Confira teste do tênis de mil reais que tem lâminas no solado
04/09/13 09:55Eu adoro cores fortes, vibrantes explosivas. Gosto de camisas estampadas e calças listradas, não tenho vergonha de usar azul metálico, vermelho ou amarelo nem de fazer combinações que alguns cânones possam considerar estapafúrdias.
Pois mesmo assim fiquei surpreso quando recebi para testes um par de tênis Springblade, a nova estrela da Adidas no mundo dos calçados de corrida. Não consigo descrever exatamente a cor do dito; a foto vai aqui ao lado e talvez você possa me ajudar: é vermelho elétrico? Pink? Rosa-choque?
Sei lá. O certo é que você precisa esquecer os pés quando coloca um calçado desse tom. Tem de correr por aí fazendo a maior cara de paisagem, sem dar bola para o fato de o tênis chamar muita ou pouca atenção. Ou então, dependendo do seu estilo, aproveite e bote banca de moderno, diferente.
Porque a cor é apenas o primeiro dos detalhes chamativos do Springblade. Primeiro porque está por cima, mas não mais importante: o coração e a alma no novo tênis estão no seu solado.
Ele tira seu nome, que significa molas em lâminas (ou lâminas de explosão, numa tradução livre), da estrutura da sua sola: são sete pares de lâminas construídas em um plástico especial e colocadas de forma oblíqua ao “chassi” do calçado. Há ainda uma lâmina na ponta e outra no calcanho.
Todas têm “sapatas” de borracha; as da ponta e do calcanhar usam uma borracha mais firme. As lâminas são duras o suficiente para darem suporte ao corredor, mas também flexíveis para que não quebrem com o impacto. O objetivo, segundo a Adidas, é dar uma resposta explosiva, ajudar a “empurrar” o corredor para a frente, colaborar na impulsão.
No seu site, a empresa fala o seguinte dessa tecnologia: “As lâminas reagem instantaneamente a qualquer superfície, resistem a alterações de temperatura e geram uma grande propulsão quando pressionadas, armazenando e liberando mais energia para a corrida”.
Tudo isso tem um preço. No Brasil, o Springblade custa mil reais ou, mais precisamente, na linguagem do marketing dos preços, R$ 999,90, o que o coloca entre os mais caros vendidos por aqui. Nos Estados Unidos também não é barato: vi ofertas por US$ 180, o que é 50% mais caro do que alguns dos mais reconhecidos modelos de tênis de corrida do mercado.
Bueno, a questão é: vale a pena?
Infelizmente, não existe resposta simples para essa pergunta. Quando foi feito o lançamento no Brasil, o pessoal de marketing afirmou que o tênis foi desenvolvido a partir de propostas da Adidas Brasil, voltado para o que o brasileiro quer.
Perguntei de que o brasileiro gostava, e a resposta foi: “muito amortecimento e tecnologia aparente”.
Considerando que isso seja verdade, o Adidas Springblade se garante no segundo quesito, como é óbvio. No primeiro, não: ele é bem rígido, ainda que inspire confiança e, de fato, dê segurança nas passadas.
Mas estou antecipando julgamentos. Antes de prosseguir, devo informar que os testes que fiz com o Springblade foram realizados em diversos tipos de terreno, do concreto às trilhas do Ibirapuera. Antes de fazer a primeira corrida, passei um dia inteiro usando o Springblade na vida civil; entre corridas e caminhadas, foram mais de 50 km percorridos.
A primeira impressão: além de inusitado, ele é um tênis pouco flexível e pesado (360 g). Na balança, está cerca de 40 g acima do modelo que eu costumeiramente uso –eu gosto de tênis estruturados, com bastante amortecimento–, o que não fez grande diferença na hora da corrida. E até é bom para corredores que, como eu, estejam acima do peso considerado ideal (tradução = barrigudos).
Por isso, diferentemente do que ocorreu com outros modelos que testei recentemente, não tive nenhum receio de colocar o tênis e sair queimando o chão: ele é voltado para passada neutra e bem estruturado. De fato, é grandalhão e está muito distante dos calçados minimalistas, que dizem imitar a corrida natural.
Com o Springblade, não há nada de natural, a começar pelo barulho que faz ao tocar no chão, seja em piso de madeira, pedra ou asfalto. Há um chomp-chomp como se fosse borracha molhada; o som diz: “Sou diferente”.
Ser diferente, porém, não é medida de qualidade. Tive vários problemas na corrida decorrentes do fato de as lâminas serem independentes; uma pisada num cascalho maior, por exemplo, desbalanceia o conjunto. Nas trilhas do Ibirapuera, pisar nas raízes de árvores expostas foi bem desagradável. Em contrapartida, correr em piso de pedriscos não teve as consequências danosas que imaginei: não saí com nadica de nada grudado no solado (desculpe a rima rica…) nem houve instabilidade.
Isso não significa que o Springblade seja indicado para terrenos acidentados. Não me parece apropriado para pisos de montanhas nem para trilhas mais selvagens; muito menos, como parece óbvio pelo próprio desenho do solado, deve ser agradável para corridas em barral.
