Primeiras impressões sobre o Pegasus 29, da Nike
05/04/13 11:39Eu não sou o maior fã do mundo dos tênis de corrida da Nike. Assim como os da Adidas, costumam ser bonitos, mas a forma tende a ser um tanto apertada na parte da frente, o que é um problema para um sujeito que tem pés chatos, largos e com o peito do pé alto. Além disso, é difícil ver gente usando tênis dessas marcas nas provas em que participo, o que pode ser indicador de que outros corredores têm impressão semelhante à minha –ou de que minha pesquisa é falha, pois baseada apenas em rápida observação de corredores à minha volta antes da largada.
Isso não quer dizer que não tente experimentar os produtos dessas empresas. Com a Adidas, fiz apenas um teste há muitos anos e não deu certo; voltei várias vezes a lojas da empresa, experimentando tênis, mas parecem sempre apertados na frente do pé. É uma pena, porque em geral são os mais bonitos do pedaço. Com a Nike, me dei razoavelmente bem quando do lançamento do Pegasus, um tênis de corrida para quem tem pisada neutra puxando para o supinado (pelo menos, é o mantra da empresa).
Comprei um exemplar no início deste século e foi uma satisfação, no primeiro momento. Bastou correr mais de uma hora com ele, porém, para que virasse uma prisão para o coitado do dedo mingo. Como era razoável, acabei ficando com ele para uso em treinos de até 10 km. Acontece que também não era tão forte quanto os outros tênis que usava e terminei por despachá-lo com 416 km de uso –para comparação, naquela época cheguei a usar um Brooks Radius por 1.018 km de treinos e corridas.
Mas não foi uma decepção total, o que me levou a comprar, em 2007, um belíssimo modelo Pegasus Air, vermelhão, cheio de trique-triques. Saí da loja todo pimpão, já com os tênis nos pés.
Foi um desastre! Em contrapartida, oportunizou que eu tivesse então a melhor experiência de minha vida como consumidor. Explico: no dia seguinte ao da compra, realizada em uma pequena loja em Bellevue, pertinho de Seattle, parti para um treino com o novíssimo Pegasus.
Naquela época, eu não saía para a rua para correr menos de duas horas, qualquer que fosse o terreno. Atravessei asfalto, mato, pontes, cruzei uma pequena ilha e cheguei ao sobe-desce de Seattle, onde chovia, para variar. Terminei a brincadeira na Space Needle, aquele prédio que aparece em tudo quanto é filme ambientado na bela cidade do Estado de Washington. Deu 21 km e uns quebrados.
Quando, já no hotel, tirei os tênis, tinha uma bolha enorme nos arcos dos pés, lugar que jamais em tempo algum havia sido atingido por esse tipo de incômodo. Taquei o dedo indicado nos intestinos do Pegasus para descobrir o que havia. Era a palmilha, desenhada de forma a supostamente aumentar o suporte ao arco do pé, mas que, no meu caso, só atrapalhava.
Levei tênis e pés para a loja, mostrei a bolha, falei que tinha corrido na lama e na chuva, mas que não podia ficar com os tênis. Os caras nem piscaram, perguntando se eu queria o dinheiro de volta ou algum outro modelo. Paguei dez dólares a mais e levei um sensacional Dyad, um número maior do que o meu, programado para ser usado como segundo par na minha primeira ultra de 100 km (até agora, única, mas espero que não continue assim por muito tempo). Foi um sucesso, mas isso é outra história.
Vai que, no final do ano passado, meus tênis já estavam com a quilometragem perto do fim –entre 600 km e 800 km–, e eu não tinha perspectivas de viagem aos EUA. Pedi ajuda a amigos viajantes, listei alguns modelos possíveis, e o Nike Pegasus 29 acabou chegando à minha prateleira de calçados de corrida.
Não achei as cores muito bacanas (foto), mas a família não concordou comigo. O que importa é que paguei menos de R$ 180 por um tênis que, por estas bandas, custa em torno de R$ 400. E, a julgar pelas avaliações lidas pela internet afora, o equipamento estava muito bom.
De fato, a primeira impressão foi ótima. Bem leve para um tênis de amortecimento, dá uma sensação de ter quase nada no pé, se comparado com os outros modelos que uso, como um grandalhão Cumulus, da Asics, muito bom para longões. Talvez por isso, dava uma impressão de fragilidade. Mas precisava ser testado no asfalto.
O primeiro treino com o Pegasus foi muito bom. Superconfortável, nada de apertos em lugares indevidos. De modo geral, o design é bacana, mas fica meio troncho no pé se você precisa dar um laço um pouco mais apertado.
Fiz três treinos na avenida Sumaré, combinando asfalto e terra batida, usando o Pegasus tal como veio. Foi sempre confortável, mas, como ele é muito levinho e tem a sola mais fina do que as dos outros tênis que uso, tive sensação de desconforto nos trechos de terra batida e pedregulhos –dava para sentir nas plantas dos pés as irregularidades do terreno.
Acho que isso pode ser um problema, mas também sei que há corredores que podem adorar essa característica exatamente por permitir maior contato do pé com o chão –atenção, o Pegasus não se trata de tênis minimalista, que fique bem claro.
Eu não uso nenhum tênis tal como chega da loja: desde que tive fasciite plantar, sempre incluo uma palmilha comum para aumentar o conforto e o amortecimento. Fiz isso no Pegasus, com uma palmilha antiga, e o resultado foi muito bom: manteve-se o conforto e foi reduzido a quase nada o incômodo na planta dos pés quando corri por terrenos irregulares.
Restava saber se o dito cujo aguentaria, com a palmilha, treinos de mais de uma hora. Ou se, com o pé mais sofrido pelos quilômetros rodados, o tênis viraria um dolorido apertume.
Fiz um treino de 18 km e mais outro de 28 km; em ambos, o Pegasus 29 saiu-se com galhardia. No treino mais longo, acabei tendo alguma sensibilidade maior nos pés depois de umas três horas. Fico pensando (não posso afirmar que acontece realmente) que falta amortecimento na parte da frente do pé, a sensação nem sempre é a melhor do mundo. Mas há que lembrar que, naquelas alturas, já estou há mais de três horas no asfalto, então é razoável supor que os pés reclamem um pouco.
Ainda não coloquei o Pegasus em provas, e não pretendo usá-lo em maratonas, pelo menos por enquanto. De qualquer forma, ele ganhou um lugar na minha prateleira de tênis e qualquer hora vai enfrentar uma corrida.
Sobra apenas a sensação de fragilidade do equipamento. Duvido que ele resista mais do que 400 km –até agora, rodei com ele 160 km–, que foi a média dos Pegasus anteriores que usei. Mas, pelo que apresentou até agora, merece um voto de confiança.