Balanço provisório de 460 km por São Paulo
15/01/14 11:46Gente, ainda estou de ressaca. Ou melhor (pior?): delirium tremens por ausência de caminhada. Hoje se completam três dias que não acordo às cinco da matina para sair a percorrer algum local distante e meio secretivo nas entranhas da Pauliceia. Não sei como vou conseguir viver sem as ruas imundas desta cidade, os parques sensacionais, as gentes maravilhosas.
Enquanto peno este descanso indesejado, exigido para que meu joelho fraturado se recupere, aproveito para fazer um balanço do que foi essa jornada pela cidade: 460 km percorridos em homenagem ao próximo aniversário de São Paulo, que foi fundada em 25 de janeiro de 1554.
Comecei o percurso no dia primeiro de dezembro de 2013 e concluí a jornada no dia de 12 de janeiro de 2014. Foram 40 dias de andanças mais três dias de folga, num total de 43 dias seguidos.
O mais legal em todo o projeto foi descobrir como o povo que vive em São Paulo luta pela vida, para melhorar sua condição. Visitei projetos de artistas que atuam em comunidades carentes e conheci trabalhos de associações de moradores, como as poderosas entidades de Heliópolis e Paraisópolis. Andei com artistas de rua e corredores anônimos, entrevistei especialistas em urbanismo e cientistas, falei com escritor, músico, diretora de cinema, médico: cada um tem uma São Paulo a contar.
O pior de tudo foi ver as condições de abandono e miséria extrema em que vive uma parte da população. Moradores de rua drogados, atirados nas calçadas, comunidades de índios habitando barracos miseráveis, a população de um bairro inteiro sem serviço de água encanada e ameaçada de infecções e doenças por causa da água contaminada que consome.
Saí do asfalto da região central e visitei parques e locais distantes. Encontrei uma cratera produzida há milhões de anos pelo impacto de um corpo extraterrestre; escalei montanha de onde se vê o mar; fiquei maravilhado com riquezas geológicas que ainda afloram no solo urbano, não totalmente tomado por construções.
Descobri, por sinal, que a cidade não está totalmente cimentada. Há reservas de verde em vários pontos, como o pequeno e maravilhoso parque do Piqueri, nas encostas da marginal do Tietê, e o grandioso e pouco visitado parque Anhanguera, no extremo oeste da cidade.
Suei, tomei chuva, aguentei o sol no lombo, tive dores nos pés, nas costas, fraturei o joelho direito, mas consegui terminar essa jornada. Saio desses 460 quilômetros um pouco mais vivo, um pouco mais feliz, com um pouco mais de fé na humanidade.
Vamo que vamo!
PS.: Se você não acompanhou toda a jornada ou perdeu algum capítulo, está totalmente convidado a passear por este blog, visitando os textos que diariamente coloquei no ar, com fotos, vídeos e mapas. Espero que você goste.
Parabéns pela iniciativa! Que todos possam homenagear a cidade onde vivem correndo e caminhando “por lugares nunca dantes navegados”. Foi muito bom conhecer São Paulo de pé no chão.
Parabéns pela jornada Lucena, e desejo uma ótima recuperação.
Abs