Sistema computadorizado inédito no Brasil analisa forma do corredor
25/07/14 13:50Participei na última quinta-feira de uma avaliação do meu estilo de corrida realizada por um sistema computadorizado inédito no Brasil. Trata-se de uma versão mais completa e sofisticada das análises do movimento, mesmo as realizadas com várias câmeras. O sistema analisa vários aspectos do estilo da corrida do atleta e os compara com padrões previamente definidos e considerados “ótimos”. A partir daí, dá sugestões para que o atleta melhore seu estilo para torná-lo mais seguro e/ou eficiente.
Claro que, como se trata de um sistema desenvolvido por uma fabricante de calçados de corrida, ele acaba por analisar também a passada e sugerir calçados e roupas que considera mais indicado para seu estilo. Apesar de os resultados virem escritos em linguagem clara, com ilustrações, acho difícil que corredores comuns consigam aproveitá-los efetivamente. O ideal, me parece, é que esses resultados sirvam para abastecer de informações técnico de corrida ou fisioterapeuta que possam, então sim, auxiliar o corredor com base em material bem concreto.
Dito isso, vamos às informações mais específicas.
O sistema se chama Form, sigla em inglês para otimizador da forma da metodologia da corrida, em tradução livre mais ou menos literal. A mensagem que eles querem passar é que o programa não é um mero analisador de corrida pois, além da análise, propõe mudanças no estilo de corrida e mesmo no ritmo de treinos do atleta.
O tal Form foi desenvolvido no Japão pela Mizuno ao longo de três anos, a partir de 2009. Os pesquisadores da empresa analisaram a corrida de centenas de atletas, profissionais e amadores, para chegarem a uma espécie de benchmark da forma ideal de corrida. Ou seja, a partir da observação e da análise computadorizada da marcha desse povo todo, criaram um padrão do que é a “corrida ótima”.
Esse padrão leva em conta cinco grandes áreas: segurança (o quanto seu estado físico e seu estilo de corrida podem ser fator de risco para a produção de lesões); postura; relaxamento; trajetória (que analisa o posicionamento do peso ao longo do movimento); e balanço, que analisa o movimento das pernas.
Há ainda uma comparação da forma da corrida, com críticas e sugestões. Imagens mostram a corrida do atleta avaliado e como ela deveria ser (ou como deveria ser a forma ideal, um bom exemplo). Veja abaixo o resultado; eu sou aquele sujeito balofo da linha de cima…
Para fazer o teste, o atleta fica numa esteira e corre numa velocidade a que está acostumado, o seu ritmo médio, confortável de corrida. Mas cada testado pode escolher o ritmo; um colega que passou pelo teste depois de mim pediu para colocar a esteira em 20 km/h, quando soube que a filmagem durava menos de três minutos. Não sei se rolou…
Realmente o tempo na esteira é curto. Apenas alguns passados são efetivamente analisados, como acontece em outros testes semelhantes. Uma câmera lateral e outra colocada um pouco à frente, da diagonal, capturam as imagens; o programa transforma tudo em cenas 3D e, depois de um tempo, emite um relatório bem completo, de três páginas.
A primeira –talvez a mais importante- é a avaliação propriamente dita. Em cada um daqueles itens, o sujeito recebe uma nota de zero a cem, conforme esteja mais ou menos distante do que é considerado ideal naquele aspecto (segurança, postura, relaxamento, trajetória, balanço). Daí recebe uma nota média, que é comparada com os resultados gerais já obtidos pelo sistema. Na minha categoria de ritmo de maratona, por exemplo, eu fui a 14ª pessoa analisada. Para deixar tudo simétrico, tive a 14ª pior nota…
O sistema já é usado no Japão desde o segundo semestre de 2012. Disponível em algumas lojas da Mizuno, custa cerca de US$ 30 (cerca de R$ 75, conforme a conversão usada). Até agora, cerca de 3.000 pessoas já passaram pelo Form no Japão; três delas tiveram média 100 na avaliação. Em geral, a média fica em torno de 70.
A minha média ficou abaixo de 50 (45,8 para ser exato). O mais importante, porém, é que os resultados apontados e as práticas sugeridas batem, de modo geral, como avaliações feitas por fisioterapeutas e especialista em corrida que me atendem ou já me atenderam: em suma, sou um caso perdido, mas continuo tentando até sei quando.
Aqui no Brasil, pelo menos por agora, o teste vai ser oferecido gratuitamente exclusivamente para participantes de corridas patrocinadas pela Mizuno (circuito de meias maratonas e uma maratona de montanha no Sul). Haverá um número limitado de inscrições e também convidados especiais da empresa. A estreia do serviço é neste domingo, na meia maratona Mizuno de Porto Alegre (para essa, porém, segundo entendi, as vagas para avaliação já estão totalmente ocupadas).
O meu balanço geral é que é um sistema bem legal, mais completo do que qualquer outro que já analisei ou em que fui analisado, mas que dificilmente será muito útil para o corredor comum se ele não tiver um acompanhamento especializado.
Sem acompanhamento, o que o corredor vai ter será um retrato de si mesmo e uma análise objetiva de seus pontos fortes e fracos na corrida (eu, por exemplo, só péssimo na segurança e muito bom no relaxamento). Claro que isso, por si só, já é uma mão na roda. Mas vai ser preciso interpretar e colocar em prática as recomendações feitas pelo sistema.
Sobre essas recomendações, claro que o melhor seria que fossem analisadas por um médico ou fisioterapeuta. Já percebi que praticamente cada um desses profissionais tem uma linha de trabalho, então provavelmente alguns vão considerar excelentes as avaliações e recomendações do Form, e outros talvez as considerem inadequadas. Pelo que conheço de mim, pelas avaliações que já passei e pelo trabalho que tento fazer para melhorar (sem muito sucesso, é verdade), tudo me pareceu bem razoável.