com o satélite foi rápido, de modo geral. Comparei com o Garmin em quatro ocasiões e saíram empatados: o Garmin ganhou em duas, o TomTom em duas. Curiosamente, as diferenças pró cada um foram sempre semelhantes, em torno de 30 segundos.
A precisão foi muito boa. Numa corrida de alegados cinco quilômetros, o Garmin marcou 4,87 km e o TomTom, 4,88 km; a diferença de tempo, provocada por mim ao me embananar no acionamento dos aparelhos, foi de três segundos.
Em todos os testes que fiz, sempre correndo com os dois aparelhos, a diferença entre um e outro foi pequena no que se refere à corrida. Na hora de caminhar, porém, parece que o TomTom enfrenta problemas.
No último treino que fiz com os dois, por exemplo, corri quatro blocos de 1.500 metros, com intervalos caminhados de 500 metros. Depois do último bloco de corrida, caminhei 1.500 metros, com duas paradas (dei pausa nos relógios e voltei a acioná-los).
Pois bem: ao final do último bloco de corrida, a diferença entre os dois relógios era de apenas 20 metros. Quando fechei 10 km no Garmin, porém, o TomTom marcava 10,16 km –ou seja, ampliou bastante a diferença no trecho final de caminhada.
Aliás, em dois outros treinos o aparelho deu “soluços” que não consegui entender. Ao cruzar uma alça de acesso à avenida Sumaré, ele deu um salto de 60 metros entre um lado e outro da rua. Essa diferença (em relação ao Garmin) se manteve ao longo da maior parte do treino; na parte final, porém, novamente deu uma desemparelhada. A diferença final foi 160 metros em um total de 8 km percorridos.
Consegui fazer mais um treino no mesmo percurso, e o “soluço” não se repetiu. O que só aumenta a curiosidade sobre sua ocorrência.
O outro caso, que foi mais grave, não pude rechecar. Ocorreu na Paulista. Eu seguia na contramão pelo lado par, com os dois relógios marcando basicamente a mesma distância (diferenças de dez ou 20 metros no máximo). Caminhando, atravessei a avenida na altura da Fiesp e, quando cheguei ao outro lado, a diferença tinha saltado para 120 metros –naquela altura, estava com pouco mais de 4.500 metros de treino.
Essa diferença (para mais) entre TomTom e Garmin se manteve até o sétimo quilômetro e depois destrambelhou. Terminei o treino com 9,01 km marcados no Garmin e 9,27 km marcados no TomTom. Como disse, não deu tempo para eu refazer o percurso e verificar se o “soluço” se repetia. Também não arrisco hipótese sobre sua causa.
É claro que essas diferenças acontecem, e alguém pode argumentar que o TomTom é que está certo, não o Garmin. Mas o curioso são esses “soluços”, com mudança brusca de quilometragem marcada, que aconteceram em duas oportunidades nos treinos que fiz.
É óbvio que, para mim, é impossível determinar qual a importância desses “soluços” no desempenho geral do TomTom; para isso, seria necessário uma longa bateria de testes, com muito mais rigor do que esta avaliação mais impressionista, de usuário real, de carne e osso, que eu faço.
A maior falha no relógio que testei é que ele não dá o tempo de cada volta, mesmo quando o usuário determina que o treino terá registro por voltas. Ou seja, você tem apenas os indicadores globais do treino, não etapa por etapa.
A boa notícia é que, cada vez que você liga o relógio ao computador e ele se conecta ao site da TomTom, é feita uma busca por novos softwares e, havendo atualização, ela é carregada automaticamente. Segundo a empresa me informou, uma próxima atualização vai permitir a visualização do tempo por volta.
Ao longo dos testes, não consegui ver o desempenho volta a volta nem sequer no site (acima), mesmo quando marquei a opção treinos por volta (há ainda modos de corrida e treino simples, entre outros). A única diferença que vi é que, quando corro por volta, elas aparecem marcadas no mapa que está embutido no site.
Procurei por todo o lado, no site, algum lugar que abrisse informações específicas para o desempenho volta a volta, sem sucesso. Perguntei à empresa, que informou que tais dados só ficavam disponíveis quando o usuário fizesse treino “por volta”. Posso dizer que nem assim.
Claro que o erro pode ter sido meu. Mas devo registrar que tenho uma certa experiência no uso de GPS de pulso e na navegação por sites do gênero. Procurei em todos os pontos clicáveis, sem sucesso. De novo, posso ter falhado; mas, se a informação existe, há também uma falha do design do site em não deixar mais claro o acesso a ela.
Tirando isso, porém, o site é bem bacana, com design modernoso, por blocos –a Garmin está em processo de transição para esse modelo de apresentação). Há versão para uso em dispositivos móveis (o famoso aplicativo ou app…), mas eu gosto mais da apresentação na telona de meu computador de mesa.
Antes de concluir, devo voltar para outros aspectos importantes do relógio. Sua bateria é mais ou menos o padrão do mercado: a empresa promete dez horas de uso com o GPS ligado. Ele tem memória de 2 Gbytes, mantendo armazenados os dez últimos treinos.
O melhor de tudo, porém, é que há uma página no próprio relógio com todas as informações sobre ele: bateria e memória disponíveis, versão do software em uso e número de série. Para quem não gosta de surpresas, isso é ótimo. Que eu me lembre, é o único GPS que testei que apresenta essas informações consolidadas de maneira tão simples e clara.
Para carregamento e comunicação com o computador, o aparelho deve ser tirado da pulseira e colocado numa instalação especial, onde os conectores do relógio e do “berço” se encontram. O ajuste é bem bom, parece não haver risco de falha de comunicação por desencontro ou frouxidão do “abraço” dos conectores.
Talvez o mais sério problema do TomTom Runner seja seu irmão mais novo, o Cardio, que tem monitor cardíaco embutido: acompanha os batimentos do coração sem necessitar da cinta.
Ele apresenta na traseira um sensor ótico que calcula o batimento cardíaco baseado na corrente sanguínea no pulso do usuário. Já testei outros aparelhos que usam sistema semelhante, como a pulseira atlética da Samsung, e o resultado foi bom.
Claro que o modelo com frequencímetro embutido será mais caro –o preço de lista previsto é mais do que o dobro do preço inicial do Runner simples hoje disponível no Brasil. De qualquer forma, é bem possível que usuários mais endinheirados se vejam seduzidos pelas novas funções.
Ao fim e ao cabo, a TomTom se apresenta com uma forte competidora para a Garmin, notadamente na faixa de entrada. O que é muito bom para o usuário, que agora tem pelo menos três marcas muito boas com serviços bastante semelhantes –TomTom, Suunto e Garmin. O GPS da Timex também é muito bom, mas, quando testei, o site de acesso gratuito era péssimo; pode ter melhorado nos últimos dois anos, mas não voltei a visitá-lo.
De qualquer forma, recomendo que interessados em relógios GPS avaliem essas marcas antes de fazerem sua escolha. Cada comprador, cada corredor valoriza algum ou alguns aspectos mais do que outros, o que vai influenciar na decisão. Para meu gosto, entre os aparelhos que testei o Garmin ainda leva vantagem, mas a corrida está um corpo a corpo legal, e a concorrência está em cima dos cascos.