Considerações sobre a ausência de brasileiras no Mundial de maratona
14/08/13 10:47Agora a maratona feminina já passou, a Edna Kiplagat deu um show de estratégia, a italiana quase quarentona mostrou garra e coragem, a americana quarentona provou que ainda tem gás para derrubar muita meninota e… nenhuma brasileira apareceu na jogada. Nenhuminha.
É que nem sequer uma brasileira conseguiu obter o índice exigido pela CBAt para carimbar o passaporte para Moscou. A marca, como já aconteceu na formação da seleção olímpica, era mais forte do que o índice proposto pela IAAF.
A CBAt tem suas razões para essa exigência e, em geral, me parece que faz sentido ser exigente. O que não quer dizer que isso não abra espaço para polêmica. Nesta semana, o treinador de atletas de elite GILMÁRIO MENDES MADUREIRA colocou nas redes sociais um texto argumentando contra a política da CBAT.
Resolvi trazer o debate para este blog e pedi autorização ao Gilmário para publicar o texto dele.
Diretor técnico da Multsport Clube de Corredores, da Bahia, Gilmário é treinador nível IV da IAAF e técnico de atletas profissionais como Valdir Oliveira, Elson Gracioli e José Nilson de Jesus, além da maratonista olímpica (Pequim-2008) Marily dos Santos, de quem também é marido.
Dito isso, vamos ao texto de Gilmário sem mais delongas. É claro que este espaço fica aberto para a CBAt ou treinadores que tiverem opinião contrária também apresentarem seus argumentos.
“Tem horas que fico pensando como nosso país é dos absurdos:
“Tanta verba colocada no esporte, tanto patrocínio nunca antes visto e, na hora de pensar nas ações mais inteligentes, restrigem a uma meia dúzia que sem consultar quem respira 24 horas o atletismo, decidem por conta própria.
“Assistimos pela TV à maratona do mundial de atletismo no sábado. Bastou um ‘calorzinho’ de 28 graus e as médias de tempo caíram absurdamente para os padrões internacionais que vemos na Maratonas Majors. Com 2h31, a japonesa foi quarta colocada geral.
“Muitos não sabem, mas o Brasil, ou melhor, o Conselho Técnico de atletismo, não deixou ir à Olímpiada de Londres (nível igual ao mundial) duas atletas com tempos de 2h31 (Marily dos Santos, foto Luiz Dora/Adorofoto/CBat) e 2h32 (Cruz Nonata ), ambas com índice A da Federação Internacional de Atletismo.
“O motivo é que o Conselho criou um ‘índice particular’, que alijou da Olímpiada atletas que, se estivessem representando a Itália, por exemplo, estariam nos Jogos Olímpicos. Este é o país que sediará a próxima Olímpiada e não entende o legado que seria para o surgimento de novas maratonistas a presença de mais corredoras (oficialmente com índice A) na prova em Londres.
“Poucos sabem o choro engolido por quem abriu mão do conforto do lar em temporadas na altitude, em provas geladas na Europa para ouvir um “não” mesmo tendo o mesmo índice de espanholas, italianas, portuguesas ou francesas.
“Quando Marily venceu a Maratona de Padova ano passado e chorava ao dizer que fez 2h31, os italianos julgavam ser de felicidade…
Quando expliquei que era de tristeza por não ir à Olímpiada mesmo tendo feito o índice A da IAAF, eles, que têm o medalhista olímpico Stefano Baldini, juravam não entender tal absurdo.
Cogitaram a possibilidade de eu estar mentindo sobre a não ida aos Jogos Olímpicos.
“A maratonista olímpica e campeã pan-americana, Adriana Aparecida da Silva (foto Wagner Carmo/CBAt) deixou de competir neste recente mundial de atletismo pelo mesmo motivo, só que apertaram mais ainda o ‘índice particular’ para 2h28′, como se o Brasil desse plenas condições prévias para que essas ou outras meninas conseguissem tal marca.
“A brasileira não foi, mas três argentinas, três chilenas e até venezuelanas correram nas ruas de Moscou representando seus países.
“Para dar ideia do tamanho do estrago com essa decisão, a mexicana Madai Perez, que perdeu da Adriana no Pan 2011, dentro de casa, foi a sétima colocada geral. Teoricamente, teríamos brasileiras entre as dez no geral de maneira inédita para o país. Olha que só fez o mesmo calor que elas enfrentam quase sempre competindo no Brasil.
