Cadeirante dos EUA enfrenta ultramaratona na serra da Mantiqueira
19/01/13 12:27O norte-americano Andre Kajlich, de 33 anos, é o primeiro cadeirante a se aventurar pelas estradas, grotas e montanhas que integram o percurso da Brazil 135, considerada por muitos a mais difícil ultramaratona do Brasil. Prova classificatória para a temível Badwater, nos EUA, tem 217 km e começou ontem em São João do Boa Vista, na divisa entre São Paulo e Minas.
Não consegui falar com ninguém, ainda, para saber em que pé está a corrida. Mas vale aquele ditado: “O milagre não é que eu consegui terminar, o milagre é que tive coragem de estar na linha de largada”. Para Kajlich, com quem conversei na última quarta-feira, em São Paulo, o surpreendente mesmo é estar vivo, pois suas chances de sobrevivência eram mínimas depois do acidente que o deixou sem a perna esquerda e com apenas parte da coxa direita, além de muitas cicatrizes pelo corpo todo.
Ele conta como foi: “O acidente aconteceu quando eu tinha 24 anos, em dezembro de 2003. Tivemos uma festa em minha casa, em Praga, onde eu estudava química. Fiz burritos para todos, e daí saímos para as baladas. Normalmente a gente ficava fazendo festa a noite toda, tomava café na rua na madrugada. Finalmente, quando cada um pegou seu caminho, eu disse tchau para um amigo e acordei três semanas depois em um hospital, sem as pernas. Ninguém sabe como aconteceu, mas eu caí nos trilhos do metrô, o condutor me viu, mas não pode fazer nada. Basicamente, o trem inteiro passou por cima de mim.”
Ele continua: “Quando me tiraram dos trilhos, eu estava praticamente morto, sem pressão sanguínea, e mesmo assim eles foram capazes de me salvar. Muito sortudo. Perdi toda a perna esquerda, e a direita foi cortada uma pouco acima do joelho. Quebrei costelas, o pulmão foi perfurado, o fígado também foi atingido. Quase perdi o braço esquerdo, quebrado perto do cotovelo. Os médicos pensaram que eu jamais seria capaz de me movimentar. Talvez pudesse andar de cadeira de rodas e comandar o corpo para poder, por exemplo, lavar as mãos”.
E mais: “Não houve um momento em que acordei e me vi sem as pernas. Eu estava inconsciente e tinha momentos de lucidez, aos poucos recobrava a consciência e depois desmaiava novamente. Finalmente, quando comecei a perceber o que tinha acontecido, fiquei muito preocupado com o futuro, sem saber o que eu seria capaz de fazer. Não sabia se seria capaz de andar ou se algum dia poderia ser feliz novamente”.
Depois de quase três meses no hospital, foi transferido de volta para os EUA, para sua família: os pais são tchecos, emigraram em 1967, Andre nasceu em Edmonds, no Estado de Washington, em 1979. Em um ano, já conseguia caminha com pernas mecânicas e bengala, também começava a dominar melhor a cadeira de rodas (foto Silva Júnior/Folhapress).
Voltou a Praga para terminar o curso e continuar as festas. Acabou se apaixonando por Mariana, uma fotógrafa romena um ano mais velha que ele. Namoraram e, quando Andrés enfim viu que era hora de voltar mesmo aos EUA, em 2008, casaram. Ele já praticava um pouco de esporte na cadeira de rodas e fazia algumas caminhadas, além de gostar de nadar.
Tudo isso deu um quilo: nos EUA, participou de um triatlo de revezamento e adorou: “. Era muito bom sentir o coração batendo forte novamente. A partir dali eu fui em frente, tive sucesso.”
Sucesso é pouco: teve uma evolução impressionante em seu desempenho esportivo. Passou a treinar forte, entrou em competições de paratriatlo, fez um meio Ironman e se classificou para o pai de todos, o Ironman de Kona, no Havaí. Tirou o segundo lugar em 2011, foi campeão em 2012. E é bom também em provas curtas: foi medalhista de prata nos Mundiais de paratriatlo de Pequim-2011 e Auckland-2012.
Com as conquistas, chegaram mais apoios. No início, ele tirava do seu salário –trabalha com pesquisas em medicina de reabilitação na Universidade de Washington, em Seattle—e contava com contribuições de parentes e amigos. Tudo muito necessário: só as próteses que usa para caminhar custam mais de US$ 100 mil. E ele caminha bem.
“Não consigo correr, mas talvez seja o melhor caminhante do mundo com esse nível de amputação”, diz ele. Tão bom que vem sendo convidado pelo Exército dos EUA para ajudar nos trabalhos de reabilitação de soldados feridos nas guerras em que o país participa.
