10 Milhas Garoto tropeça feio na falta de água
03/09/12 11:57O cenário é uma beleza, o percurso é desafiador, a medalha é bonita, o povo é simpático, mas a 23ª edição da 10 Milhas Garoto, realizada em Vitória e Vila Velha, castigou os corredores com um erro inaceitável: faltou água nos momentos mais quentes da prova, prejudicando os corredores mais lentos. Vi senhoras caídas ou sentadas na calçada, gente reclamando em altos brados, e a população abrindo a geladeira para ajudar os corredores, numa demonstração bacana de solidariedade –que não deveria ser necessária.
Gato escaldado da prova do ano passado, quando a temperatura passou dos 30 graus, fiquei torcendo ao longo da tarde de sábado, nublada e com ventinho até frio, para que o clima se repetisse no domingo. Que nada! Às sete da manhã o sol já dominava o céu, não havia vento nem nuvens.
Na orla de Vitória, estava tudo bonitinho. Muita água antes da largada, figuras com uniformes engraçadinhos e até perna de pau sinalizavam a área para os corredores se organizarem antes da partida, mas a maioria dos atletas não deu muita bola para a orientação.
Nos quatro quilômetros iniciais, a gente circula por terreno plano na capital do Espírito Santo, preparando a alma para o desafio que logo estará á nossa frente. Cruza-se pequeno pontilhão, de onde se tem uma amostra do visual que nos aguarda.
A maioria foca mesmo no que vem pela frente, a temida Terceira Ponte, que liga Vitória a Vila Velha.
Neste ano, um lado inteiro da travessia ficou reservado para os corredores, melhorando muito a situação em relação à prova do ano passado, quando tivemos de dividir território com os carros –houve concerto de buzinadas e reclamações, lado a lado com sorrisos e incentivos, mas a tensão era evidente.
Mais seguros e tranquilos, a multidão ocupa cada metro dos 4 km de ponte, que só neste oportunidade abre para pedestres –muitos moradores e turistas aproveitam a chance para fazer um passeio diferente e curtir a vista bacana.
Já os corredores de elite nem olhar para o lado olham, ainda mais nesta edição, em que havia uma enorme quantidade de candidatos aos primeiros postos. Qualquer um da foto abaixo, por exemplo, poderia abocanhar o primeiro prêmio.
Eles tinham recém tomado o café da manhã no sábado e estavam de bom humor, como as poses demonstram. As feras ali presentes são Nelson Priva, da Tanzânia, o queniano Mark Korir e o etíope Fikre Assefa; as moças: Dorcas Kiptarus, do Quênia, Zaitune Nikoka, da Tanzânia, e Meseret Biratu, da Etiópia.
Pois nenhum deles levou a taça. A vitória ficou com os quenianos Joseph Aperumoi, com 47min01, e Rumokol Elizabeth, que cravou novo recorde na prova: 54min13 –a marca anterior, de Marcia Narloch, era 55min05, estabelecida em 1991. Os melhores brasileiros, que levaram de prêmio um carro 0 km, foram Giovani dos Santos (terceiro lugar, 47min29) e Sueli Pereira (segunda colocada, 56min23).
Todos eles já tinham terminado a prova quando eu passei da metade da ponte, boa parte em ritmo de caminhada, para aproveitar o visual e tirar as fotos abaixo.
Ao longo de todo o percurso da ponte não há posto de água, o que é compensado por um posto salvador do outro lado, na entrada de Vila Velha, na altura do km 8. Com 1h02 de prova, avistei o posto e tratei de engolir meu gel de carboidrato, já pensando na aguinha gelada e gostosa que viria a seguir.
Nananina. O posto do km 8 estava seco, o que logo gerou reclamações e gritos entre os corredores que estavam em ritmo semelhante ao meu. Provocou baixas, também, como esta senhora, que caiu na altura do km 9.
“Esse aí só chegou agora”, disse uma senhora, apontando para o rapaz que fazia o atendimento de emergência. “Escreve aí que faz meia hora que a gente chamou a ambulância”, denunciou ela ao ver que eu fotografava a cena.
