Câimbras e frustração na maratona de Roterdã
14/04/13 15:55O maratonista e colaborador frequente deste blog CARLYLE VILARINHO, que mora, trabalha e treina em Brasília, completou hoje mais uma maratona internacional. Esteve na prova de Roterdã e compartilha com a gente um relato da corrida, pelo que agradeço. Sem mais delongas, vamos ao texto que ele mandou, especial para o MaisCorrida.
“O dia amanheceu claro. Aos poucos e discretamente o sol foi mostrando a cara. A largada da prova acontece às 10h30h, porque normalmente nesta época do ano está frio. Neste ano foi um pouco diferente. Na hora da largada o termômetro já marcava 16ºC e chegou aos 20ºC lá pelo meio dia.
Quando escrevo, ainda não sei quem foram os vencedores, mas imagino que não houve quebra de recorde. Digo isso por dois motivos.
O primeiro: O percurso não é de todo plano. Logo no km 2 tem uma subidinha, discreta e de uns 900m para atravessar a Ponte Erasmus; é lógico que depois tem uma descida para compensar. Mais adiante, uma pequena elevação no km 20; outra subidinha no km 26, novamente atravessando a Ponte Erasmus, agora voltando; do km 30 ao 34, uma discreta descida, seguida de uma subidinha (leve) do km 34 ao 38; e uma última elevação do km 40 ao 41. Embora não sejam grandes elevações, creio que podem ter dado diferenças nas passagens dos lideres.
O segundo motivo é o vento, que soprou forte em vários pontos. Se nós, pangarés, que estávamos lá atrás no bolo, sentíamos o efeito do vento, posso imaginar que lá na frente a coisa tenha segurado um pouco os pontas.
Para este pangaré, a prova não foi nada fácil. Ao contrario, foi minha mais difícil maratona. Meu objetivo era terminar em torno de 4 horas, e até o km 25 tudo dizia que seria possível fazer abaixo de 4h.
No km 26, o marcador de ritmo de 4h passou por mim e resolvi acompanhá-lo para tentar um sprint no final.
Mas eis que passo o km 27 e começo sentir as pernas pesadas…de repente, no km 28, uma fisgadinha na panturrilha esquerda anunciando um início de câimbra. Ali eu percebi que sub4 seria quase impossível, mas tinha confiança de que iria completar a prova.
É uma sensação muito ruim, frustrante mesmo, saber que você não vai conseguir terminar a prova como planejado, que o resultado que havia pouco você imaginava alcançável tinha ido pro brejo. Então tentei ignorar, pensar em coisas boas.
Resisti o quanto pude, então tive que parar para alongar. A partir do km 30 a coisa pegou, a câimbra batia numa panturrilha e logo na outra; eu corria até travar e então caminhava. Quando já não incomodava muito, voltava a correr até a câimbra me parar novamente.
Não conseguia correr um km inteiro sem câimbra. Nos últimos 12 km, o ritmo foi corre 400 m, caminha 600; se melhorava um pouco, invertia: corre 600, caminha 400. A duras penas cruzei a linha de chegada, passei sob a faixa FINISH e sorri para a foto.
No caminho para o hotel, me lembrei do Rubinho Barrichelo, que dizia: “É impossível ganhar todas as corridas” . Pois é, também como o Barrichello, vou continuar tentando por muito tempo…
Bem, para quem pensa ou pretende correr a Maratona de Roterdã no futuro, algumas observações a mais. Chegar à cidade é muito fácil e rápido. No aeroporto Schiphol, em Amsterdam, há trens a todo momento para Roterdã: a viagem dura 30 minutos e custa 11 euros.
Os hotéis ficam no centro da cidade, muito perto (no máximo 1km) da feira da maratona, do jantar de massas (que recomendo) e da Largada/Chegada, que acontecem no mesmo ponto.
A feira não é grande nem tem grandes atrações. Tênis lançamento por 120 euros, demais artigos bons preços.
A Maratona é limitada a 10 mil corredores. Meia hora depois que eles largam tem a largada para um prova de 10 km, noutro percurso. A organização é boa: peitoral com o nome do atleta e também um dorsal; medalha simpática; camiseta comemorativa bonita e boa.
Na prova não gostei do fato de que em muitos trechos, muitos mesmo, a pista fica estreita, o que dificulta manter ritmo, fazer uma passagem, pois segura mesmo o corredor (ao menos nós lá na turma de 4h).
Os pontos de hidratação são muito distantes, a cada 5,5km; na temperatura que fez hoje, isto pesou. Nos pontos de hidratação há uma certa bagunça porque a pista é estreita e porque misturam mesas com água, mesas com isotônico e mesas com esponja –assim você nunca sabe em qual mesa parar.
Na segunda metade da prova, farta distribuição, por populares, de bananas e laranjas…sujando ainda mais a pista.
Por fim, a torcida. Existe, é maior que em todas as maratonas no Brasil ou América do Sul, mas é pouco numerosa se comparada às das grandes maratonas, também não é muito vibrante. Em contrapartida, ao longo do percurso há pelo menos umas dez bandas tocando diferentes ritmos.
É o que tinha a lhes dizer. Muito provavelmente, daqui a 14 dias volto aqui com notícias da Madrid Rock `n` Roll Marathon.”
PS.: Na linha de cima terminou o texto do Carlyle. Agora sou eu falando de novo: para conferir como foi a vitória de um ex-morador de rua da Etiópia, que também já foi terceiro em Chicago, clique AQUI.