Professores de Itararé aprendem a correr
05/07/13 11:54Pois o conto eu lhe conto como o conto foi. Estava eu subindo as escadarias que me levariam a uma exposição de lembranças do Movimento Olímpico quando ouvi alguém chamar meu nome. Magricela, vestido com uma berrante camiseta de corrida verde-limão, o sujeito se apresentou: “Sou Guilherme, de Itararé!”.
Apesar de ser ainda cedo na manhã de domingo, deixei que a resposta tivesse o bom humor que não me caracteriza: “Itararé? Só conheço o Barão de Itararé, mas ele é gaúcho”, brinquei, lembrando o grande jornalista e iconoclasta de carteirinha Aparício Torelly, também conhecido como Aporelly.
Meu interlocutor sorriu amarelo: “Ele era um brincalhão. Dizia que não era barão, mas, como em Itararé também não houve batalha, dava tudo na mesma”. É que, nos idos de 1930, quando Getúlio Vargas levantou o Sul contra o poder central, dizia-se que os chegantes seriam parados em Itararém, na fronteira de São Paulo com o Paraná, onde se daria a mais sangrenta batalha da história da América (quiçá, do planeta Terra).
A diplomacia falou mais alto, e nada de bala com bala, muito menos sangue no asfalto: “Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve”, disse mais tarde Aporelly (1895-1971).
Eu já sabia de tudo isso, então essa conversa não foi necessária com o Guilherme, que logo passou ao que interessava: “Viemos em mais de 30 pessoas de Itararé só para correr a prova noturna de ontem –uma corrida de 10 km na Cidade Universitária, no último sábado”.
A coisa ficou ainda mais interessante quando ele me disse que eram quase todos professores de escolas públicas, que estavam começando a treinar, aprendendo a correr. E que financiavam a viagem com o apoio do povo da cidade: venderam rifas e pizzas ao longo do mês para conseguir recursos para o transporte e as inscrições.
Então achei que era uma história que merecia ser contada e até tirei uma foto do grupo que, naquela manhã domingueira, também ia visitar a exposição sobre os Jogos Olímpicos –falando nisso, foi muito bacana, pena que acabou no domingo passado.
A turma tinha 22 corredores –nove fizeram o percurso de 5 km–, inteirando 34 no total, com agregados (filhos, cônjuges, torcida), contou o Guilherme, que por nome completo é Guilherme Marques Gorski. Formado em educação física, esse professor de 47 anos trabalçha como supervisor de ensino no município, que fica a cerca de 360 km da capital paulista. Corredor desde 2002, tem 16 maratonas nas costas e é o inspirador da Equipe 28 de Agosto – 100% Itararé, que tem por objetivo incentivar os itarareenses a praticar atividade física.
Desde o ano passado, um dos pontos fortes do grupo é ensinar professores a correr, como nos conta Guilherme: “Diretoria de Ensino da Região de Itararé, algumas professoras coordenadoras e funcionários se interessaram pela prática da corrida e resolvi convidá-los para participar”.
Para incentivar a turma, colocaram como meta a prova de 10 km que integra a Maratona Internacional de São Paulo daquele ano. Foi uma beleza, orgulha-se Guilherme: “No dia 17 de junho de 2012, 16 atletas da nossa equipe completaram o percurso. Na maioria, era um pessoal que nunca havia corrido nem mesmo praticado alguma atividade física regularmente, e isso chamou a atenção dos demais colegas”.
A conquista virou assunto no trabalho, na cidade: “No dia após a corrida, voltando ao batente, combinamos de todos irem vestindo a camiseta da prova e levando a medalha conquistada. Não deu outra, muitos outros foram contaminados e começaram a participar dos treinos coletivos, que sempre fazemos nos finais de semana”.
As chefias apoiaram a mensagem se espalhou. “Em outubro de 2012, fomos em 36 corredores para a etapa São Paulo do Circuito de Corridas de Rua da Caixa, que teve a largada e chegada no Estádio do Pacaembu. Nessa prova conseguimos dois pódios nas categorias por faixa etária”.
