Esconder riscos da corrida não ajuda a ninguém
04/04/14 11:07Cada vez que este blog ou outros sites especializados publicam notícias de mortes em corridas, aparece gente comentando que isso bobagem, que o sedentarismo mata mais, que o risco de não fazer nada é maior e outras coisas do gênero.
Alguns comentaristas chegam a ser grosseiros, como se tomassem as notícias como ofensa pessoal, tratando o blogueiro ou serviço noticioso como o inimigo número 1 de seu amado esporte.
Esse tipo de atitude não ajuda a ninguém, muito menos ao nobre e delicioso esporte da corrida a pé. Estar bem informado sobre a atividade que pratica ajuda o praticante a ter maior prazer e segurança no que faz.
No mês passado, tivemos mortes em várias meias maratonas pelo mundo. Tenho conhecimento de vítimasos nos EUA, no Reino Unido e no Brasil (duas ocorrências em um mês). Muito provavelmente, ocorreram outros casos que não chegaram à imprensa internacional ou nacional.
Isso deveria ser motivo para acender o sinal de alerta, não para ligar o avestruzômetro e esconder o cabeça em um buraco na terra, como supostamente faz aquele veloz corredor ao perceber o perigo.
Corrida faz bem à saúde, mas também faz mal.
Para cada estudo que mostra enormes benefícios propiciados pelo exercício, há outro que aponta o contrário.
“Jogging pode ser perigoso, dizem cientistas” é o título de uma reportagem publicada recentemente no jornal britânico “The Independent”. Pesquisadores de um instituto da Pensilvânia especializado em cardiologia concluíram, depois de acompanhar mais de 3.800 corredores, homens e mulheres com média de idade de 46 anos, que quem corre mais vive menos.
Corredores que praticavam de duas a três horas de corrida por semana apresentavam grandes melhoras de todos os indicadores de saúde. Os que mandavam ver acabavam tendo expectativa de sobrevida semelhante à de sedentários.
Em contrapartida, outro estudo, apresentado no mais recente congresso do Colégio Norte-americano de Cardiologia, mostrou resultado diverso.
É bem verdade que foi com número menor de pessoas. Envolveu corredores de várias idades que se preparam para a maratona de Boston e mostrou que o treinamento para a maratona (período de 18 semanas em que os corredores foram acompanhados) só trouxe benefícios para a saúde cardiovascular de todos os envolvidos. Os riscos acontecem durante a prova, especialmente na segunda parte da corrida (período em que é registrado o maior número de mortes). O sujeito força demais e capota…
Os mesmos resultados variados são vistos nas poucas pesquisas sobre o mundo das ultramaratonas. Um estudo recente provocou reação irada de alguns ultras porque mostrou que, depois de uma prova de superlonga distância, o correr chega a perder até 6% da massa do cérebro.
Isso é uma enormidade! No processo de enevelhecimento, o ser humano médio perde cerca de 0,2% da matéria cinzenta por ano. Pessoas com esclerose múltipla perdem 0,5% ao ano, e portador do mal de Alzheimer, cerca de 2% por ano.
Repetindo: a ultramaratona provoca o TRIPLO da perda de massa cinzenta causada pelo Alzheimer e 30 (TRINTA!!!!) vezes mais que o processo comum de envelhecimento.
Bom, era uma sumermegaultramaratona, cerca de 5.000 quilômetros percorridos em dois meses… Além disso, a perda foi revertida naturalmente pelo corpo: seis meses depois da prova, a quantidade de massa cinzenta dos corredores estava normal.
Mesmo assim, é algo assustador, você não acha?
Se você é ultramaratonista, preferiria não saber disso?
Bueno, azar, agora já contei.
Saiba também que, em contrapartidas, provas de longas distâncias provocam menos danos musculares dos que outras mais curtas. É o que diz estudo feito por fisiologistas da Universidade de Lausane, na Suíça.
Na minha opinião, não é de grande valia, pois comparou ultra com ultra: corredores que fizeram uma prova de 330 km tiverem menos danos do que participantes de provas da metade e até de ¼ da distância.
