Carregador de GPS pode fazer mal ao computador
30/06/14 13:54A beleza, a graça e a elegância da mais moderna tecnologia me atingiram como um soco quando abri a caixa do relógio de corrida com GPS que iria testar. Vestido de azul e negro, com uma tela redondinha de ótima definição em que os algarismos se destacam, o Garmin Forerunner 620 parece dizer: “Compra eu, tio”.
Calma, cocada. Vamos pelo menos olhar a embalagem, dar uma geral nas especificações, passar os olhos no manual do usuário –ih!, isso nem existe mais, o que há é um “Guia de Início Rápido”. Pois foi começar a ler e levei um choque (no sentido figurado….).
Com grande destaque, letras em caixa alta, com tipos mais fortes, escritos sobre uma faixa laranja e com um triângulo amarelo ao lado, anunciam: “AVISO”.
Não costumo dar bola para esse palavreado, que costuma ser o mesmo para os mais diversos equipamentos. Por descarga de consciência e dever profissional, porém, tratei de ler o dito cujo. E fiquei sabendo que o carregador do belo GPS a ser testado poderia ameaçar a existência de meu computador. E, se eu porventura carregasse no peito um marca-passo, também poderia ser vítima da traquitana, Chucky em forma de relógio.
Está lá escrito, em português de Portugal: “O suporte de carregamento contém um íman. Em determinadas circunstâncias, os ímanes poderão causar danos em alguns dispositivos eletrónicos, incluindo discos rígidos em computadores portáteis. Tenha o devido cuidado quando o suporte de carregamento está próximo de dispositivos”.
E também: “O suporte de carregamento contém um íman. Em determinadas circunstâncias, os ímanes poderão causar interferência com alguns dispositivos médicos, incluindo pacemakers e bombas de insulina. Mantenha o suporte de carregamento afastado desses dispositivos”.
Imagino que a Garmin entenda que, do ponto de vista legal, esse tipo de aviso seja o suficiente para isentá-la de responsabilidades no caso de algum acidente do gênero. Imagino também que, no caso de algum problema, haverá centenas ou milhares de advogados dispostos a provar que não, essa advertência não isenta a empresa de culpa.
Bom, querelas jurídicas e questões legais não são a minha praia, e não pretendo aqui fazer nenhum tipo de acusação. Também não sei qual é exatamente o grau de risco que o carregador representa –em pesquisa na internet, não encontrei registro de problema (o que não significa que não tenha acontecido).
Como usuário, porém, considero o alerta feito pela Garmin insuficiente. Genérico demais, me deixou inseguro em relação ao uso do carregador. Afinal quais são as “determinadas circunstâncias” em que o imã poderá causar interferência no disco rígido do computador ou em um marca-passo? Qual é o “devido cuidado” a ser tomado? E a qual distância ele deve ser mantido dos aparelhos potencialmente ameaçados?
Em suma, é evidente que a Garmin poderia ser menos genérica no seu aviso. Nem imagino que implicações isso poderia ter, do ponto de vista legal, mas, como usuário, eu ficaria mais feliz se tivesse uma indicação como: “Ao carregar o Forerunner 620, deixe o relógio distante do seu computador pelo menos um metro”. Enfim, não tenho ideia de como a empresa poderia informar melhor; como consumidor e usuário, espero ter informações mais claras e precisas sobre o equipamento comprado, ainda mais quando ele representa risco para a saúde humana ou para o bom funcionamento de outros equipamentos.
Independentemente dessa potencial ameaça, tenho cá comigo que a origem desse problema é o fato de que a Garmin até hoje não definiu um padrão de sistema para fazer a recarga dos relógicos com GPS e a comunicação deles com o computador.
Eu uso equipamentos da Garmin desde 1999. Ao longo desse período, já comprei pelo menos quatro relógios/GPS, além de testes em outros modelos. Em cada um deles, o sistema de recarga e comunicação com o computador era diferente; e todos tinham problemas.
O sistema do Forerunner 310 era uma dor de cabeça: um bercinho em que se colocava o relógio “de costas”, para que conectores do aparelho se encostassem nos do berço. Precisava acertar a posição, dar um jeitinho; às vezes demorava mais tempo para ajustar o relógio no berço do que para fazer a transferência das atividades.
