NYC, a maratona que não aconteceu
04/11/12 12:17Corredores profissionais, atletas amadores, empresas, patrocinadores, prestadores de serviço –todos eles foram pegos de surpresa quando, na tarde de sexta-feira, o prefeito de Nova York e a organização da maratona da cidade anunciaram o cancelamento da prova, para que a cidade ficasse totalmente focada nos trabalhos de reconstrução depois da tormenta Sandy. Um desses corredores frustrados, tristes foi Ricardo Pini, 46, consultor patrimonial que trabalha em São Paulo. Ele começou a correr em 2006 e só 28 meses e 50 provas mais tarde estreou na maratona. Foi em Roterdã; depois vieram as maratonas de Chicago, São Paulo, Porto Alegre e Buenos Aires. Agora seria a vez de Nova York, mas a tormenta não permitiu.
A partir de agora, acompanhe comigo o texto que Pini mandou para este blog contando um pouco de seus sentimentos e do que viu em Nova York nos últimos dias.
“O inimaginável cancelamento da Maratona de Nova York vai ficar marcado na história.
Para mim, foi o último golpe na semana mais complicada da minha recente vida de corredor maratonista. Foi o tiro de misericórdia na minha preparação de dez meses voltada para fazer o meu recorde pessoal numa prova casca grossa como NY.
Passei pela longa espera pela confirmação do voo, do cancelamento da minha hospedagem e da confirmação da nova acomodação a menos de nove horas do embarque, da fila de quase uma hora esperando táxi para Manhattan, enfim, uma luta enorme para ter chance de botar em pratica tudo que estudei e treinei.
Mesmo tendo feito quase tudo que era possível para atingir minha meta, fui pego de surpresa, a pois a natureza tem seus próprios plano. Apareceu Sandy no caminho do centro do universo e, sem tomar conhecimento da programação local, trouxe um rastro de destruição por boa parte dos cinco bairros da grande Nova York, bairros que são cruzados pelas corredores ao longo da Maratona.
Até o momento foram 41 mortes, sendo que 19 em Staten Island, local onde começa a festa da Maratona, que está devastada, ainda enterrando seus mortos. Difícil pensar que seria ali o inicio de uma prova que tem por grande atrativo o povo nas ruas, são sempre mais de 1 milhão de pessoas nas ruas gritando, torcendo e incentivando os anônimos que correm essa prova maravilhosa.
Mesmo sendo difícil de engolir um cancelamento a menos de 48 horas da largada, em vista dos fatos, sou obrigado a acatar e repensar meus planos, e dar uma boa revisada na cartilha dos valores que me foram ensinados e que devem nortear nossas atitudes e ações.
Pensando friamente, entendo tanto a presidenta do NYRR, Mary Wittenberg que tentou realizar o seu evento até o final, tentou transformar a prova num grande Teleton, negociou com patrocinadores a doação de valores e produtos para as vitimas do furacão e usou pesadamente o peso dos US$ 340 milhões que a cidade arrecada, sendo o maior evento da maior cidade do planeta.
Mas o tiro saiu pela culatra, pois o prefeito Michael Bloomberg que mesmo tendo feito um pronunciamento às 13h de sexta-feira confirmando a prova, voltou atrás e cancelou o evento menos de quatro horas depois, pressionado que estava pela opinião publica, moradores, etc… que não concordavam com a festa num momento crítico como esse.
A cidade que tem o maior público festejando a Maratona, neste ano achou que não estava no clima para a festa.
A impressão que tive desde que cheguei em NYC é que, mesmo com o ocorrido a cidade está, como eles mesmos diriam em ”pretty good shape” (em boa forma), pois, se existe um local durão, que aguenta o tranco, essa cidade é NYC, que é porreta para enfrentar situações criticas.
Quando cheguei a Manhattan vindo pela QueensBorough e desci na Segunda Avenida próximo da rua 62, vi muita, mas muita gente andando. Eram 18h30 18:30, não tinha metrô e poucos ônibus circulavam.
O lado sul está sentindo muito, ali sim a coisa está preta, passei por lugares totalmente sem luz, e isso faz toda a diferença, pois sem luz, internet, comércio, transporte, segurança etc…risco total, mas a policia se faz presente, no meio do breu sempre aparece um carro de policia.
A coisa está melhor onde estou hospedado, Hell`s Kitchen, perto do Columbus Circle, estou a menos de uma quadra do local onde a grua estava pendurada, com policiais na minha porta 24 horas por dia.
Aqui tem eletricidade, minha internet vai bem, lojas e restaurantes funcionam. O metrô não funciona, mas tem uma boa porção de taxis como sempre, mas a gasolina está escassa, por isso a questão do transporte vai piorar antes de melhorar.
Só pra se ter uma ideia, na saída da Expo da maratona, às 17h de sexta-feira, tentei pegar uns 15 taxis, todos recusaram pois ou só iam para o norte, preferencialmente Middle East ou Upper East Side ou porque não tinham combustível para fazer a corrida. Os ônibus, na grande maioria, não estão funcionando.
Enfim, veja como é o destino, me fez fazer o maior esforço, treinar horrores, perder peso, me preparar e adivinha, mesmo com o cancelamento chego à conclusão que, mesmo sem a prova, só ganhei com este ano de Maratona, pois hoje percebo que, de fato, o duro não é correr uma Maratona, mas sim se preparar para ela, como muitos sempre me falavam.
A prova é a ultima e derradeira etapa, que, no meu caso e de outros 47 mil corredores, não vai acontecer.
Mas eu vou ser feliz em alguma outra Maratona em breve, e só ganhei com mais esse ciclo de preparação, de onde saio forte, magro, com novos amigos e com mais experiência, pronto para o que vier.
Não deu esse ano em NYC, paciência, mas em breve eu volto. Tomara que todos se recuperem e que a cidade fique bem.”
Caro Rodolfo Lucena, parabéns pelo texto muito bem escrito e pela forma que encarou tudo que aconteceu. Lhe presto minha solidariedade, pois também estou vivenciando este momento triste com a certeza de que nos trará mais força e ânimo para as provas do calendário de 2013. Boas corridas !
Querido Ricardo Pini aprovite o cancelamento da Maratona para ser solidário ou melhor voluntário em meio a tanta destruição, as vezes deu nos mostra de forma diferenciada onde devemos atuar e de que forma podemos ajudar nosso próximo.
Digamos que você fez 90% e faltaram os 10%, pois como você mesmo disse o importante é o preparo e isso você fez e muito bem. Parabéns. Enfim, você não perdeu a maratona, pois os maiores prejudicados foram as pessoas que perderam alguma coisa ou material ou vida humana.