Kajlich não cansa de procurar novos desafios, como a Brazil 135, que conheceu ao ouvir no rádio uma entrevista de outro atleta cadeirante, o brasileiro Carlos Moleda. Ficou entusiasmado, entrou em contato com os organizadores e tratou de treinar. Não sabia exatamente como se preparar, mas subiu montanhas nevadas com sua cadeira de rodas, enfrentou gelo e barro e vai fazer o que der na serra da Mantiqueira.
“Acho que em alguns trechos terei de sair da cadeira e puxá-la com uma corda”, diz ele, que montou um equipamento especial para enfrentar trilhas, usando rodas de mountain bike em sua cadeira e martelando o equipamento até que ficasse do jeitinho que ele considerava adequado.
E vai para a luta com um sorriso: “Depois de meu acidente e do processo de recuperação, aprendi que esses grandes desafios, cheios de incertezas, são realmente onde você aprende mais, eles te dão os momentos mais definitivos da vida. Eu aprendi muito com tudo isso, de forma que hoje vejo meu acidente de uma forma muito positiva, por causa das poderosas experiências de vida que pude ter depois, como o Ironman ou esta Brazil 135. Essas conquistas me dão base e consistência para enfrentar os próximos desafios”.
Todo esforço é recompensado. Parabéns ao André e a todas as pessoas com este brio.
Foi realmente EMOCIONANTE.
T-O-D-O-S estavam choramdo de emoção na Praça Central de Paraisópolis.
Obrigado Rodolfo pela divulgação do “feito”do André.
Comandante Mario Lacerda
Brazil 135 Ultramarathon & Brasil 217 Ultramaratona
Race Director
Tive a oportunidade de correr ao lado deste Super Homem (não tenho outro termo a definir o Andre) com quem tive a oportunidade de conversar e ver o quanto é simples e acredita na Vida.
Para nós que ” somos perfeitos ” a BR135 é algo muito além do normal; são desafios que levam o corpo a exaustão e testam os mais ousados corredores. Este rapaz mostrou a todos que a coragem a determinação, paciência e Amor a Vida podem nos levar muito longe. Go Further André!!!
Fiz esta prova em dupla! Percorri 106km! Cheguei e voltei tres cidades para acompanhar um amigo queestava fazendo a prova solo! Percorri mais uns 35km com meu amigo! Conversamos muito durante o percurso! Comentamos sobre o Andre, e de como ele estava, com muita garra, forca de vontade e perseveranca, sem falar na forca mental, ultrapassando todas as inumeras e grandiosas subidas e montanhas de toda a prova!!! Que ao meu ver e tao sacrificante quanto a distancia a ser percorrida! Ja fiz ironman e outras ultra-maratonas! Mas com certeza a BR 135 e a prova mais dificil que enfrentei! Mas o diferencial da prova, e o clima de ajuda mutua entre todos os participantes! Todos se ajudam e dao forca! E isso contagia a todos: apoios e corredores!!! E com certeza o Andre e mais uma prova de luta e perseveranca, uma experiencia que muda a vida de quem passa por essa prova e conhece pessoas como ele!!! PARABENS A TODOS QUE PASSARAM PELA BR 135!!!
Sou uns dos organizadores da prova, você não imaginam o exemplo que este rapaz deu para todos o envolvidos neste evento. Só quem viu e acompanhou de perto sabe a força mental deste rapaz, completou a prova acima do tempo de 60 horas porém os corredores que já haviam chegado há mais de 06 horas ficaram esperando sua chegada, após 63 horas de corrida surgem o Andre na praça principal de Paraisopolis cortando o frio que caia naquela noite, como se fosse Amilcar de Castro( natural da cidade), cortando o ferro e aço para fexecutar suas grandes obras. Parabéns Andre, você conquistou o coração de todos.
Sou um da organização da prova da Brazil 135, o Andre superou os 217 km da prova, chegou no tempo superior as 60 horas estipuladas da prova. Porem conquistou o coraçãos de todos que estavam envolvidos no trajeto. Todos os corredores que encontravamos no trajeto da corrida, no qual estavamos fiscalizando a prova era a seguinte pergunta. Coma está o Andre, será que o cadeirante conseguirá? Perguntavamos, poxa você não vão perguntar quem ganhou a prova qual o tempo? A unica preoucupação com os mais de 150 participante era o Andre. Se tornou um icone para os ultramaratonistas que participaram deste evento. Somente que estava no local e viu a garra deste rapaz pode enteder o que significa superação na vida. Parabéns Andre por nos ensinar a ser feliz.
Parabéns Rodolfo, vc descobriu e mostrou uma estória fantástica de superação.