O do 201 era o melhor (aliás, aquele 201 era o máximo!!!): havia uma porta miniUSB na lateral do relógio, que era um mostro retangular. A porta tinha uma “fechadura” de borracha que, com o tempo, passava a não vedar muito bem os conectores…
São os que me lembro. O meu relógio atual é o 210, com um sistema de clipe, que encaixa batoquinhos do clipe em conectores no relógio e fica preso por pressão. Tem funcionado bem, de modo geral, ainda que, de vez em quando, seja preciso dar um jeitinho para que a comunicação aconteça.
O sistema do 620, que é o assunto deste teste, é um aperfeiçoamento do bercinho lá do velho 310, agora menor, mais ajustado, mais leve e elegante. Para que fique devidamente preso ao relógio e propicie a conexão, ele tem esse sistema magnético, esse imã, que pode provocar os problemas já mencionados.
Enfim, como se vê, é uma salada tecnológica; cada sistema tem vantagens e desvantagens. Como você deve ter percebido, gosto mais do sistema do 201, mas é claro que ele era possível por causa do tamanho do relogião. Bueno, há que se viver com o que tem; espero que a Garmin um dia consiga dar um jeito nisso –e também de aumentar a capacidade da bateria, que é a maior deficiência dos relógios com GPS.
Dito isso, vamos ao Forerunner 620. Além da elegância, sua característica mais marcante é o fato de ter tela sensível ao toque. Funciona muito bem, mesmo para um sujeito desastrado como eu. Claro que o usuário precisa ter alguma paciência no início, e é recomendável fazer os ajustes do relógio tendo à frente o “Manual do Utilizador”. Sujeitos de memória fraca, como eu, precisam de várias saídas com o relógio para memorizar os diversos comandos, funções dos botões e dos toques na tela.
Mas é possível aprender e daí é bom demais. Os números são bem definidos, ainda que pequenos quando a tela é dividida em três partes (a central tem algarismos mais parrudos). O relógio é muito confortável, assim como a cinta para monitoramento dos batimentos cardíacos.
O GPS é bastante preciso, mas demora um pouco para acertar quando o corredor troca de ritmo –isso não é problema só do Forerunner: absolutamente todos os GPS que testei apanham quando a gente passa de caminhada para corrida ou acelera de repente.
Além disso, o 620 deu uma rateada braba em um dos treinos: marcou a passagem do quilômetro quando eu havia percorrido apenas cerca de 600 metros. A prova do crime está aí ao lado: num treino de caminhada, com quilômetros feitos em mais de dez minutos, a segunda volta está com pouco mais de três minutos (quisera eu ser capaz de fazer um quilômetro em três minutos!!!).
Fiz o mesmo percurso em outras duas oportunidades, imaginando que o parelho pudesse ter sofrido alguma interferência, mas tudo transcorreu na mais santa paz. Enfim, fica o registro do problema.
De resto, tudo muito bom. Tem as funções que me interessam em um monte de outras para as quais não tenho serventia, mas que sei que muitos corredores gostam, como o parceiro virtual e a sincronização com o celular inteligente.
Ah, o 620 também é muito simpático: dá parabéns quando o usuário bate recordes de distância ou velocidade e também sugere períodos de recuperação ao final de cada treino (nesses, é um pouco exagerado, mas tudo bem).
Para o meu bolso, é caro. Em moeda brasileira, o mais barato que encontrei na internet foi R$ 1.300; imagino que, procurando mais, seja possível obter melhores ofertas. Nos EUA, o pacote com cinta para monitoramento cardíaco custa cerca de US$ 450, então a diferença não é grande. De qualquer forma, é mais do que eu estou disposto a pagar por um equipamento desses.
Em comparação, o 210 tem preço de lista de US$ 250 e é encontrável por US$ 170. É mais pesado e mais gordinho que o 620, não tem tela sensível ao toque nem outras modernidades, mas mede tempo, distância e batimentos cardíacos. Para mim, basta.
Rodolfo, deixo aqui meus pitacos:
1- Quanto a distância segura acho que o prudente é extensão total do cabo do carregador e não deixá-lo ao lado do computador.
2- Ouvi a seguinte explicação para as variações a menor do GPS: quando um sinal de GPS é perdido (que pode acontecer por vários motivos), a correção é através de uma linha reta até o ponto atual, desconsiderando curvas e retornos, com isso a distância fica mais curta.
É lamentável que o autor gaste quase metade do texto para falar de um assunto tão irrelevante como o aviso legal do produto.
Sr Rodolfo: que tal pensar no interesse de seus leitores? Eles querem ver mais sobre as funções do produto e menos sobre suas críticas sem fundamento de assuntos sem importância.
Quer se inspirar? Leia o DC Rainmaker