Goleador da Copa de 94 é tema de documentário
31/05/14 09:04Hristo Stoichkov é o maior ídolo futebolístico da Bulgária: fez o gol de empate com a Alemanha na Copa de 1994, abrindo caminho para a vitória que levou o país à sua maior glória em campos de futebol.
Ele é o tema de documentário apresentado neste sábado no Cinefoot, festival de cinema sobre futebol que está rolando em São Paulo e em Belo Horizonte (confira AQUI a programação).
O filme é dirigido por Borislav Kolev, um dos mais respeitados críticos de cinema e jornalista cultural da Bulgária, também conhecido pelos seus apaixonados roteiros para documentários sobre esporte.
Entrevistei o diretor (foto) para uma reportagem publicada hoje na Folha (confira AQUI). Para você, trago mais detalhes, com os melhores trechos de nossa conversa por e-mail.
FOLHA – Por que o senhor decidiu fazer “Stoichkov”? Como foi o nascimento do filme?
BORISLAV KOLEV – Em 2009, eu e meus produtores da Camera, uma das maiores companhias de cinema da Bulgária, conhecida no Brasil pela série de TV “Undercover”, decidimos que um ícone esportivo como Stoichkov merecia ter sua vida registrada em cinema. Entramos em contato com ele que, na época, trabalhava como treinador na África do Sul. Ele disse: “Ok, turma, peguem o avião e venham para cá!” E nós fomos para Johannesburg. Stoichkov entendeu que nós tínhamos um projeto sério e começamos as filmagens na África do Sul. Era março de 2010.
Esta foi a sua primeira experiência como diretor. Como é trocar de lado, passar de crítico de cinema a realizador?
Esta é a minha estreia na direção, mas antes já havia participado de seis filmes como roteirista. Como crítico de cinema e jornalista da área cultural, eu já havia chegado ao topo na Bulgária. Precisava de um novo desafio, eis a razão para trocar de posição. E eu me arrisco a dizer que tive sucesso na mudança. “Stoichkov” teve muito sucesso na Bulgária e tem sido apresentado em festivais de cinema no mundo todo. Grandes redes de TV compraram o filme. Ganhei a oportunidade de fazer meu Segundo documentário e agora estou preparando meu primeiro longa metragem de ficção.
Como foi trabalhar com Stoichkov? A experiência mudou a opinião que o senhor tinha dele?
Stoichkov tem uma personalidade difícil, e isso todo mundo sabe. Mas, se ele não tivesse essa personalidade, ele não teria tido uma carreira tão bem sucedida e não seria esse megastar. Nossa equipe de filmagem temia que fosse muito dfícil trabalhar com ele, mas acabamos não tendo muitos problemas. Houve uma exceção: durante as filmagens, ele desapareceu de repente por tr\ês meses sem dar a menor explicação. Parou de responder às nossas ligações. Simplesmente se evaporou! Depois de três meses, meu telephone tocou: Stoichkov! E ele disse, como se nada tivesse acontecido: “E aí, cara, quando é que a gente vai filmar?”
Na sua opinião, qual a parte mais emocionante do filme?
Para mim e para todos os búlgaros, a parte mais emocionante do filme é a vitória sobre a Alemanha na Copa de 1994 e o encontro com nosso time em Sofia depois do Mundial. O povo recebeu os jogadores como heróis, o sucesso deles foi importante para aumentar a confiança no país e uniu a nação.
Há alguma coisa que o senhor gostaria de ter feito diferente?
Ah, há muitas. Mas agora é tarde demais para qualquer mudança.
O filme tem muitas cenas de jogos e lances de gol. Qual seu preferido?
Para todos os búlgaros, é claro que o gol mais importante de Stoichkov foi contra a Alemanha (na Copa de 1994). Mas ele fez gols brilhantes no Barcelona, alguns deles em cooperação com Romário. Para mim, eles formaram a melhor dupla de artilheiros do mundo na primeira metade dos anos 1990.
Seu filme também aborda aspectos políticos que influenciaram a vida do jogador…
Sob o comunismo, Stoichkov foi banido do futebol por causa de uma transgressão inocente. Foi uma decisão criminosa das autoridades comunistas. Mas isso já é passado. Stoichkov é um líder nato, dentro e for a do campo. Há muitos grandes jogadores na história do futebol, mas os verdadeiros megastar não são tantos. Stoichkov é um deles não apenas por ter sido um grande artilheiro, mas também um líder, uma pessoa absolutamente carismática.
Ele também é famoso por seus acessos de grandeza. Teria dito, por exemplo: “Há dois Cristos, um no céu e outro no Barcelona”…
Essa frase de Stoichkov é parte da lenda sobre ele, mas ele nunca disse isso. Como qualquer superstar, a vida de Stoichkov é retratada também com frases e atos que ele nunca disse ou realizou.
Qual é a importância de Stoichkov para a Bulgária?
Ele é o verdadeiro embaixador da Bulgária. As pessoas conhecem o nosso país por causa dele.
Ele foi maior do que Pelé? Como o senhor o compara a Pelé, Maradona ou Messi?
Na minha opinião, os megastars não podem ser comparados, cada um teve sua época. Para mim, a pessoa mais influente na história do futebol foi Johan Cruyiff. Ele fez duas revoluções no futebol, como jogador e depois com técnico. E não são apenas revoluções esportivas, mas também estéticas.
O senhor vai vir ao Brasil para a Copa? Quais suas expectativas?
Infelizmente, vou assistir à Copa pela TV. Como qualquer fã de futebol, espero ver jogos espetaculares. E tenho certeza de que o Brasil será o campeão do mundo.