Segui esperando que o posto do km 10 tivesse água, ouvindo o tempo todo comentários tristes, raivosos, decepcionados de corredores que sentiam o calor e culpavam, com razão, a falta de água por sua queda de rendimento.
O posto do km 10 estava seco, e os voluntários que ali tinham trabalhado buscavam a proteção da sombra dos prédios. Alguns corredores, naquela altura, tiveram a sorte de receber água do público –eu fui um dos beneficiados.
Dois ou três goles me foram suficientes para tocar o barco à frente, enfim, chegando a um belo trecho de praia. No dia anterior, eu havia percorrido toda aquela orla, capturando imagens que me pareceram artísticas, como estas duas.
Na manhã do domingo, porém, o calor castigava e o sol ardia. Cerca de uma hora e 15 minutos depois da largada, os termômetros continuavam em ascensão. Chegariam aos 28 graus, mais de 50% de diferença em relação à temperatura da largada. O visual, porém, dava uma refrescada.
O que não refrescava era a raiva e o desapontamento dos corredores em relação ao desamparo em que ficamos todos. O posto do km 12 também estava seco.
Na altura do km 13, uma cena que lembrou os saques que caminha de comida em regiões famélicas do país. Uma camionete carregada de garrafas de água cruzou o caminho dos corredores, e foi atacada. Pessoas que assistiam à prova, na calçada, se mobilizaram para pegar os fardos e distribuir da melhor forma possível. Quem pegava uma garrafa tomava dois ou três goles e passava para alguém desabastecido.
O posto do km 14 também estava vazio, e a raiva dos corredores contra a organização era expressa em reclamações cada vez mais emocionadas, que não dispensava palavrões. Em contrapartida, pouco depois, uma família improvisou uma área de atendimento levando garrafas de água da própria geladeira (havia até uma garrafa de água com gás…).
E assim seguimos, os lentos e bravos, até o final, não sem ver ainda gente abatida pelo caminho, como esta senhora:
Na chegada, sempre há a sensação de conquista, a crença na vitória, a lembrança do inspirador cenário e da fraternal confraternização com os companheiros de corrida. O sofrimento passou, agora há que lamber as feridas, guardar a medalha e ir buscar alento no mar sem fim.
PS.: Este blogueiro viajou a Vitória/Vila Velha a convite da Garoto.
Infelizmente isto ocorreu com muitos atletas; posso porém afirmar que ouve muito des perdício de água por parte dos primeiros competidores. Muito lamentável.
corrida de rua virou moda.As pessoas participam sem o treinamento adequado e sofrem com isso.completei o percurso com 1:33:03 e não verifiquei falta d´água nos postos de abastecimento. Me descupem os que reclamam, mas certamente estarei de volta o ano que vem, num dos mais belos prescursos que tenho participado.
Olha os primeiros corredores receberem realmente agua , porem a corrida tinha 9 mil pessoas !!! Eu corri 8km sem agua , vi muita gente desmaiada e todas as fotos são reais !! Parabens ao blogueiro que estava lá e relatou a verdade! O que realmente não aconteçeu nos outros anos , espero que ano que vem a GAROTO se prepare melhor.
Verdadeiro absurdo. Corri 13km sem 1 gota d’água fornecida pela des-organização. Bebi água de mangueira que um morador disponibilizou aos que passavam. Foi realmente lamentável para um evento dessa magnitude, e pior do que a grave falha é a empresa não emitir uma linha sequer desculpando-se por isso, agindo como se nada tivesse acontecido.
É uma pena que tudo isto tenha acontecido. Tenho amigos que participam, me sinto envergonhada pelos organizadores. Espero que melhorem para o ano que vem. Parabéns ao Rodolfo pela cobertura, pelas fotos e pelo bom humor apesar de tudo. Tem que colocar a boca no trombone e raclamar mesmo, só assim as coisas andam ou tentam andar neste país. Sua última foto mostra uma amiga minha ajudando a outra pessoa, isto que é solidariedade.
os números de pessoas inscritas, não justifica o erro grotesco, da falta de água…
é lamentável, pois a corrida como mencionado acima é fantástica. E acredito que as pessoas que estão se manifestando é apenas para que não venha a ocorrer mais vezes.