Apesar do apoio das chefias locais e regionais, o grupo não tem suporte financeiro para bancar viagens. “Resolvemos vender pizzas para arrecadar o dinheiro para custear o transporte e hospedagem de todo o pessoal. A dificuldade nos uniu ainda mais. Fizemos parceria com uma padaria e vendemos as pizzas feitas por ela, recebendo uma comissão em cada pizza vendida. Cobrimos todas as despesas e ainda teve uma sobra, que investimos no transporte dos alunos das escolas estaduais, que levamos para a São Silvestrinha”.
E assim a equipe segue correndo, aprendendo e ensinando a lição um pouco mais e melhor a cada dia.
Poética, a frase acima seria um bom fecho para este texto, não fosse a minha vontade de ainda falar alguma sobre Itararé, o Barão, não a cidade nem o grupo de corridas. O cara foi um figuraço e merece ser mais conhecido.
Era especialista em frases prenhes de ironia, veneno e verdade: “A pessoa que se vende recebe sempre mais do que vale” é demolidora, enquanto “Triste não é mudar de ideia, triste é não ter ideias para mudar” serve como dica de vida.
Vale a pena ler “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, uma seleção de textos de humor publicados por Aporelly no seu jornal-veneno, o “A Manha”, que tinha como slogan “Quem não chora não mama”. O prefácio é de Jorge Amado, que foi comunista como o Barão. Aporelly também é o inspirador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Parabéns a todos da Equipe 28 de agosto! Itararé está sendo muito bem representada nas corridas!!
Eu Itararaense roxo, me orgulho muito quando vejo noticias como esta. Aqui em São Paulo também participo de muitas corridas, e entendo perfeitamente o porque dessa animação toda, afinal, como diz um amigo, “depois que o bichinho da corrida, morde a gente, não tem mais jeito, ficamos viciados”, Parabéns a todos que levam o nome dessa fantástica cidade, por ai à fora.
Parabéns à equipe pela iniciativa. É muito bom ver o nome de nossa cidade numa ação como esta. Precisamos de mais pessoas como vocês.
Parabéns Guilherme pelo louvável esforço e provar que não só os atletas de alto desempenho consegue façanhas, parabéns Lucena pelo show de trocadilhos e conhecimento histórico. Acompanho o trabalho do supervisor Guilherme e esse cara realmente consegue “tirar leite de pedras”
Boas recordações que eu tenho quando morei em Itararé no distante ano de 2.005. Foi um periodo breve (5 meses) e eu morava no hotel (na avenida principal). A prática de corrida era novidade na cidade e eu acordava cedo e saía correndo pela cidade. Desnecessário falar que todos olhavam com desconfiança…Eu corrida por esta avenida principal até ela virar estrada de chão. Depois fazia meia volta e voltava para o hotel. Achei muito interessante esta iniciativa dos professores. Parabéns!
Sou uma das integrantes dessa turma, sou professora de Biologia e sempre sonhei em correr, com o incentivo do professor Guilherme e dos demais colegas hoje participo de provas de 10 Km, está turma é nota 10, pura animação!!!!!
É a nossa história (Itararé), a história Paulista e também a história do Barão de Itararé, especialmente nesta data próxima a comemoração da Revolução Constitucionalista …
Correr é bom demais. Somos todos adversários, concorrentes, mas vamos todos numa mesma direção. Acho que é por isso que fazemos tantos amigos nas corridas. Aqui em Itararé está realmente aumentando o número de corredores, de gente que começa a se preocupar com qualidade de vida. A divulgação de nossa equipe neste espaço vai contribuir muito para continuarmos nosso trabalho de incentivar as pessoas a correr e fazer amigos. Muito obrigado.
Parabéns pela reportagem!!! Coisas boas tem que ser divulgadas!!!!
Parabens ao Guilherme e aos corredores de Itarare. Iniciativas como esta devem ser divulgadas e incentivadas. Muitos kmspra voces e vamos combinar uma meia maratona de Itarare.