Cinquentão faz sub4h na maratona de Tóquio
23/02/14 13:17“A prova foi genial, maravilhosa”, me escreve o amigo e leitor Carlyle Vilarinho, que deves estar até agora festejando do outro lado do mundo, nas ruas e nos bares de Tóquio. Ele não só completou a prova inteiro e com saúde como também fechou em menos de quatro horas. Pode não parecer grande coisa, mas é um feito considerável para nós, cinquentões. Morador de Brasília, Carlyle tem 55 anos (é um garoto, perto de mim…) e, como todos os outros mais de 30 mil candidatos à maratona de Tóquio, passou a última semana torcendo para que ac abassem as terríveis nevascas que torturaram a cidade de Tóquio e deixaram pelo menos 19 mortos (última contagem que vi).
Bom, o tempo melhorou, a corrida saiu e temos agora este texto de CARLYLE VILARINHO, a quem agradeço a participação no blog. Ele começa do começo, das emoções da chegada. Então, acompanhemos o maratonista passo a passo.
“O sonhado momento está chegando. Nevasca ou mera neve é coisa do passado. A meteorologia indica bom tempo para o fim de semana.
Na quinta-feira, primeiro dia de retirada do kit. O local é meio longe do centro e dos hotéis, leva uns 30 minutos de trem até lá. Cheguei cedo, bem na abertura. Ler aquele portal “Tokyo Marathon 2014”, sentir o clima, foi a primeira emoção: caramba, é verdade, eu estou aqui, eu vou fazer parte dessa história. A entrega do kit é rápida, o pessoal é muito gentil e camarada.
Kit na mão, chip checado, vamos para a feira. A feira é bem grande, bonita e organizada. As grandes marcas estão aqui, exceto a patrocinadora da CBF. Tem diversas novidades, muitos brindes, fotos e brincadeiras. Os preços são muito, muito em conta, segura o cartão. Ao final, já na saída, uma banca tem uma série de produtos (camisetas, agasalhos, calções, moletons, abrigos) a preços superacessíveis, baratos mesmo, superpechincha.
Chegou o sábado, dia da corridinha festiva, a International Friendship Run. O céu está claro, a temperatura em torno de 5ºC às 10h30. O local é mesmo Tokyo Big Sight, o local das grandes feiras internacionais de Tóquio, também ponto de chegada da maratona. Encontrei ali amigos virtuais que tinha feito durante a preparação para a maratona, no grupo que criamos em uma rede social. Foi bem bacana ver aquele pessoal, agendar uma maratona futura.
Ao final da brincadeira, volta para casa, almoço e repouso. Amanhã é pra valer. Tenho duas opções de roupa para correr, vai depender do momento. Preciso dormir, confesso que estou muito aceso, excitado, aguardando o momento sonhado por 16 longa semanas de treinamento e dedicação.
Chega 23 de fevereiro, dia da maratona de Tóquio. Acordo cedo, confiro a meteorologia: variando de 0ºC a 10ºC, pela janela vejo um céu meio escuro. No restaurante do hotel, tomo café da manha: arroz, batata cozida e pão. Ali vejo outras pessoas com jeito de que também vão correr a maratona.
Pego minha sacola, pronta desde a véspera e me dirijo a pé por 1,3 km até o local da largada, o Tokyo Metropolitan Government. O termômetro acusa 1ºC, deixo o abrigo aberto, não coloco luvas nem gorro. Quero usar este momento para avaliar com que roupa vou correr.
Nas imediações da largada. milhares de corredores já estão concentrados, fazendo os últimos ajustes em suas indumentárias antes de deixar a bolsa no guarda volume.
Decido correr de shorts e camisa manga curta, como sempre corri em qualquer temperatura; tinha dúvida quanto à necessidade do gorro e das luvas, como está ventando vou não arrisco, vou vestido com eles enquanto tolerar. Então, sem maiores problemas, deixo a sacola no caminhão e vou para meu lugar, pelotão F, do grupo de 4 horas, na largada.
O percurso da maratona é bem interessante. Saindo do Tokyo Metropolitan Government, passa pelos principais pontos turísticos da cidade. Não tem uma altimetria muito plana, começa com uma descida de uns 6 km e então vai plana até o km 35, quando começa uma sucessão de passar por uma e outra ponte e correr em um elevado.
Por diversas vezes a gente corre indo em um faixa da avenida e já tem uma turma, mais rápida, voltando na outra faixa da mesma avenida. Imaginei que isto pudesse ser ruim, desestimulante. Estava enganada, foi bem positivo.
Ao longo do percurso há 25 atrações, entre bandas e grupos amadores realizando performances. Na beira da calçada, um boa quantidade de pessoas acompanhando, torcendo e dando balas e comidinhas para os corredores. Esta torcida não é tão numerosa nem barulhenta como das maratonas de Chicago ou Londres, mas te incentiva bastante, é o jeito japonês de torcer.
