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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Professores de Itararé aprendem a correr

Por Rodolfo Lucena
05/07/13 11:54

Pois o conto eu lhe conto como o conto foi. Estava eu subindo as escadarias que me levariam a uma exposição de lembranças do Movimento Olímpico quando ouvi alguém chamar meu nome. Magricela, vestido com uma berrante camiseta de corrida verde-limão, o sujeito se apresentou: “Sou Guilherme, de Itararé!”.

Apesar de ser ainda cedo na manhã de domingo, deixei que a resposta tivesse o bom humor que não me caracteriza: “Itararé? Só conheço o Barão de Itararé, mas ele é gaúcho”, brinquei, lembrando o grande jornalista e iconoclasta de carteirinha Aparício Torelly, também conhecido como Aporelly.

Meu interlocutor sorriu amarelo: “Ele era um brincalhão. Dizia que não era barão, mas, como em Itararé também não houve batalha, dava tudo na mesma”.  É que, nos idos de 1930, quando Getúlio Vargas levantou o Sul contra o poder central, dizia-se que os chegantes seriam parados em Itararém, na fronteira de São Paulo com o Paraná, onde se daria a mais sangrenta batalha da história da América (quiçá, do planeta Terra).

A diplomacia falou mais alto, e nada de bala com bala, muito menos sangue no asfalto: “Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve”, disse mais tarde Aporelly (1895-1971).

Eu já sabia de tudo isso, então essa conversa não foi necessária com o Guilherme, que logo passou ao que interessava: “Viemos em mais de 30 pessoas de Itararé só para correr a prova noturna de ontem –uma corrida de 10 km na Cidade Universitária, no último sábado”.

A coisa ficou ainda mais interessante quando ele me disse que eram quase todos professores de escolas públicas, que estavam começando a treinar, aprendendo a correr. E que financiavam a viagem com o apoio do povo da cidade: venderam rifas e pizzas ao longo do mês para conseguir recursos para o transporte e as inscrições.

Então achei que era uma história que merecia ser contada e até tirei uma foto do grupo que, naquela manhã domingueira, também ia visitar a exposição sobre os Jogos Olímpicos –falando nisso, foi muito bacana, pena que acabou no domingo passado.

A turma tinha 22 corredores –nove fizeram o percurso de 5 km–, inteirando 34 no total, com agregados (filhos, cônjuges, torcida), contou o Guilherme, que por nome completo é Guilherme Marques Gorski. Formado em educação física, esse professor de 47 anos trabalçha como supervisor de ensino no município, que fica a cerca de 360 km da capital paulista. Corredor desde 2002, tem 16 maratonas nas costas e é o inspirador da Equipe 28 de Agosto – 100% Itararé, que tem por objetivo incentivar os itarareenses a praticar atividade física.

Desde o ano passado, um dos pontos fortes do grupo é ensinar professores a correr, como nos conta Guilherme:  “Diretoria de Ensino da Região de Itararé, algumas professoras coordenadoras e funcionários se interessaram pela prática da corrida e resolvi convidá-los para participar”.

Para incentivar a turma, colocaram como meta a prova de 10 km que integra a Maratona Internacional de São Paulo daquele ano. Foi uma beleza, orgulha-se Guilherme: “No dia 17 de junho de 2012, 16 atletas da nossa equipe completaram o percurso. Na maioria, era um pessoal que nunca havia corrido nem mesmo praticado alguma atividade física regularmente, e isso chamou a atenção dos demais colegas”.

A conquista virou assunto no trabalho, na cidade: “No dia após a corrida, voltando ao batente, combinamos de todos irem vestindo a camiseta da prova e levando a medalha conquistada. Não deu outra, muitos outros foram contaminados e começaram a participar dos treinos coletivos, que sempre fazemos nos finais de semana”.

As chefias apoiaram a mensagem se espalhou. “Em outubro de 2012, fomos em 36 corredores para a etapa São Paulo do Circuito de Corridas de Rua da Caixa, que teve a largada e chegada no Estádio do Pacaembu. Nessa prova conseguimos dois pódios nas categorias por faixa etária”.

Apesar do apoio das chefias locais e regionais, o grupo não tem suporte financeiro para bancar viagens. “Resolvemos vender pizzas para arrecadar o dinheiro para custear o transporte e hospedagem de todo o pessoal. A dificuldade nos uniu ainda mais. Fizemos parceria com uma padaria e vendemos as pizzas feitas por ela, recebendo uma comissão em cada pizza vendida. Cobrimos todas as despesas e ainda teve uma sobra, que investimos no transporte dos alunos das escolas estaduais, que levamos para a São Silvestrinha”.

