Nem só os rápidos correm bem
12/11/12 15:37O treinador de corridas Augusto César Fernandes é um sujeito curioso e dedicado aos detalhes. Dia desses, enveredou numa conversa sobre a qualidade técnica das corridas de rua.
Aquelas discussões intermináveis de “no meu tempo era melhor”, “naquela época o pessoal era mais rápido” e por aí vai. Insatisfeito de debater só baseado em observações, opiniões, foi tentar buscar dados para ilustrar o debate.
Ele pergunta “onde estão os amadores competitivos?”, mostrando que, de 2003 para cá, caiu drasticamente o percentual de corredores rápidos, capazes de percorrer dez quilômetros em ritmo forte, fazendo cada quilômetro em menos de quatro minutos.
Isso vale tanto para provas ditas de elite, como a SP Classic (hoje também chamada de Zumbi dos Palmares), e prova com inscrição gratuita, como a São Silveira, de 8,5 km.
Augusto fez um levantamento completo e muito interessante, que você pode ver clicando AQUI. Neste blog, cito apenas as disparidades maiores: em 2003, 6,4% dos concluintes da SP Classic fecharam com ritmo de até 4min/km; em 2010, foram apenas 2,9%.
Já o percentual dos mais lentos subiu: em 2010, metade concluiu em uma hora ou mais a prova de 10 km, contra 31,7% em 2003.
Com outros índices, a tendência se repete na prova gratuita, que era mais competitiva, mas também viu o crescimento do peso dos mais lentos: em 2003, apenas 8% dos concluintes tiveram ritmo de 6min/km ou mais lento; há dois anos, esse percentual explodiu: 30,4%.
Há quem veja nisso uma perda de qualidade técnica das corridas de rua. Eu vejo aí um ganho de qualidade social: mais gente está se dedicando a esse esporte, que fica mais abrangente, mais inclusivo. É possível correr e caminhar ou seguir no próprio ritmo, sem cobrança.
Alguém pode dizer que caiu o número de concluintes em cada um das provas, o que seria contraditório com essa democratização do desempenho, mas acontece que também explodiu o número de provas.
E outra coisa: no mundo amador, velocidade não necessariamente é indicador de “qualidade”, seja lá o que isso for. Para um corredor, seguir a 7min/km é um feito olímpico, para outro pode ser um desastre. Não há régua para medir o desempenho: cada um é seu próprio juiz.
E também não há velozes, sejamos claros: qualquer um que hoje faz maratona em menos de 2h06 não pode se considerar competitivo, se competitivos foram somente aqueles em condições de disputar o recorde mundial ou competir pelo título de uma das grandes maratonas do mundo.
Somos todos corredores. Aproveitemos. Desfrutemos do vento, do ritmo e da liberdade. E vamo que vamo!
Corro a favor de mim. O resto é besteira. Muitos dos competitivos são pessoas frustadas por não serem atletas profissionais e que se vangloriam com sub isso ou sub aquilo, tempos estes que são ridículos quando comparados aos profissionais. Na corrida como na vida existe espaço para todos!!!!!
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Olá Rodolfo Lucena,
fico feliz que tenha colaborado com a discussão sobre o post que publiquei em meu blog “Cadê os atletas competitivos”. Acho muito válido que a discussão seja ampliada.
Concordo com você, é muito positivo o aumento de praticantes de corrida, porém é preciso uma preparação adequada para participar de uma corrida (seja por motivos competitivos ou recreacionistas) e parte deste aumento de praticantes são de pessoas que não preparam-se, que não possuem comprometimento com treinos ou com uma avaliação médica para saberem se podem correr, o que não é bom.
Acredito que não tenha tratado sobre um assunto que vem ocorrendo há muitos anos atrás, pois a primeira fonte é de 9 anos atrás e em 2003 já havia grandes provas e um grande aumento do número de praticantes.
Quanto aos dados que postei no blog, não fiz muitas interpretações, pois é uma pequena fonte de dados e há diversas formas de analisar, hipóteses e considerações, sendo preciso mais dados para conclusões mais assertivas.
Mas pela vivência que tenho no esporte, tenho as seguintes impressões sobre o que vem ocorrendo quanto ao público das corridas. Os atletas amadores competitivos estão participando menos, pois estes são em grande parte pertencentes a uma classe menos favorecida financeiramente e com o aumento dos valores de inscrição diminuíram muito a participação deles nas provas em geral, mas ainda estão mais presentes nas provas gratuitas ou com valor mais baixo de inscrição.
Na verdade o problema maior não está no fato dos amadores competitivos diminuírem a participação e sim no fato das classes C e D não poderem participar devido ao alto preço.
Não vejo ganho de qualidade social, por exemplo, em uma São Silvestre cobrando R$120,00… o vento da chegada na paulista só baterá para os mais favorecidos financeiramente.
Abraço
Augusto César
RL
Concordo totalmente com o exposto nos últimos parágrafos do seu texto. Na minha opinião não dá para comparar. Participei no domingo da corrida Circuito Caixa aqui em Brasília e tinha 3000 participantes. A três anos quando comecei eram 1000 no máximo. Hoje o tempo continua contando , mas não é tudo. É so abrir o facebook, há muito mais do que pernas e transpiração. Acabamos se encontrando, cada um do seu jeito.
Lucena,
Eu penso que os corredores mais novos estão buscando qualidade de vida e não a competição. As corridas de rua estão se transformando em ponto de encontro , em festa, em confraternização.
concordo plenamente, a corrida não é somente para os atletas competitivos, deve ter espaço para quem corre por prazer. conheço muitos atletas que treinam como profissionais,quanto tempo esses atletas ‘AMADORES’ de elite correrão sem ganhar uma lesão crônica.eu quero correr devagar e sempre.
Muito bom o levantamento do Augusto Fernandes. O fato que ele observou nas duas corridas aqui no Brasil (grande numero de finalistas com tempos bem mais altos que “antigamente”) tambem ocorre la fora. Veja esta estatistica para o EUA.
The first running boom hit in the 1970s, with marathon mania
following a couple of decades later. In 1976, there were roughly
25,000 marathon finishers in the United States. By 1990, the num-
ber had increased nearly tenfold to 224,000 finishers, but it didn’t
stop there. In 1995, 2000, and 2005, there were 293,000, 353,000,
and 395,000 marathon finishers, respectively. By 2010, approxi-
mately 507,000 runners crossed a marathon finish line somewhere
on American soil. That’s a growth of nearly 30 percent between 2005
and 2010—pretty phenomenal.
But as the numbers of finishers have increased, so have the finish-
ing times. From 1980 to 2010, the average time for men went from 3:32
to 4:16. The average finishing time for women faded from 4:03 to 4:42
(www.runningusa.org). The slower times are undoubtedly a result of
those higher finishing numbers. In the 1970s and 1980s, the smaller
marathon population largely consisted of hard-core pavement pound-
ers who trained with time goals in mind. Today, however, the demo-
graphic has evolved. What was once a sport solely for serious elites and
subelites is now an activity accessible to the masses, many of whom
simply want to cross the finish line.
Yes, “Somos todos corredores. Aproveitemos. Desfrutemos do vento, do ritmo e da liberdade. E vamo que vamo!”