“Será que assistiremos a tudo isso parados, toda essa verba investida e veremos uma largada da Maratona Olímpica no Rio em 2016, com o calor e umidade que é peculiar à capital carioca sem mulheres brasileiras, só por decisão de poucos que deixam de usar o bom senso? Até quando ?…”
Pior que não ter patrocínio é não ter nem mesmo a chance de participar.
Fica difícil renovar as bases se não há em quem se espelhar.
Matematica basica, e nao apenas para a prova da maratona, mas tambem para o 4x 100 m masculino, alem de outras provas. Nao vamos nos alongar. Voltando a matematica basica: entre dirigentes, tecnicos (foram ateh poucos – 14), delegados com “diversas” funcoes, chefes, heroi (?) e outros temos/tivemos um total de 34 sujeitos e sujeitas. Atletas? 32. De novo: matematica basica. Minhas contas estao erradas na questao de quem deveria estar lah! Sem comentarios a mais! Para conferencia: http://www.cbat.org.br/competicoes/mundial/delegacao.asp
Prezado Rodolfo e seus leitores.
Estou em Moscou com a Delegação brasileira de atletismo, lendo o Blog do prezado Rodolfo, achei que deveria dar uma palavra a respeito do assunto.
1- Os indices estabelecidos para Maratona e marcha atletica são indicados um ano antes para os atletas brasileiros, estes indices são baseados em resultados mundiais das ultimas competições internacionais. Podendo ser mais fortes que os indices adotados pela IAAF.
2- Para o Masculino foi adotado o mesmo criterio e tivemos dois atletas entre os 10 do mundo, sem contar com o Marilson, nosso melhor atleta nos ultimos mundiais.
3- Todo nosso apoio aos atletas atraves de estagios internacionais e competições estão sendo dadas a todos os atletas, inclusive com equipe multidisciplinar( Medicos, Fisioterapeutas, Massagistas, Nutricionista, plano medico. Os atletas para atingir este estagio tem de estar dentro dos programas da Cbat, estando ranqueados entre os melhores do mundo.
4- Gostaria de abordar melhor este tema, e fazer uma materia mais ampla, mas de qualquer forma a CBAT está numa fase de transição, assumi este ano a Presidencia, e estamos definindo novos padrões e metodologia de trabalho no atletismo.
5- Estou a disposição para quem puder visitar nossa sede e puder entender como funcionam todos departamentos e e toda estrutura do atletismo brasileiro.
Jose Antonio – Presidente da Cbat
Sr. Presidente, Jose Antonio, muito obrigado pelo seu post e boa sorte em sua gestão. Transparência e capacidade para ouvir é o que mais queremos das nossas instituições. Não sei se o Sr. esquivou-se intencionalmente, mas a questão aqui é: POR QUE adotar índices mais difíceis que os da IAAF? Em que sentido isto ajudaria nossos atletas? Ou seria só por cortes nos custos? Outra questão importante: faz sentido levar tanto staff e convidados para um número tão pequeno de atletas e ainda trazer zero medalhas?
Não acho que as atletas em questão (as melhores maratonistas do Brasil) conseguiriam medalha nessa prova, mas participação e bagagem é essencial… mas, de novo, não para elas.
Colocar um atleta lá para ganhar experiência internacional e “bagagem” justifica-se se o mesmo/a for jovem – e cadê a juventude e a renovação do fundo do Brasil???
Janildo
Cuidado,.a inveja mata,.mesmo ainda a ignorancia cega. O cara falou naoem nome das atletas dele,.e sim de brasileiras que treinam com o claudio castilho e.o alassandro e que pagam impostos e muito por sinal descontados nas premiacoes e tem direitos como voce e qualquer um que fizesse o indice A Iaaf . Elas nao estao pedindo pra passear. Mediocre eh a.sua opiniao sobre o que nao conhece. Deve ser beneficiado de alguem do conselho ou frustrado.
O Gilmario treina atletas medíocres? O que é isso? É muito triste ver que mesmo com todo esse sucesso que a corrida vem fazendo poucos realmente se interessam pelo esporte. Ninguém valoriza o profissional do atletismo, e o pior, os quenianos que correm nossas provas as fazem descansados, tem patrocínio de empresa brasileira e levam a premiação dos nossos poucos atletas de alto nível que treinam duro e somente pelo amor ao esporte corrida. Está na hora de alguém mudar isso, tenho certeza de que não é Cbat exigindo um tempo de 2:28 na maratona feminina que o principal objetivo será alcançado.
