Algumas dicas para se dar bem na nova São Silvestre
28/12/12 10:01A São Silvestre já está ali na esquina, novinha em folha, com trajeto diferente e horário inédito. Se você pensa que já fez tudo que era possível para ter um bom desempenho, está muito enganado. Claro que não dá mais tempo para treinar corrida ou forma, mas você pode tomar medidas para melhorar suas chances na mais tradicional e importante corrida de rua do Brasil.
São três: comer, beber e descansar. Para completar, uma quarta vem de revesgueio: ficar bem informado sobre como é o desafio que você terá pela frente na manhã do último dia deste 2012 tão cheio de aventuras.
Reforçando o dito, trago aqui as sábias palavras de um grande gaúcho, o ex-campeão da maratona de São Paulo Diamantino dos Santos. Eu o entrevistei no ano em que venceu aquela dura corrida paulistana, e ele me disse: “Treinar todo mundo treina. Ganha quem se alimentar melhor e descansar melhor.”
Para o iniciante, o sujeito ou a dama que vai estrear na São Silvestre, talvez o descanso seja o mais difícil. O nervosismo pega, a gente se revira na cama imaginando cada quilômetro, pensando nas dores, no calor, na torcida, na explosão de alegria… Por isso, recomendo que você tente ir cedo para a cama desde hoje; mesmo que não durma logo, tente relaxar. No domingo, experimente um cineminha com ar condicionado, chinelo de dedo, pernas pro ar… E vá dormir cedo no domingo, é claro…
Sobre comida e bebida, trago aqui as dicas de Regina Célia da Silva, mestre em nutrição humana aplicada. Ela recomenda que, a partir desta sexta, você procure aumentar o estoque de energia, priorizando a ingestão de carboidratos em todas as refeições, como pães e torradas, geleia, massa sem muito molho e recheio, arroz, batata, sucos naturais e frutas. O objetivo é aumentar o seu estoque de glicogênio muscular.
Beba cerca de dois litros de líquidos ao longo do dia: água, suco natural, chá gelado, água de coco…
Na véspera da prova, diz Regina Célia, “reduza o consumo de fibras para não retardar a digestão e assim você sentirá necessidade de comer mais rapidamente, aumentando a ingestão de carboidratos. Evite alimentos causadores de gases (feijão, leguminosas, brócolis etc.) e alimentos laxativos como mamões, ameixa, figos e óleos. Eles podem causar diarreias e desconfortos intestinais. Não consuma café em excesso nem bebidas alcoólicas, pois podem provocar desidratação.”
Como a São Silvestre neste ano será realizada de manhã, com largada às 9h para o pelotão geral e elite masculina, não traz muita novidade para os corredores, pois em geral as provas e os treinos no Brasil são matutinos. Mesmo assim, é preciso cuidado na alimentação do dia da corrida, orienta Regina Célia.
Não é hora de inventar. Faça o café da manhã tal como os dos dias de treino. Se sair muito cedo de casa, leve para o local da largada um fruta ou lanche para comer uma hora antes do inicio da prova.
Bom, durante a prova, eu costumo beber água em todos os postos de abastecimento. Tomo pelo menos três goles em cada posto. E levo um gel de carboidrato para consumir por volta do km 10 (haverá um posto de hidratação nessa altura do percurso).
Dito isso, vamos à prova em si. Já conversei com vários técnicos, médicos e corredores que testaram o percurso. Eu também percorri os 15 km do novo trajeto e, com base na minha experiência e nas dicas que ouvi dos especialistas, tenho a dizer o seguinte.
O pior trecho são os dois primeiros quilômetros, aproximadamente. Na largada, é essencial ficar na boa, porque a muvuca é grande. Não adianta querer atropelar, porque sempre vai haver alguém na sua frente e, como estamos carecas de saber (ainda que muitas veze tentemos desafiar esse conhecimento), dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço.
Saindo da Paulista, vamos seguir por uma passagem subterrânea que nos levará até a Dr. Arnaldo. Tem uma descidinha chata, onde podem acontecer choques e tropeções, e depois uma subida curta; se estiver muito quente, aposto que muita gente já vai parar por ali mesmo…
A gente nem esquenta o asfalto da Dr. Arnaldo e logo faz uma curva à direita para descer a Major Natanael, no trecho de maior risco em toda a corrida. É uma descida íngreme. Vá com calma, preste atenção na sua forma, observe os demais corredores; não deixe que sua prova termine antes de começar…
Na sequência, ainda em descida, o percurso contorna o estádio do Pacaembu. Mantenha o foco, segure o ímpeto de acelerar, que você logo será recompensado. Alguns treinadores recomenda esperar até o início do plano para acelerar, mas, pelo que senti do percurso, dá para sentar o chinelo um pouco antes.
