Uma corrida em San Antonio, cidade bela e guerreira
19/06/14 13:21
“Remember the Alamo!” é a frase onipresente nas ruas de San Antonio, uma das mais belas cidades do Texas. E como não lembrar? O Alamo está por toda parte, em nomes de restaurantes e hotéis, bebidas sofisticadas, ruas. E, claro, há o Alamo propriamente dito.
Não o verdadeiro, o original, mas uma reconstrução do que sobrou depois do ataque dos mexicanos comandados pelo general Santana, em 1836. Todos os defensores do forte foram mortos, depois de um cerco brutal. A resposta veio em uma batalha posterior, em que os texanos derrotaram os mexicanos tendo como palavra de ordem a tal “Remember the Alamo”.
Por um tempo o Texas virou território independente, logo anexado aos Estados Unidos.
Hoje o Alamo é ponto turístico de visitação obrigatória para quem visita a cidade (se você quiser, dá para fazer uma visita virtual por este site AQUI, que tem também ótimas informações históricas). Em volta dele há bares, lojas, restaurantes, um hotel tradicionalíssimo onde supostamente habitam fantasmas e uma pequena praça de onde costumam sair as corridas locais.
Foi em torno dessa praça que fiquei rodando que nem barata tonta quando estive na cidade –a vista rendeu uma reportagem publicada na última quinta-feira no caderno Turismo, da Folha; veja o texto AQUI. Procurava, sem sucesso, o grupo que iria participar da River City Run (confira AQUI o site oficial). Sabia que seriam poucos; não havia pórtico nem faixas, muito menos cartazes. E estavam atrasados.
Será que eu estava no lugar errado? Caminhei mais um pouco, cruzei outro quarteirão, a tensão crescendo. Aquela seria uma corrida arriscada para mim, pois, para variar, estava em um dos tantos períodos de recuperação de lesão, dor ou algum sofrimento qualquer –ultimamente, parece que vivo nisso, em recuperação sem nunca me recuperar.
De qualquer forma, não haveria de ser um grande esforço: a distância prevista era de cerca de 5 km, a serem percorridos em aproximadamente uma hora e meia.
Claro que nem nos meus piores momentos de corredor eu levaria 90 minutos para rodar 5 km. A corrida é que é diferente: trata-se de um “running tour”, como eles dizem, uma corrida misturada com passeio turístico. Os trechos efetivamente corridos são curtos, de 200 m a 1.500 m no máximo. Servem apenas para os participantes irem de uma atração turística a outra. Em cada parada, os anfitriões contam a história do monumento, prédio ou praça visitada.
Para mim, foi uma delícia. Tinha chegado à cidade no final da tarde anterior. Aproveitei o início da noite para uma caminhada e logo percebi que era hospitaleira, gostosa de passear, apesar de não ter nenhuma grande beleza natural.
Sua maior riqueza é o rio, xará da cidade. Ele corre abaixo do nível da maioria das ruas. Por toda parte, há escadas que levam às alamedas construídas na beira do rio, onde também há restaurantes em penca, bares, lojinhas mais ou menos sofisticadas e até o acesso a um shopping center bem razoável.
Damos uma paradinha em frente ao tal hotel assombrado, passamos pela torre de rádio e tv, mais alta construção da cidade, que abriga no topo um bar e restaurante famoso pela vista (cheguei a visitar e não me empolguei muito, tudo em volta é uma planície sem fim).
A “corrida” prossegue por praças, onde somos apresentados a figuras históricas. Também cruzamos pelos prédios das instituições locais, prefeitura, palácio da Justiça, câmera etc. E, na perna mais longa do passeio, chegamos até o mercado das pulgas, uma feira de rua com muitas lojinhas mexicanas, comida aos montes, atrações musicais –nos finais de semana—e prédios maiores, onde há uma espécie de camelódromo sofisticado, com montes de pequenas lojas de lembranças, roupas e outros artefatos que costumam atrair turistas.
Nas corridas, tentei ficar sempre na frente—já que era tão pouquinho, tentei ver como ia o corpo. Um dos monitores pergunta quantos anos tenho e comenta que até que não estou mal para minha idade. Fiquei furioso por dentro, mas mantive a elegância que me caracteriza, ainda mais que o sujeito tinha metade da minha e jamais havia corrido sequer uma meia maratona: estava treinando para sua estreia, que seria em algumas semanas. Boa sorte, camarada, que o asfalto te seja leve!
Pedrão, prezado leitor, querida leitora, pelo parêntese de caráter totalmente pessoal. Volto à cidade, que estou mostrando em fotos ao longo desta mensagem: na manhã de domingo, um casal de noivos aproveitou para as fotos de sua próxima, futura ou passada, sei lá, celebração de enlace.
E, com tranquilidade, sem dores maiores e de coração alegre, terminamos a jornada na cidade sonolenta e bela, onde a maioria da população ainda dormia, aproveitando a folga dominical –ou, pelo menos, é o que as ruas dão a entender…