Pacaembu quase não tem marcas do acidente com cadeirante
02/01/13 12:26Minha primeira corrida de 2013, hoje cedinho, foi dedicada à memória do cadeirante Israel Cruz Jackson de Barros, 41, que morreu depois de se chocar contra um muro do estádio do Pacaembu durante a corrida de São Silvestre, na última segunda-feira.
Dei duas voltas em torno do estádio, procurando o local onde se deu o choque. Considerando a descida da rua Major Natanael e a curva logo em seguida, calculei que a batida deveria ter sido em um determinado ponto, pouco depois de uma árvore que funciona como uma espécie de sentinela da curva.
Conversei com um trabalhador que fazia pequenos consertos em outro ponto do muro, e ele me confirmou que o local do choque era aquele que eu havia imaginado.
Não encontrei sinais evidentes de que ali tinha acontecido um acidente mortal havia apenas 48 horas. Um olhar mais atento, porém, podia perceber no chão da calçada e do canteiro marcas de grossos pneus, talvez do veículo que transportou Israel, ainda com vida, para o hospital.
Além disso, no muro há claramente sinais de pintura nova –ou, pelo menos, mais recente do que a pintura do restante da parede, como dá para perceber na foto abaixo, que mostra os tons diferentes de pintura.
Fiquei muito impressionado, curioso. A pessoa que estava trabalhando no local me disse que a pintura havia sido feita logo depois do acidente, mas não sei se esse depoimento é confiável. Ele não estava no local na hora do acidente, e me disse que ouviu a história de um funcionário do estádio.
De qualquer modo, restam muitas perguntas. Quem teria tomado essa iniciativa (se é que houve mesmo uma pintura do muro depois do acidente)? Será que isso foi autorizado pela polícia?
Conversei com o assessor de imprensa da prova, que ficou surpreso com a informação e afirmou que, se houve pintura nova, não havia sido providenciada pela organização. Afirmou que iria procurar saber o que tinha acontecido. “O caso está agora com a perícia”, disse ele.
Também informou que a previsão era de que o corpo de Israel chegasse hoje a Belém, depois de todas as liberações de praxe. A família estava sendo representada pelo patrocinador do cadeirante, e, segundo o assessor de imprensa da São Silvestre, todas as despesas foram pagas pela organização da prova.
O atleta deverá ser velado no município de Ananindeua, na Grande Belém, onde morava com sua família, e o enterro deverá ocorrer amanhã.
Israel tinha 41 anos. Perdeu a perna esquerda na adolescência, durante uma brincadeira com a irmã, como ele relatou no blog que mantinha:
“No dia 15 de outubro de 1985 às 17 h, minha irmã me pediu que a ensinasse a andar de bicicleta. Foi ai que inventei uma brincadeira, corria na bicicleta e minha irmã tinha que sentar na garupa, na terceira vez que corri com muita velocidade, minha irmã puxou a garupa da bicicleta, a manete da bicicleta entrou na minha coxa do lado esquerdo perfurando e atingindo a veia femural. Fui levado para o Hospital Beneficência Portuguesa, os médicos fizeram o possível para salvar a minha vida, passei por quatro cirurgias no final tiveram que amputar a minha perna do lado esquerdo. Aqui me tornei uma pessoa com deficiência.”
Ele se tornou para-atleta com 22, começando no basquete com cadeira de rodas e depois passando ao atletismo.
Ao longo dos últimos anos, vem conquistando resultados expressivos, apesar de lutar contra dificuldades, começando pela qualidade da cadeira de rodas que dirigia, como disse no blog: “Minha cadeira é de ferro, feita com peças de sucata que pesa 17 kg, enquanto as de outros atletas são de alumínio ou de fibra de carbono que pesa 6 kg”.
Vencedor da Volta da Pampulha de 2011 (foto Arquivo Pessoal), o atleta sonhava em conquistar uma vaga na próxima edição dos Jogos Paraolímpicos. Israel era casado com Adriana Mendonça da Silva e deixa uma filha de 14 anos e um enteado de 17 anos.
Rodolfo, muito pertinente a sua atuação, parabéns! Seja a informação verídica ou não, a suposta pintura do muro do Estádio do Pacaembu põe ainda mais lenha na fogueira. E essa perícia, será que já foi feita? Com essa chuva de hoje, dia 30, mesmo sem a suposta pintura, pouca coisa restaria do acidente. Abraços, Joel Leitão
Rodolfo, eu tive a mesma ideia que você e no meu treino de hoje cedo dei uma volta no Pacaembu, para ver como estava o local do acidente. Como não parei para checar onde achava que ele havia ocorrido, como você fez, não consegui reparar nenhuma diferença. De certa forma, fiquei triste, pois achei que fosse achar alguma homenagem ou mesmo um isolamento da perícia. Não sei se o ocorreu foi problema no percurso ou uma fatalidade (afinal, era um atleta experiente), mas espero que seja devidamente investigado e que sirva de alerta para darmos maior atenção aos percursos e às condições oferecidas para que todos os tipos de atletas possam participar de provas de rua com reais condições de segurança e respeito.
Em primeiro lugar,obrigado Rodolfo Lucena pelas reportagens sobre o nosso apagado esporte ! cuja a imprensa geral, só entra em cena em catastrofes como essa e o pior com informações desencontradas. Ao nosso amigo q perdeu a perna brincando,viveu dando aos seus familiares e amigos orgulho e faleceu competindo, meus ” sinceros” sentimentos.
Bom dia Rodolfo e amigos do Blog… o acidente foi lamentável, segurança nunca é demais e a notícia acima é impressiona mesmo, mas acho que os fatos já falam por si só. Da mesma forma como ocorreu com Ayrton Senna, acho que mudanças serão inevitáveis, assim esperamos. Vejam também a matéria sobre o tema em nosso site, o link vem para esta matéria. Um grande abraço a todos, http://www.portaldocorredor.com.br
Rodolfo muito louvável a homenagem que vc fez para o Israel parabéns…Agora fiquei perplexo com o que vc disse aqui no Blog…Com certeza pintaram o muro para tirar qualquer vestigio…Digo isso pq quando o meu pai morreu em um acidente de trabalho não só ele o dono da empresa arrumou algumas desculpas mentindo para livrar da acusação…Esse é o Brasil…Israel descansa em paz…
Acho bom que isso seja bem investigado mesmo.
Tem um cadeirante no twitter (@FredCarvalho_PB) que diz que em provas bem organizadas há proteção de feno nesse tipo de curva.
Na minha opinião, a manifestação do diretor da prova, que classificou o fato de “fatalidade inexplicável”, parece até cínica. E de mau gosto.
Ok, normalmente um fato desse ocorre por uma conjunção de fatores, e provavelmente seja impossível apurar a contribuição exata de cada um, mas não é por isso que se pode creditar assim à “fatalidade inexplicável, como quem quer tirar o problema da frente.
Segundo a matéria que eu li, ele ainda diz:
“Ele não fez a curva. Carros passam por lá [pela curva], não tem como acontecer isso.”
Nesse caso, ou é cinismo, ou estupidez mesmo.
De qualquer forma, isso tudo faz parte da bagunça generalizada que virou a São Silvestre. E o pior é que não se vê interesse nem empenho dos organizadores para que isso melhore. Pelo contrário, acham que foi um sucesso e querem aumentar o número de inscritos pra 30 mil…
Realmente um mistério ainda o falecimento de nosso colega corredor.
Rendo minhas homenagens a ele e meu primeiro treino de 2013 hoje será em homenagem a ele também.