Festival de falta de educação precede corrida em shopping
31/08/14 11:19Saí atrasado, cheguei atrasado, é claro. Mesmo assim, às 6h35 entrei na Marginal Tietê rumo ao estacionamento do shopping Center Norte, onde iria participar de uma corrida de cinco quilômetros. Seria minha primeira participação no circuito Track&Field em toda a história, porque considero muito caras as corridas desse circuito. Para a de hoje, fui a convite.
Apesar de atrasado, confiava que ainda conseguiria pegar meu chip. Afinal, faltavam uns 300 metros apenas para a entrada do estacionamento, e o rigor cronométrico não costuma pautar as barracas onde é feita a entrega; os caras sempre dão uma chance para eventuais retardatários.
Pois logo percebi que talvez não desse certo. Isso porque a fila em que eu estava simplesmente não andava; pela configuração do percurso ali na marginal, era a fila certa, a principal, em que estava a maioria dos carros que iriam entrar no estacionamento.
O problema é que, como acontece em outros locais, onde há filas há furadores de filas. E nossa querida comunidade de corredores, seres supostamente bacanas, apreciadores da paz e da tranquilidade e respeitadores de seus semelhantes, também tem sua parcela de gente que quer levar vantagem em tudo.
Vai daí que, em plena marginal, de repente estavam formadas três filas: a “certa”, digamos assim, mais a dos espertinhos que pretendiam chegar antes roubando espaço pela direito, e ainda a dos supostos motoristas de Fórmula 1 que ultrapassavam a todo pela esquerda para tentar uma vaguinha na fila principal três ou quatro carros à frente.
Para completar a balbúrdia, os corredores-motoristas em carrões importados achavam que só eles queriam chegar ao local da partida da prova antes de soar a corneta da largada. E, além de furarem filas e fazerem ultrapassagens perigosas, se grudavam nas buzinas como se a alaúza fosse fazer os carros andarem mais rápidos….
Finalmente consigo dobrar à direita na rua que, ela sim, vai dar acesso à entrada do estacionamento. Agora são duas filas; a”certa” e a dos fura-fila. Já são 6h45 passadas, deixo para lá a ideia de pegar o chip –pelo menos, estou com o número na camisa—e torço para conseguir entrar logo no portão que fica a uns 50 metros da marginal.
Estou quase pronto para embicar quando fecham aquele portão. Me senti prejudicado, mas, de fato, os caras que cuidavam do acesso demoraram muito para tomar a medida. Afinal, a redução de velocidade e a parada naquele portão, o mais perto da marginal, eram as causas da bagunça na avenida, ampliada pela falta de educação dos corredores-motoristas.
Um fulano do shopping ou da segurança se postos naquele acesso, encaminhando os carros para um segundo portão, este em uma rua lateral a uma distância de uns 400 metros.Isso acelerou o fluxo dos veículos, mas, quando a gente virou na rua lateral, novamente a fila principal ficou demorada, novamente pela ação deletéria dos fura-fila.
Eu ficava lá pensando: uma gente tão bem de vida, em carros tão bacanas, pagando essa fortuna para correr 5 km (ou 10 km), e tão mal educada, tão desesperada para chegar a um portão um segundo antes do vizinho.
A entrada ficava ainda mais demorada porque cada motorista precisava entregar ao guardador do acesso um ticket, papelzinho descartável que veio grudado no número peito. Imagino que a organização tenha lá suas razões para criar esse sistema, provavelmente algum tipo de controle contratual, mas isso acabou contribuindo para a lentidão do acesso.
É bom que se diga que foi dado tempo de sobra para quem quisesse chegar com tranquilidade ao local da prova: o estacionamento abriu as portas às 5h. Quem chegou tarde foi porque quis, dormiu demais ou, tendo acordado cedo, resolveu fazer tudo devagar, já que tinha bastante tempo –foi o caso deste seu blogueiro.
É óbvio que a organização não é responsável pelo atraso de ninguém. Mas a empresa organizadora é experiente nesses eventos e sabe que boa parte dos corredores chega em cima da hora. Quando esses corredores assumem a dupla-personalidade de corredor-motorista, é um prato cheio para confusão.
Faltou rapidez em tomar providências quando a confusão no acesso ficou evidente.