Ok, eu também não gosto de atletas choramingões. Devo ser do tempo em que nossos atletas faziam mais com menos. Mas não podemos ignorar que a CBAt tem total responsabilidade nesse processo de surgimento e formação dos atletas brasileiros. Portanto, se quase nenhum atleta consegue atingir os tais “índices de potência mundial” exigidos pela CBAt, ela tem grande culpa nisso, não? Logo, também seria justo que todos os dirigentes perdessem seus cargos sempre que ao final de um período não conseguissem produzir atletas com a qualidade almejada.
Sugestão de critérios para a CBAT: mantenha seus tempos máximos e classifique quantas atletas consigam alcançá-lo. Se nenhuma conseguir, leve a melhor, para representar o país.
Taí a solução… se não, não haverá quantidade – e, sem quantidade, fica mais difícil aparecer qualidade!
Imagino que a CBAt deve estar oferecendo às atletas um tratamento e condições de treinamento superiores à de qualquer outro país para poder exigir tanto, certo?
Será que tem dedo do cientista russo maluco Antônio Carlos Gomes nisso?
Nossa,
que revolta ao ouvir tudo isso.
O que esse pessoal da CBAt tem na cabeça?
Isso é ridídulo. Um verdadeiro absurdo o que está sendo feito com nossos(as) atletas! O Gilmário tem toda razão, e acredito que ele falar sob isso é um ato de muita coragem. Em alguns esportes (volei, ginástica olímpica, por exemplo), parece que impera a “lei da mordaça”, onde os atletas e treinadores que tentam o melhor pelom esporte são apenados por mostrar o que ocorre nos bastidores do esporte….
Eu que sou mero amador praticante de corrida de rua, considero importante a referência desses atletas nas competições, para me inspirar e me motivar a treinar ainda melhor, o que dirá os atletas de elite que se esforçam, muitos com pouco apoio e patrocínio, que se dedicam a seus esportes por amor.
A CBAt está corretíssima no seu critério. esse sujeito treina atletas medíocres que não conseguem obter o índice exigido e vem com churuminguelas. vai procurar o que fazer.
Na minha humilde opinião de maratonista amador é lamentável, concordo com o Gilmário,Será que nossas brasileiras não seriam capaz de correr sub 2h32 e ficar entre as 5 primeiras? isso não contaria com futura bagagem para 2014?
Ola Rodolfo sempre acompanho seu blog, antes de mais nada desculpe os erros de português,
Não concordo com a choradeira dos técnicos e de corredores em geral, não tem muito tempo que
um famoso corredor e um técnico de clube de atletismo queriam que os quenianos não participassem
das corridas em território nacional, por que assim ficaria mais fácil levar a premiação para os primeiros
colocados, tirando a diversão e a qualidade de vida, os corredores profissionais tem que entender
que tem que estar preparado para o fracasso, fiquei muito feliz quando a CBAT, endureceu os índices
para competidores que só vão passear representando o Brasil, já tenho que aturar os políticos
brincando com dinheiro pública, se atleta quiser viajar de graça que faça por onde pelos menos
consiga pelo menos o indice domestico.
correu aonde amigo pra fala umas coisas dessas
O Brasil estabeleceu índices de potência olímpica, quando na verdade está bem longe disso.
como era de se esperar. a cbat e so panelinha. e eles nao fazem nada para beneficiar o atleta brasileiro. e ainda cria regras própria sem consultar realmente quem vive e respira atletismo. e depois joga na cara dos atletas os maus resultado. sendo que eles fecham a porta para os atletas. manda o presidente ir la correr uma maratona pra 2.28 ai ele vai representa o brasil no rio de janeiro……
Fiquei fã do GILMÁRIO, com muita propriedade conseguiu colocar as incoerências da CBAt. Exigir um índice mais forte do que a IAAF ou o COI, orgãos máximos do atletismo, é um erro gravíssimo de arrogância! Sera que essa é a melhor atitude para desenvolver o esporte????
