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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Sites especializados levantam suspeitas sobre final da maratona de Berlim

Por Rodolfo Lucena
30/09/12 11:32

Foi dramático. Quando passaram o km 35, o maratonista mais veloz do mundo, Geoffrey Mutai, e seu companheiro de treinamento, o debutante Dennis Kimetto, estavam em ritmo para buscar e derrubar o recorde mundial da maratona.

Poucos minutos depois, a TV alemã colocou na tela a previsão de chegada, se eles mantivessem a balada de até então: 2h03min35, três maravilhosos segundos abaixo do recorde mundial de Patrick Makau, estabelecido no ano passado ali mesmo na prova alemã.

Pois então se deu o desastre. O km 38 foi o mais lento desde a meia maratona –3min02 contra 2min56 do anterior. Mutai e seu compatriota pareciam ter perdido o gás. E, de fato, foram declinando como balões a murchar.

Vistos de cima, em belíssima tomada televisiva, pareciam em ritmo intenso, mas os números demonstravam o contrário. Só pioravam, sempre lado a lado ou, no máximo, com Mutai uma passada à frente. Fizeram o km 42 em 3min10 (!), depois de terem corrido o km 41 em 3min07. E se arrastaram pelos 195 metros restantes, sem caretas de dor nem tentativas de escapada, apenas a demonstração de esforço sem resultado.

Mutai demorou 37 segundos para percorrer a distância final (não dá para comparar, é claro, mas, apenas como referência, Bolt corre 200 m em 19s19) e completou em 2h04min15, o quarto melhor tempo da história em percursos homologados pela IAAF (em Boston, que não é aceito para efeito de recorde por ser ponto a ponto e por causa da inclinação do percurso, o próprio Mutai cravou 2h03min02 no ano passado, e o segundo colocado, Moses Mosop, fez 2h03min06). Kimetto chegou um segundo depois, sagrando-se o melhor debutante da história (foto Reuters).

Com a vitória, Mutai tornou-se também campeão por antecipação do World Marathon Majors 2011/2012, e vai levar US$ 500 mil como prêmio, além da bolada recebida da maratona de Berlim –40 mil euros pela vitória e 30 mil euros de bônus pelo tempo sub2h04min30, num total equivalente a mais de R$ 182 mil.

Os quilômetros finais e, especialmente, essa chegada sem disputa, em que o debutante Kimetto nem esboçou gesto de desafio, fizeram alguns sites especializados levantarem suspeitas de marmelada. Afinal, argumentam esses sites, Mutai tinha muito a ganhar com a vitória, enquanto para Kimetto, seu protegido, o segundo lugar já seria glorioso. Por isso, o novato se contentou em seguir os passos do mestre, dizem alguns sites.

“Isso pode ter sido uma coisa planejada”, disse o narrador da Universal Sports, que fazia a transmissão oficial pela internet, segundo citação feita pelo site LetsRun. Eu não consegui confirmar, pois o vídeo não está disponível para o Brasil.

O próprio site dá uma esquentada na questão usando comentários de internautas anônimos, que eu não vou repetir aqui, e afirma que “a integridade de nosso esporte está em risco”.

Mais tarde, volta a bater na tecla: “Com um incentivo de US$ 500 mil em risco, é natural que as pessoas especulem sobre essa final entre companheiros de treino”.

O site britânico Digibet.info também põe lenha da fogueira, ainda que seja um pouco menos agressivo que o LetsRun. Chama a final de “bizarra”, pois mesmo com a chegada poucos metros à frente, nenhum dos corredores tentou dar uma escapada. E avalia que Kimetto “não parecia disposto” a desafiar seu parceiro de treino.

Depois diz que essa não é a primeira vez que o corredor queniano deixa os organizadores com mais perguntas do que respostas. Para justificar a frase, lembra que, nas últimas provas internacionais em que participou, o debutante na maratona foi registrado com diferentes nomes e diferentes idades.

Em fevereiro, correu uma meia maratona como Dennis Kipruto Koech, que teria 18 anos. Dois meses depois, venceu outra meia sem o Kipruto e dizendo estar com 20 e poucos anos. Finalmente, bateu o recorde mundial dos 25 km, em Berlim, como Dennis Kimetto, nascido em 1984, tal como foi registrado agora para a maratona.