Bom, independentemente da acuidade dos estudos, o certo é que há pesquisas que dizem que a corrida é a melhor coisa do mundo e outros que aponta nosso esporte como o demônio em tênis.
A mim parece que o praticante regular de corrida busca no esporte mais do que saúde; a corrida envolve paz de espírito, estilo de vida e outros fatores psicossociais que vão muito além da contagem de colesterol ou da taxa de gordura.
O que não significa que agente deva sair se matando por aí.
O que os especialistas recomendam é que o exercício deve sempre ter progressão lenta e gradual. A intervalos, é preciso fazer períodos de descanso. Há que se alimentar bem, beber bastante água, aquela coisa toda.
Deve-se buscar acompanhamento médico e fazer testes que eles recomendem antes de começar a praticar corrida.
Daí, é mandar ver.
Vamo que vamo, com força e com vontade!
Interessante o artigo. Recentemente fui a uma palestra de um médico do esporte e ele citou (baseado na literatura médica) que o risco de morte em maratonas é de 1 em 100 mil, semelhante a qualquer aglomeração de pessoas, seja para correr ou não.
Olá Rodolfo. Gosto quando você cita os estudos feito nos laboratórios mundo afora, principalmente os relacionados à fisiologia. Porém, seria legal você publicar o título deles também; algumas vezes é possível pesquisar e encontrar o original.
Boa dica; costumo fazer isso, mas deixei de lado o padrão nesse post. VOltarei ao assunto.
Fala Rodolfo,
Adorei esse post, principalmente da parte em que perdemos 6% da massa encefálica numa prova super longa. Cara, você consegue imaginar que tamanho deveria ser o seu cérebro antes de início nas ultas ???? Você não passava em porta nenhuma………hahaha
Muito interessante discussão essa, Rodolfo. Eu acho que como vc exemplifica, existem muitas formas de correr e muitos objetivos e nesse sentido cada estudo é um estudo e precisa ser analisado com cuidado, razão pela qual seria interessante vc deixar o link para os estudos.
Acho que falar de morte em corrida é igual falar de acidente de avião – todo mundo passa a ficar com medo de voar sem saber o quanto perigoso voar realmente é. Aí quando alguem quantifica as probabilidades vc descobre que limpar a calçada na frente de casa é mais perigoso do que voar de avião (exemplo ilustrativo, não real, eu nunca calculei as probabilidades, mas aqui muita gente morre limpando a neve na calçada…).
Acho que objetivos são importantissimo, como vc bem disse. Nao adianta a gente ficar querendo dizer que correr não é saudável se a maioria da galera não corre por saúde (mesmo se dizem que correm!). Se o seu objetivo é realmente saúde, eu concordaria com seu parágrafo lá em cima – 3h por semana, mas quem sou eu, então vale a pena cada um investir um tempo e pesquisar.
Embora exame médico tenha sempre sido pregado como prática preventiva super importante, tipo, corredor deve fazer check-up todo ano, eu tenho cada vez mais questionado isso. Por um lado eu nunca achei estudos mostrando que exames preventivos periódicos sejam melhores do que não fazê-los. O problema é que tem sido debatido, e parece que em alguns casos provado, que coisas como mamografia, Ressonancia magnetica, Eletrocardiograma são na verdade danosos se feitos com muita frequencia, provavelmente porque eles vão acabar influenciando a sua vida por causa da detecção de coisas que nunca realmente afetariam a sua vida, mas porque foram detectadas, agora afetarão. Isso porque as técnicas modernas tem muito poder de detecção e vêem mesmo coisas não significantes. Então é complicado.
Eu acho que precisamos ser felizes. Tem se mostrado repetidamente que atividade física é importante para a saúde, então precisamos considerar fazer alguma atividade física e não inventar desculpas. Mas aí temos que fazer o que gostamos e gostar do que fazemos. E, especialmente se o nosso objetivo é saúde, precisamso procurar nos informar com fontes confiáveis.
Marcos
Deste artigo, conclui-se que o que é prejudicial é o excesso. Convenhamos, que praticar corrida 3 ou 4 dias por semana, com duração de 45/50 minutos está muito próximas 3 horas semanais e, para mim, é o ideal. A não ser que você queira frequentar o pódio das corridas de rua…..