Os testes foram todos em dias de tempo seco, mas, nas poucas vezes e nos pequenos trechos de piso molhado por onde passei (algum cano rompido ou calçada sendo lavada), o tênis deu umas escorregadelas. No asfalto seco não tive problemas.
Eu sou lento demais. Não senti nenhuma vantagem especial de correr com o Springblade, mas não acredito que ele ou qualquer outro tênis possam dar diferencial significativo no desempenho. Como já disseram outras pessoas mais sábias do que, o calçado não corre por você. É preciso treinar, treinar e treinar. Ter um tênis confortável e com bom amortecimento ajuda.
O amortecimento oferecido pelo Springblade foi razoável, especialmente nas pisadas começando com o calcanhar e quando aumentei a velocidade (para alguns, isso pode ser força de expressão, mas para mim é um esforço passar de 7min/km para 6min/km por exemplo). Dá para sentir bem, nesses momentos, as “moças em lâminas” funcionando. Quando comecei a passada com o meio do pé, o movimento do solado não foi tão perceptível.
Para terminar, volto ao preço. Por mil reais, dá para comprar um ótimo tênis de corrida e uma bicicleta comum. Mas o Springblade não está abrindo um novo patamar de preços: há modelos de outras marcas vendidos no Brasil por esse valor.
Eu não pago mais do que o equivalente a US$ 100 –no máximo, US$ 120—por um tênis. No Brasil, a maioria dos bons tênis de corrida custa mais do que isso, e o povo compra. Então há mercado para produtos mais caros, assim como há mercado para produtos mais baratos. Tudo depende do bolso e do gosto de cada um.
Na verdade… dificilmente você verá esse calçado no pé de um atleta de elite, a não ser que ele esteja passeando. É um modelo para quem procura status, pois o TPU nem de longe se compara a outras tecnologias de amortecimento, como por exemplo o gel ou a uma placa associada ao eva. Quem procura conforto e performance, consegue se arranjar muito bem com uns R$400,00.
penso EXACTAMENTE a mesma coisa que ti….
realmente o marketing leva pessoas a empregarem fortunas em equipamentos e acessórios… a sociedade consumista valoriza o status que o objeto confere, não a qualidade… já ví pessoas gastando R$ 1.000,00 em tenis inadequados – nem sabiam o tipo de pisada, mas o tênis escolhido era o mais caro e o que todo mundo reparava… com bicicleta, a mesma coisa, já ví pessoas empregarem U$ 15.000,00 em bike e acessórios… tem um amigo que uma vez falou, legal não é ficar entre os 3 primeiros com bike e acessórios de U$ 15.000, legal é ficar lá na frente, entre os 20 primeiros com uma caloi 10 antiga… correr para muitos é mais uma ocasião pra inflar o ego e mostrar-se mais que os outros – mostrar que tem mais grana, que é ligado na moda, que é pavão pra mostrar-se colorido… do que ocasião pra cultivar saúde e qualidade de vida, esquecer os problemas, meditar e pensar em coisas boas enquanto corre, descobrir e trabalhar os próprios limites, estar em companhia de quem pensa o mesmo… concordo com o autor, U$ 100,00 / U$ 120,00 dá pra comprar tênis eficientes e adequados para o atleta que tem o objetivo de aproveitar a corrida… Além da escolha ser ideal ou incorreta para o tipo de pisada, outro detalhe que a maioria das pessoas desconhece é a durabilidade, apenas no teste o autor entre corridas e caminhadas cobriu 50km, a vida útil de um bom tênis é de 500km, então logo ele cobriria a vida útil do tênis e teria que empregar mais R$ 1.000,00…
Sigo sua cartilha, pago no maximo o equivalente aos 120 dollars, 300 reais chorando. A tecnologia? Tenho muito tempo para esperar a tecnologia propagar e o preço diluir…
Grande texto Rodolfo.
Realmente existe muito mais mkt em alguns produtos do que meramente qualidade. Não sei se é o caso desse tênis, porque não experimentei e por esse preço nem tenho essa vontade. Afinal de contas como você mesmo falou, com esse R$ 999,90 dá pra comprar no minimo uns 3 ou 4 tênis bons, de qualidade e duráveis.
Eis que eu te pergunto, quais tênis você usa ou comprou nos últimos tempos e tem gostado bastante de usar?
Abraços
oi, Vagner, eu prefiro tênis com bastante amortecimento, para pisada neutra
Obrigado pelo teste!
Não que eu estivesse interessado em comprar, mas porque se dependesse de mim pagar 1000 reais num tênis pra testá-lo hehehe
Não apenas pelo preço, mas porque antes mesmo de ler seu review eu já desconfiava desse marketing todo em torno desse frankestein. Pra valer a pena o preço e o mico de correr com esse monstro, o benefício teria que ser realmente fantástico.
E se não é fantástico pra nós, que corremos com muita dificuldade a 5min/km, imagino que muito menos pros atletas de elite.