O site britânico aproveita para lembrar a fidelidade de Kimetto a seu protetor. “Ele me fez ganhar experiência na corrida e me ensinou como atacar”, disse o debutante quando venceu a meia maratona de Berlim, meses atrás. Hoje ele não atacou o seu mentor.

Bom, todo mundo tem o direito de desconfiar de quem quer que seja, e este blogueiro tem a obrigação de registrar suspeitas quando elas aparecem. Mas também é preciso ver o outro lado e lembrar que todo mundo é inocente até prova em contrário.

Em relação ao texto do site britânico, minha opinião é a seguinte: os caras desconfiaram da final, mas não tinham bala para sustentar suas dúvidas. Então levantaram essas histórias do Kimetto para apimentar a reportagem.

Não que essa confusão de identidades não seja verdadeira. Ela é, mas não provoca, como supõe o site, dúvidas para os organizadores. O próprio site oficial dos 25 km de Berlim, dos mesmos organizadores da maratona, registrou em um press release: “Novo nome e nova distância para o novato Dennis Kimeto”. Os dois nomes também aparecem na Wikipedia, enquanto a IAAF registra apenas Dennis Kipruto Kimetto, de 28 anos, mas é a mesma pessoa.

Não vi manifestações  dos corredores sobre as suspeitas de marmelada levantadas pelo site norte-americano LetsRun. Mas deram explicações sobre o que aconteceu na prova.

“Eu tinha chances de quebrar o recorde mundial, mas depois do km 35 eu tive dores na perna esquerda e decidi manter o ritmo”, afirmou Mutai. Completou: “Agradeço a Deus por vencer essa corrida. Era possível quebrar o recorde e eu tentei, mesmo sem conseguir me mover”.

Já Kimetto afirmou o seguinte: “Eu nem sequer esperava terminar perto dele, pois eu sabia que não podia vencê-lo. Mas estou muito feliz e, no futuro, vou tentar bater o recorde mundial”.

O fato é que, segundo as transmissões de TV, a temperatura aumentou consideravelmente ao longo da prova. Também na corrida feminina, a vencedora Aberu Kebede chegou a estar em ritmo de sub2h20 e acabou em pedestres 2h20min30. E não se pode dizer que a corredora etíope não tivesse incentivo para forçar o ritmo: seu bônus por terminar em sub2h21 foi de 15 mil euros, a metade do que ganharia se fechasse em menos de 2h20.

Além disso, segundo o site oficial da World Marathon Majors, Mutai ganharia o prêmio mesmo se terminasse em segundo. O máximo que seus competidores conseguiriam seria alcançar o mesmo número de pontos, e ele venceria pelo critério de desempate (competições direta)

Bom, fica a questão. Até agora, não vi nenhuma informação oficial sobre eventual investigação dessa suposta marmelada. Ou, num olhar mais otimista –menos cínico, talvez–, batalha épica, chegada dramática e terrível sofrimento, como também pode ser definida a final da maratona de Berlim 2012.

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Comentários

  1. Luiz Cândido comentou em 01/10/12 at 19:34

    Esta chegada foi muito estranha e me fez lembrar um pouco a recente Formula 1 onde os interesses econômicos e financeiros envolvidos justificam atitudes grotescas das equipes, até mesmo forjar batida em muro para o companheiro ganhar a corrida. Vou participar desta prova, mas vou dar um bom sprint final.

  2. Marcelo comentou em 01/10/12 at 12:38

    O chefe de equipe deve ter dito pelo rádio:
    -Kimetto, Mutai is faster than you!

  3. Paulo Sales comentou em 30/09/12 at 12:17

    Ótima análise. Pode ser que Kimetto realmente não tenha ultrapassado o Mutai por respeito ao seu “mentor”. Até aí, pra mim tudo bem.

  4. Nilson Duarte Monteiro comentou em 30/09/12 at 11:47

    Lucena, duas coisa eu percebi nessa prova. s dois fizeram corrida de comadres. Vão dividir a grana, que é muita e estão copiando o Sergey Bubka e Yelena ysimbayeva, ou seja, a prova da Alemanha já estava dando uma boa grana, então pra que queimar cartucho quebrando o recorde mundial? Vão deixar esse recorde para outra prova, pois os dois sentiram que é mole quebrá-lo. Quanto ao Kimetto ter 19 anos, eu vou diminuir minha idade para 30, pois o cara tem cara de ter essa idade. Ele deve ter sido batizado com 15, aí aproveitaram e crismaram também.

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