Eu vou tentar queimar o chão logo depois de passar o Pacaembu. Apesar de ainda estar em descida, é leve, e dá para controlar os movimentos com mais facilidade. Daí a gente entra por uns dois quilômetros de plano em que é hora de conferir o corpo e mandar ver, aproveitando a sombra das árvores da avenida Pacaembu.
Por volta do km 4, você entra à direita para uma série de ruelas mais estreitas. Aproveite para dar uma relaxada e tente não se irritar com a muvuca. O primeiro posto de hidratação é na esquina das ruas Dona Margarida e Dona Marta; deve estar lotado. Vá com calma, beba sua aguinha e siga a massa.
Uma curva em descida, à direita, para entrar na Av. Auro Soares de Moura Andrade, passando em frente ao Memorial da América latina, marca o início de um novo trecho de velocidade.
Apesar de algumas curvas fechadas e de um retorno chatinho um pouco mais à frente, daqui até o km 12, mais ou menos, você tem boas chances de manter um ritmo de cruzeiro acelerado.
Claro que há pegadinhas. O viaduto da Pacaembu, logo em seguida, precisa ser encarado com pragmatismo e, mais tarde, o viaduto da Rudge, mais alto e mais longo, sem sombra nenhuma, é um desafio de peso. Se for necessário, reduza um pouco o ritmo na subida e relaxe na descida, pois logo virá um longo trecho de planura.
Rode em paz pela avenida Rio Branco até a praça General Osório, quando vai começar um trecho inédito na São Silvestre. Você vai seguir pela Duque de Caxias, olhado apenas por prédios, até à benfazeja sombra do largo do Arouche. Aproveite as árvores, saboreie a água no posto de hidratação, consuma ali o seu gel de carboidrato. Dez quilômetros já se foram, você está mais perto do que nunca de conquistar sua meta.
Saindo do Arouche, é tudo quase um passeio pela história e pelos marcos da cidade de São Paulo. Vamos contornar a praça da República, chegar à esquina da Ipiranga com a São João, passar pelo Teatro Municipal e cruzar o viaduto do Chá. Dá para correr bem em todo esse trecho, mas esteja consciente de que virão grandes desafios pela frente.
O primeiro deles é logo depois de cruzar o viaduto do Chá: vai ter de escalar a Libero Badaró para chegar ao largo de São Francisco e passar pelas históricas arcadas da Faculdade de Direito da USP. Há que considere esse o trecho mais duro da prova, mas é bem curtinho, então eu acho que não qualifica…
Volte a tomar água no posto de hidratação do largo São Francisco e então solte o corpo na leve descida de Cristóvão Colombo. Relaxe, pois vai começar a subida da Brigadeiro Luiz Antonio.
Ela é grande, mas não é duas. Se você soube dosar suas forças, está pronto para o mais famoso desafio da São Silvestre. Procure encaixar um ritmo e seguir nele, desfrutando um certo prazer maldoso ao passar dezenas de outros atletas que não souberam economizar ou não treinaram o suficiente (provavelmente, eu estarei entre eles, alternando caminhadas e leves trotes).
Há quem recomende não olhar muito para o alto do morro… Eu gosto de ver o que me espera e gosto de avisar a montanha que ela será minha, mesmo que se faça de difícil. Gosto de botar o olho lá no alto e imaginar a Paulista inteira fervendo em aplausos e admiração.
Passamos por baixo do viaduto da 13 de Maio, é a última subida da Brigadeiro (a escalada não é constante, ela dá em vários platôs). Logo haverá o último posto de hidratação. Tome mais alguns goles, refresque o corpo, que agora é a hora.
Embale e suba com gosto, só tem ainda aquela curvinha e você já verá o pórtico de chegada.
Abra os braços, acelere, grite, cante, chore, beije, comemore. A Paulista é sua, o mundo também.
Se eu ja estava empolgada com a corrida, agora então com seu comentário nem se fala, tambem adoro desafios, fiz o simulado e quando comecei a subida da Brigadeiro, olhei bem firme pra e disse, quem vai vencer voce sou euuuuuu, me espera. bj
Caro Rodolfo, boa tarde. Sou leitor assiduo da sua coluna e gostaria de aproveitar a oportunidade para parabeniza-lo e eu tb. que já corri por diversas vezes essa prova me identifiquei sobremaneira com o ultimo paragrafo do texto. Só que já passou por isso sabe.
Aproveito ainda para manifestar o meu grande desagravo com essa mudança de horario da prova, não pelo horario em si mas por mais uma vez interesses economicos acabarem com uma bela tradição, que pena…
Mais uma vez, parabens e boa corrida.