Delegação brasileira ao Mundial de atletismo é um deserto de fundistas
01/08/13 13:40Nenhuma mulher nos 1.500 m, nos 5.000 m, nos 10.000 m, na marcha ou na maratona. Entre os homens, dois isolados maratonistas e um solitário marchador aparecem como oásis no deserto de fundistas que é a delegação brasileira que vai participar do Mundial de atletismo, a partir do próximo dia 10, em Moscou.
Já vi muita gente protestar contra os critérios da CBAt, há argumentos de peso contra os índices exigidos, mas argumentos favoráveis são igualmente fortes. De qualquer forma, essa é uma discussão ultrapassada, que só serve para boas horas de conversa em mesa de bar.
O triste é o que isso projeta: do jeito que vai, talvez nem sequer tenhamos maratonistas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Eu gosto de ser otimista, acredito no potencial esportivo do nosso povo, mas não vejo trabalho sólido para transformar esse potencial em atletas de ponta, e os atletas de ponta em medalhas.
A receita é conhecida de todos: um programa massivo de incentivo ao esporte, a partir das primeiras séries escolares; investimento em técnicos; apoio a competições interescolares, incentivo ao esporte universitário. Mas nada disso terá resultado sem o suporte da iniciativa privada, que pede atletas em quem investir, mas praticamente só apoia nomões.
Nessas circunstâncias, tem ainda mais valor o trabalho dos poucos que conseguem chegar a uma competição internacional. Fica aqui, pois, um aplauso à conquista dos maratonistas Paulo Roberto de Almeida Paula e Solonei Rocha da Silva e do marchador Mário José dos Santos Júnior, que vai disputar a prova de 50 km. Que eles levem, nos asfalto de Moscou, a pátria nos pés.
A delegação brasileira conta com dois campeões mundiais: Fabiana Murer, especialista em salto com vara, primeira atleta do país a conquistar ouro em um Mundial de atletismo em estádio, e Mauro Vinícius da Silva, o Duda, campeão mundial indoor no salto em distância.
A seguir, a lista completa da delegação brasileira, incluindo os já citados.
HOMENS
Aldemir Gomes da Silva Júnior (200 m)
Anderson Freitas Henriques (400 m, 4×400 m)
Augusto Dutra da Silva de Oliveira (salto com vara)
Bruno Lins Tenório de Barros (200 m)
Caio Oliveira de Sena Bonfim (20 km marcha)
Carlos Eduardo Bezerra Chinin (decatlo)
Hugo Balduino de Souza (4×400 m)
Jefferson Dias Sabino (salto triplo)
João Gabriel Santos Souza (salto com vara)
Jonathan Henrique da Silva (4×400 m)
Kleberson Davide (800 m)
Mahau Camargo Suguimati (400 m com barreiras)
Mário José dos Santos Júnior (50 km marcha)
Mauro Vinicius Hilário Lourenço “Duda” da Silva (salto em distância)
Paulo Roberto de Almeida Paula (maratona)
Pedro Luiz Burmann de Oliveira (4×400 m)
Ronald Odair de Oliveira Julião (lançamento do disco)
Solonei Rocha da Silva (maratona)
Thiago Braz da Silva (salto com vara)
Wagner Francisco Cardoso (4×400 m)
MULHERES
Ana Cláudia Lemos Silva (100 m, 200 m, 4×100 m)
Evelyn Carolina Oliveira dos Santos (4×100 m)
Fabiana de Almeida Murer (salto com vara)
Fernanda Raquel Borges Martins (lançamento do disco)
Franciela das Graças Krasucki (100 m, 200 m, 4×100 m)
Geisa Rafaela Arcanjo (arremesso do peso)
Joelma das Neves Sousa (400 m)
Jucilene Sales de Lima (lançamento do dardo)
Karla Rosa da Silva (salto com vara)
Keila da Silva Costa (salto triplo)
Rosângela Cristina de Oliveira Santos (4×100 m)
Vanda Ferreira Gomes (4×100 m)
E creio que esse deserto vai aumentar cada vez mais, dentro dos principais eventos internacionais. Lá na década de 60, 70 iniciavamos uma boa cultura de competidores de rendimento no país, que teve seu apíce em 80 e 90. E a sua decadência a partir de 2000. Foi quando todos os dirigentes esportivos passaram a priorizar o lucro e a cultura da especulação no esporte, deixaram de lado a sua essência e hoje colhemos constatações tristes como essas, era o atletismo virando mercado especulativo sem priorizar seus principais valores de produção esportiva, o “Atleta”.
Fui atleta contemporâneo de muitos desses HERÓIS qUE competirão no mundial. A verdade é que a administração do atletismo no Brasil é uma vergonha, e os dirigentes são verdadeiros mafiosos. Se investigá-los, achar-se-á muita coisa errada.
Além disso, como já destacado por reportagem na Folha/UOL, não há atletas nos 100m rasos. Nas duas mais importantes provas do atletismo podemos não ter representantes de peso. Marílson pode ainda correr a maratona, ele não está indo ao Mundial para tentar bater o recorde brasileiro em Berlim, é bom lembrar isso.
Infelizmente nossos gestores não dão apoio a BASE do Atletismo, aqui mesmo em Aracaju não temos uma pista de atletismo de facil acesso aos corredores. Mesmo com a popularidade crescente das corridas de rua precisamos praticar nas escolas este esporte.