Nova linha Free, da Nike, chega 60% mais cara
19/07/13 13:34Acompanhei, nesta semana, o evento de lançamento mundial de dois modelos da linha Free, da Nike. Na sua sede, em Beaverton, do ladinho de Portland, no Estado do Oregon, noroeste dos EUA, a empresa reuniu quase 300 jornalistas do mundo todo para mostrar sua nova filosofia de design, que chama de “natureza amplificada” (foto abaixo, de minha lavra).
Apesar de anunciados como tênis de corrida –que são, e de boa qualidade, como veremos a seguir–, ficou evidente o investimento da empresa em demonstrá-los como também parte do que o mercado e os marqueteiros chamam de “estilo de vida”.
Não por acaso, três dos cinco jornalistas/blogueiros que saíram do Brasil para o evento são da área de moda. Olhando o visual da turma presente, não ficaria surpreso se, no conjunto, a relação entre fashionistas e corredores, para estabelecer categorias genéricas e arbitrárias, fosse ainda mais díspar.
Isso acontece porque a empresa notou que os atuais modelos da linha Free, que é a mais vendida da Nike entre os modelos para corrida, há muito deixou o asfalto e as esteiras das academias sofisticadas para chegar às pistas das baladas e aos bares frequentados pela moçada. É que, aparentemente, a turma jovem quer demonstrar que também é saudável, além de totalmente moderna.
Tanto é assim que a linha AirMax, nascida para amortecer as passadas dos corredores, virou tênis de balada. No segundo dia do evento, estilistas apresentaram modelos AirMax que chegarão ao mercado nos próximos anos. O que arrancou mais “ahs!” e “ohs!” dos fashionistas foi um modelo em preto com solado em verde limão quase fosforescente no estilo Anabela (é como um salto alto, mas com a sola sólida em todo o pé, bem baixinha na frente e BEM alta no calcanhar). Teve até palmas para o sapatinho….
A linha Free está seguindo no mesmo caminho. “Nenhum core runner usa o Free para corrida”, me disse um executivo da área de comunicação da Nike. Por “core runner”, ele se refere a corredores dedicados ou “corredores sérios”, maratonistas ou gente focada em melhorar a performance.
Não que eles não usem o Free: segundo o mesmo executivo, os tais corredores sérios empregam o calçado em treinos regenerativos ou mesmo longos em ritmo leve, para mudar as exigências feitas à musculatura.
Até agora não falei dos lançamentos nem da filosofia “natureza amplificada”. Esse estilo de design procura fazer o que o nome tenta transmitir: melhorar características ou ampliar o potencial de desempenho do corpo humano, sem mexer no seu estilo ou aproveitando o jeito de ser do homem.
São dois os primeiros modelos criados segundo essa filosofia, o Free Flyknit (ao lado, Divulgação) e o Free Hyperfeel.
O primeiro combina duas tecnologias já usadas pela Nike: a flexibilidade do solado Free com o tecido do Flyknit, que, no dizer da empresa, proporciona “o ajuste preciso tipo segunda pele”.
Já o Hyperfeel é um tênis minimalista, ainda que a Nike pareça não gostar muito dessa palavra. No material de divulgação, o calçado é definido assim: “Um tênis que imita o funcionamento intricado do pé. Sua espuma Lunarlon copia as áreas de amortecimento sob o pé. A sola protege como se fosse uma pele endurecida. E a tecnologia Dynamic Flywire flexiona e contrai como os ligamentos”.
A maior novidade da linha, porém, não foi anunciada nos palcos do evento “natureza amplificada”, mas sim descoberta nos corredores: ele rompe o patamar de preço dos atuais modelos da linha Free, que tem preços na faixa que vai de US$ 100 a US$ 130 (cerca de R$ 220 a R$ 290). O preço do Free Flyknit, que chega em agosto, é US$ 160 (R$ 355, aproximadamente). O Hyperfeel, cujo lançamento está previsto para novembro, vai custar US$ 175 (quase R$ 390). Os valores são para o mercado norte-americano.