Vamos debater:
1-Assistir a um evento e se maravilhar com o desempenho das atletas, e entre essas uma brasileira = eu posso, eu quero fazer isso!!!! Sonhar um sonho possível (Dar visibilidade e massificar o esporte)
2-Só vai participar quem atingir o tempo até a quarta colocada! (Só vai se for pra fazer bonito)
Eu que saia correndo por aí (em 1980), tentando baixar minhas marcas, sonhava em representar meu país! Tirar isso dos atletas de hoje é crueldade!!!
Concordo plenamente com o autor do blog….
Por que paises tão pobres e bem menores que o Brasil, estão sempre com 5 atletas na maratona(ex.Ç Quênia, Etiópia) e o Brasil, potência econômica, sempre com poucas atletas….e neste Mundial de Moscou, decepcionou mais ainda.
Não vi nenhuma brasileira…O jeito foi torcer apenas pro Japão(costumo sempre torcer pro Brasil e Japão, nas Olimpíadas, e Mundiais de Atletismo), que tem tradição na maratona e outras corridas de longa distância, especialmente na maratona feminina:
-Fukushi Kayoko, 3a(medalha de Bronze)
-Kizaki Ryoko, 4a colocada
Abraços!
Vancouver, Canadá
Realmente fiquei surpreso ao ver a prova da maratona no mundial e não ter visto nenhuma brasileira. Imaginei que fosse por conta do índice da IAAF ter sido muito forte e não termos conseguido encaixar nenhuma corredora.
Lamentável essa decisão da CBAt. Sou corredor amador e só de ver um brasileiro(a) correndo, sinto mais vontade de treinar e vencer meus limites. Imagine o efeito que a participação de brasileiras na maratona não teria gerado nas novas gerações de atletas.
Vamos ver até quando as decisões tomadas levarão em conta o pensamento retrogrado e insano de uns poucos.
Para mim, a impressão que fica é que essa “meia dúzia”, que o Gilmário citou, não entende nada de atletismo. Aliás… acho que nosso maior problema no atletismo é a ignorância. Acabei de ver a ESPN noticiar que um “brasileiro ficou em último lugar na final dos 400 metros”. Peraí… quanto tempo faz que um brasileiro não chega numa final mundial dessa prova? Quanto tempo faz que um brasileiro não corre essa distância abaixo de 45s? Poxa… como alguém tem a incompetência de ignorar que esse “último lugar” teve um valor enorme!?!?
que absurdo, assisti parte da maratona no mundial e juro, não entendi pq não havia nenhuma brasileira se temos tantas maratonistas fortes, agora entendi, são os absurdos do Brasil.
Participar é mais valioso do que vencer! O melhor treinamento para esportistas e para o crescimento do esporte amador brasileiro é a participação nos desafios, pois esta é a tônica para a motivação: oportunidade para buscar a sua própria superação! A vitória é conseqüência de uma série de fatores, que variam de prova para prova. E medalha não é a conquista mais importante! Como primeira mulher sul-americana a ter participado de um mundial de remo, em 1985, e isso ter ocorrido graças ao apoio de um patrocinador que acreditou, posso dizer que as maiores conquistas decorrentes da minha participação foram a busca crescente de outras mulheres à prática do remo no Brasil; a criação de vários centros dando acesso para mulheres a esse esporte e rompendo preconceitos, com maior valorização social da mulher; e ouso dizer inclusive, que o caminho aberto resultou também na medalha de outra jovem remadora, a qual foi campeã em prova internacional poucos anos atrás. Não dar oportunidade de participação nas provas internacionais é fechar a porta que traz conquistas para nosso país em termos de desenvolvimento do esporte e da construção de novos conceitos sociais, inclusive, em relação a prática esportiva. Por isso, manifesto meu desapreço ao impedimento feito à participação da atleta maratonista, e peço aos dirigentes do esporte, em todas suas categorias,que revisem as práticas costumeiras para dizer quem vai e quem fica, quem recebe apoio e quem não recebe. A melhor estratégia para conquistar chama-se “OPORTUNIDADE”, é disso que o atleta brasileiro mais precisa!
É muito triste essa decisão. o que poderia estar por trás disso?Iinteresse contrário o objetivo dos atletas? Serão que esse elementos são brasileiros com compromisso com crescimento e desenvolvimento do atletismo no Brasil. Como perdemos com ausência dessa meninas no Mundial ? Milhares de jovens perderam oportunidade de assistirem a raça das atletas e atuariam de espelho de um esporte tão abandonado por nossos governantes.