Na maratona de Munique, ressaca pré-corrida se cura com cerveja
16/10/13 01:15Hoje trago para você mais um relato de maratona corrida no exterior, desta vez na Alemanha, na simpaticíssima e divertidíssima Munique. Foi lá que aportou HENRIQUE CABRITA, médico ortopedista que já colaborou várias vezes com este blog. Apesar das alegrias da cidade, a prova não foi assim tão amistosa para ele. Mas é melhor não revelar a história antes da hora: fique a seguir com o relato de CABRITA, a quem agradeço pela colaboração.
“No dia 13 de outubro de 2013 aconteceu a Maratona de Munique, na Alemanha.
Conhecida por ser um pólo cultural, industrial e de turismo, Munique é mundialmente famosa por suas cervejarias e comidas típicas, como joelho de porco, salsichões, pretzels e chucrute.
A Maratona ocorre no outono da Baviera (sul da Alemanha), uma semana depois do Oktoberfest, o que aumenta bastante a ansiedade… Como estará o clima? Dois dias antes da prova a temperatura às 10h (horário de início da prova) era de 0°C e nevava… Na tarde anterior choveu sem parar mas, felizmente, na manhã da Maratona, um belo sol recepcionou os corredores e a temperatura ficou entre 8º e 13°C, sensacional para correr.
A retirada do kit e a feira desportiva começam dois dias antes e vão até o dia da prova. A feira é muito bem organizada, com artigos já conhecidos e muitas novidades também. Roupas, tênis, relógios pra todos os gostos, do atleta mais tradicional ao mais extravagante, tudo com a conhecida qualidade dos produtos europeus.
Em consequência de uma lesão na panturrilha que tive duas semanas antes da maratona, comprei meias de compressão que são vendidas sob medida para essa região. Deram uma ótima sensação de segurança. Também fiquei interessado em um estande onde aplicavam a bandagem “Kinesio Tape” no local.
Qual não foi a minha surpresa quando o fisioterapeuta, sem me consultar, aproveitou-se da minha falta de visão e raspou a minha panturrilha com um barbeador elétrico! Fora o trauma e o ridículo de estar com uma perna raspada e a outra não, a bandagem funcionou bem. Corri os 42km meio torto, por causa da lesão, e fiquei moído em todos os outros lugares… mas isto fica para as histórias finais.
Estávamos com medo de perder o horário e, ao invés de irmos de metrô, que funciona muito bem por aqui e era de graça para os corredores, fomos de táxi, o que foi bastante bom, um estresse a menos…
O estresse a mais surgiu quando, na largada, a organização informou que os pertences pessoais teriam que ser deixados no estádio Olímpico, que ficava a DOIS quilômetros da largada! Bem, desistimos de deixar nossos sacos com as roupas de troca no local indicado e tivemos que nos conformar em entrega-las “à sorte”, atrás de uma árvore. E pra dar aquele estresse final em relação a tempo de corrida, soubemos que, na Alemanha, assim como na maioria das Maratonas em cidades da Europa, o tempo médio dos participantes é abaixo de quatro horas.
Na largada, mais uma vez a tradição da seriedade alemã apareceu –foi pontualmente às 10h para a elite, 10h10min para o pelotão que finalizaria entre 3h30min e 4h15min e às 10h20min para os demais. Esta organização foi muito boa, pois os oito mil corredores da Maratona não se aglomeraram, tiveram uma saída tranquila, assim como os cinco mil de revezamento que saíram com o grupo geral.
A meia Maratona e a corrida de 10km ocorreram apenas à tarde, sem a mistura descabida das maratonas brasileiras, onde os corredores destas corridas menores passam por nós numa velocidade absurda, dado o percurso menor que precisam percorrer.
O percurso é praticamente todo plano, como os de outras cidades da Alemanha, exceto por pequenos desníveis para passar sob os caminhos de trem ou rodovias. A maior parte é em asfalto e bastante segura. No centro da cidade, após o 30° km, há pequenos trechos de paralelepípedos e trilhos de bonde que requerem cuidados.
O percurso passa inicialmente por 10km do Jardim Inglês, local muito bucólico e agradável, você corre o tempo todo acompanhando um rio e no meio da floresta com asfalto plano e seguro.
Em seguida o trajeto ziguezagueia pela periferia da cidade até o 30°km quando vai em direção ao centro, passando pela imponente Porta da Vitória (construída por Ludwig I e que lembra o Arco do Carrossel, em Paris) e pelos majestosos prédios da Chancelaria da Baviera, do Teatro Nacional e da Catedral, na maravilhosa Marienplatz.
