Veterinário larga as drogas e descobre a maratona
19/06/13 12:28A maratona de Porto Alegre, realizada domingo passado, foi uma marco na vida do jovem veterinário CLEBER CASTILHANO VILARES. Foi sua quinta prova de 42.195 metros e celebrou seu quinto ano livre de drogas. Especializado em avicultura industrial, esse profissional de 32 anos trabalha oito horas por dia e dá um jeito de treinar seis vezes por semana. Ele mandou para este blog um relato de sua trajetória de redescoberta da vida, que publico a seguir.
“No dia 8 de julho de 2008, após dez anos de uso de drogas, decidi mudar o caminho da minha vida e tentar ficar apenas um dia sem usar drogas. A retirada doeu muito, foram dias intermináveis de crise de abstinência. Minha meta sempre “ficar apenas um dia sem usar” e um dia de cada vez foi passando e levando a dor embora.
Dois meses depois, em setembro de 2008, experimentei um novo vício em minha vida. Completei minha primeira prova, uma corrida de 5 km em Ribeirão Preto (a 330 km da capital), vizinha a Jardinópolis-SP, onde moro.
Em março do ano seguinte, corri outra prova de 5 km. Percebique gostava muito de correr, mas não com a língua para fora e por pouco tempo. Descobri a maratona: meus olhos brilhara e minha mente já foi projetando correr uma maratona em comemoração a data de um ano limpo de todas as drogas incluindo o álcool.
Minha estreia na maratona seria no Rio em julho de 2009. Fiz um check-up geral para saber se as drogas haviam causado algum efeito colateral.
Os exames não acusaram nenhuma sequela, até a hora da consulta com o ortopedista. Seu diagnóstico tinha ares definitivos: “Cleber, você tem 10 cm de distância entre o joelho esquerdo e o direito (pernas de cowboy), isto impede que você possa praticar corrida de rua. Haverá um grande desgaste terá nas articulações, provocando artrose nos joelhos. Procure outro esporte”.
Frustrado, procurei outro médico, que fez avaliação mais profunda: “Você é a prova viva de que tudo que eu aprendi na medicina sobre joelhos não se trata de uma verdade absoluta. Você adaptou seu movimento de corrida às suas pernas tortas, por isso não sente dores. Está liberado para correr”, disse ele.
Retornei aos treinos para a maratona, com disciplina espartana – muito diferente de como eu levava outros aspectos de minha vida, em que sempre seguia em frente um dia de cada vez. Cheguei ao Rio para realizar meu grande e ambicioso sonho, porém um pico acentuado de ansiedade me fez acordar com crise de vômitos alguns minutos antes da tão esperada prova.
Senti uma dor fortíssima de frustração, desilusão e impotência enorme, mas minha esposa me deu forças e apoio. Consegui aceitar naquele dia as minhas limitações e não fui anestesiar o sentimento de dor com alguma droga.
Reavaliei meus erros e recomecei a treinar para a maratona do Rio de Janeiro de 2010, desta vez orientado por um treinador. Após correr, sentir câimbras, caminhar e correr, eu cruzei a linha de chegada do meu grande sonho. Completei a prova em 4h19.
Foi o sentimento mais profundo que já tive em toda a minha vida. Chorava e não entendia o que estava sentindo. O filme da minha vida passava em várias cenas pela minha cabeça, todas as batalhas, tombos, sacrifícios, tudo havia valido a pena ter sido vivido daquela forma para sentir um êxtase daqueles após a linha de chegada. Foi um sentimento que droga nenhuma me proporcionou com tamanha intensidade e com o gosto da realidade. Foi lindo saber que a vida compensava muito ser vivida.
Três meses depois, fiz a maratona de Buenos Aires: 3h29!!!
Mas os excessos cobraram sua dívida. Em 2011, tive uma crise psicológica de overtrainning, não tinha mais prazer em correr. Parei totalmente de correr por quatro meses até que consegui voltar.