Aquela medida de fechar o acesso mais próximo da marginal, por exemplo, poder ia ter sido tomada dez ou quinze minutos antes. Pelo que vi, é bem provável que contribuísse para diminuir ou mesmo evitar a bagunça na avenida. Essa história do bilhetinho de acesso me parece dispensável –de novo, imagino que os caras tenham alguma razão; do ponto de vista do usuário, porém, ele não é razoável: só provocou mais demora na entrada.
Com tudo isso, a largada atrasou mais de dez minutos (veja AQUI trecho de vídeo produzido por Eleonora Lucena).
O sistema de som na largada não estava bom. A voz da locutora –pelo que me lembre, é raro ter mulher como mestre de cerimônia de corrida—não chegava longe e seu volume era insuficiente para prover de informações todo o grupo. Mesmo assim, consegui perceber quando ela anunciou que a largada seria em cinco segundos.
Levei ainda uns dois minutos para passar pelo pórtico, largando às 7h14 para o percurso de cinco quilômetros. Gostei do trajeto, apesar de dar um monte de voltas e ser basicamente no estacionamento do shopping e em algumas ruas do entorno. Isso porque o relevo era bem variado, ainda que descidas e subidas fossem leves, com exceção de uma inesperada rampinha um pouco mais forte.
Houve água em abundância, servida em copinhos. Os que peguei estavam bem gelados.
No final, meus GPS marcavam distâncias diferentes.
Os GPS em relógio, que acionei no instante da passagem sob o pórtico de largada e desliguei imediatamente ao chegar, marcavam 4,87 km e 4,88 km, demonstrando que ambos estão bem calibrados na comunicação com o satélite, ainda que sejam de marcas diferentes.
Demorei um pouco para acionar e desligar os GPS utilizados por programas de celular, devido à minha incompetência no manejo desses programas e à falta de compreensão, por parte deles, dos meus toques desesperados (foto Eleonora Lucena). Um deles marcou 5,26 km e o outro, 4,96 km. Ambos estavam conectados remotamente a pulseiras chamadas “atléticas” ou “esportivas.
Se você ficou curioso sobre o motivo que me levou a usar tantos aparatos tecnológicos, saiba que fiz isso pensando em você: estou testando alguns produtos recém-lançados; minhas avaliações serão publicadas ao longo dos próximos dias.
Independentemente da distância marcada, o mais importante para mim foi o ritmo que consegui impor nesse pequeno percurso, minha primeira corrida de verdade depois de longos meses de lutas contra lesões e dores diversas em vários pontos de meu corpo quase sexagenário. Nos 30min42 que a prova me tomou, consegui manter média de 6min17, o que é praticamente voar, considerando minha presente condição atlética. Melhor ainda: não tive dores nos pés, nas costas, no glúteo, em lugar nenhum.
Talvez o “intenso” ritmo empregado não tenha dado tempo para as dores acordarem… Sei que amanhã ou depois estarão de volta, mas acho que vai dar para encarar. Qualquer hora dessas eu melhoro, talvez um dia fique bom.
Me aguardem.
Ah, eu disse lá em cima que corri essa prova a convite. A gentileza foi da Mercurochrome, uma das patrocinadoras do evento.
VC FALOU TUDO, CARO LUCENA, “muito caras as corridas desse circuito”, aliás outro dia me deparei com uma que custa a bagatela de R$ 250,00 por 10 K, ou seja, R$ 25,00 por cada KM corrido, sendo que a corrida sempre foi o mais democrático dos esportes…
A falta de educação está dentro do contexto da sociedade: todo mundo acha que é mais importante que o outro.
Tu vais na padaria, a fila demora 1 minuto, as pessoas começam a reclamar.
Acho que moravam num castelo antes.
A propósito, Rodolfo: pessoal daqui estava dizendo que na meia do Rio quem correu com a camiseta do Grêmio foi xingado na rua. Também aconteceu contigo aí? Como estão as coisas em SP em relação a isso do Grêmio na semana?
Obrigado. Naquela corrida não fui xingado, não. Eu sou apenas um torcedor do Grêmio, que é maior do que esses problemas; a maioria de nós não compactua com o racismo (pelo menso, é o que eu espero e acredito).