E assim a equipe segue correndo, aprendendo e ensinando a lição um pouco mais e melhor a cada dia.

Poética, a frase acima seria um bom fecho para este texto, não fosse a minha vontade  de ainda falar alguma sobre Itararé, o Barão, não a cidade nem o grupo de corridas. O cara foi um figuraço e merece ser mais conhecido.

Era especialista em frases prenhes de ironia, veneno e verdade: “A pessoa que se vende recebe sempre mais do que vale” é demolidora, enquanto “Triste não é mudar de ideia, triste é não ter ideias para mudar” serve como dica de vida.

Vale a pena ler “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, uma seleção de textos de humor publicados por Aporelly no seu jornal-veneno, o “A Manha”, que tinha como slogan “Quem não chora não mama”. O prefácio é de Jorge Amado, que foi comunista como o Barão. Aporelly também é o inspirador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

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Comentários

  1. Daniela Gorski comentou em 11/07/13 at 13:08

    Parabéns a todos da Equipe 28 de agosto! Itararé está sendo muito bem representada nas corridas!!

  2. Alceu Rosa comentou em 10/07/13 at 9:47

    Eu Itararaense roxo, me orgulho muito quando vejo noticias como esta. Aqui em São Paulo também participo de muitas corridas, e entendo perfeitamente o porque dessa animação toda, afinal, como diz um amigo, “depois que o bichinho da corrida, morde a gente, não tem mais jeito, ficamos viciados”, Parabéns a todos que levam o nome dessa fantástica cidade, por ai à fora.

  3. Marilda comentou em 09/07/13 at 21:03

    Parabéns à equipe pela iniciativa. É muito bom ver o nome de nossa cidade numa ação como esta. Precisamos de mais pessoas como vocês.

  4. fabio coluco comentou em 07/07/13 at 23:15

    Parabéns Guilherme pelo louvável esforço e provar que não só os atletas de alto desempenho consegue façanhas, parabéns Lucena pelo show de trocadilhos e conhecimento histórico. Acompanho o trabalho do supervisor Guilherme e esse cara realmente consegue “tirar leite de pedras”

  5. Alexandre comentou em 07/07/13 at 21:46

    Boas recordações que eu tenho quando morei em Itararé no distante ano de 2.005. Foi um periodo breve (5 meses) e eu morava no hotel (na avenida principal). A prática de corrida era novidade na cidade e eu acordava cedo e saía correndo pela cidade. Desnecessário falar que todos olhavam com desconfiança…Eu corrida por esta avenida principal até ela virar estrada de chão. Depois fazia meia volta e voltava para o hotel. Achei muito interessante esta iniciativa dos professores. Parabéns!

  6. Janaina Cezar comentou em 06/07/13 at 20:57

    Sou uma das integrantes dessa turma, sou professora de Biologia e sempre sonhei em correr, com o incentivo do professor Guilherme e dos demais colegas hoje participo de provas de 10 Km, está turma é nota 10, pura animação!!!!!

  7. Claudia de Lima comentou em 05/07/13 at 21:08

    É a nossa história (Itararé), a história Paulista e também a história do Barão de Itararé, especialmente nesta data próxima a comemoração da Revolução Constitucionalista …

  8. Guilherme Marques Gorski comentou em 05/07/13 at 20:48

    Correr é bom demais. Somos todos adversários, concorrentes, mas vamos todos numa mesma direção. Acho que é por isso que fazemos tantos amigos nas corridas. Aqui em Itararé está realmente aumentando o número de corredores, de gente que começa a se preocupar com qualidade de vida. A divulgação de nossa equipe neste espaço vai contribuir muito para continuarmos nosso trabalho de incentivar as pessoas a correr e fazer amigos. Muito obrigado.

  9. Silvana Contieri Machado de Genaro comentou em 05/07/13 at 13:54

    Parabéns pela reportagem!!! Coisas boas tem que ser divulgadas!!!!

  10. carlyle comentou em 05/07/13 at 13:31

    Parabens ao Guilherme e aos corredores de Itarare. Iniciativas como esta devem ser divulgadas e incentivadas. Muitos kmspra voces e vamos combinar uma meia maratona de Itarare.

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