A participação popular não é o forte em termos de número, mas todas as pessoas ao largo do percurso eram muito incentivadoras, alegres e ofereciam comidas e bebidas. Oito bandas de samba, de alemães vestidos com camisas do Brasil e três bandas de Rock animaram a passagem dos corredores.
No 33°km minha esposa me esperava ao lado de uma banda de brasileiros. Para quem corre maratonas, nada melhor do que ter palavras de incentivo de pessoas queridas, especialmente nos sofridos 10km finais.
O abastecimento foi excelente! Água de quatro em quatro quilômetros, o isotônico tinha um sabor muito agradável (o qual você podia experimentar previamente na Feira da Maratona), muitos eletrólitos, energéticos, bananas à vontade e, não poderiam faltar, os Pretzels!
Como eu havia relatado no início, esta não foi uma maratona tranquila para mim. Tive que, o tempo todo, ficar atento e concentrado na minha pisada, em função da lesão na panturrilha (rompida duas vezes, depois de treinos de 31km e 21km). Fortuitamente, o percurso é realmente muito plano e favorável, mesmo para lesionados.
O melhor tempo foi de um alemão, 2hs18min54seg. Dos 23 brasileiros inscritos, apenas 16 terminaram e o nosso melhor tempo foi de 3 horas e 5 minutos. Meus dois outros companheiros brasileiros terminaram com 3h32min e 4h07min. Meu tempo? Dessa vez não pude pensar nele… Concluir a minha sexta Maratona, lesionado e com fôlego sobrando é que foi minha verdadeira vitória!
Os dois últimos quilômetros foram de chorar! E foi exatamente o que eu fiz ao chegar ao estádio Olímpico, palco da Olimpíada de 1972, 64.000 lugares, onde uma multidão de mais ou menos 10.000 pessoas aplaudia os atletas entusiasticamente.
Depois de receber emocionado a medalha que, ainda por cima, veio em forma de coração com uma fita azul e branca da Baviera, uma cerveja amiga, não alcoólica, parabeniza o atleta que a consome com voracidade!
Dica final: na estação central, todos os dias às 18h em frente ao Starbucks café sai uma excursão de graça para cinco cervejarias famosas, a “Beer contest”- desafio da cerveja-que realizamos dois dias antes da prova. Havia pessoas dos cinco continentes e ela dura seis horas! Fiquei a véspera da prova de ressaca… Mas terminei bebendo cerveja também!”
Cabrita
Só quem corre entende o porque de tanto
sacrificio.
Parabéns por mais esta vitória!
Parabéns Cabrita! Nada como ser especialista e sentir o que nós, seus pacientes, sentimos… a ansia de superar um desafio sob qualquer cirscunstância. Lindo relato!
Caro Dr. Cabrita, muito legal seu depoimento. A verdadeira graça de fazer uma maratona é completá-la. Tempo… ah, o tempo é apenas um detalhe dentro desse processo todo que lutamos para concluir. Alguns anos atrás meu irmão teve também vários problemas antes de uma Maratona (Mariners Corps, Washington DC) e depois de contusões e o filho retornando de um hospital, ele desistiu na véspera da prova. Mas no dia da corrida, com um frio de lascar e um sol maravilhoso, ele olhou e pensou, “eu queria fazer em 3:30, mas não vai dar. Mas 3:30 ou 4:30, quem sabe a diferença? Quem sabe o que é uma maratona?” Foi lá e fez 4:05, na raça. Bem você sabe o que é uma maratona, nós sabemos. Treinar é difícil, machucar é horrível, mas completar é simplesmente o êxtase. Parabéns!
Dá-lhe meu maratonista favorito!! Adorei ler o relato e deu até para matar um pouquinho as saudades dessa cidade maravilhosa! Parabéns por completar a maratona lesionado e tudo!! Só voce mesmo! 🙂 Beijos
Triplo parabéns Henrique: pela maratona, por conseguir correr 42k,195 m lesionado e pelo relato!
Vou mostrar para meu pai, ex-maratonista.
Beijos para você e Claudinha.
Foi um herói mesmo! Vi todas as fotos tiradas durante a corrida e as caretas de dor estavam presentes em sua maioria… Parabéns amor! Por hoje também ser o dia do Médico! Você sabe viver a sua vida muito bem e ainda torna a dos outros muito melhor! Te amo!
Parabéns, só quem já fez uma maratona na vida pode entender o que você passou.
Realmente estamos carentes de provas organizadas por aqui.
Fiz a maratona de São Paulo e sofri não só pelo percurso, mas também pela falta de organização da prova.
Parabens Cabrita, Correr lesionado não é nada mole. Voce foi heroi. E obrigado pelo relato, esta maratona parece bem boa mesmo, tentadora…