Abraço a todos.
Foi Ridiculo as 10 milhas Garoto.Eles tem que aprender com a Corrida Santa Lucia, esta sim foi organizada e já sendo a 23 corrida da Garoto era de se imaginar que daria muita gente na Pipoca.Porque então não entregaram agua somente para os que tinham número?RIDICULO!!!
Olá boa tarde a todos, depois de ler a matéria fiquei aqui pensando será mesmo que a quantidade de água foi insuficiente ou o nível dos corredores que estão cada dia pior, pois vou relatar um fato vivido e visto por mim mesmo, fui correr a meia maratona caixa de Salvador-Ba, e pude ver a quantidade de gente que virou corredor de uma hora para outra, vi gente absurdamente gorda e pensei comigo vai caminhar os 5km e para minha surpresa quando olhei o número de peito desta pessoa tive um susto, estava escrito na meia maratona aí sim eu penso comigo pessoas como esta que não se prepara e vai se desafiar em um corrida que não é curta correndo e o que acontece esta pessoas chegam a pegar 3 a 4 copos de água por ponto de água e se vc multiplicar por várias pessoas e as pessoas que são piores e quem vem
mais atrás realmente vão ficar sem água. Então espero que essas pessoas se condicionem mais procure um profissional habilitado e capacitado para não sofrer e nem fazer os outros sofrerem por falta de água.
Bom dia, Lucena! Faz tempo que não me manifesto aqui em seu blog. Tudo bem? Estou meio que perplexo com as informações. Teve pipoca, como alguém que faz a prova em 01h14m relata que tinha água em abundância em todos os postos e, pelo tempo dele, em 15 min mais tarde já não tinha? Precisa apurar melhor. Suas fotos não mentem e acho que merece uma abordagem mais profunda, porque eu senti isso em muitas provas de Santa Catarina! Fiz várias provas ali no Estado vizinho ao seu. Pela ordem e comentando: ano passado, Meia de Blumenau, FALTOU ÁGUA. Este ano: Meia de Joinville, FALTOU. Meia de Camboriu, NÃO FALTOU, Meia de Gaspar, NÃO FALTOU MAS FALHOU NO KIT, Maratona de Blumenau: FALTOU. Ali em SC a falta de água é notória! Vou voltar ao assunto mais além. Abração
Acompanho as corridas e principalmente as 10 Milhas Garoto. E, o que presenciei esse ano, foram pessoas que não são preparadas para correr nem 10 km, quanto mais 10 milhas. Muitas pessoas participaram pelo evento e o pior sem inscrição. Então, a quantidade de água, com certeza, não foi suficiente devido as pessoas que não estão preparadas. E, esse despreparo físico, levou alguns a passar mal durante o percurso e, a consumir mais água do que o necessário para pessoas preparadas e inscritas.
Isso serve de alerta, para que as pessoas façam suas inscrições, coloborando com a organização do evento no próximo ano.
Pois eh, foram disponibilizadas 80mil garrafas de agua para 7mil *inscritos*. Isso da mais de 11 garrafas/corredor, mais do q o suficiente. O problema foi q, segundo as estimativas da organizacao, mais de 4mil pessoas correram *sem inscricao*. Planejamento nenhum aguenta sobrecarga de mais de 50%. Mais uma vez os brasileiros “espertos” causando problemas.
Meu caro Fábio, creio que você se equivoca por que 1) a organização sabia que haveria pipocas e calculava que seriam cerca de 3.000, conforme conversas que tive antes da prova; b) o número de garrafas estava inadequado, mesmo que corressem apenas os incritos, se considerarmos duas garrafas por corredor por posto, o que é uma estimativa superconservadora e abaixo da que a organização da prova me disse ter feito
Gostei tanto da cobertura jornalística, acima, que no próximo ano participarei das 10 Milhas Garoto. Mas vou levar uma mochila com dois litros dágua. Água é vida, vida é tudo.