Essa diferença de 60% no preço é muito significativa. Claro que a Nike deve ter pesquisas dizendo que há mercado e renda para garantir vendas no volume que considera necessário, mas acredito que a empresa vai ter de gastar muito em marketing para convencer o público de que a mudança, o investimento extra, vale a pena. De certa forma, já vem fazendo isso, pois os atuais modelos com cabedal Flyknit (Nike Flyknit Lunar 1+) têm preços na faixa dos US$ 160.
Não sei como funciona o público nesse terreno, mas lembro que, quando cobria informática diuturnamente, um alto executivo da área me disse que, nos Estados Unidos, uma variação de US$ 20 já pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de um produto.
A questão é: os produtos valem tudo isso? A resposta é de cada um, e envolve, como em qualquer outra compra, muito mais do que o valor intrínseco (se é que isso existe) ou a serventia do produto.
Que fique claro: mesmo por esse preço, eles não vão correr por você. O corredor vai ter de treinar, suar, fazer musculação, descansar, beber e comer direito. E esses modelos podem ser bons para alguns tipos de treino ou de corredor.
Com cada um deles, Flyknit e Hyperfeel, corri um quilômetro pelo campo que, no quartel-general da Nike, é nomeado em homenagem a Ronaldo –tem até uma estátua do Fenômeno (foto de minha lavra). Também circulei por alamedas de concreto em volta do gramado.
Achei o Free Flyknit bastante confortável, chegando a ficar surpreso com o bom amortecimento oferecido (eu esperava um tênis quase molengo), mas não notei, durante a corrida, a tal flexibilidade. Isso não quer dizer que ele não seja flexível –na mão, dá para dobrá-lo com a maior facilidade–, mas sim que não senti, no curto espaço de tempo que o experimentei, impacto dessa flexibilidade na corrida, nem para o bem, nem para o mal.
Já o Hyperfeel (ao lado, Divulgaçao) é outra conversa. Ele é mais afilado, mais pontudo, e a sola é quase nada; protege, é claro, mas parece que você está descalço. Outros corredores gostaram, mas eu tive, ao longo dos minutos que o experimentei, uma desagradável sensação de insegurança, sentindo as dezenas de ossos dos meus pés baterem no concreto quase como se eu estivesse descalço.
Em um e outro, a maior dificuldade que tive foi de calçar os tênis. A parte de tecido é muito ajustada, e o pé entra como se estivesse em uma meia de compressão, é preciso segurar firme o cabedal e forçar um pouco a passagem. Uma vez calçado, a sensação é de bastante conforto, com ajuste muito bom. Não senti os dedos apertados mesmo no Hyperfeel, que a tem a parte da frente mais fina.
Claro que é preciso adaptação para usar calçados como esses. Falando com os desenvolvedores dessa linha, eles deixaram claro que são produtos indicados para quem tem uma boa biodinâmica de corrida. Também devem ser mais indicados para corredores mais leves.
Os especialistas da Nike com quem conversei não quiseram dizer que esses modelos não são apropriados para atletas mais gordos, preferindo repetir a história da biodinâmica… Eu insisti, lembrando que, em geral, corredores mais pesados nem sempre são os mais eficientes no uso de seus recursos físicos para a corrida, e o entrevistado concordou. Vai daí que…
PS.: Viajei para o evento da Nike a convite da empresa.
Olá Rodolfo,
O preço do Free Flyknit não será alto se comparado ao que tenho visto por aí. Uma voltinha em qualquer shopping de São Paulo e nos deparamos com muitos modelos de tênis entre 400 e 600 reais. Na minha opinião, fora da realidade (pelo menos da minha) mas com muito mercado, não necessariamente de corredores.
Um abraço
Luis Augusto
Concordo e o que é pior é que a coleção vendida aqui ainda é a de 2012, o preço nos Estados Unidos dessa coleção 65 dólares.