Primeiras impressões sobre tênis de corrida da Skechers
21/08/13 09:20A Skechers, fabricante norte-americana de calçados esportivos, colocou no correio mais de meio milhão de cheques destinados a consumidores dos Estados Unidos que se sentiram enganados por propaganda divulgada pela empresa.
Talvez você se lembre da história, mas, se não, eu ajudo a refrescar sua memória. A Skechers é a fabricante daqueles tênis em formato de barco ou mata-borrão. Eram os Shape-ups, que prometiam tonificar coxas e bumbum sem que o vivente fizesse outro exercício físico senão caminhar com os tais calçados.
A empresa acabou processada pela Comissão Federal de Comércio dos EUA, acusada de propaganda enganosa. O processo acabou em pizza ou, para ser mais preciso, em acordo: a empresa concordou em reembolsar compradores que se consideraram lesados, pagando uma multa no total de US$ 40 milhões.
A FTC, que é a agência reguladora de comércio, chegou a publicar em seu site quadrinho para avisar compradores do acordo (ao lado).
Apesar do acordo, a companhia manteve sua posição de que não tinha feito nada de errado e de que o uso dos calçados realmente contribuía para o fortalecimento muscular. Enfim, a empresa não foi condenada mas também não foi absolvida. Em abril último, acabou o prazo para que os consumidores fizessem suas reivindicações de reembolso.
No mês passado, a empresa efetuou o pagamento. Mandou pelo correio nada menos que 509.175 cheques. Agora, segue a vida: a Skechers vem diversificando seus produtos, sempre apostando na linha de calçados esportivos.
Aqui no Brasil, acaba de ser inaugurada a primeira loja da marca, que está instalada em Brasília. E a Skechers vem trazendo uma ampla linha de calçados para corrida, oferecendo desde modelos com bom amortecimento até os chamados minimalistas, indicados para quem pretende fazer uma corrida que imite as condições dos pés descalços.
Como eu só conhecia os tênis da Skechers pela propaganda do passado (os tais Shape-ups, Tone-ups e assemelhados) e pelas reportagens lidas na imprensa norte-americana, resolvi testar de uma vez a linha completa. Corri por alguns dias com um modelo de amortecimento, um minimalista e um que a empresa apresenta como de transição entre um mundo e outro.
Claro que não foi um teste como em laboratório, mas sim uma experimentação nas ruas de São Paulo e em alguns parques, pegando piso de asfalto, concreto, chão batida e um pouco de grama.
A primeira surpresa que tive com os tênis Skechers foi sua inesperada leveza. Pesando 220 gramas, o mais grandalhão deles, o GOrun Ride (foto), de amortecimento, é mais de 100 gramas mais leve que o modelo que costumo usar nos meus treinos. O minimalista, então, nem move a balança: 170 gramas.
Outra boa impressão foi quanto ao ajuste. Ainda que diferentes entre si, os cabedais dos modelos testados são bastante flexíveis e se adaptam ao pé –em nenhum deles, mesmo no minimalista, mais estreito, senti desconforto nas laterais.
Essa flexibilidade tem uma contrapartida negativa: nos três modelos que testei, senti uma certa instabilidade do pé sobre a palmilha. A impressão é que, como o cabedal (a parte de tecido que cobre o pé) é tão molinho, o pé dança em cima da borracha. Mas percebi que isso é mais sensação do que fato, pois em nenhum momento me senti em risco de torcer o pé ou de que o pé escapasse da proteção do calçado. (Desculpe aí, caro leitor, acho que nunca antes na minha vida escrevi um parágrafo com tanto “pé”, mas é melhor manter a repetição do que fazer firulas estilísticas e correr o risco de que o conjunto fique menos claro.)
Quanto ao design em geral e as cores escolhidas, foram aprovados pelas especialistas em moda aqui de casa. Já eu não me entusiasmei muito, pois o cinza e suas variações é que dão a tônica nos modelos que chegaram para teste. Em compensação, nem de longe são grandalhões e desengonçados como eu imaginava que seriam.
Para completar esse balanço geral, os preços estão na faixa baixa dos tênis de marca: os modelos de amortecimento e de transição custam R$ 299.
Bom, vamos agora às impressões específicas sobre cada tênis testado.
O que eu mais usei foi o GOrun ride, modelo de amortecimento para pisada neutra. Rodei com ele mais de 50 km, entre treinos de corrida e caminhadas. Por causa do design da sola e toda a estrutura inferior, o tênis tira um pouco do impacto direto no calcanhar, na hora da pisada; a ideia é fazer com que o impacto inicial seja com o meio do pé.
Isso foi muito elogiado por um corredor amigo meu, que sofreu de fasciite plantar; depois do tratamento, passou a usar esse modelo e gostou muito. Já eu não fiquei muito satisfeito: apesar do bom amortecimento e da borracha bastante flexível, tive sempre a sensação de instabilidade. Nas caminhadas, em contrapartida, foi confortável.
A tal flexibilidade da borracha, que é muito boa para passeios no shopping, me deixou um pouco temeroso na hora da corrida. Fiz vários treinos na região do Morumbi, onde as calçadas são um desastre e há muito sobe-e-desce. Nas descidas, parecia que o calcanhar encostava no asfalto, o que me leva a crer que esse modelo talvez seja mais indicado para corredores mais leves (eu já passei o Cabo da Boa Esperança, no que se refere a peso…).