Ao longo dos 42 km, a cada 3 km tem água e isotônico, do km 21 em diante também há uns três postos com comida: banana, tomate, balas e chocolate. Em cada ponto de hidratação, as mesas são longas, não causando tumulto algum nem fazendo com que agente tenha que parar para pegar qualquer coisa.
Hoje, mais que nunca, tive certeza de que maratona é um esporte emocional. A minha corrida foi excelente, maravilhosa. Vim aqui para correr uma maratona que não tinha em meu currículo, para somar mais um souvenir na minha coleção. Vim também porque queria realizar o sonho de conhecer o Japão, comer sushi e sashimi na fonte (agora já sei que a culinária japonesa é muito, muito mais que isto) sentir de perto essa cultura fascinante. Aconteceu que minha prova foi fantástica e estou encantado com Tóquio!
Larguei tranquilo, correndo os primeiros 6 km em descida ciente de que a prova são 42.195 metros. Assim passei o km10 com 56min. Por aí o sol saiu e até esquentou bem, tirei o gorro e as luvas e coloquei no cinto. O tempo podia mudar e eu precisar deles novamente. Fui nesse ritmo até o km 15.
Nesse ponto o céu voltou a ficar nublado e entrar um vento frio. Uma voz não sei de onde me disse que dava para aumentar o ritmo. Obedeci e passei este km em 5min09, o seguinte ainda mais rápido, 4min59 e assim nesse passo fui até passar a meia maratona com menos de 2h05.
Não tinha dor, me sentia muito bem e pensei comigo mesmo: por que não tentar fechar esta prova em menos de 4h? Hoje parece o dia perfeito para este feito. Me concentrei e passei a ficar atento ao relógio, a passagem por cada km. Assim cheguei ao km 30 sem maior dificuldade.
Do km 30 ao 36 tudo continuava tranquilo, tinha a certeza de terminar dentro da nova meta de menos de quatro horas. No km 36, estava bem descansado. É que aí começa uma série de subidas de pontes, uma trás da outra, então o rendimento foi caindo. Ainda assim, fiz cara brava para os trechos íngremes, olhei para baixo e não me deixei vencer. No km 41 tudo voltou a ficar plano, então dei a ultima acelerada.
Cruzei a linha de chegada inteiro, com tudo em cima, sem nem uma dorzinha. Incrível, foi uma prova perfeita. O painel indicava 4h08 como tempo bruto, deu 3h58min29 no tempo líquido. Curti aquele momento como bobo, cumprimentando e agradecendo todo o staff. Recebi a medalha, um monte de brindes, tirei fotos e fui encontrar meu filho que veio da Noruega só para comemorar comigo mais uma maratona (foto). Ah! Isso não tem preço.
Com essa, completei 5 das 6 da série Majors Marathons. Já tinha feito Nova York, Chicago (duas vezes), Berlim e Londres.
Amei esta maratona, recomendo. Se alguém quiser dicas, estou à disposição. Meu e-mail é este AQUI” (clique para conferir).
Parabéns mais uma vez. Sabia que vc. faria bonito. O Japão e seu povo é apaixonante. Quando fiz essa maratona em 2012, pensei: não consigo entender como essa prova não entra para a lista das majors. E no ano seguinte entrou. Tudo nesse país é exageradamente incrível. Pena ser tão longe.
Grande abraço.
Mari Sereia Baleias.
Ótimo!! Porém cuidem-se. Em abril de 2013 fiz minha última prova longa, a meia Rock and Roll de Edimburgo debaixo de uma tempestade terrível com ventos de até 70 milhas. Após aquelas 02:52h começaram as dores. Sono no resto da viagem só abaixo de cataflan: artrose! Aos 52 anos fui para a piscina e, após alguns meses, estou treinando entre as feras (um pouco atrás, é verdade).
Tô feliz, mas teve médico que me sugeriu continuar prá ver como “vai progredir”…
Cuidado, se dói é porque tá ruim!!
Cumprimentios! Isso é a beleza e plenitude da vida! Mande o contato da rede social. Quero me preparar para uma oura meia maratona! Abraço de Minas!
Tenho 55 e fiz a do Rio em 3:31 em 2012 sou apenas o 119º no ranking brasileiro de maratonistas amadores (nessa faixa etária), então sub 4 aos 55 não é nenhuma façanha.
Deve ser amigo do colunista mal informado.
E desde quando este é um tem digno de espaço na internet? Poxa, basta pesquisar para saber que existem sessentões que fazem em menos de 3 horas…
Carlyle,
Depois de ler o seu depoimento, por um instante fiquei com vontade de correr uma maratona ..passou. .passou.
Em cada trecho seu da para sentir sua alegria.. sensação de dever comprido muito bom!
Quanto chegar em Brasília quero saber mais detalhes.
Bjs
Carlyle , parabens !!! Voce fez um tempo maravilhoso pra alguém da nossa idade ( tenho 57 anos ) . Só fiz uma Maratona , em São Paulo em 2010.
Estou indo para minha segunda . estou me preparando para New York em Novembro. Grande Abraço