Na Cantareira, Núcleo Engordador oferece trilhas de paz e silêncio
04/01/14 12:47Som de água corrente, pequenas cachoeiras borbulhantes, insetos de tudo quanto é tipo, aves, macacos assoviadores –eis a trilha sonora que acompanha quem percorre as trilhas do Núcleo Engordador, uma das unidades que integram o Parque Estadual da Canteira. Foi lá que estive na manhã de hoje, em mais uma etapa de meu percurso de 460 km por São Paulo em homenagem ao próximo aniversário da cidade.
Uma das maiores flores urbanas do mundo –em alguns lugares, eu a vi festejada como “a maior”–, a serra da Cantareira tem 7.900 hectares de mata. É a reserva de verde de São Paulo, tão carente de vegetação (tenho visitado muitos parques na cidade, mas o que mais encontro mesmo é asfalto, cimento e casas inconcluídas, que ficam só no tijolo e se apóiam umas nas outras.
Na serra, o Parque Estadual da Cantareira é uma maravilha, protegendo a área e abrindo trilhas para que a população possa ter acesso a um pouquinho de natureza selvagem (se não selvagem, pelo menos pouco manejada). Sua unidade mais conhecida é da Pedra Grande, do lado do Horto Florestal, que tem acesso fácil e várias trilhas bacanas.
Quando minhas filhas eram pequenas, visitamos várias vezes o local, que tem uma trilha portentosa, a da Pedra Grande, que leva a uma rocha de onde se descortina a cidade. É uma beleza. Mas não foi meu destino de hoje.
O Núcleo Engordador, ainda que também na zona norte da cidade, é bem mais distante. A maneira mais fácil de lá chegar, para quem vai de carro, é seguir pela rodovia Fernão Dias, saindo na alça do km 79; logo se vê uma placa indicando o destino desejado. Há ônibus que saem dos terminais localizados nas estações Santana e Tucuruvi do metrô.
A viagem vale a pena. Apesar de a área destinada aos visitantes não ser grande (a maior trilha tem 3 km), o parque é uma delícia, parece que a gente está longe do mundo, da poluição e do trânsito. Gostei de tudo o que vi, a começar pelas escadas escavadas no chão e protegidas por pneus, em vez de madeiras –ficou bom de caminhar e provavelmente mais resistente às intempéries.
Antes de chegar à entrada da trilha principal, há uma área para descanso e piquenique, além de um pequeno museu que mostra máquinas antigamente usadas no local. O Engordador leva esse nome porque foi uma fazendo de engorda de gado; mas também é área de captação de água para a cidade (as máquinas são do tempo do início dessa atividade). Este site AQUI tem muitas informações legais sobre o parque.
Uma parquinho para a criançada é equipado com brinquedos feitos com troncos. Eu me repito, mas realmente está tudo bem cuidado, limpo, e os brinquedos são desafiadores: achei legal um trepa-trepa feito com pneus velhos. Aposto que a criançada de dois a dez anos manda ver nesse território.
Disse aposto porque, quando cheguei, não havia ninguém no parque além dos seguranças e demais funcionários. Fui o primeiro visitante, o que certamente contribuiu para que pudesse apreciar a calma e me deleitar com a paz da floresta (quando saí da primeira trilha, já chegavam vários grupos, nem todos exatamente silenciosos).
A trilha mais longa, que passa por muita água –cruzamos várias vezes o rio Engordador–, tem diversas cachoeiras e pequenas quedas d`água, mas hoje todas estavam fraquinhas, desmilinguidas pela falta de chuva nos últimos dias.
Toda arrumada, a trilha começa por um desfia à nossa força de vontade: uma escadaria escavada na terra leva para local proibido e certamente maravilhoso. Não se pode subir por ela; o sentido obrigatório é outro. Mas que dá vontade, lá isso dá.
Numa dessas, uma cobrinha sai rebolando da estrada, fazendo seus esses corporais para desaparecer entre a folhagem da mata. Nunca vou saber se corri algum risco, acho que não; era uma cobra de uns 80 cm, um dedo de espessura, marrom. Foi tudo o que vi.
Além de insetos, dava para ouvir os assobios de macacos. O único animal mais empolgante à vista foi uma ave bem grandota, parecia uma galinha de Angola voadora, porém com as penas não tão escuras…
A vegetação também surpreende, mostrando coisas como esta árvore abraçada por suas próprias raízes (ou, pelo menos, foi o que pareceu para este seu botanicus ignoramus).
No topo da trilha, está o tanque de captação de água, mas a maior atração que ela oferece é mesmo a possibilidade de contato com a natureza, de submergir na mata.
Essa é também a sensação na outra trilha, a do Macuco, em homenagem a um tipo de ave de grande porte (será que foi a que vimos? Tenho quase certeza de que não, mas não custa fazer onda). Ela é mais comportada, nível “fácil” (a da cachoeira é nível “médio”), mas também vale o passeio, ainda que rápido.
Por isso, caminhe devagar quando for lá, para aproveitar cada instante de ar da mata. Ele faz falta à nossa vida.
Antes de sair, ainda fiz uma foto da represa. Está vaziazinha, coitadinha, mas a imagem ficou bacana. Vamo que vamo!
DIA 32 – PROJETO 460 KM POR SÃO PAULO
Clique no mapa para conhecer mais detalhes sobre o percurso do dia
QUILOMETRAGEM DO DIA: 5 km
TEMPO DO DIA: 2h00min38
QUILOMETRAGEM ACUMULADA: 385 km
TEMPO ACUMULADO: 87h53min20
QUILOMETRAGEM A CUMPRIR: 75 km
DESTAQUES DO PERCURSO: Parque Estadual da Cantareira, núcleo Engordador, com trilhas, cachoeiras e área de lazer e recreação