Por isso, fiquei muito surpreso quando experimentei o segundo modelo do grupo, o GOrun 2 (foto ao lado), dito de transição entre os modelos de amortecimento e o minimalista. Pois foi esse, dos três analisados, o que mais gostei. O ajuste, já na primeira vez que calcei o tênis, foi melhor do que o dos outros, e não me pareceu baixo demais (lembre-se de que minha experiência é de uso cotidiano de tênis neutros bem estruturados, de grande amortecimento).
Também achei as cores escolhidas bem mais bacanas do que as dos demais. Apesar de os tênis minimalistas em geral terem uma aparência mais agressiva, com cores vibrantes, nos modelos que testei essa característica era do calçado de transição.
Antes de correr, usei o GOrun 2 por alguns dias no cotidiano: em casa, em passeios, alguma saída. O primeiro treino com ele, fiz em piso de chão batido, no Bosque do Morumbi, com altos e baixos. Depois, fui para o asfalto.
A sensação geral foi de conforto, mas não de confiança. Não é um tênis para fazer rodagens longas nem deve ser usado direto. Apesar de ser “de transição”, corredores acostumados com calçados mais estruturados e com mais amortecimento talvez se sintam mais confortáveis se fizeram um aumento gradual da quilometragem com esse modelo.
Não recomendo passar com ele em chão de pedriscos ou mesmo terra com grupos maiores. Alguém pode considerar que isso funcione como massagem para os pés; a minha experiência, porém, foi quase dolorida. Enfim, não é para corredores como eu, mas cumpre o que promete: dá conforto e uma proteção um pouco maior do que as dos tênis minimalistas. Talvez seja muito bom para correr na praia.
O calçado da Skechers para corrida “quase descalça” que experimentei é o GObionic. Além de ser o mais leve dos três, como seria o esperado, é também o mais barato: custa R$ 199.
Com ele, fiz várias caminhadas, mas não me arrisquei a realizar treinos de corrida. Experimentei alguns tiros de 100 m e 200 m, em ritmo confortável, em chão batido e no concreto. Em todos, organizei a passada para “entrar” com a parte da frente do pé, como ditam os cânones da corrida descalça. Isso, apesar de também esse modelo ter a tecnologia Mid-foot strike, que favorece a pisada com a parte média do pé.
Claro que isso provoca estresse em áreas do corpo que, na passada convencional, são menos exigidas. Senti as panturrilhas “queimando” mesmo naquelas curtas experiências de corrida.
Em relação a outros modelos de tênis minimalistas que experimentei, o da Skechers apresenta um ajuste mais convencional, digamos assim, em oposição ao ajuste “de meia” ou de “de luva”. O tecido fica por sobre o pé, mas não o abraça. O solado, claro, é superflexível.
Não senti nem um pouco de confiança na suposta proteção que o calçado dá (sensação semelhante à que tive com outros modelos minimalistas). Afinal, como o objetivo é imitar a corrida descalça, o calçado é superfino. Dá para correr com ele, mas é preciso um tempo de adaptação maior do que o disponível para a experiência que fiz.
Resumo da ópera: parece que, efetivamente, chega ao mercado brasileiro um novo contendor na arena dos calçados de corrida. Com preços competitivos e design bacana, pode atrair a curiosidade do corredor. Os modelos que testei exigem um período de adaptação para que seu uso fique mais confortável e me parecem mais indicados para corredores mais leves.
ATUALIZAÇÃO
Dias depois de publicado este texto, um leitor informou que procurou o GOBionic na loja de Brasília, onde o produto estava sendo vendido por R$ 299, e não por R$ 199, como eu havia publicado, com base em informações fornecidas pela assessoria de imprensa da empresa.
Voltei a falar com eles, que reconheceram o erro da loja e mandaram o seguinte texto: “A Skechers pede desculpa pelo ocorrido. A mudança de valor do tênis GObionic é recente, por isso a loja em Brasília ainda não tinha alterado o preço. De todo jeito, garantimos que os interessados podem ir à loja e adquirir o tênis Skechers modelo GObionic por R$ 199. Informamos a todos os leitores que as demais unidades que comercializam Skechers no Brasil, seja lojas físicas ou online, também já foram notificadas pela empresa sobre a mudança no preço do tênis modelo GObionic e que nos próximos dias o valor correto de R$199 já deve estar em vigor “.
A muito tempo estou querendo um tênis com drop zero, aí passei na nova loja lá em Brasília atrás do Skechers GObionic e fiquei chateado porque me disseram que, desde a inauguração, o valor é de R$ 299,00 e não de R$ 199,00 como informado no texto.
Abraços e bons treinos.
Oi, Flávio. A informação sobre o preço do GoBionic me foi passada pela assessoria de imprensa no dia 20 de agosto: R$ 199.
Prezado Flavio. O preço publicado foi o informado pela assessoria de imprensa; já encaminhei para eles sua observação. Obrigado pela leitura e pela participação
Rodolfo,
Muito bacana sua análise dos tênis Skechers. É sempre bom ouvir as experiências de quem já os usou. E também é bom saber que temos mais uma boa opção de tênis de corridas mais acessíveis aqui no Brasil.
Abraços e bons treinos.
Brunno – http://movidoaendorfina.wordpress.com
Já tenho o Go Run há algum tempo. Acho ótimo, rápido, leve, mas nunca passei dos 30km com ele. A adaptação foi quase imediata, eu só não consigo andar direito com ele, pareço um pato. Mas pra correr… parece que ele te força a correr. Gostei muito e recomendo, mas reconheço que não é pra qualquer um. E eu estou com o Go Bionic aqui em casa, na caixa, na expectativa…
Boa análise. Fiqeui curioso. É ótimo ter mais uma boa opção no mercado.