Em maio de 2012, completei a maratona de São Paulo. Após quebrar e sofrer com câimbras, posso dizer que aquela prova foi meu grande professor em maratonas. Aprendi que a maratona merece o meu respeito.
Mantendo os treinos, voltei à maratona de Buenos Aires: 3h02 (foto Arquivo Pessoal). Aquele tempo era surreal em minha cabeça, demorou uns 15 dias para eu ficar convicto de que havia conseguido me credenciar para correr a maratona de Boston em 2014.
Comecei acreditar que seria possível fazer um sub3h se continuasse com a mesma filosofia de manter um peso e uma porcentagem de gordura baixos. Após a São Silvestre de 2012 (em 1h01), iniciei a preparação para a maratona de Porto Alegre deste ano. Foram 5 meses e 15 dias de treinamento, 1.609 km rodados e apenas duas provas disputadas (meia maratona da Corpore em 01h23 e 10 km da volta USP Ribeirão em 39min).
Eu me sentia bem treinado. O sonho de ser um sub3h piscava de hora em hora na véspera da prova.
Saí controlando o ritmo e segurando com muita força mental a tentação de acelerar no primeiro trecho de 10 km da prova. Estava me sentindo bem, leve, com muita facilidade no piso reto e plano e a temperatura baixa. O aprendizado da maratona de São Paulo sempre me vinha à cabeça: “Respeite a maratona, você vai acertar as contas com ela é no final”.
A cada 10 km eu diminuía cinco segundos no meu ritmo. Passei a meia em 1h27, estava bem, porém apreensivo aos sinais que meu corpo emitia durante a prova. Após o km 30, meu ritmo ficou mais intenso (3min55/km) e fui seguindo firme vendo alguns atletas andando, outros correndo torto como um zumbi e fui avançando e queimando minhas últimas reservas.
Cruzei a linha de chegada com o split negativo projetado e resultado final de 2h50min41. Tive o 49° lugar entre aproximadamente 1.300 concluintes.
O sonho de ser um sub3h estava concretizado na capital gaúcha. O esporte resgatou mais uma pessoa da morte, a vida foi celebrada na minha quinta maratona em cinco anos de abstinência total do uso de drogas.
A corrida venceu as drogas.”
São relatos como esse que fazem a gente acreditar que sim, é possível superar tudo…
Que exemplo de vida! Parabéns pela conquista!!
Praticar esporte não tem preço.
Gosto muito de correr e quem sabe um dia, voltarei a correr uma maratona.
Já fiz meia.
Parabéns pela sua atitude ¨SIM para VIDA NÃO p/ as drogas principalmente o alcool,onde tudo inicia.
Parabéns pelo ato de CORAGEM !
Parabéns a Família pela VItória!
Parabéns pelas conquistas!
Parabéns por ter encontrado o caminho AMOR pela VIDA!
Parabens Cleber, Voce é demais. PArabens!!!
Parabéns pela força e pela conquista. Que Deus o abençoe, iluminando seu caminho!
Conheci o Cleber na viagem para Porto Alegre, ele foi participar com a finalidade de fazer uma sub3hs; e fez. No retorno ví a sua satisfação em cumprir seu objetivo. Nas corridas, grande parte é de pessoas que conseguiraram superar algum problema. As corridas de rua, sem dúvida são muito benéficas e pelo que vejo e o que ouço, é o esporte que mais tem contribuído para superar o uso de drogas, bebidas, cigarro, depressão, etc.
Parabéns Cleber-Sbin! Grande exemplo!
Quem te conhece sabe o salto que deu, do fundo do poço a um atleta perfeito.
Que seu exemplo seja seguido por muitos, principalmente por aqueles que não acreditam na capacidade que o esporte tem de modificar vidas!
O Cleber é meu irmão e posso atestar que a luta diária dele é exemplo pra muitas pessoas! Força sempre meu irmão, estaremos sempre contigo!
Grande exemplo. No mundo de hoje esta história merece um filme que sirva de exemplo aos drogaditos asfixiados e sem forças para reagir.